No dia em que parti para as ilhas tinha acordado às oito e meia da manhã
com o barulho de grupos de Harleys a passarem à porta do Motel a caminho de Key
West. Não deve haver despertar mais agradável.
Quando estava a passar de uma ilha para outra por pontes e istmos
artificiais parei num restaurante que me indicaram onde a esplanada dava para
uma mini marina, reservada aos clientes do restaurante. À porta estavam uma
meia dúzia de Harleys com um lugar vago no meio onde parei a Cross Tourer.
Quando ia a entrar vinham eles a sair. Perguntaram de onde vinha e ficámos um
pouco à conversa. Só quando iam a arrancar um deles, que tinha parado a moto do
outro lado da entrada, como que afastada do grupo, confessou de certa maneira
envergonhado:
- “A minha também é uma Honda”. Embora, à vista, pudesse perfeitamente ser
uma Harley, tão bem as copiam.
- “Pois. Vê lá se isso agora pega”, diz-lhe o que tinha ar de chefe do
grupo, com ar de desprezo.
- “Porquê? Não pegou”? Perguntei eu.
- “Esta manhã não. Tivemos que a andar a empurrar porque não tinha bateria”.
- “Deixe o tempo passar que verá qual é mais resistente”, disse para o
homem da Honda. “Fez uma grande compra. É muito melhor que estas coisas”. E lá
seguiu ele radiante da vida e os outros a encolherem os ombros como quem diz.
“Pois, está bem”.
Acabei por ficar duas noites em Key West. Durante o dia dei uma volta pela
vila e ao fim da tarde fui à pequena praça onde atracam os paquetes de cruzeiro
e em que, durante esta época alta, todos os dias alguém monta um qualquer
espetáculo, depois de todos observarem o pôr do sol virados a Sul. Desta vez
era um cómico francês que trazia uns bancos altos, do tipo dos utilizados pelos
domadores de feras no circo, de onde ele fazia saltar os seus gatos, quando
eles decidiam obedecer ás suas ordens e o homem ficava radiante, pedindo
aplausos.
Tinha acabado de ver o espetáculo quando uma mulher veio ter comigo:
- Você não é de Cascais? Eu conheço-o. Vivia há muitos anos em Miami e
vinha acompanhada de uma sobrinha que tinha estado comigo, há poucos meses, em
casa de amigos comuns.
E lá íamos parando a cada cem metros para tirar fotografias a mais um
crocodilo na beira da estrada ou a nadar num dos canais adjacentes.
- “Aquele é fêmea”, diz um dos turistas.
- “How can you tell”?, responde o guia com ar intrigado
- “She has a big mouth”, responde o turista divertido.
Dos Everglades segui para Tampa, já na costa, onde fiquei três dias em casa
de uma amiga. A cidade não tem a animação e o espalhafato de Miami enquanto as
casas da costa não são tão espetaculares mas Tampa tem o encanto de uma baía e
uma península com pontes longas de dez quilómetros que a ligam ao continente e,
do outro lado, no do Golfo do Mexico, estreitas ilhas formam a zona de praias
que se desenvolveu, em algumas delas, mais que o desejável.