28 de novembro de 2014

Dieng Plateau




Preocupada com a minha saúde a minha filha tinha-me mandado uma mensagem a dizer que se eu não fosse imediatamente a um medico me vinha cá buscar por uma orelha.
Assim, antes de deixar Purwokerto procurei no GPS uma farmácia e dei lá um salto. Sentia-me bastante melhor embora ainda tivesse a garganta inflamada.
O que eles chamam farmácia é um mini Mercado onde também vendem alguns remédios mas fiquei com a sensação que a maioria da população ainda se trata por métodos tradicionais ancestrais.
Quando com dificuldade expliquei à menina da farmácia, que não falava uma palavra de inglês, que me doía a garganta recomendou-me uma embalagem de um liquido espesso, embalado num saco de papel, tipo shampoo de hotel barato, verde e com sabor a hortelã. Segui as recomendações da menina, bebendo aquilo junto com um pouco de água e realmente penso que me fez bem.
Arranquei depois a caminho de Dieng Plateau, um planalto que fica a 2000 metros de altura e a 150 Km de ali. Parei para almoçar quando começou a chover com mais intensidade, num “self service” onde a única coisa que consegui escolher foi arroz branco e uma carne estofada não sei bem de que animal mas que estava ainda dentro do taxo com água a ferver. Por cima da vitrine com os vários pratos expostos, compostos na sua maioria por fritos de proveniência duvidosa, estavam vários cartões destes que atraem as moscas e elas ficam lá agarradas, carregados de vítimas.
Cheguei a Dieng Plateau com os últimos 40 Km através de uma fantástica estrada de montanha rodeada de densa vegetação e instalei-me num dos hoteis de fraca qualidade aqui existentes, pelas quatro da tarde.
Quando estava a tirar a mala da moto apareceram dois irmãos suíços, dos seus 30 anos, chegados em duas “scooters” alugadas em Yogyakarta, a cidade que previa visitar no dia seguinte. Estivemos um bocado à conversa e acabámos depois por ir jantar juntos. O mais velho vive na Indonésia há quatro anos, tendo por cá casado e aberto um restaurante.
Na manhã seguinte acordei relativamente cedo e fui visitar as atrações de Dieng Plateau, duas crateras de vulcão, perto uma da outra mas totalmente distintas. Uma está extinta e alberga um grande lago com uma água azul turquesa que dá uma boa imagem enquanto a outra tem alguma atividade com água a borbulhar e muito fumo a sair da cratera, obrigando-nos a utilizar máscaras de papel para nos aproximarmos do local.
Desci depois do planalto por uma estreita e movimentada estrada com muita inclinação, que nos leva a baixar dos 2000 metros para pouco mais de 100 em poucas dezenas de quilómetros e apanhei a seguir uma estrada linda, com muita vegetação dos dois lados que me levou até perto de Borobudur.
Parei para visitar o fantástico templo budista e fui ficar a Yogyakarta, 40 Km depois.
No dia seguinte voltei a fazer de turista e visitei o Palácio do Sultão onde apenas podemos ver a parte não habitada pois o atual  Sultão, cuja posição é hereditária, embora só possa passar para filhos varões, ainda governa a cidade e vive no Palácio, com uma grande família que inclui não só mulher e filhos (já não podem ser polígamos, coitados) mas também irmãos, cunhados e sobrinhos, num total de mais de cem pessoas. O que já não é utilizado pela família são os banhos, uma zona com duas piscinas e vários outros espaços que agora está aberta a visitas do publico e tem a curiosidade de ter sido restaurada há dez anos com um subsídio da Fundação Gulbenkian.
O guia que me mostrou o Palácio do Sultão falou-me, a meu pedido, um pouco mais sobre a situação religiosa na Indonésia. O país, disse-me ele, não tem uma religião oficial mas a maioria da população é muçulmana, tal como os membros do governo. Existe uma certa liberdade religiosa mas nem todas as religiões são aceites. São-no algumas facções do Cristianismo, e a mulher dele era católica, sendo ele muçulmano, assim como o Budismo e o Hinduísmo.
Na prática nunca vi tanta atividade nas mesquitas como aqui. Talvez para se afirmarem em relação às outras religiões chamam para as rezas matinais através dos seus altifalantes por volta das quatro da manhã, cerca de uma hora antes do nascer do sol, numa “conversa” que dura cerca de 15 minutos e que faz com que toda a vizinhança acorde, como me tem acontecido sempre que o Hotel onde fico é perto de uma das muitas mesquitas. O processo repete-se à hora do almoço e com o pôr do sol, o que se torna uma imposição quase insuportável para os não muçulmanos. O meu amigo suíço foi obrigado a mudar da primeira casa onde se tinha instalado porque a filha pequena também acordava e se assustava com a chamada para as rezas de uma mesquita vizinha.
Assisti ao mesmo problema no sul da Tailândia, região onde a maioria da população é Muçulmana, e é interessante verificar como a calma dos Budistas os leva a aceitarem a situação sem se queixarem.

