31 de maio de 2018

Belém do Pará

Quando o barco atracou num velho porto em madeira de Belém, cerca da meia noite, o piso de baixo onde se encontrava a moto estava muito baixo pois, por estarmos perto do Equador, as marés têm amplitudes muito elevadas. Para além disso não queria deixar o barco a meio da noite numa zona perigosa da cidade e sem ter Hotel marcado onde ficar. Assim, fiquei a dormir no colchão estendido no convés e, pelas oito da manhã, já com o convés inferior próximo da altura do cais, descarregaram-me a moto. Insisti para que colocassem duas tábuas, uma ao lado da outra, para que pudesse ser segura de lado ao passar uns dois metros sobre o rio mas os carregadores decidiram que não, que dava muito trabalho colocar uma segunda tábua, e lá a desembarcaram sem incidente. No dia seguinte contaram-me que não seria a primeira a cair ao rio na descarga daquele porto.
Estava já no porto, a carregar um mapa no telemóvel, quando me trouxeram o capacete, com as luvas dentro, que tinha deixado no barco. Só que, apenas vinha uma das luvas. Fui procurar a segunda dentro do barco, sem sorte. Certamente teria caído ao rio quando me trouxeram o capacete.
No porto um rapaz sugeriu que visitasse a loja de um tal Alex, que teria luvas e poderia ser um bom apoio, estando eu a viajar por aquelas bandas. 
Constatei mais tarde que, aqui no Brasil, talvez por ser mais perigoso viajar de moto, os motociclistas apoiam-se muito uns aos outros.
Fui visitar o Alex, um tipo muito simpático, que explora uma loja de peças de moto com a mãe e que logo colocou uma fotografia dele ao meu lado na sua página de facebook.
- Porque não fica por cá hoje? Logo à noite há um jantar do nosso clube motociclista.
- Está bem. Porque não?
Passados dez minutos ligou-lhe um amigo que tinha visto o “post” com a minha fotografia e me convidava a ficar em casa dele. Era um juiz desembargador que tinha uma Harley e pretendia viajar pela Europa e Rússia no final do ano. Passou pela loja do Alex e segui-o até sua casa, onde fiquei bem instalado, a contrastar com as ultimas noites passadas a bordo.
O José Alencar mostrou-me a cidade, levou-me a procurar quem me reparasse o computador, infelizmente sem sucesso, e acabei por ficar dois dias lá por Belém do Pará. Uma bonita cidade que foi um importante porto no tempo da colonização e de onde é hoje escoado muito do minério de ferro e alumínio, retirado das margens do Amazonas, para Ocidente. Este ultimo chega ali em grande parte através de um “pipeline” vindo do interior e que fornece uma fábrica hoje em dia pertença de noruegueses e japoneses, instalada na pequena cidade de Vila do Conde, nas margens do estuário, e que é uma das maiores produtoras mundiais de ligas de alumínio. 






29 de maio de 2018

Rio Amazonas 2

Os tripulantes revezaram-se de vigia a noite toda enquanto o barco navegava rio abaixo. Deitei-me pelas onze e meia. Às cinco e meia da manhã acordei com dois tiros. Ainda era de noite. Houve um reboliço geral mas todos se mantiveram nas redes. Dei um salto da cama e vim à ré perguntar o que se passava. Uma lancha ter-se-ía aproximado perigosamente do barco e o atirador de serviço deu dois tiros para o ar, para mostrar que estava armado e pronto a disparar. A lancha afastou-se. 
Quando chegámos a Belém contaram-nos que outro barco tinha sido atacado pelos piratas naquele local, duas horas depois de passarmos.
De dia a viagem tranquiliza-se e podemos apreciar as margens exuberantes da floresta equatorial, com cabanas de Índios junto ao rio e, surpreendentemente, uma ou outra igreja das que proliferam pelo país.
Nos três dias que passei no barco conheci várias pessoas. Um pai e filho descendentes de japoneses que, embora ambos já tivessem nascido no Brasil, vivendo em pleno Amazonas, eram típicos japoneses, não só fisicamente como mentalmente: calmos, discretos e civilizados, sendo brasileiros de nacionalidade, nada tinham a ver com o típico brasileiro, extrovertido e espalhafatoso. Curiosamente, numa das poucas vezes que visitaram o Japão, a única filha apaixonou-se por um japonês e por lá ficou casada.
Um típico brasileiro era o Celínio. Quando conversávamos o homem disse ser bisavô.
- Bisavô?? Como é possível? Que idade você tem?
- 70
- Mas parece 55.
- É que eu faço plástica. Vou agora fazer outra.
- E sendo bisavô quantos filhos tem?
- 20
- 20?? De quantas mulheres?
- Oito são da mesma. Os outros fui “picando” por aí.
E foi-me mostrando fotografias de vários dos 20.
- Esta tem 22 anos. Ainda não a conheci mas trocamos mensagens muitas vezes. Fui muito bom pai para ela. Sempre lhe enviei “grana”.
- E que idade têm todos esses filhos?
- A mais velha 46 e a mais nova dois anos.
- Você é muito conquistador e tem que ter dinheiro para alimentar toda essa família.
- Sabe, é que mulher não gosta de homem. Quem gosta de homem é “veado”. Mulher gosta é de “grana”.

26 de maio de 2018

Rio Amazonas




O barco era maior que o anterior mas não muito, com uns 60 metros de comprimento mas em ferro, em vez de madeira. Tinha três pisos, todos abertos dos lados, com o de baixo reservado à carga e tripulação, o do meio às redes onde dormiam os passageiros, com um pequeno refeitório na parte de trás, também aberto ao rio e à temperatura agradável do Amazonas durante todo o ano.
No piso superior, para além da cabine de pilotagem e camarote do comandante, havia um bar junto a um enorme convés ao ar livre, com mesas e cadeira plásticas empilhadas, que os passageiros íam tirando conforme necessitavam. Um pequeno bar de apoio vendia essencialmente pastilhas elásticas às crianças enquanto uma televisão com imagem muito tremida reunia à volta, ao final de cada dia, grande parte dos passageiros, homens e mulheres, a assistirem a novelas, o Big Brother brasileiro ou um ou outro jogo de futebol.
Zarpámos pela meia noite, Amazonas a baixo.
O trajecto é lindo, com floresta virgem em ambas as margens, embora o rio em certos locais, seja tão largo que as não podemos observar de perto. Pelo caminho paramos em pequenas povoações com nomes de cidades portuguesas como Aveiro ou Almeirim, onde desembarca um ou outro passageiro e entram outros. Descarregam e carregam mercadoria. Em Almeirim vendedores de queijo entram barco dentro e vendem uma espécie de queijo fresco em porções avantajadas, embrulhado em plástico. Em Aveiro carregamos uma dúzia de baús de esferovite carregados de um peixe pequeno e escuro, coberto com uma camada de gelo, pesado no cais em balança rudimentar e negociado por um dos passageiros que acompanha as caixas até umas cidades mais abaixo no rio, onde a pesca excessiva acabou com a vida marinha.
As refeições a bordo eram boas embora me tivesse que adaptar às horas escolhidas para serem servidas. Pequeno almoço entre as seis e sete, almoço entre as onze e o meio dia e jantar entre as seis e sete da tarde.
Pelas nove da noite do segundo dia vim à ré e pedi se podia acender a luz de refeitório para me sentar a escrever. Um dos tripulantes, de espingarda à tiracolo, a andar de um lado para o outro a observar as águas do rio respondeu-me que “não, que dá muito nas vistas”.
- O que se passa?
- Nesta zona há muitos piratas e tenho que estar pronto para disparar.
Só então reparei que dois outros tripulantes, na proa e ré do navio, varriam o rio com potentes holofotes, à procura de possíveis assaltantes.
- O que fazem esses assaltantes?
- Armados, encostam as lanchas ao barco, saltam para o convés de baixo, e assaltam passageiros e tripulação. Só quando há mortos deste lado vem nas notícias. Eu estou farto de os matar mas continuam sempre a aparecer outros.

Parecia estar num filme com cenário na Somália. Os restantes passageiros não se apercebiam do que se passava ou, sendo eu o único estrangeiro, aquilo seria, simplesmente, uma banalidade para as gentes locais.

23 de maio de 2018

Alter do Chão - Amazonas

No rústico bar de praia onde acabara de almoçar anunciavam que se podia pagar com cartão. Com dinheiro quase à justa para a viagem de barco seguinte escolhi essa opção.
- A internet não está cheia, explicou-me o homem quando o rapaz mais novo e que ele anunciou como especialista, não conseguiu fazer funcionar a máquina de cartões de crédito, apesar de a segurar, com a mão esticada ao alto, na procura de mais proximidade ao suposto satélite milagroso.
- Espere um pouco enquanto enche.
- Está bem. Vou dar um passeio pela praia enquanto enche.
Voltei dez minutos depois e o miúdo fez nova tentativa, desta vez em bicos dos pés e fora do telhado de colmo. Como que por milagre a máquina cuspiu o papel que comprovava a transacção.
- Está vendo? Já encheu.
- Fantástico, respondi, mais incrédulo que o homem.
Da parte da tarde aluguei uma lancha para um passeio pelas margens do Amazonas. O dia estava lindo e nesta época de chuvas, permite que os pequenos barcos vão até locais que, na época seca são floresta, através de arvores em parte submersas. É um passeio fantástico. Como que uma caminhada pela floresta mas… de barco.
Parámos num pequeno restaurante onde também se pode chegar por terra. Uma miúda loira de cinco anos andava de baloiço sob o olhar de uma mãe norueguesa.
- Como veio parar ao Amazonas?
- Fartei-me de viver na Noruega e comprei aqui uma pequena propriedade onde vivo com a minha filha.
- O pai dela é brasileiro?
- Não, é mexicano mas separámos-nos. Ela não o conheceu.
Voltei a Alter do Chão e à moto para regressar a Santarém. Nessa mesma noite sairia um barco que descia o Amazonas e me levaria até Belém, onde chegava três dias depois.
Fui primeiro comprar o bilhete e negociar o transporte da moto para depois regressar à cidade tentar comprar um colchão onde pudesse dormir durante a viagem, pois os restantes passageiros estendem redes próprias no convés mas, na noite em que tinha passado pela experiência, na viagem de Itaituba para Santarém, dormira mal.
Encontrei um colchão de encher que, com a bomba manual própria me custou o equivalente a 30 euros e soube-se a cama de Hotel de cinco estrelas durante a viagem de três dias.

