30 de agosto de 2016

Nikko


No Segundo dia que passei em Tokyo já não chovia. Tinha decidido ir assistir a uma luta de Sumo e nesta altura do ano os lutadores profissionais só treinam entre as 7,30 e as 10,30 da manhã. Levantei-me cedo e saí do Hotel às oito mas decidi ir de metro, para mão me perder, até porque o local era muito perto de uma estação. O metro à hora de ponta em Tokyo não é o caos que fazem dele. Há obviamente muita gente a circular, até porque os japoneses usam muito os transportes públicos. Só que os metro têm mais carruagens que qualquer outro que vi até agora, a preencherem plataformas com mais de 200 metros de comprimento, de maneira que vão cheios mas ninguém se atropela.
As lutas de Sumo são um espetáculo fascinante. Cada luta dura poucos segundos, com os enormes e pesados lutadores a fazerem um show de preparação em que se põem de cócoras e depois arrancam um contra o outro com uma força brutal. Ganha quem atirar o outro ao chão ou o conseguir empurrar para fora do espaço estabelecido. Eles são grandes e gordos mas também fortes.
O que tem graça é ver os miúdos, futuros lutadores, a verem os profissionais porque a maioria, tal como 99% dos japoneses, não são nada gordos e, estando ali, a estudarem para serem profissionais de Sumo, sabem que têm que engordar, e muito. O Sumo tem também um pormenor que não se vê em qualquer outro desporto. O vencedor não mostra uma grande felicidade nem faz espalhafato nenhum quando ganha, para mostrar respeito pelo vencido. Além disso consideram que o importante aqui não é vencer mas o esforço que se faz para tentar vencer. Típico japonês.
Depois de assistir ao treino de Sumo fui ainda visitar um parque fantástico. O
“Shinjuku Gyoen National Garden” parece não ter sido construído como um jardim no meio da cidade, transmitindo antes a ideia que a maioria das árvores e plantas são uma floresta que já lá estava antes da cidade crescer e ali foi mantida. Árvores seculares, lagos e espaços com vários tipos de jardins, desde o inglês ao francês, passando obviamente pelo japonês, tornam aquele parque muito especial.
Deixei Tokyo por volta da uma da tarde e parti em direção a Nikko, cerca de 170 Km a Norte da capital.
A viagem decorreu sem sobressaltos mas quando ia a chegar a Nikko às tantas vi um polícia numa scooter à minha frente e reduzi drasticamente a velocidade, para não o ultrapassar, com medo de infringir os limites de velocidade que, em muitas vilas e cidades, estão marcados no chão com um 40. Mas o homem ia tão devagar que decidi passa-lo. Quando chagámos ao semáforo seguinte ele parou atrás de mim e, pelo retrovisor vi-o tirar uma caneta de uma bolsa e escrever a matricula da minha moto nas costas da mão. Deve ter gerado uma confusão naquela esquadra.
Fui parar a uma estalagem familiar, no meio da floresta. O dono, um enorme Nigeriano a falar um inglês perfeito, era casado com uma japonesa e tinham quatro filhos pequenos. A estalagem tinha ar de anos sessenta. Uma enorme sala, com um pé direito de sete ou oito metros, servia também de casa de jantar. Junto corria um riacho com forte e barulhenta corrente mas que mal se via por entre a densa vegetação. O homem propôs fazer jantar o que me evitou pegar na moto de noite para ir à pequena vila procurar um restaurante que provavelmente fecharia às oito e meia da noite. Fez uma fantástica galinha com um óptimo molho, acompanhada de batatas cozidas em vez de arroz, a meu pedido e de um casal de italianos que eram os dois outros únicos hóspedes, fartos que estávamos todos de comer arroz.
Depois do jantar os italianos foram-se deitar assim como a japonesa e as crianças e o Nigeriano trouxe uma garrafa de aguardente de batata e ficámos à conversa. Ele estava nacionalizado inglês, tinha sido Marine e combatido nas Faulkland, pouco, dizia ele. Depois voltou à Nigeria onde foi militar de alta patente. Contou as extraordinárias histórias de corrupção e roubo que se passam com os governos e militares africanos. Despediu-se da tropa a abriu um bar no Hawai, onde conheceu esta japonesa.
Estávamos nesta conversa pelas dez e meia da noite quando o chão começou a tremer forte e as janelas a abanarem como só me lembrava de ter assistido uma noite em Portugal, teria eu uns 13 anos.
- O que é isto?
- Um tremor de terra, disse ele calmamente.
Durou uns 30 segundos.
- Mas isto é usual?
- Muito não mas de vez em quando acontece.
- Felizmente não foi dos grandes, disse eu.
- Pode ter sido grande noutro local do país.
No dia seguinte vi que foi ali perto e que atingiu 5.3 na escala de Richter, sendo dos maiores do ano.  Durante a noite, felizmente, não houve réplicas.

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