26 de novembro de 2014

Tarikamalaya



Saí pelas 11 da manhã de Cimpancek e duas horas depois estava a entrar em Bandung, que é uma cidade agradável, com árvores nas ruas e um aspecto mais arrumado que Jakarta. O principal atrativo da cidade não o era para mim que ligo pouco a roupas. É que tem dezenas de lojas de “Stock off” com restos de coleções das grandes marcas, muitas delas fabricadas na Indonésia indo ali parar as sobras, com as etiquetas cortadas mas originais a uma fracção do preço europeu. Ainda entrei numa e comprei uma camisola para o meu filho.
No dia seguinte saí do hotel já perto do meio dia e, antes de deixar a cidade, ainda fui visitar o Museu Giologi que parece interessantíssimo mas infelizmente só tem os textos de explicação dos fenómenos Geológicos e sobre os produtos extraídos da terra, como metais, petróleo ou carvão, em Indonésio.
Arranquei de Bandung pela uma da tarde e teria passado pouco mais de meia hora quando uma chuvada forte se abateu sobre a estrada. Parei debaixo de um telheiro de uma oficina onde já estavam duas “scooters” também a fugirem da chuva. Voltei a arrancar vinte minutos depois quando o tempo melhorou um pouco mas viajei o resto do dia sempre debaixo de chuva. Numa das vilas por onde passei havia enormes cheias e parei para filmar um pouco as “scooter” a atravessarem aquele aguaceiro e “cortarem” a água como se fossem barcos.
Ali a vida não para quando chove.
Nesta parte central da ilha o transito melhora um pouco mas as médias continuam a ser muito baixas, com várias paragens e as “scooters” a passarem-me razias, em ambos os sentidos, de cada vez que passa a fluir menos. Esta é a principal estrada que atravessa a ilha de ocidente para oriente mas só tem uma via em cada sentido e é muito sinuosa de maneira que as ultrapassagens a que assisto são assustadoras. Quando estava parado junto a uma passagem de nível uma mulher que vinha numa “scooter”, com uma burca a fazer de capacete, como é comum, não conseguiu travar a tempo a bateu-me na traseira, quase me fazendo cair, mas não disse uma palavra ou fez qualquer sinal, simplesmente “furou” caminho e pôs-se à minha frente. Não resisti depois a passar-lhe uma razia, qual criança amuada, ao dobro da velocidade a que seguia.
Nesse dia comecei a sentir falta de força nas pernas e um cansaço maior que o habitual. Pensei que seria do frenesim do transito e parei numa pequena cidade a pouco mais de cem quilómetros de Bandung pelas quatro da tarde.
Só no dia seguinte percebi que estava com uma enorme gripe, certamente causada pelas chuvadas que tenho apanhado.
Durante o dia ainda percorri 170 Km até Baturraden, na montanha, mas à noite senti enormes arrepios de frio quando a temperatura andava a mais de 20º e na manhã seguinte não estava em estado de voltar à estrada, de maneira que fiquei um dia sem sair do Hotel e dormi a manhã toda.
24 horas fechado num Hotel onde me parecia ser o único cliente e com refeições que se assemelhavam às de um hospital de província levou-me a sair à rua no dia seguinte, mesmo se ainda não me sentia completamente curado da gripe.
Subi a montanha e entrei num parque natural por uma estreita estrada rodeada de densa vegetação. Fui ver uma fonte de água quente que sai de umas rochas a mais de 50º e corre depois para uma cascata cujas paredes ganharam diferentes tons de castanho e verde com a passagem desta água vulcânica. O vapor que sai daquela água envolve a paisagem da floresta, dando-lhe um ar misterioso.
Sentei-me num banco junto à passagem da água e um homem fez-me uma massagem aos pés com argila proveniente daquelas águas, que dizem faz muito bem à pele. Depois de massajar uma das minha pernas e pé com aquela argila virou-se para a cliente Indonésia que estava sentada ao meu lado e disse: “veja a diferença na cor das pernas dele. Antes e depois”. Pela conversa parecia estar a sugerir que eu estaria com os pés sujos quando ali cheguei.
Antes de sair do Hotel, situado numa vila já na montanha, tinha perguntado ao homem da recepção se haveria por ali uma farmácia ao que ele olhou para mim como se não fizesse a mínima ideia de que tipo de estabelecimento estaria eu a falar, de maneira que quando saí da fonte de água quente, almocei num restaurante da montanha e desci depois até à cidade cá em baixo. 

24 de novembro de 2014

Cikampek



Arranquei perto do meio dia com a ideia de fazer tranquilamente os 150 Km que me separavam de Bandung até às quatro ou cinco da tarde.
Só que não previ a loucura que é sair de Jakarta sem poder entrar na auto estrada pois as motos estão proibidas de as usar na Indonésia. É que esta ilha de Java que, não sendo a maior é a mais populosa, tem 140.000 Km2 ou seja, um tamanho de cerca de uma vez e meia a área de Portugal e nada menos que 135 milhões de habitantes que parecem ter cada um uma “scooter” ou moto de 125 c.c.
É a loucura total. Passadas duas horas de um para arranca entre milhares de motos e carros, debaixo de uma temperatura de 38º, com uma humidade altíssima e níveis de poluição assustadores, comecei a sentir as mesmas tonturas que tinha tido uma vez na Índia que acho se devem a uma baixa tensão. Parei para descansar uma meia hora durante a qual bebi um litro de água e fiquei novo.
Pelo caminho apanhei, por sorte, a feira de antiguidades da Jalan Surabaya que é fantástica. Um dos comerciantes, enquanto me mostrava um maravilhoso escafandro, réplica dos utilizados pela marinha Norte americana durante a segunda grande guerra, cotava-me que já tinha tido a visita dos Clinton’s e de Mick Jaeger, por mais que uma vez.
Tinha deixado a feira há pouco quando um miúdo numa 125 meteu conversa nuns sinais luminosos. Perguntou-me de onde vinha e quando lhe disse Portugal ficou espantado por eu vir sozinho: “Alone? Crazy, crazy”.
Achei graça ao miúdo e quando nos sinais seguintes me perguntou se não queria ir até casa dele que era ali perto, imaginei uma mãe a cozinhar um almoço maravilhoso e disse-lhe que sim. O miúdo dos seus vinte anos foi então à minha frente a afastar o transito em sinais com as mãos e pernas, tanto o que vinha no nosso sentido como em sentido contrário, qual policia motorizado.
Levou-me por umas ruas estreitas até um beco onde vivia. Entrámos então numa barraca com três pequenas divisões onde morava com um casal amigo. Na primeira divisão estavam uma moto e uma scooter meia desmontadas e com peças amontoadas no meio de muita tralha. A divisão seguinte era o quarto onde dormia o casal amigo com um colchão no chão, lençóis revoltos com ar muito sujo, vários cinzeiros cheios de beatas e papéis e lixo à volta. Não teria mais de dois metros por três e o único sítio sem ser o colchão do casal onde alguém se pudesse sentar era uma almofada onde descansava um rafeiro, com três meses de idade, a quem tinha caído o pelo quase todo e que os amigos do rapaz disseram ter sido causado por uma alergia. A miúda da casa deu uma limpeza rápida no cubículo, que consistiu em levar os cinzeiros lá para fora e amontoar a um canto papéis e lixo e ficámos os quatro ali em pé à conversa, pois a divisão seguinte era a cozinha que calculo fosse também quarto do rapaz e onde não me atrevi a entrar.
Ofereceram-me café mas disse que tinha acabado de beber muita água e tinha que voltar à estrada para tentar chegar ainda de dia a Bandung.
Depois de uma sessão fotográfica na barraca e junto à moto lá consegui arrancar, novamente guiado por este amigo com vocação para polícia de transito a quem desta vez recomendei que não mandasse afastar os outros carros do meu caminho pois dava muito nas vistas.
Voltei ao inferno do transito Indonésio onde não se vêm tantos camiões como na Índia mas muitas mais motos que parecem um enxame de abelhas a atacar quem lhes foi ao mel.
Só tinha tomado o pequeno almoço às dez da manhã mas durante o dia não passei por nenhum restaurante com aspecto minimamente limpo onde me apetecesse almoçar de maneira que às cinco da tarde começou a chover e decidi  parar numa destas tascas de beira de estrada. Um simpático velho disse-me que pusesse a moto abrigada da chuva quase dentro da tasca e a mulher veio perguntar o que queria. Em cima da mesa tinham uns peixes e outros fritos com aspecto de terem passado pela frigideira há mais de um mês de maneira que lhe pedi quatro bananas que vi a um canto e um chá que me soube maravilhosamente.
Quando arranquei estava a ficar noite e ainda faltavam 80 Km para Bandung que com aquele transito e estradas esburacadas era coisa para me levar a fazer em duas horas de maneira que, ao cheguei à próxima cidade, Cikampek, procurei um Hotel no GPS que me encaminhou para o único existente na zona. Não é dos piores onde tenho ficado e o pessoal é simpático.