Tinham-me pedido para embarcar a moto só às oito da noite e por isso aproveitei para ainda jantar na cidade.

21 de maio de 2018

Santarém - Amazonas

A paisagem das margens deste afluente do Amazonas é fantástica, com a floresta tropical a estender-se até ao rio e, por vezes, este a intrometer-se floresta dentro, formando uma espécie de lagoas, que imaginamos carregadas de crocodilos e piranhas.
Dormi mal na rede, não só por a falta de hábito não me permitir encontrar uma posição confortável como por o abanar do barco a fazer bater contra as dos passageiros do lado.
Atracámos em Santarém às oito e meia da manhã. Carregadores “oficiais”, de “T shirt” azul, entram pelo barco dentro mal este se encosta ao porto.
- Vamos descarregar essa moto?
- Não, que já paguei o dinheiro que tinha ao comandante. Os homens dele descarregam a moto.
Esperei que passasse a azáfama inicial e propus ao comandante que utilizássemos a grande prancha do barco atracado em frente. Ele achou boa ideia e mandou os seus homens buscá-la, o que originou que o comandante vizinho saísse ao cais a protestar.
- Deixe-se de refilar, seu velho. Acha que vamos estragar a prancha? Já lá a colocamos de volta. E dirigindo-se aos seus homens:
- Vá, rápido. Vamos lá. Tragam a moto.
Em três tempos o comandante tratou que colocassem a moto no cais.

Tinham-me recomendado visitar Alter do Chão, a 30 Km de estrada boa, alcatroada, através da floresta.
Quando saía de Santarém vi na beira da estrada um concessionário Honda grande, com bom aspecto. Decidi entrar para saber se tinham máquina de teste electrónico para confirmar se a avaria que a moto tem desde a Argentina provém de algum sensor elétrico, ou é mesmo da bomba de gasolina, como desconfiou o mecânico, de ar competente, que havia na oficina de Cuiabá onde assaram o boi. Ligámos a moto ao aparelho e a única avaria detectada indicava o sensor MAP, o tal que me tinha esquecido de ligar quando troquei velas e filtro de ar. Limpa a avaria no sistema desapareceu o erro. Dá cá 50 Reais (17 euros) e a quase certeza que a avaria só pode ser da bomba de gasolina, que tem sofrido com muitas gasolinas de má qualidade e muito provavelmente contaminadas com água e sujidade.

Cheguei a Alter do Chão por volta do meio dia. Tem uma famosa península em areia com restaurantes de telhado em colmo na praia e mesas no areal, onde se pode almoçar com água morna até à cintura. Tive preguiça de vestir o fato de banho e instalei-me numa mesa à beira rio no restaurante sugerido pelo barqueiro que me levou no bote a remos. Pedi um Pirarucu na manteiga, como me tinha recomendado o meu amigo Armando, de Cuiabá. Esperei uma hora, tranquilamente, a admirar a vista e a ler mas peixe, nem cheiro. Chamei o empregado e perguntei se o tinham ido pescar. Ele puxou uma cadeira e sentou-se à minha mesa para me dar explicações, atitude que traduzi como um mau sinal. Infelizmente estava certo. O gaz tinha-se acabado a meio da fritura e ele próprio, comprovado pelas manchas na “T” shirt branca, tinha ido de bote à vila trocar a bilha. Já não demoraria. Quando finalmente me trouxe o Pirarucu vinha como eu temia: seco da dupla fritura enquanto as batatas cozidas estavam quase cruas. Não deixei de lhe dizer que estava péssimo mas a fome levou-me a comer aquele sem ousar pedir que cozinhassem outro.


19 de maio de 2018

Itaituba - Amazonas

Na manhã seguinte, surpreendentemente, o troço de estrada que me tinham dito estar em pior estado, estava alcatroado de novo e pude percorrer os 130 Km em hora e meia, parando uma ou outra vez para fotografar a exuberante paisagem da floresta amazónica ou um bando de abutres a deliciarem-se com a carcaça de um animal.
Cheguei a Muritituba pelas onze da manhã e entrei directamente na barcaça que estava no cais, com um dos homens a dizer-me para estacionar a moto dentro e ir ao guichet de entrada comprar o bilhete para atravessar o rio Tapajós, um afluente do Amazonas, já com a largura do rio Tejo na foz.
O equivalente a dois euros, a travessia de 15 minutos para mim com a moto, onde a balsa é empurrada por um rebocador, que encaixa a frente numa travessa própria lateral.
Cheguei a Itaituba e dei uma volta pela pequena cidade antes de ir lavar a moto, coberta de lama.
No Hotel Sonho, à beira rio, duas miúdas giras entretinham um cliente de “T” shirt e boné na esplanada. Perguntei ao miúdo que lavava a moto se era bom aquele Hotel. 
- Não se meta com elas, respondeu ele, sábio. Isto é terra de garimpeiros. O último que aí apareceu bebeu lá uns copos e exibiu às raparigas duas pepitas de ouro que trazia consigo. Quando acordou estava trancado no quarto e tinha desaparecido o ouro e tudo o resto que pudesse ter algum valor.
Almocei num dos típicos self service que têm aqui pelo Norte e onde a maioria dos clientes mistura carne de vaca com frango, arroz, espaguete, batata e salada, por o equivalente a três euros, mais dois para o meu habitual sumo de maracujá.
Fui depois ao porto onde me tinham dito que sairia essa tarde o último barco da semana  para Santarém, o porto do Amazonas onde chegam os enormes cargueiros que vêm encher os tanques de soja, rumo ao Atlântico.
O pequeno barco, dos seus 30 ou 40 metros, era o típico dos que vemos nos filmes dos anos sessenta. Fazia até lembrar os velhos barcos a vapor mas sem a enorme roda traseira. Pintado de amarelo e branco o S. Luis tinha dois andares, com uma parte de baixo onde seguia a carga e parte dos passageiros, e um deck superior, os dois abertos lateralmente aos elementos, em terras onde nunca faz frio. Para  proteger os passageiros da chuva lonas laterais que se desenrolam.
A viagem até Santarém dura perto de vinte horas, incluindo a paragem em uma ou outra aldeia à beira rio.
Os cerca de 30 passageiros estendem cada um a sua rede nos dois convés, que se transformam rapidamente num quadro multicolor de redes cruzadas.
Negociei o preço com o comandante sem discutir muito pois não tinha alternativa aquele transporte.
- Mas eu não tenho rede onde dormir.
- Não tem problema. Eu empresto-lhe a minha, respondeu o comandante, ordenando a um dos marinheiros que a fosse estender no andar de cima, mais confortável por não se ouvir tanto o barulho do motor. 

Carregámos a moto e, pelas quatro da tarde deixámos o porto rio abaixo.



14 de maio de 2018

Mato Grosso

Naquela tarde segui tranquilamente até Nova Mutum por uma estrada razoável e alguns pequenos troços de auto-estrada. O problema foram os dias seguintes. No mapa que tinha comprado do Brasil, a partir de certo ponto, a estrada vinha assinalada como sendo de terra mas tinham-me dito que a maior parte já estaria alcatroada. Na realidade o alcatrão está em péssimo estado, com enormes crateras onde, como me avisou um camionista, “cabe lá a sua moto dentro”.
Mas antes passamos por impressionantes plantações de soja e algodão, em fazendas que se estendem por dezenas de quilómetros. Agora é altura da colheita de soja e, na mesma terra passam a plantar algodão ou milho, fazendo render aqueles férteis milhares de hectares de campo.
Os camiões carregam a soja e milho e levam-no ou para Cuiabá, para ser distribuído pelo Sul do país, ou para os portos do Amazonas e afluentes, de onde o cereal segue em balsas rio abaixo até à cidade de Santarém para, carregado em navios, ser exportado.
Na parte da tarde do segundo dia comecei a apanhar “estrada de chão”, como eles aqui chamam às estradas de terra. Estas estão muito degradadas porque são atravessadas por uma média de 1500 camiões por dia a pesarem, por vezes, setenta toneladas. Para além disso, a chuva desta época do ano ajuda à degradação. Em certas zonas começam a formar-se lamaçais e, nas subidas, os carregados camiões ficam por vezes atolados, provocando filas que se estendem por dezenas de quilómetros.
Fui passando por este inferno graças aos pneus de tacos que montei em Cuiabá, a mostrarem-se muito eficientes, mas as enormes vibrações na moto provocadas pelo mau piso abriram rachas nas malas de alumínio, já muito castigadas pelos desastres na Índia.
No segundo dia fiquei na cidade de Guarantá do Norte e no dia seguinte enfrentei a pior parte do trajecto, com piso de terra de muita pedra e chuva torrencial que, por vezes, durava só uma meia hora mas, sem encontrar onde me abrigar, tinha que seguir caminho com visibilidade muito reduzida.
Não costumo sair cedo de manhã. Embora o pequeno almoço nestes hotéis de província seja só servido entre as 6 e as 8,30 da manhã, acabo por deixar os hotéis só entre as 9,30 e as 10,30, a tratar de mails e escrita.
Nestas estradas, com zonas em que não circulo a mais de 50 Km/h, já com a sensação que a moto se vai desfazer, acabo por percorrer só cerca de 300 Km por dia.

No penúltimo dia antes de chegar ao Amazonas fiquei em Novo Progresso, uma pequena vila com apenas dois hotéis. O primeiro que visitei não tinha electricidade há dias de maneira que fiquei no outro, num quarto onde a cama de casal ocupava quase a divisão toda. Quando, na manhã seguinte, quis pagar a conta com cartão de crédito, que normalmente funciona em todas as estações de serviço e hotéis, o homem disse-me que a máquina não funcionava mas não haveria problema porque iríamos pagar a conta do Hotel no supermercado do outro lado da rua onde o gerente, não percebi se por sinceridade ou por não querer continuar com o sistema, disse que a dele  também estava sem rede. 


11 de maio de 2018

Pantanal 4

Em Porto Jofre estava aportado um velho barco de pesca que já não estava em estado de navegar e servia não só de casa aos proprietários como de pequeno bar para a meia dúzia de pescadores que hoje vivem, principalmente, de passear turistas no rio. Pedi para entrar e acompanhei-os nas suas cervejas com vodka a beber uma água. Quando cheguei falavam sobre crimes recentes na zona.
- O meu sonho é comprar uma metralhadora, dizia o mais conversador, já visivelmente afectado pelo álcool.
- Para quê?, perguntei-lhe.
- Para matar dez de uma vez, rátátátátá.
- Mais vale ficar só pela pesca.
- Eu não teria problema em matar dez de uma vez. Não seria como aquele no outro dia ali em Poconé que tinha cinco para matar mas como a sua consciência só lhe permitia matar três por dia, matou três e atou os outros dois para os matar no dia seguinte.
Mudei a conversa para os passeios de barco para visionamento de Crocodilos e Jaguares, a que eles chamam Onças pintadas. Disseram-me que nesta época do ano vêm-se muito raramente por estarem no interior da floresta. A época boa é em Agosto e Setembro. Nesses meses mais secos os animais vêm até junto do rio. Nos últimos anos dezenas de fotógrafos dos quatro cantos do mundo vêm ali passar uns dias ou semanas para tentarem captar as espectaculares imagens dos Jaguar a mergulharem no rio Cuiabá para caçarem crocodilos.
No trajecto de regresso a Poconé parei no único Hotel a funcionar na zona, o Mato Grosso Hotel, onde almocei e tomei um banho de piscina que mesmo morna me soube a praia caribenha.
Cheguei de volta a Poconé, pelas quatro e meia da tarde, estafado.
No dia seguinte passei em Cuiabá buscar o saco que tinha deixado no Hotel, para não levar tanto peso no passeio fora de estrada, e fui à oficina dos meus amigos mandar um mail e despedir-me.
No almoço do boi um nortenho tinha-me dito que a estrada que eu pretendia apanhar para o Norte, a caminho do Amazonas, estava intransitável, com enormes lamaçais, pois perto de 500 Km seriam em terra e diziam-me que no Pará não parava de chover. Contei isso ao Armando e ele recomendou-me que falasse não só com os policias à saída de Cuiabá como, na bomba de gasolina, com os camionistas que vinham desse lado. O problema é que esta estrada que segue de Cuiabá para Norte pelo interior, até ao rio Amazonas, a famosa Transamazonica, não tem ramificações pois grande parte foi construída através da floresta e passa junto a várias reservas de Índios. Assim, se no final a estrada estivesse intransponível e não me permitisse chegar ao rio Amazonas, teria que retroceder os 1500 Km, fazendo 3000 em vão.
Parei assim no posto de polícia, como o Armando me indicou, mas eles não foram grande ajuda, dizendo que não tinham informação e teria que perguntar mais a Norte, quando estivesse perto da zona em terra.
- Mas, não podem contactar a polícia dessa zona?
- Não. Não temos qualquer contacto com eles.
Mais tarde percebi porquê. Para o Norte, talvez por a densidade populacional ser muito reduzida, não há praticamente polícia. É uma espécie de lei da selva, onde apenas o exercito tem algum controlo. Aquela parte do país, com pequenas cidades de 30 ou 40.000 habitantes, está quase ao abandono.
Segui então a segunda opção para obter informação e fui falar com os camionistas que estavam parados na estação de serviço de saída da cidade. Um deles, simpaticamente, lançou uma mensagem por rádio e pouco depois responderam-lhe que a estrada estava difícil mas os camiões estavam a passar. 

Avancei assim, rumo a Norte, para vir a enfrentar das condições mais difíceis que encontrei nesta viagem de volta ao mundo.


9 de maio de 2018

Pantanal 3

O dia seguinte foi dia de boi. O Armando foi ter comigo ao armazém onde de manhã tinha tomado um pequeno almoço improvisado, comprado numa bomba de gasolina na noite anterior, e partimos para a oficina onde acabavam de assar o boi. O dono tinha-me dito para aparecer a partir das oito da manhã, que já haveria festa e, de facto, quando lá chegámos às onze e meia da manhã, já havia muito boa gente com ar de já ter entornado meia dúzia de cervejas no bucho. Uma banda “rock” instalava os instrumentos e, pelo meio dia, desataram numa chinfrineira ensurdecedora enquanto os muitos clientes do boi íam chegando.
Alguns aceleravam as motos a fundo à porta e faziam-nas dar estoiros com cortes de ignição. Um pandemónio infernal. Bebemos uma imperial e o Armando fugiu aos primeiros acordes da banda rock, com a desculpa que tinha uns amigos em casa para almoçar, enquanto eu “ataquei” o boi logo que ficou pronto, que por acaso estava fantástico, e parti para a próxima etapa, mais uma vez Pantanal dentro. Fui nessa tarde até Poconé, uma vila a cerca de 100 Km de Cuiabá. Já perto parei num bar de estrada, uma barraca na floresta com uma mesa de bilhar ao ar livre onde dois vaqueiros, um velho de chapéu à “cowboy” e um novo de boné apostavam umas poucas cervejas, já bem “aviados”. Pedi para me sentar na mesa deles, por ser a única da rudimentar esplanada, com a família do proprietário a ocupar uma grande nas traseiras da barraca. Eram simpáticos os vaqueiros.
- Aqui também há fazendas com mais 50.000 hectares, perguntei?
- Não. Isso é lá para o Sul, onde estão as dos políticos, que são quem tem dinheiro para isso. Aqui somos gente de trabalho e as fazendas raramente ultrapassam os 10.000.
Os brasileiros da província têm todos a ideia que os ricos do país são os políticos, que vêm sempre como bandidos que roubam o dinheiro do povo.
Quando cheguei a Poconé procurei um Hotel onde deixar as malas e parti visitar Porto Cercado. A rapariga da recepção, impressionada com a minha pronúncia brasileira, que utilizo para que me percebam, dizia:
- Mas como é que o senhor, sendo lá de Portugal, fala tão bem português?
- Tenho práticádo, né?

Porto Cercado é um pequeno porto de rio para onde os habitantes de Cuiabá levam pequenas embarcações com que partem pescar no abundante rio Cuiabá.
Estava lá atracado um enorme barco que fazia confusão pudesse navegar em relativamente estreito e certamente pouco fundo rio. O comandante, que me convidou a bordo, explicou que fazem principalmente pescarias de meia dúzia de dias com grupos de duas a três dezenas de pessoas e que o barco, construído para navegar em rios, só cala 1,10 metros.
Regressei ao Hotel de Poconé e, no dia seguinte, entrei pela famosa Transpantaneira e segui até Porto Jofre. São 150 Km em piso de terra bastante esburacado e onde se atravessam mais de cem pequenas pontes em madeira. O trajecto segue dentro deste enorme pântano e floresta, com uma vida animal fenomenal mas que, nesta época do ano, é limitada no visionamento pela enorme quantidade de água que afasta para o interior da floresta animais como os Jaguar ou os próprios crocodilos. Assim, para além das centenas de espécies de aves, algumas de grande porte, vi apenas vários Porcos do mato, por vezes acompanhados de crias, uma espécie de castores de grandes dimensões que andam pelos pântanos.
Mas o passeio é lindo, mesmo se um buraco maior que não vi me fez levar uma pancada no pescoço que me começou a dar dores dois dias depois.



7 de maio de 2018

Pantanal 2




No dia seguinte saí a caminho da loja de computadores mas reparei que o suporte da mala esquerda estava novamente solto. Desta vez perdera um dos parafusos e o outro partira-se. Como me enganei no trajecto para a loja parei junto a uma oficina auto de serviços rápidos para procurar a rua no GPS do telemóvel. Um dos donos veio cá fora, perguntou o que eu procurava e indicou-me o caminho. Perguntei-lhe se sabia onde poderia fixar o suporte da mala e ele disse-me que entrasse com a moto, pedindo a um dos empregados que visse se podia reparar aquilo.
- O meu irmão também tem motos. Vai gostar de o conhecer. Vou ligar-lhe.
E passados dez minutos apareceu o Armando, um tipo com quase dois metros que me apresentou a filha, nos seus 30 anos e da mesma altura que o pai. Propôs-se logo irmos comprar os parafusos para resolver o problema enquanto o mecânico retirava o resto do que se tinha partido. Pelo caminho disse-lhe que precisava também de pneus e tratámos de procurar quem os tivesse.
Voltámos à oficina já com os parafusos e os pneus encomendados para serem montados da parte da tarde. O Armando sugeriu que, se eu ficasse em Cuiabá essa noite, poderia dormir num pequeno apartamento que ele havia construído num armazém.
Com o suporte finalmente bem fixo fui ver o que se passava com o computador que, infelizmente, não tinham conseguido reparar, almocei num shopping center por perto e fui montar os pneus novos que os que tinha montado na Argentina, usados, já estavam nas últimas, para além do facto de desta vez voltar a precisar de pneus de todo o terreno, não só para percorrer a Transpantaneira, como para enfrentar as estradas de terra, muitas delas em mau estado, que me levariam ao Amazonas, para onde pretendia seguir.
Enquanto montava os pneus conheci um “motard” que me disse para aparecer na manhã seguinte numa conhecida oficina de motos onde iriam assar um boi para o almoço.
O Armando também conhecia os donos do boi e, antes de me guiar até ao tal apartamento do seu armazém, passámos por lá ver os preparativos. O homem encarregue de cozinhar o boi tratava de lhe cortar as pernas com um serrote e colocava a carcaça num espeto sobre um improvisado churrasco gigante. O espeto estava ligado a um motor eléctrico cuja desmultiplicação, segundo o Edy, o fazia rodar precisamente a quatro rotações e um quarto por minuto, o segredo para o boi assar lentamente sem que dê tempo à gordura para pingar. Depois, com uma enorme seringa injectou em várias partes do boi, ainda cru, o tempero.
Depois desta visita aos preparativos para a festa do dia seguinte, o Armando levou-me ao tal armazém. Era num local sinistro, em que atravessávamos uma espécie de pequena favela para lá chegar. Já passava das oito da noite e a minha ideia era deixar a mala, ver se estava tudo bem com as roupas da cama, e partir jantar a qualquer lado.
- Não é perigoso eu sair daqui à noite na moto, Armando?
- Não. Sabe porquê? Está a ver este bar aqui ao lado que está fechado?
- Sim.
- Era de um vizinho meu que matou todos os bandidos aqui da zona. Agora já não há perigo.
- Era?
- Sim. Ele morreu há uns meses.
- Como?
- Não se sabe. O filho também tinha morrido dois meses antes sem se saber como.
- Está bem. Então acha que ele matou mesmo os bandidos todos da zona?
- Sim. Isto agora é um local seguro.                                                                                     
E lá saí com a moto jantar a uma esplanada por perto e regressei sem problemas.
Dormi bem no apartamento do armazém, com um imprescindível ar condicionado ligado. Aqui a temperatura nunca baixa dos 30º à noite. De dia é superior.
Quando, no dia anterior, debaixo de 35º me queixei ao Armando que estava muito calor ele respondeu:
- 35º aqui é frio. Normalmente está sempre acima de 40. O ano passado tivemos um pico de 47º. Se não fosse a fraca humidade morríamos.

5 de maio de 2018

Pantanal

Em Mendonça instalei-me num pequeno Hotel onde me recomendaram visitar a fazenda S. Francisco que, em pleno Pantanal nasceu com 200.000 hectares e ainda tem 15.000, um tamanho difícil de imaginar para quem está habituado às areas das quintas europeias.
Acordei às seis e meia da manhã e, pelas sete e um quarto estava a sair na moto a caminho da fazenda, a 30 Km da cidade.
Passado o portão de entrada percorri 7 Km numa estrada de terra até à casa principal. Chegaram outros clientes e pelas oito e meia partimos num camião aberto, com bancos corridos, fazer um safari através da enorme propriedade. 
O Pantanal é das maiores reservas naturais de vida selvagem no mundo e neste passeio vimos desde veados a crocodilos, passando por inúmeras espécies de pássaros de largo porte ou animais mais estranhos como “Papa Formigas”, com o seu enorme focinho aspirador ou o “Porco do Mato”, uma espécie de ratos de pântanos que chegam a pesar 60 Kg e conseguem submergir por períodos de três minutos.
De regresso à casa da fazenda almoçamos optima carne das rezes locais e da parte da tarde demos um passeio de barco num dos rios que a atravessam. O Pantanal é uma espécie de prato de sopa gigante, alimentado por mais de uma centena de rios que na época das chuvas o tornam um enorme pântano. 
Pescámos Piranhas que demos de comer aos crocodilos, presas na ponta de um pau que o nosso guia estendia borda fora, para os fazer aproximar do barco e saltarem fora de água,.
Pelas cinco da tarde regressei ao Hotel de Mendonça e no dia seguinte parti a caminho do Norte. Tinha ideia de seguir por uma estreita estrada por dentro do Pantanal mas quando lá cheguei constatei que era de terra e disseram-me que muito enlameada em algumas zonas, de maneira que voltei à estrada principal que passa pela cidade de Campo Grande.
Sendo uma cidade já com uma certa dimensão fui directo ao agente local da Apple verificar se me conseguiam reparar o computador mas como me dessem um prazo de três dias só para obterem um orçamento liguei para o de Cuiabá, que se prontificou a tentar repará-lo logo que lá chegasse.
Fiz-me à estrada debaixo de chuva que aqui, de certo modo, é bem vinda pois as temperaturas que rondam os 35º em tempo seco baixam para cerca de 28º quando chove.
Fiquei a dormir na cidade de São Gabriel do Oeste, deixando uma longa etapa de quase 600 Km para o dia seguinte.
Saí pelas nove e meia da manhã, só parei para um longo almoço e atestar de  gasolina e, às quatro da tarde estava à porta do agente da Apple. Abriu logo o computador, constatou que tinha entrado água quando, uns dias antes, me esqueci de fechar bem a garrafa que a entornou, e pediu-me que o deixasse por lá para no dia seguinte o tentarem limpar e ver se o conseguiam por a funcionar.

