29 de junho de 2018

Brasilia

Gostei muito de conhecer Brasilia. Parece que estamos numa cidade que pertence a outro país. A capital do Brasil não destoava como uma grande cidade de província nos Estados Unidos.
Com três milhões de habitantes tem um quarto da população de S. Paulo. 
As avenidas são largas, com muitos espaços verdes. Há um grande lago, navegável em pequenos barcos de recreio, junto ao qual estava instalado. Tudo parece bem planeado e organizado. Enfim, nada da bagunça a que estamos habituados no resto do país.
As próprias pessoas são diferentes. Parecem “robots” e temos a sensação que todos são deputados, completamente alheados do que se passa no resto do país, aquele país estranho de que parecem não querer fazer parte.
Depois a cidade tem as extraordinárias obras do arquitecto Niemeyer a quem se deve, junto com o Presidente Kubitcheck a sua edificação, há menos de sessenta anos, num local inóspito. Uma cidade nascida para ser nada mais nada menos que a capital do maior país da America Latina.
Visitei, primeiro a moderna Catedral, que estava de portas fechadas, e depois o Parlamento, com direito a visita guiada. Ali sente-se o poder no ar, um poder que parece ser exercido como se o país fosse idêntico àquele nicho. Deputados que circulam como uma espécie de zombies a vaguearem em planeta desconhecido. É muito estranho o ambiente daquela cidade. E, contudo, é magnifica com aquele grande lago, as avenidas largas e os espaços verdes.
De Brasilia “desci” para S. Paulo por auto estrada. São pouco mais de 1000 Km que fiz em dois dias, parando para dormir em Uberlandia, uma típica cidade de província.
Gostei muito do Brasil, de que só conhecia o Sul e as cidades de S. Paulo e Rio de Janeiro. Por ser quase todo plano não se pode considerar um bom país para andar de moto mas a natureza nas zonas mais remotas é extraordinária e dá-nos a ideia do muito que este país ainda tem por explorar. Atravessando-o de Norte a Sul e de Este a Oeste fiquei a conhecê-lo melhor que a grande maioria da população, este país que é quase do tamanho dos Estados Unidos.
É um país rico, com minerais, diamantes, petróleo e possibilidades agrícolas que parecem inesgotáveis mas tem sido governado de forma desastrosa, com graves problemas na educação, saúde e infraestructuras, que produziram enormes diferenças sociais, provocando grande instabilidade a nível de segurança. A droga é a principal responsável por uma criminalidade crescente que os políticos têm combatido com violência, pensando que a podem controlar sem uma verdadeira revolução ao nível da educação e organização social.


A próxima e ultima etapa desta minha viagem será através de Africa, que pretendo percorrer de Sul a Norte com partida da Cidade do Cabo em finais de Setembro. 


26 de junho de 2018

Chapada dos Veadeiros

Quando deixei São Domingos avisaram-me que teria cerca de 60 Km de estrada de terra em mau estado pela frente. Estava até em pior estado do que imaginei e, estando deserta e com algumas partes de areia mole tive medo de cair e ficar ali desterrado à espera que passasse alguém.
Felizmente correu bem e quando finalmente encontrei alcatrão foi um enorme alívio.
Cheguei à Chapada dos Veadeiros pelas duas da tarde e procurei a Fazenda de um amigo do filho do meu amigo Eduardo Azevedo, onde tinha marcado estadia. Era no meio do mato e, para lá chegar tive que percorrer uns 100 metros dentro do leito de um rio onde a água chegava a meio da moto. Durante os dois dias que lá fiquei tive que atravessar o rio com a moto seis vezes e, de cada vez pensava: se caio aqui a água entra para o motor e acaba-se a viagem.
Quando cheguei o Ricky tinha saído a passear clientes por algumas das quedas de água da Chapada de maneira que descarreguei a bagagem e fui à cidade almoçar. A meio da tarde, quando voltei, já o grupo regressara. Jantámos e ficámos à conversa junto a uma fogueira que acenderam cá fora que aqui, durante a noite, faz frio.
No dia seguinte já só estava eu e o Ricky pois a mulher dele partira para Brasilia em trabalho e os clientes saíram cedo de maneira que ele propôs fazermos um passeio de bicicleta até à mais espectacular das cachoeiras, como eles chamam às cascatas. Quando estávamos prontos para sair chegou um amigo, também de bicicleta, que nos acompanhou num trajecto difícil de oito quilómetros quase sempre a subir, por um carreiro muito esburacado. Para quem como eu, já não está habituado há muito a tiradas de bicicleta, foi duro. A paisagem, no entanto, compensou e tomámos fantásticos banhos naquela lagoa formada junto à queda de água. O regresso, a descer, foi bastante mais fácil.
Ao fim da tarde fomos jantar à cidade na moto porque a mulher do Ricky tinha levado o único carro do casal. Seguiu-se musica ao vivo num bar local e acabei por regressar já perto da meia noite, sozinho pois o Ricky ficou por lá noite fora.
Hesitei em percorrer o leito do rio, de noite, já com três cervejas no bucho mas, felizmente, atrevi-me e correu bem.
Na manhã seguinte parti para Brasília.

