30 de outubro de 2015

Brisbane


Na volta das ilhas Fiji voltei a fazer escala em Brisbane. Desta vez fiquei 24 horas. Aluguei uma bicicleta e fui visitar os concessionários Lamborghini e Ferrari, onde tinham, além de vários carros novos, um F40 em exposição. Da parte da tarde fui até “South bank”, do outro lado do rio, onde têm uma praia artificial, com areia trazida de praias verdadeiras. Almocei junto a esta concorrida praia e à tarde fui visitar o museu da cidade, com uma exposição de arte aborígena. Os Australianos parecem estar numa fase de arrependimento na forma como trataram os aborígenas, o povo indígena, no passado e agora, por todo o lado, contam a história deste povo, divulgam a sua arte e modo de vida e tentam que eles comecem a integrar a sociedade de uma forma pacífica. Até início dos anos setenta achavam que as famílias de aborígenas não tinham condições para criarem os muitos filhos que tinham e tiravam-lhes as crianças para as criarem em orfanatos próprios. É a chamada “stolen generation”, um problema social que criou feridas que levarão gerações a cicatrizar.
No dia seguinte acordei cedo para apanhar o avião de regresso a Darwin. Fiquei três dias naquela pequena cidade e fiz mais umas pinturas para o pequeno Hotel onde estou a ficar, desta vez o lago da entrada.
Com uma espera de mais quinze dias pela moto decidi então meter-me noutro avião e ir passar dez dias a Sydney, onde tenho uma amiga que não via desde que para cá veio, há mais de trinta anos.
Fiquei fascinado com a cidade. Esta zona costeira é muito recortada, com inúmeras baías, muitas delas com praias ou pequenos portos. Só a parte central da cidade tem prédios altos e todo o resto estende-se por esta costa espetacular com muitas centenas de casas ou pequenos prédios de três ou quatro andares junto ao mar. Ferries de passageiros fazem o transporte entre o centro e vários destes pequenos portos, evitando o transito na cidade que, de qualquer forma, nunca tem a intensidade das principais cidades europeias ou asiáticas. Talvez por a população ser relativamente reduzida e estar espalhada por uma área tão grande. À semelhança de Africa este é um país que não tem, definitivamente, problemas de espaço.

23 de outubro de 2015

Fiji Islands - 4



No dia seguinte à sessão desportiva arranquei, da parte da tarde, para uma pequena ilha a Sul, já perto da “main land”, como eles chamam à ilha maior, onde está a capital e o aeroporto.
Levantou-se vento e o mar estava muito picado, com o enorme e rápido catamaran a levantar voo entre as ondas e o comandante a pedir para ninguém se levantar dos bancos.
A Bounty Island, onde desembarquei, é pequena e o “resort”  a única construção existente. De mais fraca qualidade que os outros onde estive fiquei quase acampado. A maioria das cadeiras de praia não tinha colchões, as refeições eram beras, enfim, o que valia era a paisagem selvagem.
Tive que pedir um segundo lençol porque na camarata com beliches só tinha o de baixo e na primeira noite fui atacado por insectos, provavelmente pulgas saídas do cobertor. Acordei num estado lastimável. No dia seguinte foi a vez de uma miúda suiça linda, que dormia ao meu lado, estragar aquela pele maravilhosa. Fazia dó.
Para piorar a situação uma inglesa trintona, que não se calava, decidiu pôr o despertador para as cinco. Pelas oito e meia voltou ao quarto pedir-me desculpa, com a explicação que quis ir ver o nascer do sol.
- “o nascer do sol sou eu a acordar, não precisava de sair do quarto”, respondi-lhe.
No segundo dia acordei com dores nas costas e fui salvo por uma massagista local que me tratou na praia.
Enfim, não se passou muito bem a visita a esta ultima ilha mas sempre foi bem melhor que ficar em Darwin a pintar grades e jogar Golf. Com a moto sem haver maneira de chegar arrependi-me de não ter ficado mais dias nestas ilhas fabulosas mas não podia mudar o voo.
Pelas cinco da tarde dois “locals” levaram-me no pequeno fora de bordo do “resort” a outra pequena ilha, distante de umas três milhas daquela, onde apanhei o catamaran grande para regressar à “main land”. No dia seguinte de manhã tinha o voo de regresso à Australia.
Marquei cama no mesmo sítio onde tinha ficado quando da chegada a Nadi. Na recepção disseram-me que só tinha outra pessoa no quarto. Quando lá cheguei não queria acreditar. Era a “minha” gorducha Australiana que estava tal e qual como a tinha deixado nove dias antes, deitada na cama a ver filmes no computador. Talvez um pouco mais gorda.
Gostei de a ver e perguntei-lhe se por ali tinha ficado todos aqueles dias em vez de ir para as ilhas. Confirmou que sim e que visitou uma ou outra mais perto mas ao fim do dia voltava sempre à sua cama/sala de cinema.

