31 de outubro de 2017

Quito


Em Quito fiquei duas noites. No primeiro dia peguei na moto e fui visitar a parte antiga da cidade, onde estão as principais catedrais que, à semelhança do que tinha visto no México e América Central, exibem o fascínio que os espanhóis tentaram introduzir na cabeça dos povos colonizados, através da religião. A Catedral de Jesus, com talha trabalhada a preencher quase todo o interior, forrado a folha de ouro, levou 160 anos a ser construída. Por aí se pode ter uma ideia da grandiosidade da obra. Impressionante.
Para variar das refeições locais fui almoçar uns "gnoqui" a um restaurante italiano recomendado pelo “Lonely Planet” e da parte da tarde fui visitar a casa Museu e ao que o artista chamou “a Capela” do pintor Equatoriano Oswaldo Guayasamín. Interessantíssimo. A guia era optima ao fazer-nos perceber a obra do artista, que se foca muito nas pessoas que sofrem como os antigos escravos ou quem vive na miséria mas também nas injustiças da nossa sociedade.
Guayasamín teve sucesso desde novo, graças a uma visita que Rockfeller fez, nos anos 40, a Quito, encantando-se com a obra do jovem pintor, tendo levado alguns quadros para os Estados Unidos e mais tarde lançado o artista naquele país.
Antes de morrer Guayasamín reuniu os sete filhos e disse-lhes que iria deixar a casa/atelier onde viveu os últimos vinte anos de vida ao estado Equatoriano para que aí fosse criado este fantástico museu. Numa das paredes uma frase gravada pelo artista:
“Eu chorava porque não tinha sapatos, até encontrar um miúdo que não tinha pés”.
Na manhã seguinte deixei Quito a caminho da costa mas antes tentei visitar o vulcão mais famoso do Equador e um dos mais altos, uns 80 Km a Sul da capital. O Cotopaxi mede quase seis mil metros e tem um glaciar no topo que, segundo os locais, tem vindo a perder gelo de ano para ano em mais uma prova do aquecimento global.
Acabei por não subir o vulcão porque não deixam entrar motos no parque e portanto teria que ir com um guia num carro até ao estacionamento superior para depois fazer uma caminhada de três horas, a mais de cinco mil metros de altitude até ao glaciar. Se estivesse bom tempo até tinha aceite a ideia mas o tempo estava enublado e ameaçava mesmo chover de maneira que desisti da ideia.
Continuei então o meu caminho rumo a Ocidente e à costa do Pacífico. Pouco tempo depois entrei numa serra que me deu imenso gozo subir, com curvas e contracurvas ao longo de muitos quilómetros em optimo piso. Aquele lado da serra, assim como a paisagem à volta de Quito, é seco e castanho mas, quando chegamos ao topo verificamos que a paisagem do outro lado é completamente diferente, de densa selva muito verde. Quase a três mil metros de altitude podia ver nuvens uns 500 metros abaixo de mim a cobrirem uma parte deste lado da serra cheio de vegetação. Comecei a descer e, ao entrar nessas nuvens, uma espécie de nevoeiro cerrado, a visibilidade ficou reduzida a menos de dez metros e, sem chover, a estrada estava encharcada. Tive que ir muito devagar, com enorme cuidado quando tinha que ultrapassar camionetas por não conseguir ver o que vinha em sentido contrário, se uma curva apertada ou um carro ou camião. A descida pareceu-me interminável, tendo rodado assim cerca de uma hora. Por fim passei para a parte de baixo das nuvens e pude apreciar a fantástica paisagem até ver uma cascata com um restaurante em baixo onde parei para almoçar a apreciar a fantástica paisagem daquelas quedas de água a correrem para piscinas naturais cavadas nas rochas. Fui recebido por um Eslovaco, que ali vivia e trabalhava há 12 anos e me apresentou o casal dono do local. Não havia mais cliente algum e a senhora preparou-me um excelente frango com batatas fritas verdadeiras e banana frita. Foi das melhores refeições que tive no Equador e, acompanhada de suco de cana de açucar expremido na hora, custou-me três dólares.



29 de outubro de 2017

La Mitad del Mondo - Ecuador


Ao entrar no Ecuador, antes de apanhar a estrada principal que me levaria a Quito, fui almoçar, que eram três e meia da tarde e estava cheio de fome depois dos atrasos na fronteira, e resolvi ir visitar o cemitério de Tulcan a cidade junto à fronteira, porque um velho motard Argentino que encontrei tinha-me dito que valia a pena visitar esse cemitério onde os arbustos estão habilmente recortados em diferentes formas que representam animais ou distintas esculturas. Muito original.
Entretanto já passava das quatro da tarde de maneira que rodei mais uma hora e, ao chegar a uma cidade com um lago e Hoteis junto decidi por ali ficar. O sítio era muito giro, com vulcões extintos do outro lado do lago. No Ecuador, sendo um país pequeno, há 25 vulcões, sem contar com os da ilha de Galápagos
No dia seguinte decidi procurar na cidade uma oficina de motos onde pudesse fazer dois arranjos. Um era um dos parafusos que seguram a parte de trás do quadro e que tinha substituído no Mexico mas por uns de baixa qualidade. Andava há dias a sentir que a moto não estava a curvar tão bem como o habitual e esta manhã, quando a olhei por trás, reparei que o guarda lama estava desviado para um lado. Um dos parafusos tinha voltado a partir-se. O outro problema era uma fuga de gasolina junto ao depósito, desde que desmontei a bomba nos Estados Unidos, que ainda não consegui resolver.
Encontrei uma oficina de dois simpáticos rapazes que trataram de substituir os dois parafusos que estavam um partido e o outro quase, por uns de qualidade superior enquanto eu tratei da fuga de gasolina, obrigando-me a desmontar carenagens e tirar o depósito fora. Foi obra para quase três horas. 
No caminho para Sul parei para almoçar na cidade de Otavalo e o simpático dono de restaurante, depois de estar à conversa comigo, ofereceu-me a refeição.
Desci depois até Quito mas, já perto da cidade, fui ainda visitar dois marcos importantes onde está registada a linha imaginária do Equador naquele local.
O primeiro, mais básico, é um relógio de Sol num descampado junto à estrada montado em cima de pedras com círculos marcados que definem a hora através da sombra deste enorme tubo metálico, sendo o meio dia a altura  em que o tubo não provoca qualquer sombra.
O rapaz que me mostrou este enorme relógio de Sol falou-me numa coisa interessante que só há pouco tempo tinha lido algures e refere-se ao facto de nós erradamente definirmos o Polo Norte como estando na parte de cima da terra e o Polo Sul na parte de baixo quando, na realidade, a terra em relação ao Universo não tem parte de cima ou de baixo definidas. Eles ali exibiam um mapa mundo projectado transversalmente em relação ao que estamos habituados que, segundo eles, é como deveria ser mostrada a terra em projecção.
Há pouco tempo li que quando um astronauta enviou recentemente uma fotografia da terra, no centro da Nasa viraram a fotografia de modo que o Polo Norte ficasse para cima, para não confundir as pessoas mas na prática não há razão para ser assim.
Este local do Relógio de Sol tem uma placa, colocada por astrónomos americanos há quatro meses atrás, a definirem um ponto exacto onde passa o equador.
O mesmo não se passa no segundo sítio que visitei e que é mais famoso. É uma vila que se chama La Mitad del Mundo e tem um monumento e uma linha marcada no chão onde supostamente passa o Ecuador, dividindo o mundo em dois.
Em Quito instalei-me no simpático Hotel recomendado pelo meu amigo equatoriano que tinha encontrado a primeira vez em Ipiales e, por coincidência, mais duas vezes, uma na própria fronteira no dia seguinte de manhã e outra na oficina, junto à estrada principal, onde reparei a moto.