A estrada que vem do Norte para Brasília tem pouco movimento e, por isso, cheguei rapidamente à capital. Pelo caminho parei para almoçar e aproveitei para marcar um local onde ficar. Encontrei quarto numa casa particular que tinha a vantagem de uma situação fantástica, em cima do lago da cidade.



23 de junho de 2018

Ibotirama

A greve dos camionistas continuava mas eu tinha esperança de conseguir gasolina nalguma bomba da estrada que, com menos movimento, ainda não a tivesse esgotado. Tinha mil quilómetros pela frente que inicialmente pensei fazer em dois dias mas, passados 250 Km de uma estrada praticamente deserta, cheguei a Ibotirama sem encontrar um posto com gasolina. Perguntei na cidade e estavam há dez dias sem gasolina nas bombas.
Almocei, procurei um Hotel barato e preparei-me psicológicamente para passar uns dias naquela pequena cidade sem graça nenhuma.
Mas o homem de uma das bombas tinha-me dado alguma esperança.
- O patrão diz que o camião talvez venha ao fim do dia.
Pelas oito da noite saí para jantar e, embora ainda não houvesse gasolina no posto, estava uma enorme fila à espera de um camião que chegaria.
Na praça principal estava uma mulher gorda, toda vestida de branco com um barrete branco a completar o traje, rodeada de reluzentes panelas fumegantes. Tinha melhor aspecto que todas as comidas de rua que vira antes pelo país e perguntei-lhe o que vendia.
- É um típico prato bahiano com camarão.
Pedi uma dose. O camarão, como é muito pequeno, come-se com casca e vem acompanhado de uma papa de algum legume local, batata doce e uma espécie de pão frito. Era bom embora a casca do camarão, mesmo fininha e estaladiça, não me tenha cativado.
Depois deste jantar de rua voltei à fila de gasolina quando o camião abastecedor acabara de chegar. Felizmente tinham formado uma fila de motos separada da dos carros e três quartos de hora depois tinha o depósito cheio. 
Na manhã seguinte já os camiões circulavam e havia algum transito na estrada. A manhã passou-se bem e felizmente consegui reabastecer antes do almoço porque, pouco depois, parei numa cidade onde a greve parecia estar para durar e a população, exaltada, exibia cartazes a pedir uma “intervenção militar imediata”. Alguns bêbados entraram no restaurante onde almoçava e uma troca de palavras menos medidas entre eles quase descambava em violência, a meio do meu frango com batatas. O empregado do mercado ao lado, grande, veio lá resolver o desacato e correr com os alcoolizados do restaurante. Arranquei dali já perto das quatro, sem reparar que a próxima cidade ainda estava longe. Quando me apercebi acelerei um pouco o ritmo, para não chegar de noite. Só que apanhei cem quilómetros de uma estrada muito traiçoeira, com buracos grandes no alcatrão, que podiam empenar uma jante ou rebentar um pneu se lhes acertava em cheio. Fui passando por cima de um ou outro quando já não me conseguia desviar deles e apenas tinha tempo de me levantar para absorver a pancada pois, para não perder tempo, não quis baixar dos 120 Km/h.  
Pensei em pedir guarida numa fazenda para passar a noite mas as estradas de terra que saíam da estrada principal tinham letreiros com o nome das Fazendas e a quilometragem para lá chegar, que nunca era inferior a 20 Km, embora as plantações se estendessem até à estrada alcatroada. Asim, não quis arriscar fazer 40 Km numa estrada de terra infrutiferamente, e fui seguindo viagem. Felizmente a ultima hora, parte já feita de noite, foi em boa estrada e, com plantações de cereais e algodão a perder de vista, não resisti a parar ao pôr do sol para tirar uma ou outra fotografia.
Fiquei na vila de São Domingos, junto ao lago que ali se forma com o rio do mesmo nome.
Jantei no quiosque em frente ao único Hotel da povoação e dormi que nem um anjo.