21 de novembro de 2014

Indonésia


A Indonésia é o 15º país maior do mundo, com perto de dois milhões de quilómetros quadrados espalhados por mais de 17.500 ilhas, das quais cerca de 1.000 são permanentemente habitadas. Com mais de 250 milhões de habitantes é o quarto país mais populoso do mundo, a seguir à China, Índia e Estados Unidos. E sentimos isso quando circulamos nas ultra congestionadas ruas de Jakarta, a capital.
O país é menos civilizado que os vizinhos Malaios, Tailandeses ou, principalmente, de Singapura. Aqui já se vê muito lixo nas ruas, embora não atinja as proporções indianas, rios transformados em enormes esgotos e um transito caótico onde voltamos a ouvir o barulho das buzinas. Os motoristas de táxi já escarram para fora da janela e dão arrotos.
Os processos burocráticos para a moto entrar nos muitos países que tenho atravessado é o que podemos chamar um 8 ou 80. Na Malásia, por exemplo, mal olharam para a moto e não me pediram qualquer documento. Em Singapura também entrei sem qualquer problema embora à saída me dissessem que deveria ter carimbado o Carnet na entrada. Aqui na Indonésia foi um processo complicado que durou vários dias e incluiu pedidos de papelada a múltiplas instituições. Ontem felizmente resolveu-se, até porque quando estou sem a moto me sinto como que descalço.
Mas o dia não começou bem. Ao sair do Hotel de fraca qualidade situado nos últimos três andares de uma espécie de enorme centro comercial para ferramenta e material mecânico e electrónico, o elevador travou de repente entre dois andares levando a que eu e um casal que também ali viajava, quase fôssemos atirados ao chão. A mulher assustou-se mas o namorado ainda estava com mais medo. O que vale é que a cena durou pouco tempo. Sem tocarmos em qualquer botão o elevador voltou a arrancar e parou tranquilamente no rés do chão. Felizmente era a ultima vez que tinha que andar nele. Apanhei um táxi à porta já munido do que pensava serem todos os papéis necessários para levantar a moto mas o taxista não deu com o local onde estava a moto no caos que é o porto de Jakarta e acabou por me deixar noutro táxi local, que dizia saber muito bem onde eu queria ir. Não tínhamos andado mais de cinco minutos quando percebi que me estava a levar para longe do sítio previsto. Fartei-me de refilar e insultar o homem mas às tantas comecei a achá-lo com um ar estranho. Só me dizia “slow, slow” , revirava a cabeça e quando eu me chegava à frente e olhava para ele puxava a camisa para cima a tapar-lhe a cara até aos olhos.
Fiquei preocupado, até porque me estava a levar para uma zona do porto com muito mau aspecto. Comecei então a trata-lo bem e a dizer-lhe que era exatamente ali onde estávamos que eu queria ficar. “Pode parar aqui que é aqui mesmo”.
“No, no, slow, slow” e o homem não havia maneira de me deixar em lado nenhum. Eu a ver-me cada vez mais afastado do local onde estavam os escritórios da alfândega ia-lhe dizendo para parar junto a cada edifício que eu ficava ali mas o homem não parava mesmo. Sem saber falar inglês só repetia “slow, slow”. Passados três quartos de hora foi ter ao sítio onde eu realmente queria ir e só então percebi que nunca tinha estado perdido nem era maluco mas quis apenas dar uma martelada no taxímetro.
Cheguei ao escritório da alfândega eram uma e meia da tarde e só tinha tomado o pequeno almoço. Só consegui sair do porto com a moto às oito e meia da noite. Nessa manhã tinha deixado a mala num Hotel pior do que aquele em que estava antes mas mais barato e, quando lá regressei com a moto, duas raparigas que bebiam um chá numa pequena esplanada de rua em frente, meteram conversa e por ali fiquei a beber uma cerveja antes de ir jantar.
Uma delas falava pouco inglês mas convenceu-me que era muito boa massagista ... e era. No dia seguinte tinha aprendido a dizer “I want to ride your motorcycle”, de maneira que a levei a dar um passeio pela cidade. Fomos ver um teatro e uma exposição de pintura e a seguir pretendíamos ir até à praia mas perdemo-nos no caos da cidade. Quando parei para pôr gasolina caiu uma carga de água daquelas que parece que o céu nos vai cair em cima. Fiquei um quarto de hora à espera que passasse mas um homem avisou-nos que as ruas da cidade estavam a ficar intransitáveis e então lá arrancamos debaixo de chuva torrencial. Talvez por não chover há uns tempos e os esgotos estarem entupidos houve ruas em que a água chegava a meio das rodas da “Cross Tourer”.

19 de novembro de 2014

Jakarta



Cheguei a Jakarta ao fim da tarde e, como de costume, fui enganado pelo táxi que me levou ao Hotel. Só que aqui é ainda dentro do aeroporto que têm uns balcões onde várias companhias vendem viagens de táxi por quatro vezes mais do que custam se apanharmos o táxi à saída do aeroporto. Achei logo estranho porque a menina do balcão me veio acompanhar até ao carro.
A primeira impressão que temos de Jakarta é francamente má porque fora do centro a cidade é feia e suja. Para além disso os dez milhões de habitantes parecem não ter onde estar e ficamos com a sensação que há gente a mais não só parada nas ruas como a circular de carro ou “scooter”.
A moto, a viajar de barco, só chegava dois dias depois de maneira que no dia seguinte decidi ir fazer um passeio turístico.
Fui primeiro ao Nasional Monument, uma torre mandada construir pelo presidente Sukarno em 1961 para celebrar a independência do país, com uma grande chama dourada em cima e que tem a particularidade de ficar iluminada de azul à noite. Não tentei entrar porque estavam filas assustadoras no túnel de acesso ao elevador que nos permite subir ao ponto mais elevado.
Cá fora, nos mal tratados jardins e acessos, decorria uma manifestação com muitos jovens de bandas pretas na cabeça e bandeiras brancas com caracteres indecifráveis que vociferavam sob o olhar atento da polícia.
De seguida tentei visitar o palácio presidencial mas, mal atravessei a rua para chegar ao passeio em frente, o guarda que estava na guarita saiu e mandou-me atravessar a estrada de volta e não tirar fotografias. Só então reparei que realmente aquele passeio e a entrada do palácio estavam vazios.
Fui então num Tuk tuk até um mercado de rua onde acabei por almoçar uma espécie de cozido onde reconheci batatas e couves mas em que o ingrediente principal era, segundo a mulher, peixe mas tinha a consistência de toucinho e calculo que fosse a gordura que está entre a carne e a pele de algum peixe de grandes dimensões. Como aquilo era tudo cozido achei que não me faria mal. E não fez.
Fui depois visitar a mesquita Istiqlal que é a maior do sudeste asiático. Impressionante em tamanho mas, pelo menos por fora, sem graça nenhuma. Em Jakarta não se vêm turistas nas ruas e muito menos na mesquita de maneira que quando passei os enormes portões que dão acesso aos jardins que circundam a Istiqlal senti-me um pouco desconfortável, principalmente por estarem ali enormes grupos de jovens com as bandeiras  e panos pretos na cabeça que tinha visto duas horas antes junto ao Nasional Monument.
Perguntei a uns deles o que representava aquela manifestação e, num inglês muito fraco, lá me explicaram que era a favor do movimento Hizbut Tahrir que defende a existência de um único Estado Islâmico no mundo, um Califato, sujeito a um único líder eleito, um Califa, que aglomeraria todos os estados Islâmicos atuais e a partir daí converteria todos os outros ao Islamismo. O grupo foi formado em 1953 na Palestina, é contra a existência de Israel e embora seja proibido em vários países, ganhou nova força com a guerra na Síria, onde são um dos movimentos que lutam contra o regime. Dizem não ter nada a ver com o auto denominado Estado Islâmico, que tanto tem aparecido nas notícias, mas pelos vistos compartilham algumas das ideias.
Estive uma meia hora numa interessante conversa com eles mas comecei a sentir-me desconfortável quando se juntou muita gente à nossa volta, principalmente porque eu era o único estrangeiro naqueles terrenos da mesquita onde estavam muitas centenas de pessoas. A situação ainda se tornou mais estranha quando um rapaz me veio agarrar a mão e a beijou. Achei que era altura de partir e despedi-me dos estudantes.
Do outro lado da rua  desta enorme mesquita existe uma imponente catedral católica, que tinha sido mandada construir por Napoleão, quando ocupou a Holanda e com isso as suas colónias e reconstruída pelos holandeses entre 1899 e 1901. Entrei para ver. Estava arrumada e bem tratada mas não tinha uma única pessoa dentro.

16 de novembro de 2014

Singapura 2




Ainda em relação aos pneus que montei ontem na moto é interessante verificar o seguinte: eles tinham os pneus Metzeler em promoção, que são excelentes e foi os que escolhi. O curioso é que são pneus alemães e não japoneses, coreanos ou indonésios, como seria de esperar na região.
O que aconteceu aqui em relação a estes países asiáticos, e o mercado automóvel é um bom exemplo disso, foi que enquanto a maioria dos fabricantes europeus acharam que o nosso mercado era suficiente para escoarem os seus produtos, os alemães previram o enorme crescimento económico desta parte do mundo e trataram de cá se estabelecerem. As pessoas espantam-se porque é que eles estão ricos e os franceses e italianos falidos mas esta é uma das razões. Quando circulamos nas ruas é evidente que a maioria dos carros que vemos são japoneses ou coreanos mas também há muitos Mercedes, BMW’s, Audis e Volkswagens. O que não vemos é um único Peugeot, Renault ou Fiat.
Depois de montar os pneus fui fazer um passeio turístico. Primeiro visitei um Templo Budista, dos melhores que já vi. Como mais de 70% da população aqui  é de origem chinesa a religião deles é o dinheiro mas também há muitos Hindus e uma comunidade muçulmana. De qualquer forma muitos asiáticos são budistas e á noite, numa sala aberta para a rua, perto do hotel, estive a assistir um pouco ao discurso de um guru que dizia pouco mas tinha uma plateia numerosa e encantada.
Depois de visitar o templo Budista dei uma volta pela “China Town” local onde acabei por almoçar muito bem enquanto uns miúdos de uma escola se sentaram à minha mesa para me entrevistarem num trabalho de grupo.
A seguir fui visitar o Marina Bay Sands. É o Hotel mais extraordinário que se pode imaginar. O prédio em que está inserido é considerado o prédio mais caro do mundo. São três enormes torres, com um design fantástico e, no topo das três, está pousado como que um enorme barco, que faz uma elegante curvatura, onde está instalada a piscina, dois bares e restaurantes. Uma extravagancia espetacular. Subi até ao 52º andar num elevador que nos transporta aquela altura em meia dúzia de segundos, e, estando a entrada na zona da piscina reservada a clientes do hotel, visitei os bares e terraços, com vista fabulosa. De qualquer forma não resisti a perguntar depois na recepção por um quarto. Um dos funcionários achou-me com ar de rico e mandou-me para a secção VIP. Estavam esgotados no fim de semana e custavam 580 dólares de Singapura por noite, qualquer coisa como 500 USD. “Sim, sim, depois telefono a marcar”.
Nesta zona de Singapura, junto à costa sul, eles têm vindo a conquistar terreno ao mar, como fazem em Macau, de maneira que até o mapa do GPS, que não está atualizado, por vezes marcava como se eu estivesse a navegar no mar com a moto.
Depois do Marina Bay Sands fui visitar um parque botânico onde têm árvores e plantas de todo o mundo numa espécie de estufas gigantes de moderno design. Teve graça porque davam um grande destaque às oliveiras, que tratavam com enorme admiração, não só por darem um ingrediente tão fabuloso como o azeite mas também por haver exemplares que resistem muitas centenas de anos. Mostravam um mapa da zona mediterrânica onde se dão, com Portugal em enorme destaque. Aprendi ali que chegam a haver oliveiras com dois mil anos.
No dia seguinte fui tratar de embarcar a moto para a Indonésia. Não existindo em Singapura ferries que transportem veículos motorizados tive que a mandar num cargueiro para Jakarta. Ainda pedi se a podia acompanhar no navio mas disseram-me que não de maneira que me despedi dela e apanhei um avião, 24 horas depois, para a capital Indonésia.

14 de novembro de 2014

Singapura



Quando ontem à noite cheguei ao Hotel depois do jantar, a menina que fazia as massagens no Spa do 1º andar estava cá em baixo na rua à minha espera, talvez por sugestão da patroa.
Perguntou-me se não queria uma massagem e eu caí na asneira de lhe perguntar o preço. A partir daí não me deixou sair dali enquanto não me explicou todas as alternativas que propunha. Como não falava uma palavra de inglês ia-me mostrando os números com o preço que gravava no telemóvel enquanto me descrevia em mímica os muitos serviços sexuais que a massagem podia incluir. Cada tratamento tinha depois um preço diferente se fosse pago através do hotel ou diretamente a ela. Ficou triste quando lhe disse que não queria nada. Tanta explicação em vão. Nem uma massagem aos pés? Não, nem uma massagem aos pés.
No dia seguinte arranquei para Singapura. Para não levar com 250 Km de auto estrada escolhi a estrada junto à costa, bonita embora com alguns troços em mau estado, e só entrei na autoestrada a 80 Km de Singapura.
Nesta zona do mundo as entradas e saídas nos países são muito facilitadas e, se na entrada na Malásia não me tinham pedido nenhum documento da moto, aqui em Singapura só me carimbaram o passaporte e deram uma olhadela ao interior de uma das malas. Em cinco minutos tinha passado a fronteira.
Logo à entrada fiquei espantado porque estavam a lavar a estreita entrada em cimento encarnado reservada às motos com máquinas rotativas. Quando entramos no pequeno país percebemos porquê. Ali não há um papel na rua e está tudo limpo e tratado, com os jardins impecáveis e as sebes nas estradas aparadas. Nesse aspeto parece que entrámos na Austria.
O país é relativamente recente pois só se tornou independente da Malásia em 1965, dois anos depois dos ingleses terem sido corridos da região, mas desenvolveu-se  de uma maneira extraordinária. É o país do mundo que tem maior percentagem de milionários e vê-se que ali há dinheiro, com bons carros nas ruas e pessoas a consumirem nas lojas, cafés e restaurantes. E o bom é que, ao contrário do Dubai, onde é tudo demasiado novo, ali existe uma mistura do recente com o antigo embora os prédios estejam todos bem tratados e limpos. Além disso, sendo um país pequeno, com cerca de 700 Km2, sempre tem cinco milhões de habitantes e muitas zonas verdes, ajudadas pelo clima equatorial.
O regime é considerado totalitário porque embora haja eleições só concorre um partido. De qualquer forma como há dinheiro a circular, mesmo com enormes diferenças sociais, não há praticamente desemprego nem contestação. Vivem principalmente do comércio externo, pois estão numa posição privilegiada das rotas marítimas, o que os levou também a terem uma importante frota mercante mas além disso têm industria pesada como a da produção de, por exemplo, plataformas de petróleo e são importantes na refinação de petróleo para abastecimento da região. Enfim, um país que funciona e nunca soube o que era uma crise financeira.
Sendo o país com o nível de vida mais caro da região é difícil encontrar um hotel barato mas lá acabei por encontrar um embora o quarto não tivesse janela, o que me levou a trocar para o dia seguinte, por um que até era mais barato.
Nesse dia fui de manhã montar uns pneus novos na moto. Na loja que me indicaram havia várias hipóteses de escolha em “stock” o que mesmo na europa é muito raro. O rapaz que me atendeu, dos seus trinta e poucos anos, quando lhe paguei depois de dizer que era português respondeu: “o-bri-ga-dô”
Perguntei-lhe como sabia português e ele contou-me que na escola tinha aprendido que os portugueses tinham estado na região no século XVI e o professor de história ensinou-lhes algumas palavras. É bom quando somos reconhecidos para além do futebol.

10 de novembro de 2014

Sepang



Quando cheguei ao circuito de Sepang não tinha passe para entrar no “padock” que era onde me interessava ir mas, como bom português, convenci os vários porteiros a deixarem-me passar e, já lá dentro, fui ter com o Miguel Oliveira, o piloto português que corre nas moto3, que tratou de me arranjar um passe.
Fui depois falar com o diretor da equipa Honda de motogp para tentar organizar uma fotografia onde estivesse eu, a moto e os pilotos da marca. Ele concordou com a ideia e pediu ao Marquez e ao Pedrosa para, ao saírem do circuito fazerem a fotografia comigo e a moto, que entretanto fui buscar para dentro do “padock”.
As corridas foram espetaculares e só foi pena o Miguel ter caído na primeira volta das moto3. O Marquez voltou a ganhar nas motogp e o Rossi, com o mesmo entusiasmo dos miúdos de vinte anos, ficou em segundo.
Quanto às motogp em si cada vez que as vejo fico impressionado com a sua aceleração e velocidade em recta, superiores às de um Formula 1.
No Domingo voltei a jantar no “Hard Rock”, especialmente animado no fim de semana de motogp, e segunda feira ainda fiquei por Kuala Lampur para visitar as Batu Caves, umas grutas naturais enormes à entrada da cidade. Desiludiram-me pelo mal tratadas e sujas que estão. Fui ainda procurar uns pneus novos para a moto, que os de tacos que tinha montado na Índia e que tanto jeito deram estavam no fim, mas não os consegui encontrar.
Arranquei assim na terça para Malaca com a curiosidade de constatar se ainda haveria algo de português na cidade que Afonso de Albuquerque conquistou em 1511 e que se manteve em nossa posse até os holandeses nos terem de lá corrido, 130 anos depois.
Quando cheguei dei uma volta pela cidade e parei quando vi um chamado Portugis Hotel, com as cores da nossa bandeira à porta. Embora fosse uma espelunca e a dona chinesa, a mulher foi simpática e achou graça eu ter vindo de Portugal na moto de maneira que me fez um preço especial e por ali me instalei.
O Hotel, de tectos baixos, tinha alguns móveis bons mas mau aspecto e sujidade por todo o lado.
A chinesa recomendou-me o Spa do primeiro andar e deu a entender que a massagista de serviço fazia mais que massagens.
Perguntei-lhe o que havia mais de Portugal em Malaca e indicou-me um bairro vizinho de descendentes de portugueses.
Estava a dar uma volta pelo bairro de fraca qualidade de construção quando parei, junto ao mar e de dois homens sentados no que já teriam sido bons sofás, agora apodrecidos pela exposição aos elementos, debaixo de um telheiro no que parecia ser um poiso habitual. Perguntei-lhes se havia alguma sede portuguesa e um deles, quando lhe disse que era português, pediu para me sentar ao lado dele e começou a falar comigo em português, não perfeito mas compreensível.
O seu nome era Jorge Alcântara e era descendente dos portugueses que cá tinham ficado no século XVI. Disse-me que a língua tinha passado através das gerações e ele também a ensinara aos filhos de maneira que em casa falavam sempre em português.
A comunidade de descendentes são cerca de 1200 pessoas, a maioria já com muitas misturas de raças, como é nosso costume.
Estivemos ali uma meia hora à conversa e depois ele pediu a um amigo, também supostamente português mas que falava muito pouco, para me guiar na sua “scooter” até à sede do “Portuguese Settlement”, um local com um ar decrépito, um restaurante chamado Lisbon mas onde as refeições são Malaias, e um Museu com meia dúzia da tarecos. O que foi um Lisbon Hotel, com bom aspecto, só durou dois anos como Hotel e foi depois vendido a uma Universidade que lecciona ali.
A presença portuguesa em Malaca neste século XXI tem um ar bastante miserável mas pelo menos existe e resistiu 500 anos. Para além disso algumas das nossas palavras ficaram na língua Malaia, como Escola ou Manteiga.
Almocei no restaurante do “Portuguese Settlement” pelas quatro e meia da tarde uns bons camarões em molho de ananás muito pouco portugueses e regressei ao Hotel.
Pelas nove da noite decidi ir jantar só uma sopa porque tinha almoçado já tarde.
Recomendaram-me um restaurante perto onde pedi a única sopa disponível, com esparguete.
“E para beber?”
“Um sumo natural”
“Isso não temos”
“Então o que têm?”
“Água, sumos enlatados ou chá de ervas”
Um pouco contrariado optei pelo chá de ervas. Quando o criado me perguntou se queria quente ou frio preferi quente por ter medo de beber água neste sítios sem ser fervida.
Sabem quando os criados, satisfeitos, nos dizem: “boa escolha”?
Neste caso o homem olhou para mim com a cara exatamente contrária, como quem procura uma expressão de lucidez na minha face sem conseguir encontrar.
Quando chegou o que tinha encomendado percebi a razão de me considerar maluco. É que o caldo da sopa que vinha na tijela com o esparguete e o chá quente, servido no copo, eram exatamente o mesmo líquido.
Pus umas pingas de picante na sopa para lhe mudar um pouco o sabor e lá bebi esse chá à colher e o outro pelo copo sem me queixar.



8 de novembro de 2014

East coast




No dia seguinte decidi ir explorar um bocado desta costa oriental da Malásia.
A maior parte dela está ao abandono, com excelentes locais para se construírem bons hotéis junto à praia mas com apenas alguns empreendimentos de casas de fraca qualidade afastadas uns 200 metros da costa, enquanto esta é maioritariamente ocupada por barracas de pescadores.
Perto de Kanung, mais a sul, existem alguns poços de petróleo da Petronas, a empresa estatal. Quando quis tirar uma fotografia a um deles apareceu logo um guarda numa “scooter” a dizer que eu não podia ali estar, não percebi porquê.
Quando parei para almoçar um homem que estava sentado na esplanada e tinha uma “scooter” maior, de 400c.c., convidou-me para me sentar na mesa dele e ofereceu-me o almoço.
Contou-me que costuma fazer uns passeios pela Malásia de moto, com um grupo de amigos, e conhecia bem o lago onde eu tinha estado.
No fim perguntou-me se não queria também jantar e combinámos encontrar-nos mais tarde. Fomos a um restaurante de estrada excelente que ele conhecia e recomendou-me o trajeto que devia seguir no dia seguinte, a caminho de Kuala Lampur, sem passar pela auto estrada.
Segui o conselho do Nuaur e apanhei mais uma estrada linda, rodeada de vegetação e que passa junto a outro lago, este natural mas menos impressionante que o primeiro.
Quando cheguei a Kuala Lampur, pelas quatro e meia da tarde, instalei-me num Hotel a meia dúzia de quilómetros do centro, para ser mais barato, e fui visitar as Torres Petronas que são mais impressionantes ao vivo que em fotografia.
Com uma altura enorme e mais de 80 andares, que não quis explorar, têm na parte de baixo um centro comercial fantástico, com as melhores lojas italianas e francesas, para além das habituais Zaras e outras que tais.
Quando regressava ao Hotel vi um grande aglomerado de motos, a maioria Harleys, junto ao Hard Rock Café e decidi lá parar para jantar. Como ainda não havia mesa sentei-me no bar e beber uma Guiness.
Ao meu lado direito estava uma miúda Indiana linda a beber um enorme cocktail azul e do lado esquerdo um Americano extrovertido dos seus quarenta anos. Estava à conversa com a rapariga quando me chamaram para a mesa. Vivia no Dubai com os pais e estava ali a passar férias sozinha. Como ela, sendo Indhu, não podia comer carne de vaca, apresentei-lhe o Americano, para a entreter enquanto eu jantava. Quando voltei estavam animadíssimos e juntei à conversa um miúdo indiano que estava ao lado e cuja família vive na Malásia. Divertimo-nos imenso os quatro enquanto bebíamos mais umas cervejas e a miúda uma série de copázios do que parecia alcool etílico com gelo e limão e que a faziam falar cada vez mais alto e rir que nem uma perdida.
A meio da noite perguntei ao Indiano que ali vivia porque teriam umas bandeirolas penduradas no bar a dizer motogp e só então soube que as corridas eram esse fim de semana, no circuito de Sepang, a 40 Km de Kuala Lampur.
Despedimo-nos pela uma e meia da manhã, todos muito alegres, comigo a tentar montar o namoro entre aquela rapariga linda e o simpático Indiano.
Na manhã seguinte, mal acordei, arranquei para o circuito.