Marquei um Hotel pelo Booking que não parecia mau mas, quando lá cheguei, constatei que era num sítio sinistro. Ao sair para jantar um cliente com ar entendido disse-me que seria mais seguro deixar a moto no Hotel e sugeriu acompanhar-me a pé até ao restaurante mais perto, uns 300 metros de ali. Regressei sozinho e passou-se tudo bem.



2 de maio de 2018

São Paulo

Quando, no final do ano passado, cheguei ao Brasil, tinha pouco tempo para apanhar o avião de volta a Portugal. Assim, depois de atravessar a fronteira do Uruguai para o Sul do país, viajei até S. Paulo em três dias sem visitar nada pelo caminho.
Já conhecia a região, de Angra dos Reis a Florianópolis, passando por S. Paulo e Rio de Janeiro ou as fantásticas cataratas do Iguaçu, de maneira que neste início de ano decidi regressar ao Brasil para, a partir de S. Paulo, onde tinha deixado a moto, partir a visitar o Pantanal, a Ocidente, junto à fronteira com a Bolivia e Paraguai, para depois rumar a Norte, ao Amazonas e suas florestas e descer finalmente a costa Este, desde o Norte até ao Rio de Janeiro, por onde nunca tinha andado.
Aterrei em S. Paulo ao fim do dia e, na manhã seguinte, fui recolher a moto ao concessionário onde a tinha deixado em Dezembro, aproveitando para lá mudar oleo de motor e filtro.
Depois, em casa do meu amigo Eduardo, onde estava instalado, tratei de substituir velas e filtro de ar que, mais uma vez, estava muito sujo.

Ver um noticiário na televisão brasileira é como assistir a um filme de acção com policias e ladrões mas onde a realidade parece ultrapassar em muito a ficção. Certamente uma fonte de inspiração inesgotável para realizadores de Hollywood mais extremistas. São noticiários que fazem parecer a nossa CmTV um canal infantil.
A noticia deste dia referia-se a um ajuste de contas em que a dois empresários lhes foi oferecida boleia num helicóptero para regressarem do interior a S. Paulo. Pelo caminho o piloto simulou uma avaria e aterrou numa aldeia de índios no meio do mato onde os esperavam para os assassinarem. A policia procurava agora, nos melhores condomínios de S. Paulo, onde muitos dos proprietários têm os helicópteros estacionados na relva, pelo aparelho envolvido no crime mas diziam desconfiar que teria vindo da Argentina, regressando depois ao país de origem.
Outras histórias incluem um grupo de assaltantes no Rio que se vestem de policias e utilizam um jipe replica dos carros da policia, tendo a entrada nos prédios facilitada.
Mas também há histórias com um final feliz como a da mulher grávida que, nos tumultos do Rio, foi atingida por uma bala perdida que lhe atravessou a barriga e se alojou no corpo do bébé. Transportada de urgência para o hospital fizeram nascer a criança, salvando mãe e filho.
Enfim, tudo parece uma novela mas sem a parte do amor.
Com a moto revista arranquei então a caminho do Pantanal, debaixo de um sol lindo e temperatura próxima dos 30º, num trajecto de mais de mil quilómetros.
Tinha previsto ir direito a Campo Grande, a principal cidade ao Sul do Pantanal e de onde partem excursões até ao enorme pântano mas recomendaram-me passar em Bonito, uma pequena cidade de província já junto ao Pantanal. 
Cheguei a Bonito dois dias depois de deixar S. Paulo e não fiquei encantado com a quantidade de agencias a venderem passeios a cascatas e lagoas. Muito turístico para o meu gosto. Para mais chovia, o que tinha levado ao encerramento de muitos dos programas de visita às lagoas e rios. Decidi por isso seguir até Mendonça, cidade sem turistas já em território do Pantanal. 
O clima alterava ao longo do dia, com chuvadas fortes seguidas de sol e a temperatura raramente a baixar dos 28º.