19 de outubro de 2015

Fiji Islands - 3



No dia seguinte tinha marcado um passeio de barco com o equipamento de “snorkeling” para irmos nadar com as Mantas, num canal entre duas ilhas onde elas passam quando a maré começa a vazar.
Felizmente enganaram-se a fazer a reserva e já não tinha lugar no pequeno barco a motor. Fui queixar-me ao gerente e ele disse que mandaria um barco só para mim da parte da tarde. Os que foram da parte da manhã apanharam a maré a encher e não viram manta nenhuma enquanto que eu e duas holandesas que entretanto pediram para também vir assistimos a um espetáculo extraordinário. Uma das mantas, com dois metros de largura, passou tão perto que lhe podia ter tocado e a seguir saiu fora de água, deu uma cambalhota para trás e voou quase caindo em cima de mim. Estava a filmar com a Go-Pro e, mesmo não tendo ficado uma obra de arte, as holandesas, que fazem filmes sobre natureza por todo o mundo, adoraram e pediram-me uma cópia.
Na volta para o “resort”, um trajeto de pouco mais de uma hora, os locais que traziam o barco decidiram lançar duas linhas em canas de pesca e, quando menos esperávamos, a Kika pescou um atum de uns 50 cm.
Passados três dias fantásticos naquele “resort” decidi mudar para o “Blue Laggon Beach resort” numa ilha a cerca de três horas de distancia, no rápido catamaran que transporta os clientes entre os vários “resorts” das ilhas.
Este fica junto ao local onde filmaram o “Blue Lagoon”, o sucesso de 1980, com a Brook Shields.
A baía forma uma espécie de lagoa e é o mesmo género do outro em que estive mas com uma praia mais estreita.
Cheguei pela uma da tarde e, depois de almoçar no restaurantes em madeira, sem paredes, em cima da praia, passei o resto do dia a ler deitado numa das cadeiras da praia sobre esta baía de águas calmas e transparentes. O dia seguinte era dia nacional das Ilhas Fiji. Pelas dez da manhã um militar, ou o que me pareceu mais ser um empregado vestido de militar, veio hastear a bandeira colocada junto à piscina e depois tivemos jogos o resto do dia. Fiz parte da equipa Europa com mais um alemão, um casal de suecos em lua de mel e outras duas suecas. Uma das provas era uma estafeta em natação com metade da equipa colocada numa jangada a cerca de cem metros da praia. Arranquei
 rapidíssimo mas cheguei à jangada esgotado, com os três adversários a passarem por mim nos últimos 30 metros. Brilhei na estafeta de canoagem, onde fui o mais rápido.
A competição incluiu ainda corridas de jangadas artesanais e outra com sacos nos pés, como fazíamos em miúdos.
Um dia animado, para variar.