6 de novembro de 2014

Kenyir Lake





Pela manhã, em Cameron Highlands, visitei duas impressionantes plantações de chá, que cobrem montes e vales a perder de vista. O ano passado tinha visto plantas de chá pela primeira vês na vida, quando andei pela província de Assam, na Índia. Fazem campos lindos porque não têm mais de um metro de altura e crescem de forma que parece que o topo foi aparado, formando uma espécie de  tapete verde sobre elevado do chão. Magnífico
Depois de deixar as plantações segui as recomendações do meu amigo Russo e rumei a oriente. Desci a serra por outra fantástica estrada larga e de curvas rápidas e entrei depois numa zona de floresta tropical densa. O russo tinha-me avisado para atestar o depósito antes de entrar nesta zona e assim fiz. Durante 200 Km desta estrada larga que abriram através da floresta virgem não há restaurantes, habitações ou qualquer comércio ou construção. É uma estrada com muito pouco movimento e que não tem mais que floresta de um lado e outro. Paisagem fabulosa. De vez em quando parava para ouvir o chilrear dos pássaros na selva e excrementos de elefante indicavam locais onde teriam atravessado a estrada. De um lado e outro vi macacos saltarem entre os galhos das árvores.
Antes de entrar na zona de floresta felizmente comi duas bananas numa banca de beira de estrada que foram o meu almoço.
Pelas quatro e meia da tarde cheguei ao Kenyir Lake, um enorme lago artificial criado quando foi aberta esta estrada, que ainda não aparece nos mapas ou no GPS.
Instalei-me no fantástico Hotel que construíram junto ao lago num “bungalow” com janelas amplas que abrem para um terraço com vista deslumbrante sobre a água.
Respira-se o silencio naquele enorme lago, talvez do tamanho do nosso Alqueva mas rodeado de floresta virgem e salpicado de pequenas ilhas. Soberbo.
No dia seguinte só arranquei por volta do meio dia e continuei para oriente, até à costa. Desci depois rumo a sul, sempre junto a esta costa oriental e parei numa pequena estância de fraca qualidade mas com o atrativo de ser um “spot” de surf.
Antes de procurar onde ficar fui até à praia beber uma cerveja.
O bar do areal, que incorporava uma escola de surf, não tinha clientes e uma miúda mexicana, a ouvir boa música por detrás do balcão, estava com ar de não esperar ninguém e quase se assustou com a minha chegada. Recolheu os chinelos do chão e a “T” shirt que tinha em cima da mesa junto ao bar e pediu que me sentasse. Ficámos à conversa. Tinha ali chegado com 18 anos, quando viajava sozinha pela Malásia. Conheceu um rapaz local por quem se apaixonou e ali vive há seis, a fazer surf quando as ondas ajudam. Entretanto aproveitou para, durante quatro anos, passar os dias de semana em Kuala Lampur, onde tirou um curso de economia, mas de momento não tem outros planos senão para ali ficar, ao sabor das ondas.
Quando me despedi e pedi para lhe tirar uma fotografia junto a uma prancha de surf, tirou o pano que tinha à volta e fez pose de anuncio, em biquíni.
Fui procurar onde dormir e instalei-me numa espelunca das que já não conhecia desde a Índia. Uma mulher desdentada começou por me pedir o equivalente a 17 euros pelo quarto com ar condicionado mas baixou para dez quando lhe disse que não o queria ligar. Quando perguntei se tinha água quente desmanchou-se a rir a dar a entender que água quente só conhecia na panela da cozinha. Mas, com a temperatura exterior a 30º o duche frio soube-me lindamente. Á porta do quarto tinha um bocado de cartão daqueles dos ovos a arder no que pareciam preparativos para uma cerimónia Vudu. Quando lhe perguntei o que representava aquela queima explicou-me que era, simplesmente, para afastar os mosquitos.
Pelos trajes familiares, com mulheres e raparigas de cabeça tapada, constatei que eram muçulmanos, como a maioria da população malaia e nestes casos nunca resisto perguntar, ao jantar, se têm alguma bebida alcoolica.
Quando lhe perguntei se tinha cerveja a mulher tapou a boca para abafar o riso nervoso, como se eu tivesse dito uma blasfémia. Com medo de repetir o que eu tinha dito, olhou para o marido, um homem enorme, barrigudo e sério sentado em frente de uma televisão, para confirmar que estava distraído, e respondeu baixinho: “Não, aqui não temos isso”.
Há países como o Irão ou a Arábia Saudita onde simplesmente não se vende álcool em lado nenhum mas nestes onde aceitam outras religiões e costumes os estabelecimentos que não pertencem a muçulmanos vendem, de maneira que a pergunta não é totalmente descabida.