26 de outubro de 2017

Ipiales


No caminho para Ipiales ainda apanhei uma derrocada de pedras que terá acontecido mesmo antes de eu passar, pois fui o primeiro a chegar ao local. Como a moto passava, deixei o trabalho de remoção para os camionistas que entretanto chegaram e segui viagem.
Ao chegar à cidade fronteiriça instalei-me no Hotel com melhor aspecto que encontrei. Por acaso era novo e estava impecável. Fui depois procurar uma cinta para prender o saco amarelo onde transporto a tenda, saco cama e outras pequenas coisas, porque uma delas se partiu.
Quando saía da loja um Equatoriano muito simpático parou o carro e veio ter comigo. Também tinha motos e ficámos um pouco à conversa. Indicou-me um Hotel onde ficar em Quito e falou-me no mesmo Grupo de Ajuda Motard Internacional que quem tinha encontrado no dia anterior me tinha falado. É um grupo Sul Americano que tem aderentes de vários países.
No dia seguinte de manhã, antes de ir para a fronteira, a meia dúzia de quilómetros, ainda fui visitar a famosa catedral Santuario de Las Lajas que, por fora é fantástico, além da localização, em cima de uma falésia sobre um rio, mas o interior não me impressionou tanto como outras que tenho visto na America Central e do Sul.
Quando estava na fila da fronteira para declarar a saída da moto da Colômbia alguém me disse que precisava de fotocópia dos documentos e, no tempo de as ir tirar e voltar, o homem de serviço decidiu ir almoçar. Disseram-me que teria que esperar uma meia hora e por ali fiquei. Entretanto outro, com o ar de que iria avançando o processo, pediu para ver a minha importação temporária e constatou que estava fora de prazo. Na entrada tinham-me dito que era válida para seis meses mas na prática estava passada para três meses depois dos quais a deveria ter renovado por mais três. Como deixei cá a moto no início de Maio e só em Setembro voltei, os primeiros três meses tinham passado e o documento estava caducado. A solução, disse-me o homem, seria pagar uma multa de 1,8 milhões de Pesos, o equivalente a cerca de 600 Dólares. Disse-lhe que não tinha esse dinheiro e ele pediu que esperasse pelo chefe para saber o que ele diria mas que não estava a ver outra solução. Passados uns dez minutos veio ter comigo. Disse que tinha falado com o chefe e que ele perguntara quanto eu estaria disposto a pagar para resolver o problema.
- 20 Dólares, disse-lhe eu. É o que posso.
Ele fez um ar de como quem diz: “estás a gozar comigo” mas ao mesmo tempo parecia estar a tentar perceber se eu os estava a entalar, por alguma razão. Disse-me que iria perguntar mas que pensava não haver hipótese nenhuma.  Passado um quarto de hora veio o chefe falar comigo. Não me falou em qualquer pagamento por fora, muito provavelmente por ter achado a oferta ridiculamente baixa, mas apenas que a única solução seria pagar a multa. Disse-lhe a ele também que não tinha esse dinheiro e, por fim, ele saiu-se com outra solução, daquelas que só vemos nestes países de gente que resolve os problemas à boa maneira de outros tempos:
Se quiser o que podemos fazer é eu fechar os olhos e você sair do país como se nada fosse, sem apresentar qualquer papel. O único problema é que, se regressar cá com essa moto vai ter que pagar a multa.
- Oh. Maravilha. Obrigado. Até à próxima.

24 de outubro de 2017

Popayan


De Cali fiz cerca de 140 Km até Popayan. É uma estrada sinuosa e com bastante transito de camiões, por ser a ligação de Medellin ao Ecuador. O Googel maps calcula assim quatro horas e meia para o percurso de autocarro e três para os carros. De moto despacho-me bastante melhor mas com várias paragens por obras na estrada acabei por levar mais de duas horas, felizmente com bom tempo.
Tinham-me recomendado que visitasse Popayan, uma cidade com o centro antigo de boas casas pintadas de branco, algumas hoje em dia transformadas em Hoteis. Foi uma cidade onde no início do século passado se instalou parte da classe rica Colombiana, pelo seu clima ameno durante todo o ano.
Quando cheguei comecei por visitar essa parte da velha cidade que não me deixou muito impressionado e depois, pelas três da tarde, fui almoçar a uma tasca de beira de estrada onde me pediram o equivalente a menos de dois euros por um bife com arroz, embora bera, e uma cerveja. Depois do almoço começou a pingar e tratei de procurar um Hotel onde ficar.
Pela Colômbia as pessoas são mais simpáticas que na América Central onde temos a sensação que a maior insegurança os torna mais tensos. Aqui parece que estão aliviados pelo fim da guerrilha e dos assassinatos pelos gangs de droga e de um modo geral estão sempre prontos a ajudar. Já várias pessoas me guiaram até aos locais quando lhes pergunto o caminho para uma certa morada. Aqui foi um homem numa scooter que me veio indicar um Hotel e esperou à porta até se certificar que aquele me servia, disposto a acompanhar-me na procura de outro. Fiquei por aquele que não era grande coisa mas tinha garagem para a moto.
Pedi ao rapaz da recepção que me procurasse na Internet uma miúda gira para me fazer companhia e passada uma hora bateu-me à porta do quarto esta rapariga linda, com um ar meigo e de bem comportada que me deixou o sangue a ferver nas veias quando a vi. A voz era suave e calma. Fiquei apaixonado e pedi que voltasse na manhã seguinte mas tinha aulas na Universidade. Estudava  no segundo ano de Comunicação Social e sonhava ser apresentadora de televisão.
Deixei Popayan pelas dez e meia da manhã, o que para mim é cedo pois tinha uma etapa longa pela frente até Ipiales, junto à fronteira com o Equador. Mais uma vez o tempo manteve-se seco e pude distrair-me a acelerar pelas sensacionais estradas de montanha a tentar esquecer aquele borrachinho da noite anterior. Mas a temperatura durante o dia variou entre 18º nas partes mais altas de montanha e 38º nas planícies entre serras.
Pelo caminho encontrei um viajante Equatoriano numa Honda 250 monocilindrica e fiz-lhe sinal para parar. Morava junto à costa no Equador e tinha ido até Cartagena. Estivemos uns vinte minutos à conversa e sugeriu-me inscrever-me num grupo de motociclistas da America do Sul que se ajudam uns aos outros e oferecem estadia em suas casas. Ele próprio convidou-me para ficar em sua casa quando passasse em Puerto Lopez.

22 de outubro de 2017

Cali


Os trajectos na Colômbia entre cidades incluem sempre fantásticas estradas de montanha que, quando o piso está em bom estado, dão enorme gozo de percorrer na Cross Tourer.
A cidade de Cali é famosa pelo Cartel de Cali, o grupo de contrabando de droga que fez concorrência ao de Pablo Escobar de Medellin mas era muito mais bem organizado, com suborno de políticos, juízes, policia, etc.
Chegaram a associar-se a Pablo Escobar, até quando negociaram dividir as cidades americanas entre eles na venda de Cocaína. Ao contrario do cartel de Medellin tinha vários sócios, distribuídos por tarefas especificas. O grupo caiu quando se zangaram com um deles que os denunciou.
Embora não tenha sido aqui que nasceu a Salsa eles são grandes adeptos e, por toda a cidade se houve música a tocar.
Cheguei a Cali pelas três da tarde e fui direito ao centro, de ruas estreitas e movimentadas, com vendedores de bancas nos passeios a atrapalharem o difícil transito. Uma autentica feira. Encontrei um Hotel que não parecia mau e tinha a vantagem de uma garagem onde guardar a moto no meio daquele inferno.
Fui dar um passeio pela cidade e encontrei uma praça com boa arquitectura e uma igreja de portas  com relevos dourados fantásticos.
Passei à porta de um bar de strip que parecia estar animado às quatro da tarde.  Paguei um euro para entrar e deu direito a uma cerveja. Entre pegas e clientes estavam umas trezentas pessoas, todas com muito mau aspecto, a assistirem a um show deprimente, com uma mulher horrível a despir-se. Bebi a minha cerveja pela garrafa, como todos os outros, junto ao bar e voltei para o Hotel.
Quando quis jantar, às oito e meia da noite, os restaurantes já estavam fechados, um horário bastante comum aqui na Colômbia que pelos vistos não foi herdado dos espanhóis. No Hotel arranjaram-me uns panados de batata com carne que, como seria de esperar, estavam maus. Deitei-me pelas onze e meia da noite na esperança que a música que se ouvia aos berros desligasse pouco depois mas passou a meia noite e a algazarra continuava. A sensação era a de que um do altifalantes estava dentro do quarto. Falei para a recepção. O homem disse que iria durar até às três da manhã mas que pediria para colocarem o som mais baixo. O pedido não surtiu qualquer efeito. Tratava-se, soube depois, de uma festa que organizavam todos os fins de semana no sétimo piso de Hotel. Se tenho sabido teria sido preferível juntar-me à festa. A música finalmente calou-se pelas três e meia mas, quando estava quase a adormecer, começaram a bater às portas de quase todos os quartos do piso em que estava para acordarem um grupo de miúdos que deveriam participar num festival desportivo. Um pesadelo.
- Porque não lhes ligaram pelo telefone interno do Hotel?, perguntei na manhã seguinte.
- É que os telefones foram retirados dos quartos deles para que não os utilizassem.
Acabei por dormir três ou quatro horas e levantei-me estafado.

20 de outubro de 2017

Salento





Quando saí de Pereira fui visitar Salento, a poucas dezenas de quilómetros. É uma vila típica na serra e fica perto de duas importantes “Fincas” de café, o que nós chamaríamos roças de café.
Depois de fotografar Salento desci um pouco a serra até ao Valle de Cocora. É um vale que tem uma floresta fantástica com densa vegetação, vários rios a até animais selvagens como Pumas. Para além disso aqui é o único sítio no mundo onde cresce a que eles chamam Palmeira de Cera que precisa de estar a uma altitude especifica, entre 2500 e 2800 metros para se desenvolver, a temperaturas que oscilem entre os 12 e os 19º durante o ano . Estas palmeiras, estreitas e altas, levam 60 anos a atingir a sua altura máxima que chega, por vezes, a ultrapassar os 60 metros.
Neste Valle de Cocora decidi alugar um cavalo para dar um passeio pela floresta, acompanhado por um guia. Foi sensacional. Atravessámos rios e densa selva por vezes pelo meio de rochas que eu não imaginava os cavalos conseguissem passar sem se atrapalharem.
Depois do passeio voltei a Salento onde almocei num dos simpáticos restaurantes da praça central.
Da parte da tarde fui visitar uma das roças de café, a Finca “El Ocaso”. Quando lá cheguei, através de uma complicada estrada de terra, eram cinco da tarde e disseram-me que a ultima visita tinha sido às quatro. Tinha começado a chover e ficaria noite dentro de uma hora de maneira que perguntei se podia ficar lá a dormir. Felizmente eles tinham meia dúzia de quartos que alugavam. Naquele dia fui o único hóspede. A casa era giríssima, em madeira pintada de encarnado e branco. Fazia um pouco lembrar as casas típicas das quintas minhotas, com um terraço todo à volta da casa com vasos de flores no corrimão. Os quartos ocupavam três das fachadas da casa com a outra a ser o salão/casa de jantar junto ao qual construíram uma cozinha de apoio. Estava muito gira a casa e tinha vista fantástica sobre o vale e parte das plantações de café. O quarto, com casa de banho, estava muito bem arranjado, com lençóis impecavelmente engomados e quatro boas almofadas na cama de casal.
Dormi que nem um anjo nesta roça de café. Pela manhã a encarregada preparou-me um pequeno almoço com ovos e sumo natural e às nove fui então fazer a visita guiada, acompanhado de um simpático casal de jovens Checos que entretanto chegou.
Entre outras coisas aprendi que a Colômbia é hoje em dia o terceiro produtor mundial, depois do Brasil e do Vietnam. Aqui produzem o Arábica mas mostraram-me outro tipo de plantas de café que têm na plantação como mostruário, entre elas uma que se chama East Timor, obviamente originária do “nosso” Timor. Aprendi também que o Arábica dá-se melhor entre 1400 e 1500 metros de altitude, onde se situam as grandes produções. Esta roça, estando a 1700 metros produz menor quantidade de café mas de mais qualidade, sendo menos áspero.
Pelas onze da manhã deixei a roça a caminho de Cali, a minha próxima paragem.

18 de outubro de 2017

Pereira


Quando deixei Medellin fui visitar um local emblemático a 85 Km da cidade, Guatapé. É a maior rocha que alguma vez vi e está no topo de um monte com uma vista fabulosa para os braços de uma enorme presa de água que serpenteiam pelos campos verdes em baixo. De cortar a respiração. Não tive pedalada para subir os mais de 300 degraus que nos levam ao topo da rocha e preferi ficar a almoçar num dos restaurantes existentes na base com uma vista fabulosa sobre o lago. Parti depois em direcção a Pereira, a seguinte grande cidade a caminho do Sul. Tive que voltar a passar em Medellin e saí por outra das montanhas que rodeiam a cidade. Viajei a maior parte da tarde através de serras em estradas que são vias principais e por isso têm grande movimento de camiões. Para dificultar a situação, quando acabei de atravessar Medellin, começou a chover e não parou mais. Por volta das cinco e meia cheguei à povoação de La Pintada onde havia alguns hotéis. Bati primeiro à porta de um mais modesto mas não tinha lugar para parar a moto que teria que ficar na rua e acabei por procurar e encontrar outro melhor, com um parque de estacionamento vedado, mesmo se o restaurante era composto por um gigantesco telheiro em colmo ao ar livre. Nestes sítios de serra já não há calor à noite mas estes hotéis baratos de província não têm água quente. De manhã tomei um duche frio e arranquei debaixo de chuva. Foi aumentando de intensidade ao longo da manhã e, pelas duas da tarde, chovia torrencialmente quando, ensopado nos pés e da cintura para cima, cheguei à cidade de Pereira onde resolvi ficar, desesperado por um duche quente. Encontrei um Hotel no centro que tinha esse luxo e por lá me instalei. Depois do duche fui almoçar um excelente bife num restaurante que me indicaram, num primeiro andar com vista sobre a movimentada praça principal. Muito giro.
Depois do almoço, fui estacionar a moto num parque mais barato do que aquele onde estava junto ao Hotel e dei um passeio pela cidade. Pelo caminho comprei um guarda chuva por dois euros e um secador de cabelo, para secar botas, capacete e luvas, por seis. Trabalhou umas horas, com os devidos intervalos para arrefecimento, mas quando estava ao computador senti um cheiro a plástico queimado e ao virar-me deparei com chamas a saírem de dentro de uma bota. O secador tinha pegado fogo, felizmente sem mais estragos que no próprio secador, que acabou a sua curta vida no caixote de lixo.

12 de outubro de 2017

Medellin


Quando cá estive em Maio passei em Medellin mas fugi logo no dia seguinte de manhã porque a cidade, que fica a 1500 metros de altitude mas tem altas montanhas a rodeá-la, estava envolta numa nuvem de poluição que tornava o ar irrespirável. Desta vez, talvez por nesta altura do ano chover quase diariamente ao fim da tarde, está muito melhor. Assim, marquei um “airbnb” para passar mais dois dias e conhecer um pouco mais da segunda cidade da Colômbia. No dia em que mudei do Hotel para a casa particular acabei por almoçar já tarde e logo a seguir caiu uma chuvada das grandes, que só me deu tempo de parar a moto e entrar em casa, de maneira que vi pouco mas, no dia seguinte saí cedo, apanhei um autocarro para o centro e fui primeiro visitar a praça Botero, com enormes estátuas em bronze do conhecido artista colombiano, que é de Medellin. A praça, logo às nove e meia da manhã, tem muito movimento, não só de pessoas que passam como de vendedores ambulantes ou de pegas com péssimo aspecto, que entram ao serviço aquela hora mas não parece terem qualquer sucesso. Do outro lado da praça o Museu de Antioquia tem uma excelente exposição do artista para além de muitas outras obras de pintores famosos oferecidas por ele próprio à cidade. Excelente. Distrai-me por lá mais de duas horas.  Numa rua junto à praça a curiosidade de homens e mulheres que montam pequenas bancas e se dedicam, a troco de uns pesos, a preencher documentos em velhas máquinas de escrever para aqueles que não têm uma ou, simplesmente, não sabem escrever ou exprimir-se. Estes homens e mulheres perguntam aos clientes o que pretendem escrever e traduzem essa linguagem popular em escrita oficial, pronta a entregar numa repartição de finanças ou tribunal. Fantástico.
Apanhei depois um metro e fui até ao “metro cable” que não é mais que um teleférico que sobe uma das montanhas da cidade, por cima de uma das enormes favelas que a rodeiam, e passa depois através da floresta até um parque natural. Este teleférico, curiosamente, funcionou como pacificador de uma parte da cidade, que andava em guerra constante desde os tempos do famoso Pablo Escobar, o traficante Colombiano de droga, que controlava a cidade e era um dos homens mais ricos do mundo. Depois de ser morto, em 1993, Medellin continuou a ser uma cidade muito perigosa, com guerras de gangues nas favelas que a polícia não controlava. Com a passagem do teleférico, inaugurado em 2004 e que tem estações em vários pontos das favelas, as populações começaram a unir-se em volta deste transporte que lhes facilitava a descida à cidade, juntando-se obrigatoriamente nestes pequenos compartimentos com dois bancos corridos onde se sentam quatro a quatro em frente uns dos outros num espaço reduzido. Tornou-se impossível encontrarem-se no transporte e depois andarem em guerra nas ruas e as favelas pacificaram-se ... à conta do teleférico. Extraordinário.
 Quando lá cheguei a cima, depois de um excelente almoço de frango estufado com batatas assadas propus-me fazer um passeio a pé, incluído num pequeno grupo com uma guia através da floresta. Só que, não tínhamos andado mais de um quarto de hora quando uma enorme chuvada interrompeu o passeio. Voltámos à base mas, devido aos raios, o teleférico foi obrigado a parar e tive que esperar mais de uma hora que voltasse a funcionar, ficando à conversa com dois casais de miúdos, entre um café colombiano, o melhor café que bebi fora de Itália ou Portugal.



9 de outubro de 2017

Nuevo Pueblo


Deixei Cartagena por volta das dez da manhã em direcção a Medellin, a segunda maior cidade Colombiana. A estrada é razoável embora tenha muito movimento de camiões. Mas tem partes de serra muito divertidas, sempre rodeadas de muita vegetação. As pontes que passam por cima de rios revelam enormes caudais de água, que corre com força nesta altura do ano. Parei para almoçar numa vila do caminho onde paguei três euros por um prato de galinha com batatas e “patacones” e uma cerveja. Pelas três da tarde um bar isolado junto à estrada atraiu-me a beber uma cerveja. O dono tinha uma pronuncia tão diferente do habitual que mal percebia o que dizia. Pouco depois sentou-se uma velha na mesa ao lado que se fartou de falar comigo. Comecei por pedir que repetisse o que dizia porque não percebia uma palavra mas, às tantas, desisti e limitei-me a dizer que sim com a cabeça.
- “Pois. Claro”, sem perceber patavina.
A certa altura a velha disse qualquer coisa ao homem, ele mandou parar um táxi que passava e ela entrou no carro sem se despedir ou olhar sequer para mim. Deve ter ficado ofendida com a minha falta de compreensão. A sua conversa certamente exigiria respostas que não pude dar.
Pelas cinco da tarde, quando já pensava que ía ser difícil encontrar um sítio onde ficar, ao chegar a uma aldeia que se chamava Nuevo Pueblo, vi um letreiro de Hotel na beira da estrada e fui ver. Pertencia a duas simpáticas irmãs e consistia em vários bangalows separados que eram quartos e um grande telheiro em colmo central que servia de bar e restaurante. Por fora os bungalows estavam em tijolo e por dentro as paredes eram pintadas mas não rebocadas. Tal como no restaurante também os telhados eram em colmo. Propuseram-me um sem ar condicionado por o equivalente a sete euros e por ali fiquei. Passada uma meia hora apareceu um Mexicano, numa Suzuki 650 que vinha a caminho do Salar de Uyuni, um lago salgado da Bolívia, e ficamos à conversa até à hora de jantar, entre um par de cervejas.
Segui no dia seguinte para Medellin e, como calculei que só chegaria ao fim do dia, marquei um Hotel decente por uma noite para variar daqueles onde tenho ficado.

8 de outubro de 2017

Cartagena


A caminho de Cartagena decidi procurar um bar de praia onde almoçar. Deixei a estrada principal uma primeira vez mas fui parar a uma aldeia com mau aspecto. Um minimercado tinha uma mesa com cadeiras cá fora e bebi ali uma água e comi uma banana. O dono recomendou-me uma praia mais à frente supostamente com bons restaurantes junto ao mar. Quando lá cheguei um rapaz dos seus vinte e  poucos anos veio a correr ter comigo para me indicar um dos restaurantes de praia. Recusei a ajuda mas ele insistiu e foi numa moto à minha frente com um amigo. Chegámos a uma praia com dois ou três restaurantes improvisados, com barracas de madeira e mesas e cadeiras de plástico no areal, com rudimentares toldos por cima. Sentei-me numa junto ao mar e ele trouxe-me uma travessa com vários peixes frescos para escolher. Perguntei o preço de uma posta de um deles e lá o levou para o cozinharem na brasa. Passado um quarto de hora chegou o peixe esturricado com arroz morno e “patacones”, banana frita que aqui servem com todos os pratos. Estava péssimo mas lá comi o peixe e parte do arroz e “patacones”, ajudado por uma cerveja. O que se salvou foi a situação, no meio de uma praia quase deserta.
 Quando pedi a conta ao criado ele disse que o rapaz já a trazia. Lá voltou a aparecer o miúdo da moto com uma conta feita por ele, incluindo o seu serviço, que somava mais do dobro do que me tinha dito custava o peixe. Fiquei furioso e apeteceu-me dar-lhe uma lambada mas limitei-me a dizer que não pagava. Saquei do dinheiro que ele tinha dito que custava o peixe, acrescentei o equivalente a euro e meio para a Cerveja e disse-lhe que não pagava mais que aquilo. Ele ainda tentou explicar o seu serviço mas, vendo o meu ar, aceitou sem se queixar. A sua comissão já estava nitidamente incluída no valor que lhe paguei.
Segui em direção a Cartagena. Quando se chega temos uma desilusão porque só  vemos prédios altos junto ao mar mas, ao entrarmos na cidade antiga, dentro da muralha, é outro mundo. As casas e palácios da época dos espanhóis estão bem arranjados e pintados, praças com jardins bem tratados, restaurantes e lojas com bom aspecto. É fantástica esta cidade velha de Cartagena. O ambiente é muito cosmopolita com turistas e animação de rua. À noite há dança e música um pouco por toda a cidade, por vezes até a um ritmo exagerado. Fiquei por aqui dois dias.
Esta cidade dentro das muralhas foi a antiga capital, com uma localização que parecia até fazer mais sentido, por estar junto ao Atlântico, mas os espanhóis decidiram mudá-la para Bogotá porque muita gente estava a morrer com doenças provocadas por picadas de mosquitos e, como estes não resistem à altitude e Bogotá fica a cerca de três mil metros, foi essa a solução encontrada.
Valeu a pena fazer estes 2000 Km de ida a e volta a Cartagena não só pelo trajetco em si, que também me permitiu conhecer melhor a Colômbia profunda, mas por ficar a conhecer esta Cartagena das Índias, a velha cidade dentro das muralhas.






