17 de agosto de 2016

Saiki - Kyushu



Depois de um dia de passeio fantástico através das montanhas, com estradas fabulosas, com pouco transito e sem um policia à vista, o que me levou a escandalizar mais uns japoneses, destabilizados nos seus passeios pela passagem de uma moto ao dobro da velocidade deles, parei num café para perguntar se sabiam de um Hotel. Ainda estavam fechados mas, vendo um estrangeiro, duas meninas vieram abrir-me a porta numa excitação. Não falavam uma palavra de inglês mas por gestos, estou perito em mímica, lá disse que procurava um Hotel. Foram logo buscar mapas e números de telefone enquanto chamavam a cozinheira que, sendo filipina, arranhava umas coisas de inglês. Estivemos ali na risada e entretanto foram falando para vários hotéis da zona até encontrarem um, a cerca de 30 Km.
Entretanto, fora do restaurante, a fazerem-me muitos gestos à janela, estava um grupo de meninas dos seus 14 anos fardadas da escola, também excitadíssimas por verem um estrangeiro. Disse-lhes adeus e quando saí vieram rodear a moto a pedir-me “sign, sign”. Não queriam propriamente um autógrafo mas simplesmente a assinatura de um ocidental em caracteres que não os seus. Disse-lhes que sim e foram a correr buscar papéis e canetas. Quando lhes disse que me chamava Francisco uma delas respondeu logo: “Ha, ha. Francisco Xavier”.
Aprenderam no colégio que S. Francisco Xavier foi quem trouxe o catolicismo para o Japão. Mesmo que não tenha tido muito sucesso 1% dos japoneses são católicos, o que dá qualquer coisa como um milhão e duzentos mil.
Cheguei ao Hotel pelas seis da tarde e mais uma vez as meninas da recepção faziam muitas vénias mas não falavam uma palavra de Inglês.
Andava há dias com um problema por não conseguir encontrar uma ficha que me permitisse carregar o computador. As tomadas japonesas têm dois rasgos ao alto e se nos hotéis da ilha principal tinham sempre esses adaptadores nesta ilha, por não terem turistas estrangeiros, nenhum tinha. Estava a explicar o problema à gerente, uma rapariga dos seus 35 anos, quando ela disse: “Venha no meu carro que eu levo-o a uma loja que conheço”. Lá fui com a rapariga, a dez à hora, sem muita esperança de encontrar o adaptador. Até nas passagem de nível abertas eles param para ver se vem algum comboio.
Chegámos à loja e havia mesmo a peça. Fiquei tão contente que lhe dei um beijo na cara. Ela, habituada desde sempre a falar a estranhos através de vénias, ficou atrapalhada mas gostou do afecto porque antes de entrarmos no carro levantou a mão para eu bater contra a dela e, no dia seguinte, quando estava a tomar o pequeno almoço, veio bater a uma janela que havia entre a recepção e o restaurante para me dizer adeus, com um ar maroto.
Naquele hotel o terrível jantar estava incluído na estadia e estava eu já no quarto quando ouvi bater à porta muito suavemente. Pensei que não era nada e continuei no computador mas passado meio minuto novamente um bater muito leve. Fui abrir a porta e estava uma das meninas da recepção a tentar explicar entre muitos sorrisos que se tinha esquecido de me pedir o ticket do jantar. Ah, claro. Lá lhe dei o ticket e fiquei, de porta aberta, à espera que ela acabasse as infindáveis vénias e, sem querer ser desagradável, ia fazendo também umas poucas.  Extraordinário.

3 comentários: