31 de outubro de 2012

31 Outubro


Ainda ontem, durante a volta à península de Halkidiki.

Monte Athos
Ontem tinha chegado perto de Lerissos, a Oupavono, onde começa o Monte Athos, a sede dos Cristãos Ortodoxos, um Estado Independente que há séculos não permite a entrada de mulheres no seu território.

À noite, no restaurante onde jantava, três russos grandes e muito bêbados, com os seus trinta e tal anos, davam ares de serem donos da terra. No fim da refeição um deles virou-se para o homem do táxi que os tinha trazido, que jantava numa mesa à parte e disse: “You can go back to your town” ao que o Grego respondeu: “o.k. It’s 700 euros”. “No problem”, respondeu o Russo, que sacou de um maço de notas do bolso e contou 700 euros que entregou ao feliz taxista. Saíram os três a cantar aos SSS pela rua fora. Já me tinham dito que, hoje em dia, milionários russos são os grandes financiadores do Monte Athos e que o Abramovich vem cá muito rezar.

Hoje, pelas oito e um quarto da manhã, estava no escritório que serve de alfandega para ver se conseguia o imprescindível visto para apanhar o barco de visita ao território e os seus vinte mosteiros onde vivem cerca de 2000 monges.

Tinham-me avisado que era tarefa difícil. “É preciso marcar com seis meses de antecedência”, contou-me a dona da hospedaria onde tinha ficado na noite anterior. Pensei ser apenas inveja por não poder lá ir.

Cinco destes misteriosos monges estavam por trás do balcão de atendimento. Num banco corrido visitantes com ar de “habitués”, alguns com a imprescindível barba, batina e chapéu pretos, conversavam com o à vontade de quem tem a entrada garantida no “céu” que representa para eles aquele local.

Sentia-me como se fosse para um exame da quarta classe. Fiz o meu melhor ar de santo e estendi o passaporte, com a mão trémula, a um monge de barba e bigode cuja cara parecia ter saído do frigorifico.

Olhou para o passaporte e levantou a cara para mim, como que a examinar-me. Se consegui ler os seus pensamentos eram:

-Nãã. Este tem mesmo cara de pecador. Aposto que até sai com mulheres.

Perante a sua demora em tomar uma decisão, o colega do lado perguntou-lhe qualquer coisa em Grego a que ele respondeu: portugalía. O outro disse mais qualquer coisa e senti que a decisão estava tomada.

“No. Impossible to visit today”

“And tomorrow?

“Tomorrow not possible”.

Estive para lhe dizer que os meus avós eram russos ou que odiava mulheres mas não tive coragem.

Resignado, com ar cabisbaixo, fui-me embora perante a falta de coração daqueles cristãos.
Peguei na “Cross Tourer” e fiz-me à estrada a caminho da fronteira com a Turquia. Cheguei à ultima cidade grega perto das cinco da tarde e, com o sol quase a pôr-se, com medo de não arranjar logo lugar onde ficar do outro lado da fronteira, decidi ficar por aqui e amanhã partir para Istambul, ultima etapa desta primeira fase da viagem.

30 de outubro de 2012

30 Outubro - Halkidiki – Grécia


Hoje acordei com um dia lindo de sol e decidi percorrer toda a costa da península de Halkidiki, onde tinha chegado já de noite.

Foi um óptimo passeio de cerca de 150 Km ao longo dessa costa onde existem pequenos Hoteis, de duas a cinco estrelas, um empreendimento fantástico com campo de Golf, Marina com grandes iates, dois Hoteis, etc. mas também alguns Parques de Campismo, ou seja, praia e mar para todas as bolsas.

Mas toda a zona tem uma muito baixa densidade de construção e muita vegetação. Só que agora, que acabou a época de verão, está tudo deserto e quando digo deserto é que estão mesmo os hoteis fechados, as casas desabitadas e os parques de campismo de corrente à porta. É como se fechasse a península e ficassem apenas os habitantes das poucas aldeias ali existentes.

As estradas deixam de ser limpas e ía ficando atolado numa que passava junto ao mar e com as ondas tinha sido invadida por água e terra.

Parei numa das pequenas vilas para almoçar, junto ao mar e à tarde fui até Ouranoupolis onde fiquei.

Aqui vou tentar amanhã conseguir autorização para visitar o Monte Athos.

Só há dois dias ouvi falar neste estado independente pertencente à Igreja Ortodoxa que é uma espécie de Vaticano dos Ortodoxos só que muito maior. O território é uma península de cerca de 50 Km por 12 Km onde existem 20 mosteiros. Pode visitar-se de barco porque a passagem por terra é reservada aos monges mas dizem-me que existe uma lista de espera de meses para a visita pois só autorizam 150 visitantes por dia e, curiosidade ainda maior: não é permitida a entrada a mulheres neste estado independente, para não destabilizarem os cerca de 2000 monges que lá vivem.

Contaram-me que são riquíssimos pois muitos milionários dão fortunas para essa sede da igreja ortodoxa, nomeadamente os russos.

Há uns anos houve um importante patriarca que aqui morreu quando chegava com 16 acompanhantes e o seu helicóptero caíu.

Deus queira que me deixem entrar. Estou muito curioso. Sem mulheres deve ser um sossego.

29 de outubro de 2012

29 Outubro - Grécia – Costa Oriental


Esta manhã saí finalmente com bom tempo.

Tinha ficado numa pequena cidade a 2/3 do caminho entre a costa Ocidental e a Oriental.

Comecei por rodar numa óptima estrada de montanha com bom piso e seco, para variar, e passei depois para uma estrada de campo numa longa planície.

Pelas duas da tarde cheguei a Thessalonika uma cidade costeira onde almocei.

Antes tinha parado numa oficina de tratores que encontrei no caminho para olear a maneta da embraiagem que, com as chuvadas, estava barulhenta. O homem, quando soube que vinha de Portugal, convidou-me para beber um café e, ao ver o trajeto que tinha feito no dia anterior no mapa, disse-me que nas notícias tinham mostrado a grande tempestade que se abateu sobre essa zona.

Senti-a no pelo.

Da parte da tarde, quando procurava uma estrada mal assinalada que me levaria a uma península que recomendaram visitar, andei perdido cerca de 80 Km. Já era tarde e rapidamente anoiteceu. Como circulava nessa altura numa estreita estrada de campo com algum mau piso e curvas com humidade agradeci que na Honda se tivessem lembrado de montar o kit de faróis de nevoeiro que iluminam muito bem as bermas pois o farol de origem da “Cross Tourer” não é grande coisa em termos de luminosidade. Talvez devesse ter montado uma lâmpada mais forte.

O que vale é que estava uma noite de lua cheia, o termómetro da moto marcava 20 º e um céu pouco nublado mas onde, ao longe, se viam raios. Fantástico.

Depois de conhecer um pouco melhor este país e ter falado com várias pessoas penso que a situação é ainda mais preocupante de que parece. Nos muitos quilómetros que fiz pela Grécia não vi uma única industria. De facto a Grécia vive praticamente do turismo, para além da exploração da sua frota marítima, que já foi das maiores do mundo, no tempo dos Onassis e Niarchos. Os gregos parecem não ter bem noção da situação em que vivem pois a vida é mais cara que na Croácia, por exemplo, que estou certo vai ficar com muito do turismo grego e até Portugal, principalmente se soubermos explorar bem três zonas de enorme potencial e que ainda não estão estragadas: a região interior norte, incluindo o Douro, a Costa Alentejana e a zona do Alqueva.

Por outro lado em Portugal já estávamos habituados a viver com pouco dinheiro e por isso vamos aguentar melhor o esforço que os gregos que têm ordenados médios bastante superiores aos nossos e vão obrigatoriamente sofrer reduções drásticas. Penso que a situação aqui vai piorar muito nos próximos dez anos e quem emprestou dinheiro ao país, incluindo alguns bancos portugueses, que o esqueçam porque nunca o vão poder pagar. Estou convencido também que, por mais engenharias financeiras que a europa faça, é uma questão de meses para entrarem em incumprimento.

Enfim, foi só um desabafo. Penso que muito bem estamos nós quando comparados com eles.

28 de outubro de 2012

28 Outubro - Grécia


Ontem ao fim da tarde, quando andava naquela serra, debaixo de chuva, à procura de sítio onde ficar, parei num restaurante de borda de estrada que tinha ar de fechado mas lá dentro estava um rapaz e uma rapariga dos seus vinte anos a esquartejar uma carcaça que seria de um porco ou cabrito. Chamaram outro que perceberia alguma coisa de inglês, aliás é extraordinário que na Albânia que supostamente é um país mais atrasado todos os miúdos falam inglês e alguns com óptima pronuncia e na Grécia é raro o que diz duas palavras, e esse outro indicou-me uma aldeia vinte quilómetros à frente onde acabei por arranjar onde dormir.

Quando quis jantar entrei no único restaurante da aldeia, que funcionava como uma espécie de clube, ou seja, estava praticamente cheio mas só numa mesa é que estavam a jantar, os outros estavam a beber copos e petiscar. Por cima de um fogão a lenha assava um cabrito e o dono, extrovertido, achou divertidíssimo entrar ali um estrangeiro. Fartou-se de falar comigo sem dizer uma palavra de inglês e eu de grego. Apontava para o cabrito para saber se era aquilo que eu queria, depois pegava com a mão uma batata frita que estava numa travessa e comia a fazer sinal que estavam muito boas enquanto a mulher levantava uma folha de alface e um tomate no ar. Pedi tudo aquilo que me ofereciam e acabei por comer o melhor cabrito da minha vida, acompanhado por um rosé da casa. O homem às tantas sentou-se na minha mesa, pegou numa conta de um restaurante Croata que eu tinha a marcar o livro que estava a ler, e foi mostrar a todo o restaurante aquela conta, que ele presumia ser em euros como quem diz: “que grande martelada que o amigo levou”. Todos viram e riram com a conta até eu conseguir explicar que aquilo não eram euros. Enfim, foi uma noite animada.

Hoje de manhã estava na rua da aldeia a ver passar um desfile de miúdos por fazer anos que os gregos tinham expulso os alemães do território na segunda guerra, quando apareceu o meu tradutor do restaurante da berma de estrada do meio da serra a convidar-me para um café com os amigos. Fomos beber café e jogar gamão e acabei por sair só depois do meio dia, debaixo de chuva e vento devastadores. Levei uma eternidade a fazer os primeiros 60 quilómetros pelo meio da serra. O vento e a chuva estavam fortíssimos, a estrada muito escorregadia e com derrocadas de pedras de todos os tamanhos e rios de lama a atravessarem. Nesses 60 Km não vi um único carro e acabei por parar numa tasca de beira de estrada que era mais uma casa particular onde decidi almoçar, mesmo se ainda não tinha fome. Pensei que, provavelmente seria a minha ultima refeição do dia pois por vezes não conseguia passar dos 20, 30 Km/h e não sabia quando chegaria a uma povoação. A seguir ao almoço a chuva e o vento acalmaram e a coisa correu melhor. Pude finalmente apreciar a paisagem fantástica de cedros enormes e, pelas quatro da tarde, tinha atravessado a serra.

Rodei até às cinco e meia, com uns últimos 20 Km divertidos numa estrada de montanha larga, com curvas rápidas e piso ainda húmido mas com boa aderência. Estou numa pequena cidade no meio da Grécia chamada Elassona.

27 de outubro de 2012

27 Outubro - Da Albânia para a Grécia


Ontem à noite, depois de me instalar naquele Hotel saído do nada, como que miragem no deserto, fui jantar ao único sítio que havia por perto. O miúdo recomendou-me o frango que era criado no próprio jardim e perguntou se não os queria ir ver. Preferi vê-lo já no prato e era excelente.

Hoje de manhã saí pelas 9,30 h com vento e chuva fortes. Por sorte a estrada a partir desta vila de Tepelene era boa e só tive que me aperceber, aos poucos, dos limites de aderência da “Sport Tourer” naquelas condições. O único percalço eram as quedas de pedras para a estrada, vindas da escarpa e que me obrigavam a máxima atenção.

Fui em direção a uma suposta estância balnear no sul da Albânia, sempre debaixo de chuva intensa, porque tinha curiosidade de saber se, ao menos nestes locais supostamente mais turísticos, o tipo de construção era melhor que no resto do país. Cheguei à conclusão que a melhoria não é significativa e que a Albânia, para além da paisagem natural, só se aproveita porque tem um povo encantador. Quando entrei no país não tinha a mínima ideia do que me esperava e fiquei assustado com a primeira impressão: as mulheres eram bonitas mas os homens que via naquelas vilas e cidades sinistras de feias tinham todos caras de assassinos. Depois, aos poucos, fiquei a saber que é uma gente fantástica, extremamente simples e simpática.

Mas as estradas não são melhores que o resto da construção e, mal tive que sair da estrada principal, apanhei uma estrada de montanha, cheia de ganchos, pedras no caminho e extremamente escorregadia, talvez por serem as primeiras chuvas depois do verão.

Quando saí da estância balnear de Sarante, decidi cortar caminho por uma via secundária e voltei a apanhar daquelas estradas albanesas inacreditáveis em que parte é em terra, parte em alcatrão esburacado e a terceira parte tão estreita que mal se cruzam dois carros. Pelo meio uma travessia de rio numa barcaça movimentada por cabos.

Passei para a Grécia e o panorama muda radicalmente. As estradas são como as nossas e a construção, sem ser brilhante, dá dez a zero aos Albaneses. Mas as cidades e vilas parecem desertas. Ninguém sai à rua nestes tempos de crise e mau tempo. Desci cem quilómetros junto à costa ocidental para depois rumar ao interior a caminho da costa oriental. Tinha decidido não visitar Atenas por já a conhecer bem. Acabei por ficar numa aldeia no alto de uma serra, com um barulhento riacho a correr junto ao quarto. Acho que vou dormir bem.

26 de outubro de 2012

26 Outubro


Saí de Tirana pelas dez da manhã com o sol a que já me habituei. Na balburdia do transito da capital ao meu lado no sinal encarnado está um velho numa scooter com as duas netas à pendura, com os seus oito e nove anos. Giríssimas, a caminho do colégio, com as mochilas às costas. Os três sem capacete, claro. Aliás a única 50 que vi em que o condutor levava capacete foi no campo e atrás trazia a mulher, essa sem capacete e sentada à amazona. Era uma imagem de que já não me lembrava mas que se via em Portugal no final dos anos 60.

Entro no que eles chamam autoestrada a caminho de Berat, uma cidade fortificada pelos romanos em 200 AC e que foi classificada como património mundial pela Unesco.

A auto estrada tanto tem separador central como não, não tem traços marcados no piso e desde carros parados nas bermas até pessoas a pé e scooters a circularem em sentido contrário há de tudo. O piso aqui nem é mau mas a auto estrada acaba de repente com uma camioneta atravessada no meio da estrada, a vender cebolas. Do outro lado ainda não há estrada e passo por um caminho de terra para a antiga estrada, muito esburacada.

Poço de petroleo na Albania
As vilas e cidades são tão feias que não há discrição. Temos a sensação que para remediar o país só deitando tudo a abaixo e construindo de novo. E a Albania não é tão pobre como parece. Têm petróleo, embora em pequenas quantidades, aliás esta fotografia é de um verdadeiro poço de petróleo que há uma semana estava a funcionar e agora, segundo me disseram os responsáveis, estavam a tratar de trocar a bomba por uma mais moderna, têm gaz natural, alguns minérios e são autosuficientes na agricultura. Vivem com pouco mas a única coisa a que não resistem é um Mercedes. É de longe o carro que se vê mais, mesmo se muitos deles são 124’s com vinte anos, certamente comprados usados na Alemanha, mas também há recentes e vi vários classe S em Tirana, BMW’s X5 e X6 e por aí fora. Penso sinceramente que a percentagem de Mercedes é maior que na Alemanha. No fundo é um pouco o espírito dos portugueses: Mercedes à porta da barraca.

Ao fim da manhã visitei o castelo de Berat, e as casas que tem dentro as únicas construções bonitas que encontrei na Albania.

Da parte da tarde decidi cortar caminho por uma estrada secundária e fiz quarenta quilómetros numa hora numa combinação de estrada alcatroada muito esburacada com estradas de terra também cheias de buracos. A Cross Tourer levou uma grande coça mas aguentou-se. O meu pânico era ter um furo mas os pneus também resistiram ao mau tratamento. A parte positiva foi que me habituei a guiar este tanque com mais de 300 Kg em todo o terreno e já estou muito mais à vontade neste tipo de piso.

Só que de repente o sol começou a por-se e eu só via montanhas à minha volta, sem fim à vista. Finalmente encontrei uma vila onde me disseram que teria que fazer mais 100 Km para chegar onde queria. Fiz-me à estrada mas 30 quilómetros depois, saído do nada, um Hotel junto a uma bomba de gasolina onde fiquei instalado. 15 euros pelo quarto. Espectáculo.

25 de outubro de 2012

25 Outubro


Saí de Dubrovnik pelas dez da manhã a caminho de Montenegro. É um país pequeno, com uma área de cerca de 1/6 de Portugal continental, com uma paisagem muito parecida com a da Croácia mas mais mal tratado. Como curiosidade refira-se que embora ainda não pertençam à Comunidade Europeia, a moeda deles é o Euro. Quando uns a estão a perder outros ganham-na antes de tempo.

Logo na entrada de Monte Negro, junto à fronteira, apanhei a estrada em reparação, tendo que fazer quatro ou cinco quilómetros não em estrada de terra normal, que isso não seria problema, mas numa estrada de pedra solta. A direcção da Cross Tourer não parava quieta e tive que segurar o guiador com força e ir sempre em aceleração para a conseguir aguentar. Ainda não foi desta que fui ao charco mas cheguei à conclusão que em Africa vou mesmo ter que montar pneus de cross ou mistos porque com o peso que a moto leva é muito difícil de domar em estradas deste tipo.

Parei para almoçar em Koper, uma cidade medieval que não tem nada a ver com Dubrovnik mas é a mais emblemática de Monte Negro. O que tem graça é que os navios de passageiros atracam mesmo às portas da cidade. O "windsurf" que se vê na imagem, estava ontem na Croácia e tem a curiosidade de ser um navio de milhares de passageiros mas com velas, daí o seu nome.

Depois de almoço apanhei uma estrada de montanha, a caminho da Albania, com muitas ratoeiras. Desde pedras soltas no meio da estrada que caíam da escarpa até metade da estrada que tinha caído e estavam a reparar para além de curvas humidas a meio, onde havia sombras, e grandes rachas no alcatrão, com desniveis acentuados.

A Albania é um país mais pobre embora seja dos poucos na Europa em que a economia continua a crescer. Têm gaz e algum petróleo. A paisagem natural é bonita mas a construção é uma lástima. Os arredores de Tirana fazem lembrar as capitais africanas mais degradadas e o transito é difícil, agravado pelo facto das scooters circularem tanto na sua faixa como em sentido contrário a grande velocidade, conforme lhes apetece, Confesso que cheguei cansado a Tirana, onde estou agora. Amanhã sigo rumo a Sul e à Grécia.



24 de outubro de 2012

24 Outubro - Amazing Dubrovnik


Ontem cheguei já ao final da tarde a Trebinje, na Bósnia Herzgovina e hoje arranquei, pelas onze da manhã, com intenções de atravessar Montenegro e até possívelmente toda a Albania e ir ficar à Grécia. Só que, com um pequeno desvio, decidi passar em Dubrovnik, no extremo Sul da Croácia. Quando ainda vinha na Bósnia e avistei, do alto do Planalto, a baía de Dubrovnik fiquei maravilhado. A má fotografia que tirei não dá a entender a grandiosidade da paisagem, com o vale lá em baixo e o mar ao fundo, com as ilhas. "breathtaking".

Parei à entrada das muralhas e quando vi uma esplanada com óptimo aspecto e vista sobre o castelo e o mar fiquei a almoçar, mesmo se ainda era meio dia.

Depois, entrei na cidade velha de Dubrovnik e fiquei fascinado. Decidi ficar por ali e assim hoje percorri a fantástica quilometragem de .... 30 Km.

A cidade medieval, dentro das muralhas é linda e tem uma vida fantástica, com restaurantes bem arranjados nas praças e um pequeno porto de onde partem barcos a fazer visitas à ilha próxima. No verão têm concertos de musica clássica e balets ao ar livre. Muito civilizado.

Dubrovnik
Visitei a cidade, esta sim cheia de turistas de todas as nacionalidades, bebi um copo num bar/restaurante da praça principal e da parte da tarde fui dar um passeio de barco.

É daquelas cidades em que pensamos: "era capaz de viver aqui".

Amanhã arranco rumo ao Sul, com passagem por Montenegro e Albania. Já me preveni com mais umas bananas e até um pacote de arroz não vá o diabo tecelas e não encontrar onde comer qualquer coisa.


23 de outubro de 2012

23 Outubro


Hoje saí de Vodice pelas 11 com mais um dia de verão. Na noite anterior tinha estado num simpático bar, junto à Marina, até à meia noite, à conversa com as empregadas, pois era o único cliente e na brincadeira do "face book".

Desci primeiro junto à costa Croata que é fantástica nesta zona, salpicada por largas dezenas de ilhas, a maior parte delas desabitadas. Potencialidades extraordinárias de exploração turistica ainda nos primeiros passos. Mas as dezenas de Marinas desta costa já estão cheias de barcos.

Um pouco abaixo de Split rumei ao interior a caminho da Bósnia e o cenário muda radicalmente. A Bósnia é nitidamente mais pobre e embora tenha partes montanhosas magnificas toda a construção é horrivel e a maioria das cidades e vilas muito pouco atractivas. Há pouco transito nas estradas que, para meu espanto, até estão em bom estado de um modo geral. Não se vê um unico estrangeiro e voltei a fazer dezenas de quilómetros a cruzar-me apenas com dois ou três carros. Antes de sair da Croácia tinha parado num mercado de rua onde comprei duas bananas e três laranjas. Como previa acabaram por ser o meu almoço porque não encontrei nenhum restaurante onde pudesse comer alguma coisa. Pelas cinco da tarde, como de costume, comecei a procurar sítio onde ficar mas em cada vila ou pequena cidade onde parava diziam-me sempre que não havia nem hoteis nem quartos para alugar. E percebe-se. Alugar a quem?

Continuei rumo a sul e embora evite andar ao fim de tarde, porque complica mais a vida se tiver algum problema, os ultimos 70 Km de uma estrada sinuosa mas de curvas rápidas deram-me imenso gozo.

Finalmente cheguei a Trebinje, no sul, onde, para meu espanto, fui encontrar um Hotel óptimo por um preço de quarto alugado.

Amanhã sigo para a Albânia que deve ser outro filme do mesmo género.

Neste momento já ultrapassei os 5500 Km desde que saí de Lisboa, incluindo os 700 Km que fiz na semana em que estive em Barcelona.

22 de outubro de 2012

22 Outubro


Ontem à noite fiquei num quarto alugado junto às quedas de água de Plitvice, na Croácia e hoje de manhã fui fazer a visita a pé e de barco durante mais de três horas. Não têm a espectacularidade das de Iguaçu ou as Victória mas são Património da Unesco e com os seus lagos são natureza no seu estado puro. Uma beleza.
Parque natural de Plitvice, Croácia


Os Croatas daquela zona interior é que têm um aspecto sinistro. Perto da fronteira com a Bósnia vê-se na cara deles, nas expressões, que ainda estão traumatizados pela guerra recente. Os homens são todos enormes e trombudos e a unica pessoa que vi rir foi a menina do café onde tomei o pequeno almoço. As sandwiches tinham péssimo aspecto e pedi-lhe se me aquecia uma "apple pie" que parecia melhor. Pô-la em cima do balcão e disse: "Não. É fria". Pedi-lhe então para a aquecer no microondas que estava mesmo à nossa frente. Ela atirou com a tarte lá para dentro e desatou a disparatar em Croata. Nessa altura disse-lhe: Não se irrite assim que fica velha num instante. E foi quando a vi rir.

Pela uma da tarde arranquei, ainda pelo interior, numa estrada boa num enorme planalto. Ali não há turistas e em pouco menos de cem quilometros não passei por mais de quatro ou cinco carros. Os poucos restaurantes de estrada estavam fechados mas acabei por encontrar um para almoçar cheio de homens trombudos mas em que a mulher do restaurante até era simpática. A seguir desci do planalto a caminho do mar onde o ambiente é completamente diferente. Aqui vivem do turismo, não andaram na guerra e têm cara mais alegre.

Estou numa vila chamada Vodice e amanhã sigo um bocado pela costa e depois rumo novamente ao interior a caminho da Bosnia.

21 de outubro de 2012

21 Outubro "Fabulous riding"


Hoje foi mais um dia fantástico for "pure riding pleasure". Ontem fiquei numa vila ainda na Eslovénia mas já perto da fronteira com a Croácia. O Hostel devia ter sido a casa do dirigente do partido comunista da altura porque era a melhor casa da vila. Na grade do jardim tinha um letreiro a dizer "bikers welcome" o que é logo um atractivo. Quando parei a moto no páteo apareceram o gerente e o patrão. Perguntei o preço do quarto ao primeiro, que falava inglês e quando o patrão me viu fazer uma careta disse-lhe qualquer coisa em esloveno e o valor sofreu logo uma redução de 25%. Gostei da atitude e fiquei. O quarto era fantástico, para variar da noite anterior.

De manhã estava nevoeiro mas quando arranquei, já perto das onze, estava mais um dia de sol. Tenho tido sorte com o tempo porque depois daquela grande chuvada em St. Tropez apanhei sempre bom tempo. Hoje diziam-me que aqui esteve a chover nas duas ultimas semanas de Setembro e na primeira de Outubro e agora ... este sol. Arranquei por mais uma estrada de montanha fabulosa, com paisagens fantásticas pelo meio da floresta mas acabei por não tirar grandes fotografias. Entrei na Croácia e mantive-me no interior, pela parte montanhosa mas perdi-me do trajecto que tinha previsto na véspera e fui parar a uma estrada de montanha estreita em que não vi um carro durante dezenas de quilómetros. Foi uma sensação boa. Parecia que a estrada tinha sido feita só para mim. De vez em quando entusiasmava-me e acelerava mais do que devia e logo, logo, reprogramava o software pessoal e baixava de velocidade, até porque de vez em quando aparecia uma curva com humidade e escorregadia. Por volta das três da tarde rumei à costa mas quando estava junto a uma marina a trincar o meio bife que não comi ao jantar e pedi para embrulhar, apareceram três motards italianos simpáticos que quando perguntaram para onde eu ia quiseram logo tirar fotografias comigo e indicaram-me um lago com cascatas no interior que é património da Unesco e para onde arranquei da parte da tarde. Fiz cem quilometros outra vez montanha dentro, apanhei umas vacas perdidas no meio da estrada com as correntes que as prendiam atadas ao pescoço, felizmente a meio de uma recta e aqui estou em Plitvicki Ljeskovac. Aluguei um quarto por perto e amanhã vou visitar as famosas cascatas.

20 de outubro de 2012

20 Outubro


Ontem cheguei a Koper, na Eslovénia ao final da tarde e fui para o wi fi de um café procurar o quarto mais barato que encontrásse na cidade. O do dia anterior em Vicenza não era de luxo mas era grande e tinha uma vista espectacular. O que me calhou em Koper mal tinha espaço para a mala ao lado da cama e a vista da janela era nada mais que a escada interior de acesso ao andar de cima. Não me queixo. Sei que vai haver alturas em que vou ter saudades desse quarto, mesmo com os mosquitos que me sugaram o sangue a noite toda.

A Eslovénia tem pouco mais de 20.000 Km2, ou seja tem uma área de menos de um quarto da de Portugal e uma população de pouco mais de dois milhões. Fazia parte da antiga Jugoslávia e desde 2004 é um dos países da comunidade europeia, com euro e tudo. É um país com uma beleza natural fantástica e o ideal para andar de moto. Metade da área do país é floresta. A população vive da agricultura e alguma industria metalo mecanica (fornecem peças para os fabricantes automóveis da europa central, que estão perto). Não parece haver pobreza nem muita riqueza. Vivem bem e a economia tem crescido todos os anos. Uma das vantagens é não terem metade da população a trabalhar para o estado, como é o nosso caso.

Hoje fui pela manhã a uma lavandaria que tinha visto ontem à noite, tratar de lavar roupa e depois arranquei para Lubiana, a capital. A estrada de montanha é fantástica e muitas motos aproveitam aquelas estradas. Eram ás dezenas em ambos os sentidos, muitas delas vindas de Itália e Austria. De todas as marcas e a circularem a todas as velocidades. Desde os pachorrentos das Harleys aos aceleras das R1, havia de tudo. A polícia chateia pouco mas passa-se tudo muito civilizadamente. Na capital não ouvi uma buzina. Lubiana conserva o ar austero dos tempos do comunismo e não tem grande graça como cidade. Almocei numa esplanada junto ao rio e à tarde arranquei a caminho da Croácia, mais uma vez por uma estrada fantástica através da floresta. Abanquei em Kodevge.

19 de outubro de 2012

19 Outubro


Hoje acordei cedo e decidi fazer turismo pela parte antiga da cidade de Vicenza. 
Ali só se pode andar a pé ou de bicicleta. Visitei o Teatro Olimpico, o Palazzo Chiericati, e dei uma volta a pé pelo centro. 
Por volta das onze, com um sol fantástico, arranquei e fui almoçar à marina de Trieste na costa do Adriático. 
Da parte da tarde fui até à cidade costeira de Koper, já na Eslovénia.

18 de outubro de 2012

18 Outubro


Arranquei de Monza com o céu nublado mas foi abrindo ao longo do dia. 
Os primeiros 100 Km foram chatos com a travessia de vilas sem graça e muitas rotundas pelo meio, em zona industrial dos arredores de Milão.

A unica situação pitoresca era que de vez em quando, à borda da estrada, estavam uma raparigas sentadas em cadeiras de plástico. Deviam estar a trabalhar para a Junta Autónoma das Estradas local a contar quantos carros passavam. O estranho é que às vezes estavam duas ou três afastadas uns 100 metros umas das outras. Provávelmente era para conferirem números mais tarde. Devem é ganhar mal porque não estava calor e as raparigas tinham muito pouca roupa e uns numeros abaixo do que deviam usar.

Fiz mais 250 Km já em estrada de campo aberta, com paisagens bonitas e cheguei a Vicenza, uma cidade espectacular, como tantas outras italianas. Instalei-me num Hotel que era um antigo convento, no alto do Monte Bérico, com vista fantástica sobre a cidade. Só que a mobilia do quarto ainda devia ser do tempo dos monges, muito básica e como unico quadro um retrato de cristo com 20 cm de largura perdido nas enormes paredes.


17 de outubro de 2012

17 Outubro


Hoje fiquei aqui por Monza e tive uma situação caricata logo pela manhã. 
O parque do Hotel onde tinha a moto estacionada é em gravilha e ao arrancar esqueci-me que tinha colocado o cadeado na roda da frente. 
Arranquei, a roda da frente enterrou-se na gravilha e a de trás ficou a patinar. 
Sem ainda reparar na distracção pensei que a moto se tinha enterrado devido à gravilha e fui chamar a menina da recepção, uma lingrinhas que não pesará mais de 50Kg, para me ajudar a puxar a moto para trás. Quando a estávamos a desenterrar a moto caiu e os dois lá a conseguimos por de pé. 
Só então reparei que tinha o cadeado, já partido, preso na roda da frente. Tirei os restos entrelaçados na roda e lá saiu sem problemas. 
A italiana deve ter pensado: "que ganda tótó. Este não deve ir longe". Lol. 
Pelo menos fiquei a saber que sózinho não consigo levantar a moto mas com a ajuda de uma franguinha de 50 Kg já é possível. 
Entretanto já comprei um cadeado daqueles de disco com um cabo reluzente preso ao volante que não me vai deixar distrair. É que no dia anterior tinha sido um miúdo de dez anos a avisar-me que ía arrancar com o cadeado preso na roda.