22 de junho de 2018

Chapada Diamantina 2




No dia seguinte saímos os cinco do Hostel pouco passava das oito. Duas das brasileiras traçavam os programas. Fomos primeiro visitar umas grutas com muitas estalagtites e estalagmites, cada um com a sua lanterna na mão. Depois seguimos para uma lagoa fantástica, de água transparente, onde tomámos banho, com as brasileiras a tirarem centenas de fotografias que postavam directamente no Instagram enquanto eu e a francesa apreciávamos mais a paisagem e o banho.
Acabámos por almoçar no restaurante daquela Fazenda e, da parte da tarde, visitámos mais uma lagoa subterrânea perto e, depois, fizemos 70 Km em sentido contrário ao Hostel, à procura de uma bomba de gasolina de uma vila onde nos disseram que ainda haveria gasolina.
Quando lá chegámos e constatámos que tinham gasolina festejámos com um brinde de …. Coca Cola.
Comprei um depósito de água de 25 litros vazio e levei também gasolina para atestar a moto.
Entretanto, uma das empregadas do Hostel, uma preta linda, com um metro e oitenta, dos seus trinta anos, que eu havia elogiado, tinha-se apaixonado por mim. Apareceu ao fim da tarde, bem arranjada e penteada, com um vestido que parecia saído das mãos de um costureiro francês, a convidar-me para uma festa. Disse-lhe que parecia uma princesa mas já tinha combinado jantar com as brasileiras e talvez lá fosse ter mais tarde. Fez um ar triste e lá arrancou, com amigos. Lembrei-me entretanto que princesa era um posto abaixo do dela pois por lá todos a tratavam por Rainha.
- Rainha de quê?, perguntei ao rapaz da recepção.
- Rainha do Quilombo
- Quilombo? O que é isso?
- São comunidades de descendentes de escravos que fugiam das fazendas e formavam pequenas aldeias na floresta. A escravatura acabou mas eles continuaram a viver na floresta, mais evoluídos mas muitos ainda sem electricidade ou água corrente. O pai dela era o Rei do Quilombo e, quando morreu, herdou ela o título por ser a filha mais nova.
Não apareci na festa mas, no dia seguinte, quando ela veio perguntar, com ar amuado, porque eu não tinha lá ido indaguei um pouco mais sobre a sua vida. O pai, como rei do Quilombo, tinha quatro mulheres, das quais teve 24 filhos. Da mãe dela foram 17 e ela era a mais nova dos 24, por isso ficou a rainha, pois a ideia é prolongarem os reinados o mais possível. Convidou-me a visitar o Quilombo mas eu estava de partida.
- O seu pai é que sabia viver. Quatro mulheres só para ele escolher cada dia com qual ficar.
- Eu não concordo nada com isso, respondeu ela já modernizada. Se o meu homem tiver outra mulher, eu também arranjo outro homem. Hoje em dia os direitos são iguais para homens e mulheres.

Arranquei, essa manhã, a caminho da Chapada dos Veadeiros, que o tempo estava a esgotar-se. Deixei a Rainha do Quilombo com um ar tristíssimo.

19 de junho de 2018

Chapada Diamantina

Tinha percorrido pouco mais de 20 Km quando encontrei a primeira bomba de gasolina a funcionar. A fila de carros estendia-se por seis quilómetros o que significava que muitos deles passariam ali não só o dia de Domingo como a noite para segunda e, provavelmente, voltariam para casa sem gasolina pois a disponível nos depósitos certamente não chegaria para todos.
Fui seguindo viagem e só cem quilómetros depois encontrei outra bomba com gasolina. Aqui a fila só se estendia por dois quilómetros mas continuava para mim impossível esperar várias horas para abastecer.
Fui até ao início da fila para tirar umas fotografias e, depois, fui fazer conversa com um grupo que estava junto a um taxi, pois estavam com um ar desconfiado por eu estar a filmar.
Conversa puxa conversa o dono do taxi perguntou-me se eu não queria que ele fosse buscar um “gerrican” que tinha no carro e enchesse de gasolina para colocarmos na moto.
- Seria optimo. E quanto lhe pago por esse favor?
- Uma cerveja
E assim foi. Passados dez minutos tinha o depósito cheio.
Com aquela gasolina consegui chegar à Chapada Diamantina embora, à chegada, o computador da moto indicasse que já só tinha combustível para 40 Km. As bombas da zona não tinham gota nem faziam ideia quando voltaria. Mentalizei-me para ficar por ali uns dias ou, quem sabe, semanas. Procurei então um lugar barato onde ficar. O primeiro Hostel onde me levaram tinha uma estrada de terra cheia de buracos e inclinada para lá chegar de maneira que perguntei por outro. O que me indicaram pertencia a um francês ali radicado e já com uma filha preta, amorosa, dos seus cinco anos. Tinha um ar limpo e organizado além de me proporem um quarto que, embora com oito camas, naquele primeiro dia seria só para mim, com um custo por noite inferior a dez euros.
Instalei-me por ali e, quando consultava a internet na pequena sala, conheci três miúdas brasileiras que tinham chegado no dia anterior e  conheceram uma francesa, giríssima, com quem partilhavam o quarto. Perguntaram se não queria sair para jantar com elas e acabei por passar os dias que estive na Chapada na sua companhia.
As brasileiras tinham trazido um carro alugado de São Salvador com gasolina à justa para regressarem à cidade. Perguntaram-me o que deviam fazer: deixar o carro parado três dias para garantirem que teriam gasolina para regressar ou passarmos esses três dias a visitar a Chapada no carro delas e rezarmos para que a gasolina entretanto chegasse. 