4 de novembro de 2014

Cameron Highlands




Ao sair de George Town ainda tive direito a assistir a uma cena que podia ter acabado mal, à porta do Guest House onde estava instalado.
Estava a colocar as malas na moto enquanto o proprietário do Hostal ao lado explicava a um miúdo inglês, acompanhado da namorada, como se conduzia a “scooter” que acabara de lhe alugar. O rapaz, com ar confiante, dizia que sim, que não havia problema, e sentou a namorada atrás dele.
Com milhares de “scooters” a serem conduzidas nestes países por homens e mulheres de todas as idades e muitas delas alugadas a turistas que normalmente se vão safando melhor ou pior, o miúdo achou que tinha que ser uma coisa facílima. E é, só que ele nem de bicicleta devia saber andar. Acelerou e travou ao mesmo tempo e a “scooter” lá arrancou debaixo de uma barulheira que se confundia com os berros do homem do Hostal: “SLOWLY, SLOWLY. BRAKE”
 Conseguiu parar nem ele sabe como e o homem  foi ter come ele a insistir que tinha que ir devagar.
“Sim, sim” respondeu o bife. “sem problema”.
Voltou a arrancar e não fez mais de vinte metros aos esses a acelerar a fundo e a travar com quanta força tinha, antes de se espetar com a namorada no alcatrão.
O velho berrava que nem um desalmado enquanto recolhia a mal tratada “scooter” e a namorada desatou a correr assustada, de capacete na cabeça, e só parou no quarto do Hostal, para desespero do homem que no meio dos berros pedia o capacete de volta. Tive que fazer enorme esforço para não me desatar a rir
Arranquei em direção ao interior, para visitar uma zona montanhosa onde existem grandes plantações de chá. Desta vez atravessei para o continente pela ponte, ao estilo da nossa Vasco da Gama, e percorri cerca de 100 Km de autoestrada para sul.
Pouco depois de deixar a via rápida, onde as motos estão isentas de portagem, entrei numa estrada de montanha fantástica com sequencias de curvas e contracurvas rápidas, de quinta, rodeada de uma paisagem de floresta que se foi tornando mais densa ao longo dos 150 Km que me levaram a Cameron Highlands, no topo da montanha. Um gozo. Pelo caminho encontrei 4 rapazes que tinham vindo simplesmente acelerar para aquela serra nas suas motos coreanas de 250 c.c. e bebemos um chá juntos numa barraca de borda de estrada.
Em Cameron Hinghlands instalei-me num simpático Hotel de montanha, com plantas a crescerem no telhado. A temperatura tinha passado dos 39º à saída de George Town para 25º no alto da montanha. Á noite baixou ainda para uns 19 ou 20º. Tomei um duche mais quente que o habitual e para jantar, na sala com lareira acesa, vesti uma camisola. Prefiro calor a frio mas já tinha saudades de uma temperatura destas.
Um rapaz de origem Russa e a sua bonita namorada Malaia, que me tinham visto chegar na moto à tarde, pediram para se sentarem à minha mesa de jantar e quiseram saber pormenores da viagem. Ele vive há anos na Malásia, tinha ali vindo passar dois ou três dias e conhece bem o país. Perguntei-lhe o que devia visitar e deu-me excelentes indicações não só para a Malásia como para a Indonésia.

2 de novembro de 2014

Penang Island


Sem encontrar qualquer tipo de macaco, arranquei daquela espécie de Hotel pelas 9 da manhã a caminho da ilha de Penang que fica perto da costa e onde também se pode chegar através de uma longa ponte. Fiz o trajeto por estradas secundárias e optei pelo ferry, por ser a primeira alternativa que me apareceu. Entrei no meio de uma enchente de “scooters” e estacionámos com muito pouco espaço entre as motos, apenas o suficiente para desmontar e esticar as pernas. Ao meu lado direito estava um casal em que a mulher trazia um bébé ao colo que não teria mais de um mês. Ficou em pé entre a minha moto e a “scooter” do marido que preferiu ficar sentado ao volante. Quando o barco ia para atracar na outra margem eu estava em pé do lado esquerdo da moto, à conversa com outro homem e com uma mão no punho da moto. Ao atracar, o barco bateu com tal força no cais que a minha moto, que estava no descanso lateral, se desequilibrou para o lado contrário, onde estava a mulher com a criança ao colo sem espaço para onde fugir. Como tinha a mão já no punho puxei-a com quanta força tinha e consegui, não sei como, voltar a pô-la direita, evitando que caísse para cima da mulher e do bébé. Acho que se eles não estivessem ali não tinha tido força para a levantar.
A Malásia tem uma população de 28 milhões de habitantes dos quais 22 milhões se encontram na parte continental ou West Malaysia, que faz fronteira a norte com a Tailândia e a Sul com Singapura. A outra parte do país, East Malaysia, com uma área aproximada à da parte ocidental, encontra-se na ilha de Borneo, que reparte com a Indonésia e o pequeno sultanato do Brunei.
A maior originalidade do sistema político é que têm um Rei mas que é eleito a cada 5 anos, de entre os descendentes hereditários dos monarcas de 9 dos 13 estados que formam o país. Na prática têm um sistema de rotatividade, de maneira que o rei muda a cada 5 anos.
A população é uma mistura de raças com influencias mais fortes tanto de Indianos como de Chineses.
Quando cheguei à ilha de Penang, ainda era uma da tarde e decidi começar por dar uma volta à ilha. Pelo caminho almocei num restaurante junto ao mar e, da parte da tarde visitei uma quinta de frutos tropicais, onde bebi um sumo.
Pelas quatro e meia da tarde estava em George Town, a cidade desta ilha com 290 Km2. É uma cidade gira por ser tão cosmopolita, misturando zonas de prédios e Hoteis modernos com bairros típicos que nos transportam no tempo.
Instalei-me numa Guest House dum destes bairros. A rua chama-se Love Lane porque em tempos era onde os empresários locais tinham os apartamentos onde instalavam as suas amantes, apartamentos esses agora transformados em pequenos Guest Houses e Hostais que albergam a maioria dos jovens ocidentais em viagem por aquelas bandas. A rua é muito animada, com bares bem arranjados e algumas lojas de tralha antiga muito giras. Parece estarmos nos anos 70.
Ali a dois passos visitei o bairro chinês com ruas típicas e a atração de “grafitis” extraordinários, por vezes em três dimensões, aproveitando partes de bicicletas ou outros materiais.
No dia seguinte decidi fazer uma caminhada através da selva de um parque natural existente na ilha que me levaria à “turtle beach” onde supostamente avistaria enormes tartarugas. O trajeto de quatro quilómetros através da selva, com subidas e descidas acentuadas em carreiros disformes é cansativo e acabei por conseguir uma boleia de barco para voltar da praia de onde as tartarugas tinham emigrado.  Pelo caminho através da floresta encontrei muito pouca gente mas qual não foi o meu espanto quando vejo um casal de miúdos em que ele tinha vestida uma camisola da seleção portuguesa de futebol. Perguntei-lhe se sabia que camisola era aquela e o rapaz respondeu-me: “Claro. Sou um grande fã da seleção portuguesa”. Tem graça mas acho triste sermos só conhecidos nestes países longínquos através do futebol. Ninguém tem ideia onde fica Portugal e muitos nunca ouviram sequer falar no nome.