16 de outubro de 2012

16 Outubro


Não sei se já tinha dito mas decidi que nesta viagem não iria andar em auto estradas, não só porque só é divertido andar em auto estradas de moto a mais de 250 Km/h e eu estou mentalizado para andar a 120, 130, em ritmo de passeio, mas também para poupar porque hoje em dia gasta-se tanto em portagens como em gasolina.

Depois de ontem ter passado o Mónaco e entrado nos "Alpes Maritimes", onde fiquei numa pequena aldeia de montanha, adormecendo com o som do rio que passava junto ao Hotel, hoje o dia voltou a nascer com um sol radioso e percorri cerca de 100 Km numa divertida estrada dos Alpes de curva e contra curva. Confesso que me entusiasmei um pouco mas nunca abusei. 
Depois fiz mais 250 Km por estradas de campo até Monza onde me esperava o pessoal do catering que trabalha comigo nas "Speed Euroseries" com a mesa já posta e um fabuloso jantar. Senti-me em casa. 
O transito na auto estrada junto a Milão é assustador e o perigo maior não são os carros mas as motos que passam a abrir por todos os lados às dezenas enquanto eu, com a largura das malas, mal consigo passar entre os carros. Amanhã devo ficar por aqui a descansar um pouco e volto à estrada na quinta. Abraços

15 de outubro de 2012

15 Outubro


Antes de começar a minha crónica diária sobre a viagem queria expressar aqui a minha tristeza pelo fecho das revistas Autosport, Volante e Automotor e mandar um grande abraço a todos os seus jornalistas e colaboradores.
E vamos a assuntos mais alegres.
Depois da chuvada que apanhei ontem nos ultimos 50 Km antes de chegar a St. Tropez, fui beber um copo ao fim da tarde ao bar do Hotel Sube que fica num 1º andar e fiquei a ver a tempestade abater-se sobre a Marina. 
À noite fui jantar ao "Le Sporting" que tem um ambiente fantástico, mesmo com mau tempo. 

Hoje acordei com um sol radioso. tomei um pequeno almoço de croissants como só os franceses sabem fazer, não sei bem porquê e fiquei a trabalhar no computador até ao meio dia. 
Arranquei depois junto à costa nas estreitas estradas que ligam St. Tropez até ao Mónaco. Aqui se vê como deveria ter sido construido o nosso Algarve e como ainda pode ser feita a Costa Alentejana, quando a crise passar, com casas rodeadas de vegetação e os poucos prédios com não mais de dois ou três andares. 
Almocei em Cannes, junto ao mar e no Mónaco dei a imprescindível volta ao circuito. Agora não deixam entrar motos na praça do Casino e Hotel de Paris mas passei à candonga para rápidamente ser mandado sair por um polícia. 
Andei depois um pouco pelos Alpes já em Itália e acabei por parar numa pequena aldeia no meio da montanha. Percorri cerca de 200 Km. Amanhã vou até Monza.

14 de outubro de 2012

14 Outubro


Hoje fiz cerca de 400 Km por estradas secundárias, junto à costa, e vim até St. Tropez. O dia começou com sol mas já perto daqui apanhei uma carga de água das grandes. À minha frente vinham um Morgan e um 356, os dois com a capota aberta e sem terem sítio para pararem preferiram ir andando debaixo de chuva. Estavam que nem uns pintos. O fato da Spidi fez o seu trabalho na perfeição e acho que foi a primeira vez que fiquei com a roupa seca depois de apanhar uma tempestade destas de mota.

Estava aqui uma concentração Porsche, com uns 200 carros e no centro de St. Tropez só se ouviam os alarmes dos Porsche a disparar quando as rodas ficavam meias de baixo de água. A marginal ficou um rio com 10 cm de altura de água.

13 de outubro de 2012

13 Outubro

Pessoal, vim a semana passada até Barcelona e deixei lá a moto porque tive que levar o meu camião, que estava em Montmelo, para Portugal. Ontem apanhei um avião de volta a Barcelona e hoje estou de regresso à estrada. Fiz cerca de 300 Km, nas calmas e sempre por estradas nacionais (decidi evitar ao máximo as auto estradas nesta viagem) e estou em Coursin, no sul de França. Instalei-me num hostal de um Inglês que costuma ter por cá muitos motards. Agora já cá estavam três ingleses e a Honda já não coube na garagem. O homem já tinha tirado a BMW dele para o páteo. É uma 1000 do tempo da Maria caxuxa que tem nada menos que 450.000 Km, feitos por ele. Amanhã irei até perto do Mónaco e segunda entro em Itália. Abraços