Recomendei-lhes, obviamente, a segunda hipótese. O melhor seria gastarmos aquela gasolina a passearmos pela Chapada e depois logo as ajudaria nas rezas, embora, sendo eu ateu, as minhas rezas, provavelmente, teriam até um efeito negativo.
















16 de junho de 2018

Salvador

Em Salvador fiquei em casa de um amigo de família que foi considerada museu, pelas muitas obras de arte que tem expostas. Para além disso fica no fantástico centro histórico de Salvador, que tem um carisma único. Vários brasileiros me perguntavam se aquela zona fazia lembrar Portugal mas não. As casas são muitas delas do tempo colonial assim como as várias igrejas mas são pintadas em várias cores, que embora suaves lhes dão uma alegria muito típica do povo brasileiro. E depois há a costela musical dos brasileiros. Eles têm que estar sempre a ouvir música o que por vezes é incómodo, para quem não aprecia o mesmo tipo de acordes. Por outro lado dão aos locais ambientes únicos. Aqui, ao andar pelas ruas desta parte da cidade, ouvia várias pessoas a tocarem viola em casa e cantarem, até porque o clima ameno faz com que as janelas estejam habitualmente abertas. E, pelas ruas, bandas de miúdos e graúdos não perdem uma oportunidade para improvisarem concertos de batuques.
No dia seguinte à minha chegada fui dar uma volta por este centro histórico. Passeei pelas ruas, visitei a fantástica Igreja de S. Francisco e passei quase duas horas no sensacional Museu do Carnaval, acabado de inaugurar e que expõe não só muitos filmes sobre a história do Carnaval na Bahia, que dizem ser onde nasceram aqueles festejos, como máscaras e fatos  extraordinários. No final propõem-nos acompanhar em batuques músicas típicas, uma espécie de Karaoke instrumental. Divertido.
Almocei no excelente restaurante do Hotel Villa Bahia no Largo do Cruzeiro de S. Francisco, a praça principal desta zona da cidade.
Quando, no dia seguinte, me preparava para arrancar a caminho da Chapada Diamantina, 400 Km para o interior, a moto simplesmente não ligou. Pensei que fosse da chuva que teria isolado a ignição e fui pedir um secador de cabelo emprestado a uma vizinha que conhecera no dia anterior, mas o tratamento não surtiu efeito e como electricidade não é a minha especialidade não me restou senão chamar um mecânico que percebesse do assunto. Quando ainda estava a verificar fusíveis e bateria um vizinho motard veio ver o que se passava e ofereceu-se para ligar a um mecânico que disse ser muito competente. Fomos buscá-lo no carro dele e passada meia hora estávamos os três de volta da moto, debaixo de chuva, com um plástico sobre nós e a moto, a proteger-nos.
Não conseguimos resolver ali o problema mas o mecânico verificou que, sem o fusível dos faróis a moto pegava de maneira que o segui até à oficina onde passei o resto do dia, até encontrarmos o problema que era um fio da ignição em que a soldadura se tinha partido.

Na manhã seguinte parti finalmente a caminho da Chapada Diamantina, com gasolina na moto suficiente para percorrer cerca de 200 Km, na esperança de encontrar algum posto ainda com gasolina, numa altura em que a maioria já não tinha gota, devido à greve dos camionistas, provocada pelo preço do combustível.