15 de outubro de 2015

Fiji Islands - 2


Quando desembarcámos no Octopus Beach Resort o gerente, ao receber-nos, perguntou se algum de nós era medico.
-       Porquê?
-       Só para saber. É que aqui na ilha não há um único medico e às vezes pode ser preciso.
O casal Neo Zelandês contou-me mais tarde que, o ano passado, quando cá estavam, a filha de uma das empregadas sentiu que ia ter o seu sexto filho mas, quando pediu que a levassem de barco para a ilha principal, onde há hospital, o pequeno fora de bordo não pegou. O mecânico ainda esteve quase uma hora de volta dele até que foram pedir o barco do Hotel emprestado mas tinha partido para a pesca com clientes. O gerente perguntou então se havia algum medico entre os hóspedes e, por sorte, avançou um voluntário e duas enfermeiras que trataram do parto no escritório do homem.
Instalei-me em mais uma camarata, desta vez preenchida, almocei e passei a tarde nesta praia fantástica comodamente instalado, a ler e à conversa com uma simpática holandesa, entre uns dez banhos de mar que incluíram um maior, de óculos, respirador e barbatanas para observar os milhares de peixes multicolores e coral, mesmo ali junto à praia.
Pelas seis da tarde o velho Neo Zelandês veio à praia convidar-me para ir ao “bungalow” onde estavam instalados “deitar abaixo” uma garrafa de champanhe. A mulher, com a perna em gesso, não podia passar do terraço sobre a praia e passei a ir beber um copo à “barraca” deles todos os dias ao final da tarde.
À noite, na camarata em que fiquei, com seis camas, estávamos instalados eu, um miúdo sueco e dois casais  australianos. As camas não distavam mais de um braço  entre elas. Se fossem latinos os homens teriam colocado as mulheres na ponta oposta a mim e ao sueco mas estes, simpaticamente colocaram as mulheres no meio. De maneira que do meu lado da camarata dormiu uma australiana comigo de um lado e o marido do outro.  Prometo que não estiquei o braço durante a noite mas o marido também não, que eu teria dado por isso. Fazem abstenção nas férias o que parece não fazer muito sentido num sítio tão romântico.

10 de outubro de 2015

Fiji Islands



Já farto da pasmaceira de Darwin decidi meter-me num avião e ir passar dez dias às ilhas Fiji.
A Austrália é o sexto país maior do mundo, com 7,7 milhões Km2, ou seja, é um pouco menor que o Brasil ou os Estados Unidos mas maior que a Ìndia, que tem um bilião de habitantes enquanto aqui não há mais que 27 milhões, apenas três vezes mais que em Portugal.
Uma das razões é que grande parte do território é deserto inabitável.
O voo que apanhei foi direito a Brisbane, na costa oriental, para no dia seguinte seguir noutro para Nadi, nas Fiji Islands.
O céu estava limpo e durante mais de duas horas sobrevoámos deserto, sem qualquer vegetação ou vestígios humanos. Só quando nos aproximávamos da costa Oriental é que começou a aparecer primeiro alguma vegetação e depois uma ou outra quinta, de dimensões  absurdas para os conceitos europeus. Mais à frente um rio com uma barragem, alguns aglomerados de casas e, por fim, já a uma meia hora da cidade, montanhas com vegetação densa.
Brisbane é uma cidade relativamente grande, com mais de dois milhões de habitantes e um alto nível de vida. No trajeto do aeroporto para o centro passei por um concessionário Ferrari e outro Lamborghini, como não vemos na maior parte das capitais europeias. Pelas ruas muitos turistas orientais, principalmente japoneses e sul coreanos.
No dia seguinte parti para as Fiji, numa viagem de outras três horas e meia.
Quando cheguei instalei-me num pequeno “resort” em que a carrinha que me foi buscar ao aeroporto entrou pela praia por onde rolámos uns trezentos metros até à entrada do Hotel, com uma recepção ao ar livre, junto à piscina. Tinha reservado uma cama numa camarata com meia dúzia de lugares, um sistema muito utilizado aqui pois a dormida fica por 20 euros em vez de oitenta ou cem.
No meu quarto, nessa noite, estava só uma Australiana, gorducha, dos seus vinte e pouco anos. Era simpática mas passou a tarde deitada na cama a ver filmes no computador e a noite a ressonar. Nos intervalos lá consegui dormir e no dia seguinte levantei-me às sete e meia, com a rapariga ainda a ressonar, e parti apanhar um semi-rígido que me levou até uma das pequenas ilhas, Waya. O mar estava calmo e, passado hora e meia desembarquei neste local paradisíaco, com uma água transparente a refletir tons de azul turquesa junto a umas cabanas na praia no meio de palmeiras e uns vinte metros de areia branca e fina.
Na praia quatro empregados cantavam e tocavam violas  numa recepção de boas vindas a mim, a duas gémeas irlandesas dos seus 27, 28 anos e um casal de velhos Nova Zelandês muito simpático que me contaram virem para aqui de férias há mais de vinte anos, quando só havia três “bungalows” na praia. A senhora tinha partido o pé dois dias antes ao sair de um barco mas mesmo assim preferiu partir para a ilha de gesso na perna que estragar as férias.

8 de outubro de 2015

Darwin - 3




Tinha planeado que a moto fosse enviada de Timor por barco para estar em Darwin em Agosto de forma a já cá estar quando chegasse.
O problema é que a única companhia de navegação a operar em Timor funciona muito mal e, depois de três meses de tentativas para que fosse embarcada, acabei por chegar a Darwin com a moto ainda a caminho. Com a agravante que a mandaram através de Singapura. As coisas complicaram-se e estou em Darwin há mais de quinze dias à espera e pelo menos mais outro tanto vou ter que por aqui ficar. A ler e a jogar Golf, que pouco mais há para fazer nesta terra onde estão 30º permanentes mas não se pode ir à praia por causa dos crocodilos.
Aqui só têm duas estações no ano, seca e molhada. A temperatura não varia muito mas enquanto agora é seco para o mês que vem começa a chover quase ininterruptamente durante quatro meses. O que vale é que, à medida que for para  sul, o clima é mais ameno e lá será verão.
Depois de dois dias num Hotel mudei-me para um quarto alugado na casa de uma Filipina onde o filho e a namorada, que viviam no andar de baixo, davam festas que duravam a noite toda e quando eu saia para o golf, às oito da manhã, ainda estavam espalhados pelos sofás do terraço, alguns em coma aparente.
Como a Filipina só me fornecia duas horas de Internet por dia resolvi mudar e ontem instalei-me num Bed and Breakfast mais perto do campo de golf e com bom Wi-fi.
Ao negociar o preço da estadia, que aqui são caras, o dono propôs-me fazer umas pinturas no estabelecimento, para pagar menos renda, de maneira que hoje comecei a minha vida de pintor de casas. Comecei por “atacar” um alpendre e amanhã, então já com mais experiencia, atiro-me para as paredes.
Como a roupa que trouxe é pouca e não a queria sujar de tinta, resolvi ir a uma loja de beneficência na esquina comprar uma “T” shirt e uns jeans em segunda mão que me custaram menos de um euro cada. Comprei também uns sapatos, que me pareceram bons, em pele cinzenta e atacadores roxos, por dois euros.
Quando cheguei ao “serviço” a Erika, uma Estonia estupenda que aqui trabalha na recepção, virou-se para mim e disse:
“Wow. vai pintar o alpendre com sapatos Dolce Gabana”?
“Pois é, Erika. Eu sou assim. Dolce Gabana para as pinturas e sapatos da feira para o dia a dia”.

6 de outubro de 2015

Darwin - 2




À primeira vista a Austrália é muito do género dos Estados Unidos. Darwin é uma pequena cidade costeira, com prédios baixos e uma rua principal de comercio, com restaurantes de qualidade média bastante movimentados. Na zona do porto  uma piscina com ondas artificiais e mais restaurantes. Já fora do centro várias zonas de casas boas junto à costa. Pelo interior mais bairros de casas individuais.
Aqui vê-se que há espaço para não haver prédios e a classe média vive nestas casas construídas em terrenos de cerca de 400m2, com uma má qualidade de construção mas funcionais. 
A densidade populacional é pequena, as estradas boas e não há filas de transito ou engarrafamentos, nem no centro da cidade. 
A classe baixa são só praticamente os “aborigenas”, descendentes dos nativos, a quem o estado dá uma pensão vitalícia por não estarem mentalizados para trabalhar nem ninguém parecer estar interessado em os empregar. Os que decidiram deixar as suas aldeias fora da civilização e vir para a cidade vagueiam pelas ruas, muitas das vezes descalços, alcoolizados e sem rumo, ou deslocam-se nos autocarros sem destino aparente. O governo está a tentar que a nova geração frequente as escolas e se instrua mas é um processo que demorará gerações.
Os outros, os descendentes dos conquistadores, vivem bem e a vida é mais cara que em Portugal, talvez ao nível de França ou Inglaterra.
Ao estilo americano os australianos também gostam de grandes motores V8 que se fazem ouvir montados em “pick-up’s” ou jipes e têm uma pronuncia muito mais próxima da americana que da inglesa.
Ficamos com a sensação que o país funciona e um sinal de que as decisões são tomadas rapidamente foi-nos dada por um membro do partido governamental que decidiu candidatar-se a Primeiro Ministro. Anunciou a candidatura de manhã, à tarde houve votação na sede do partido e à noite já deu uma conferencia de imprensa como novo Primeiro Ministro. Dois dias depois já estavam novos ministros nomeados e passavam na televisão uma entrevista ao Primeiro Ministro, na sua quinta, onde ele mostrava os seus dotes culinários. Poucos minutos depois víamos o PM cessante a colocar a sua prancha de surf no tejadilho do carro e partir para férias.
Seria possível um programa de televisão com Passos Coelho a cozinhar no seu apartamento de Massamá seguido de uma imagem de Socrates, prancha de surf debaixo do braço, a trocar Paris pela praia de Carcavelos?
O desporto nacional aqui é o rugby, mas também jogam criquet e uma espécie de rugby, a que chamam football, a Aussie League que é jogado com uma bola de rugby mas agarram-na à mão e chutam. Os golos são entre altos postes, como os do bugby. Ligam pouco ao nosso futebol, ao ponto de num programa televisivo do tipo casamenteiro apresentarem um dos concorrentes especificando que era jogador profissional de soccer. Como se referíssemos em Portugal: “este concorrente chama-se Ronaldo e é jogador profissional de futebol”.
Para além disto há corridas de cavalos, de carros, golf, etc.

2 de outubro de 2015

Darwin - Australia




Mal o avião aterrou um cheiro intenso a queimado invadiu a cabina. Os passageiros que estavam à janela apressaram-se a tentar perceber, através da noite escura, de onde vinha aquela cor encarniçada do céu. E, assustados, observavam asas e motores. Ao mesmo tempo a hospedeira chefe, com ar preocupado, soltava-se do seu cinto de segurança, mais completo que o dos passageiros, levantava-se da cadeira com assento que levanta de costas para a cabine de pilotagem, a lembrar as das velhas salas de cinema, e pegava no telefone para anunciar ao comandante o forte cheiro a queimado, ainda o avião rolava pela pista. Tudo isto não demorou mais de 10 a 15 segundos, até se ouvir a voz do comandante anunciar aos passageiros: Não se preocupem. Este cheiro a queimado não vem do avião. O que se passa é que parece estar tudo a arder à volta do aeroporto.
No dia seguinte os jornais mostravam carros e casas em cinzas mas a maior parte foi mato, em grandes extensões, como é comum na Austrália.
Tinha acabado de aterrar em Darwin, para o regresso à minha volta ao mundo de moto. Passava pouco das cinco da manhã e decidi ficar uma hora ou duas pelo bar do pequeno aeroporto, à espera que fossem horas decentes para aparecer no Hotel que tinha reservado uns dias antes.
Quando finalmente saí para a rua o sol já tinha nascido mas o fumo intenso não deixava ver mais que uns vinte metros à frente. O chofer de táxi considerou o fogo uma banalidade e  três ou quatro quilómetros fora daquela zona já podíamos ver o azul do céu com o calor que prometia.
As praias são boas, por aqui?
Sim, mas não se pode tomar banho.
Porquê?
“Crocodilos e alferrecas, que se agarram ao corpo e provocam fortes queimaduras”.
Nunca tinha ouvido falar em crocodilos de água salgada mas o homem informou-me que são os piores.
“Bastante maiores que os dos rios e pântanos atingem facilmente os cinco metros e em vez de arrancarem um braço ou uma perna comem a vitima até ao ultimo osso”.
Aqui, todos os anos morrem pessoas comidas pelos crocodilos, conta-me o homem.
“Já ninguém vai nadar mas às vezes andam à pesca, em pé nos barcos e os animais saltam da água para os agarrar”.
Darwin é uma cidade pequena, com pouco movimento. É aqui que chegará a moto que, depois de muita insistência minha junto da companhia de navegação timorense, lá foi carregada num contentor transportado por um navio que, a fazer escala em Singapura, há de aqui chegar dentro de uns dez dias. Não me resta mais que aguardar a passear e ler na pequena piscina do Hotel.