13 de junho de 2018

Maceió

Acabei por ainda ficar na Barra de Sirinhaém de Domingo para segunda, para não partir de noite.
Na manhã de segunda feira arranquei então por uma estrada secundária que vai dar à costa, atravessando antes a Reserva Biológica do Saltinho, de muita vegetação. Depois passa-se junto a praias fabulosas, muitas delas ainda por explorar.
Pelas quatro da tarde cheguei a Maceió. Tinha ficado de contactar outro dos amigos do Alencar, o juiz que conhecera em Belém mas, sem conseguir apanhá-lo acabei por procurar uma estalagem onde ficar. Guiei-me pela classificação do Booking para a escolher mas, conforme já me tinha acontecido aqui no Brasil, muitas destas classificações são falseadas, certamente por amigos dos donos. Assim, fui parar a uma espelunca com a classificação de “Fabulosa”. Quando lá cheguei disse para cancelarem a reserva que procuraria outro lugar mas o homem insistiu para que ficasse, arranjou lugar para deixar a moto dentro do pátio de entrada e ofereceu-me um quarto melhor de maneira que me convenceu. Arrependi-me. A casa de banho tinha uma fuga de água que a deixava alagada, a água quente não funcionava e, pior, tive que adormecer com o barulho de um ar condicionado vizinho a zumbir-me no ouvido. Um pesadelo, principalmente quando comparado com os dias que tinha acabado de passar na Barra.
Pela manhã parti para Aracaju e voltei a optar pela estrada secundária que segue junto à costa. Aqui ainda é mais espectacular, junto a mais de uma centena de quilómetros de praias de coqueiros totalmente selvagens, sem uma construção à vista de ambos os lados da estrada. Por aqui se vê o muito que este país ainda tem por explorar.
Já perto de Aracaju chega-se à pequena vila de Penedo onde uma balsa nos transporta para a outra margem do Rio S. Francisco. Como estivesse demorada na outra margem fiquei a almoçar numa esplanada junto ao cais e, quando dei por mim, a balsa já tinha chegado e partido de novo. Sem pressa bebi mais uma cerveja e segui na viagem seguinte.
Aracaju tem o que os locais chamam “a mais bonita orla costeira do Brasil”. É exagero mas é uma marginal de meia dúzia de quilómetros junto a uma praia com uns bons 300 metros de largura. Fiquei em casa de um simpático motociclista que mais uma vez me foi apresentado pelo Alencar. No dia seguinte fui para a praia, ler e dormir na areia, debaixo de um chapéu de Sol, como eu gosto, e tomei excelentes banhos de mar nesta água morna.
A greve dos camionistas estava no seu auge e, quando quis abastecer na manhã seguinte, depois de um excelente pequeno almoço num bar da marginal, de Açaí com banana, não havia gasolina nas bombas.
- Já só temos alcool
- Não, obrigado.
Tinha combustível para cerca de cem quilómetros e Salvador, para onde ía, ficava a 320, mas pus-me à estrada na esperança de encontrar  uma bomba aberta, embora rodando a pouco mais de 100 Km/h, para poupar.
A estrada junto ao litoral, mais uma vez através de muita vegetação sem qualquer construção, estava quase deserta mas não tinha alternativa pois a principal, segundo me tinham comunicado, estava bloqueada pelos grevistas.

50 Km depois, como que oásis em deserto, surgiu-me uma bomba de gasolina sem um único carro, a contrastar com as enormes filas que encontrara na cidade para abastecerem de … álcool. Atestei o depósito e segui para Sul.

11 de junho de 2018

Recife

Dez minutos depois do estoiro estava nas instalações do Tácio. Não era a casa dele mas um local onde ele montou um museu, com oficina, para as suas motos. Ali tem também um apartamento onde recolhe motociclistas em viagem e onde fiquei essa noite.
O mecânico dele tratou de me substituir a manete por uma suplente que eu trazia e soldou o plástico de protecção com um ferro de soldar.
Depois da moto reparada partimos de carro ao encontro de amigos dele num bar de “motards” local onde nos juntámos ao grupo de uma meia dúzia numa prova de cervejas que havia nesse dia.  
Pelas onze da noite o Tácio deixou-me de volta no apartamento do museu e despedimo-nos pois no dia seguinte ele viajaria para Natal e eu seguiria para Sul.
Perguntei ao Tacio se havia por ali por Recife uma boa praia onde pudesse dar um mergulho de manhã mas ele disse-me que naquela zona é impossível tomar banhos de mar pois tem havido vários ataques de tubarão, mesmo com o nível de água pelo joelho. O ultimo foi há menos de um mês, contou-me ele. O homem perdeu um braço e uma perna mas, ao contrário de outros, sobreviveu. 
- Esta zona de cerca de 30 Km de praia tem o triste recorde de ser a zona do globo onde há mais ataques de tubarão. Se for 40 Km para Sul, até Porto de Galinhas já não tem problema.
Foi por isso o que fiz quando deixei Recife na manhã seguinte.
Instalei-me numa pousada no centro de Porto de Galinhas, peguei no livro que estava a ler e fui almoçar junto à praia e dar um mergulho, não sem antes atolar a moto na areia de uma passagem na parte de trás da praia onde andam “Buggies”. Felizmente um simpático casal de miúdos ajudou-me no desatolanço. 
Porto de Galinhas já deve ter sido fantástico, há uns anos atrás, mas agora está cheio de povo e pouco atractivo.
No bar em que tinha estado com o Tácio em Recife um dos seus amigos, o Armando, convidou-me para passar o fim de semana seguinte em sua casa de praia, na Barra do Sirinhaém. Por isso, no dia seguinte fiquei de manhã a escrever e mandar mails pela piscina do Hotel e, pelas três da tarde, parti almoçar no centro e segui depois para a Barra do Sirinhaém a uns 40 Km de ali.
A casa do Armando é enorme e em cima da praia. A sua família vem para aquela zona há três gerações e ocupam a maioria das duas dezenas de boas casas que ali há. A cerca de meia milha da costa existe uma ilha com uma praia fantástica e, para Sul, a dez minutos de lancha a motor, está o que parece o estuário de um rio mas que não são mais que grandes braços de mar que entram terra dentro, formando várias praias. 

Passei dois dias fantásticos ali, muito bem recebido e em que fomos com a família do Armando e amigos no primeiro dia para a ilha e no dia seguinte para este local com os braços de mar. Em ambos os sítios ficámos à conversa dentro de água durante umas quatro horas, com o barco a servir de bar e uma mesa flutuante com petiscos e sopa quente de mesa de restaurante. De filme.

9 de junho de 2018

Natal 2

Depois de trabalho pela Europa regressei a Natal, um mês depois de ter partido. A moto tinha ficado em casa de uma amiga mas como o avião chegava tarde marquei um Hotel para ficar essa primeira noite. Na manhã seguinte a Gean ligou-me a perguntar se não queria ir almoçar a casa de amigos. O almoço acabou tarde e já não fui buscar a moto nesse dia. Fiquei em casa dela e na manhã seguinte peguei na moto e segui a Gean até uma oficina de uma mecânico amigo onde pude substituir a bomba de gasolina. O Márcio, dono da oficina, explicou-me o que teria acontecido com a bomba pois um cliente dele com uma Africa Twin teve o mesmo problema. A bomba de gasolina tem um pequeno filtro de rede no ponto de pesca, que eu já tinha substituído, mas tem um segundo, dentro da bomba, que é selado e só se pode substituir junto com a bomba. Com toda a gasolina de má qualidade e contaminada que tenho usado ao longo dos mais de cem mil quilómetros da viagem esse segundo filtro entupiu e por isso a moto perdera potencia, nos últimos tempos não passando mesmo das 3.000n rpm e 90 Km/h.
Com a bomba substituída ficou como nova e, nesse mesmo dia, arranquei para Pipa, a pouco mais de sessenta quilómetros, passar dois dias no simpático Hostel onde tinha ficado antes.
O Rafa, alma do local, havia partido mas ainda se mantinha o espirito de quase comunidade. Fui muito bem recebido de volta e gostei de rever os meus amigos de várias nacionalidades e de conhecer outros que ali estavam pela primeira vez. Passei o dia seguinte numa das fantásticas praias de Pipa. O Hostel não fica junto à praia nem na vila mas no outro topo, já no meio da floresta. Não havendo lugar na camarata instalei-me num quarto isolado no meio da vegetação. No dia anterior havia pequenos macacos que se aproximavam da esplanada que faz de sala ao Hostel e até dão ambiente ao local mas nessa noite uma cobra entrou para o intervalo entre o telhado de colmo da minha pequena barraca e o forro interior. Eram quatro da manhã quando acordei com o rastejar do animal e comecei a bater no forro interior para tentar que saísse de ali acabando por o conseguir. Voltara a adormecer quando acordei com gritos estridentes de uma miúda que dormia com o namorado na cabana seguinte. A cobra tinha lá entrado e eles saltaram cá para fora. Os seus gritos e choro assustaram os macacos que berravam enquanto o cão do Hostel fugia para só regressar a meio da manhã seguinte. Ao pequeno almoço a hóspede pedia desculpa pelo compreensível histerismo e os “habitués” encaravam o caso como uma banalidade.

De Pipa parti para Recife. O José Alencar, que conhecera em Belém, disse-me que ligasse a um Tácio e o próprio enviou-me várias mensagens para o contactar quando ali chegasse. Foi o que fiz. Cheguei a Recife pelas quatro da tarde mas como a morada do Tácio, numa rua de terra batida, não viesse no GPS, fui parar a outro lado da cidade e, até que percebesse onde era perdi quase uma hora. Quando parei junto a uma praça de taxis para pedir informações tive que passar por cima da valeta de cimento funda para voltar ao alcatrão. Não seria problema se, no momento em que passava por cima do obstáculo com a roda de trás, um carro não me tivesse apertado, obrigando-me a uma manobra para não ir contra ele que me levou ao chão. Rapidamente vieram vários populares ajudar-me a levantar a moto e só fiz uma pequena ferida na perna mas parti a manete do travão. 


7 de junho de 2018

Natal

Na tarde do segundo dia o Rafa anunciou: “workshop Tantra”
- Alguém ouviu falar em Tantra?
- Eu ouvi falar em “sexo tântrico”, respondi.
- É isso mesmo. Hoje o “workshop” é sobre sexo tântrico.
E lá deu a sua explicação. Depois pediu que cada um se apresentasse e dissesse qual era a zona do corpo onde sentia mais prazer sexual.
A parte prática do “workshop” não envolveria sexo, referiu.
Primeiro ficávamos sentados em frente a uma parceira, de pernas cruzadas, cada um com as mãos nos joelhos do outro, primeiro de olhos fechados, durante um minuto, e depois a olharmos, olhos nos olhos, por dois minutos, simplesmente a “trocar energia”. Positiva, claro.
O processo repetia-se depois com uma parceira diferente e de seguida cada um se deitava no chão e a parceira/parceiro fazia-lhe festas pelo corpo todo.
- Com respeito, avisava o Rafa, sem tocar nos órgãos sexuais.
Os parceiros trocavam então de posição, para sentirem a experiencia na pele e depois trocávamos de parceira e repetimos o processo.
Muito interessante e didático este “workshop Tantra”.
Gostei imenso dos três dias que passei neste Hostel, com idas à praia em grupo e um ambiente verdadeiramente descontraído e muito agradável.

Quando ali estava, já a habituar-me aquele lugar, ligaram-me de Itália, a pedir para ir trabalhar por quinze dias para uma equipa com quem já tinha colaborado o ano passado e, por isso, tive que suspender este trajecto brasileiro.

Voltei a Natal, onde guardei a moto na garagem de uma amiga que ali tinha conhecido, e apanhei o avião do dia seguinte de regresso a Portugal.

6 de junho de 2018

Pipa

Segunda feira deixei o apartamento ao meio dia e meia e fui directo à loja de computadores. Estavam de volta dele e almocei por perto enquanto lhe tentavam devolver vida. Pediram-me para regressar no dia seguinte. Já tendo deixado o apartamento instalei-me num excelente Hostel, explorado por um alemão.
Deixei Fortaleza no dia seguinte, depois de constatar que não tinham conseguido reparar o computador.
Continuei para Sul, a viajar junto à costa sempre que possível, e passei em Touros, onde dizem que Pedro Alvares Cabral aportou pela primeira vez. Na entrada da vila uma rudimentar estátua em forma de vela com os dizeres: “aqui nasceu o Brasil”.
Da parte da tarde foi chovendo cada vez mais e, quando cheguei a Natal, pelas cinco da tarde, a chuva era torrencial e a cidade estava alagada. As ruas transformavam-se em rios e as tampas dos esgotos saltavam, tornando-se perigosas armadilhas submersas. O que vale é que a temperatura, mesmo com chuva, nunca baixa dos 25º, o que leva muitos dos locais a optarem por circular nas pequenas 125 em tronco nu ou descalços, para não molharem camisas e sapatos.
Instalei-me no primeiro Hotel que encontrei e, sem que a chuva parasse, acabei por jantar por lá uma canja de galinha.
Não gosto de ficar em cidades grandes e arranquei de manhã, novamente junto à costa. Passei por uma ou outra aldeia de pescadores até chegar a Pipa, uma vila turística de pequenas ruas empedradas, com restaurantes e bares atractivos e excelentes praias, separadas por arribas rochosas.
A manhã tinha continuado a ser passada debaixo de chuva e, quando parei para almoçar num dos pequenos restaurantes de Pipa, decidi ficar por ali. Do outro lado da rua havia uma loja de Internet e dei lá um salto a reservar estadia através do Booking.
Fui parar a um fabuloso Hostel no meio da floresta, que tinha um ambiente extraordinário.
Alguns dos clientes eram empregados, de várias nacionalidades, e o dono um surfista que dava aulas de yoga aos clientes. Muito cool, criava um ambiente de relax e amizade entre todos, que funcionava de forma extraordinária. Franceses e Argentinos cozinhavam excelentes jantares para todos e, à noite, fazíamos divertidos jogos em grupo.

De manhã o Rafa dava a sua aula de Yoga e a Vivian, uma brasileira de descendência japonesa, fazia massagens, curando-me as dores de costas.


3 de junho de 2018

Jericoacoara




  • Como é que o senhor, sendo de Portugal, fala tão bem português?, perguntava-me ao jantar a Maria, por eu falar com pronúncia brasileira. 
  • É que o Sr. João, seu amigo, fala muito enrolado. A gente não percebe metade do que ele diz.
No dia seguinte parti para a famosa Jericoacoara, uma cidade turística onde só se chega de 4 x 4 ou Buggy pois, sem estrada, o acesso é feito através da praia a partir da cidade vizinha de Préa. Só constatei esse facto quando estava a chegar e me disseram que não conseguiria atravessar as dunas com a minha moto. Assim, ao fim da tarde, instalei-me numa das poucas pousadas de Préa e, na manhã seguinte, apanhei uma das pick-up que transportam pessoal pelos 10 Km de praia por cerca de euro e meio a passagem. Só que, a meio caminho, um dos pneus de trás da pick-up furou e lá tivemos que desembarcar para o homem substituir a roda.
Tomei uns banhos de praia em Jericoacoara que, demasiado turístico, não em encantou. Pela hora de almoço regressei a Préa, tomei um duche, peguei na moto e parti para Lagoinha, uma encantadora vila a cerca de 100 Km de Fortaleza. Aqui o grupo “Hard Rock Café” está a construir um enorme complexo turístico junto à fabulosa praia que se estende por quilómetros.
Fiquei em casa de uma amiga do João Paulo, a Ritinha, que vivia numa modesta casa de um bairro pobre de Lagoinha com uma filha de sete anos, encantadora. A miúda apaixonou-se por mim e no segundo dia tratava-me por pai. Com as mãos dadas a mim e à Ritinha enquanto passeávamos na praia dizia: “somos uma família”
Em segredo dizia-me mais tarde: 
- Logo à noite você diga à minha mãe: “Ritinha, eu amo você e vou pensar em si o resto da minha vida”. Amorosa, aquela miúda.
A mãe tinha uma moto 4 que alugava para passeios pela praia mas como estava desmontada em casa, a ser pintada por dois miúdos, acabámos por andar os três na minha moto pela vila. Ía levar a Sofia ao colégio ou até à praia e só no ultimo dia, enquanto a Sofia estava no colégio e com a Moto 4 já operacional, dei uma volta com a Ritinha pelas dunas e lagoas junto ao areal. Muito giro.
Parti no dia seguinte, a caminho de Fortaleza, direito a um local onde me poderiam reparar o computador. Na terceira empresa que visitei disseram que talvez o conseguissem. Era uma sexta feira. Deixei-o lá e aluguei um apartamento para passar o fim de semana bem instalado.
Nesse dia fui almoçar a Cumbuco, a praia menos má dos arredores de Fortaleza e jantei em casa. No Sábado só fui dar um mergulho à praia em frente ao apartamento e dei um passeio a pé enquanto no Domingo fui conhecer a Praia do Futuro, uma bagunça, com musica ao vivo numa esplanada junto à praia. O espectáculo incluía animados casais a dançarem forró. Um inferno.

Na Praia do Futuro II, mais à frente, encontrei uma esplanada mais calma onde almocei e fiquei uma hora pela praia a beber uma água de Côco. 

1 de junho de 2018

São Luis do Maranhão



Deixei Belém, a caminho de S. Luis, debaixo de chuva, pelas onze da manhã. O Alex e o Alencar já me tinham posto em contacto com membros de outro clube motociclista que me oferecera estadia em S. Luis mas eu tinha ideia de fazer uma surpresa a um amigo que ali vive há anos e explora um restaurante no velho centro da cidade.
Fiquei a dormir pelo caminho, na cidade de Maracaçumé e só no dia seguinte, depois de almoço, cheguei a S. Luis, no ferry que atravessa a Norte para a famosa ilha, hoje em dia ligada a terra, no Sul, por uma ponte.
Os membros de vários clubes de motociclistas não paravam de me enviar mensagens para se encontrarem comigo na cidade. Parei num “snack” com internet e respondi a dizer onde estava. Passados dez minutos vieram lá ter dois deles. Guiaram-me até ao restaurante do meu amigo João Paulo Catalão, que me convidou a ficar por lá a dormir. Bebemos uma limonada com os dois motards que, ao fim da tarde, nos passaram a buscar, a mim e ao meu amigo, para nos proporcionarem um passeio guiado pela cidade, onde até visitámos um clube onde se desenrolava uma demonstração de capoeira. Acabámos a jantar um excelente peixe num restaurante de praia, oferecido por eles. Muito simpático.
No dia seguinte parti para uma pequena vila mais a Sul onde me instalei na casa da uma sobrinha da mulher do meu amigo de S. Luis.
Barreirinhas fica junto aos famosos Lençóis do Maranhão, um conjunto de muitas dunas onde, na época das chuvas, se formam lagoas de transparente água pluvial por entre os bancos de areia. É uma paisagem espectacular que se estende por muitos quilómetros quadrados.
A casa da Maria, construída pelo marido, fica fora da vila. Para lá chegar atravessamos o rio Preguiça numa balsa para depois irmos de Moto 4 através de estrada de areia mole até à casa. Naquela zona, a cerca de centena de habitantes só circula de Moto 4, ou a pé.
A minha moto teve que ficar guardada na outra margem. A casa da Maria é muito básica, com a telha à mostra no interior das três divisões. A rede de telemóvel não chega ali e internet nem sabem o que é. No meu colchão, estendido na sala desprovida de móveis ou decoração, só não fui devorado por mosquitos e todo o tipo de insectos porque uma ventoinha soprou a noite inteira na minha direcção. A Maria, uma miúda linda dos seus trinta anos, era excelente dona de casa e preparou optimos jantares em panelas que brilhavam de limpas.

No dia seguinte à chegada fui dar um passeio de 4x4 pelos lençóis que durou o dia todo. Da parte da manhã apanhámos partes da estrada alagadas pelas ultimas chuvas quando o condutor, por vezes, cuidadoso, saía do Jipe e, a pé, media a altura de água através dos calções. Se o nível de água chegava aos calções procurava uma alternativa de passagem mais baixa. E assim fomos andando até à zona de dunas e ao restaurante de praia onde almoçámos e onde só se chega ou através daquela estrada de terra alagada num trajecto de mais de uma hora ou através das dunas, por onde regressámos à tarde, depois de bons banhos numa das lagoas.