5 de outubro de 2017

Rumo ao Norte - Curomani


No dia seguinte continuei o meu trajecto para Norte. Apanhei uma das estradas principais que atravessam o país de Norte a Sul. A maioria do trajecto tem só uma faixa em cada sentido com traços contínuos que parecem ter sido colocados à sorte e que ninguém cumpre. Por vezes, pequenos troços com separador central e duas faixas para cada lado que não têm mais de três ou quarto quilómetros. Em todo o caso há várias portagens pelo caminho mas onde as motos têm reservada uma passagem estreita, do lado direito, em que não pagam.
Parei para almoçar numa barraca de berma de estrada, que não tinha gás ou electricidade e pedi até para tirar uma fotografia à simpática dona da casa, de enorme colher de pau na mão, na cozinha junto às panelas que aqueciam por cima de lenha a arder. Pelas três e meia da tarde cheguei à vila de Curomani e, cansado, decidi por ali ficar. Aproveitei ser cedo para procurar um sítio onde me pudessem sacar um parafuso que se tinha partido há tempo no quadro e segurava  o suporte da bomba de travão traseira e da mala esquerda. Dois rapazes com um telheiro de madeira à borda da estrada onde faziam desde bate chapa a reparação de furos de camiões, trataram do problema eficazmente e conseguiram mesmo um parafuso novo numa loja da aldeia.
Na manhã seguinte continuei a rodar para Norte sempre através de estradas abertas no meio da vegetação.
Tinha previsto seguir mais junto à fronteira com a Venezuela mas os rapazes que me repararam a moto desaconselharam vivamente esse trajecto em que as estradas eram más e havia muita bandidagem.
Fui assim direito a Santa Marta, que me tinham dito ser fantástico mas foi uma desilusão. A cidade portuária é suja e construída sem planos nem qualidade. Fui até uma praia que me indicaram através de uma estrada de terra esburacada de uns dez quilómetros. Num portão, um quilómetro antes de chegar, pediram-me 10.000 Pesos (cerca de três euros) para passar. A natureza era linda mas na praia tinham colocado uns panos manhosos sobre estacas a fazerem de toldos onde os locais estavam em cadeiras de plástico. Os bares também eram no mesmo estilo e até as arcas onde tinham as bebidas estavam podres. Ainda pensei em ficar por ali a acampar mas felizmente tinha que ir longe ao longo da praia para chegar ao parque e desisti. Bebi uma cerveja numa das barracas e voltei a Santa Marta.  Percorri depois uns 20 Km ao longo da costa até encontrar um Hotel junto à praia mas também mal tratado onde apenas se salvava a piscina, com pequenas ilhas de palmeiras. Pedi uma sopa de peixe para jantar mas eram só espinhas e acabaram por me trazer um caldo de carne como alternativa. Ao pequeno almoço não tinham pão e fiquei-me por uns ovos mexidos e um Ice tea. De um modo geral tenho comido mal na Colômbia mas as pessoas são muito simpáticas e a paisagem fantástica, com muito verde e rios com caudais impressionantes.
Continuei junto à Costa Caribenha a caminho de Cartagena. Barranquilla é outra cidade feia e suja. À saída, numa zona de praia onde poderiam estar Hoteis e Restaurantes, existe uma enorme zona de barracas com lagoas de água estagnada e poluída do lado esquerdo. Atravessamos um istmo que nos leva até perto de Cartagena com mais duas ou três portagens pelo caminho. Calculo que sejam baratas porque há às centenas espalhadas pelo país em tudo o que é estrada dita nacional.    

2 de outubro de 2017

Bogotá


Aterrei há dois dias em Bogotá, onde tinha deixado a moto nos primeiros dias de Maio, para regressar a Portugal. No dia seguinte de manhã, um Sábado, fui à procura de um concessionário Honda onde fazer a revisão à moto e montar o sexto jogo de pneus, desde que saí de Portugal.
Tive a sorte de ir parar ao único na Colômbia que vendia motos de grande cilindrada e, embora fosse muito pequeno, tinha uma “Cross Tourer” nova em exposição e uma Africa Twin. Mais surpreendido fiquei quando me deram à escolha duas marcas de pneus que tinham em “stock” para as medidas da minha moto. Deixaram-me ser eu a trabalhar na moto e aproveitei para mudar velas, uma operação que já não fazia há tempo porque tem muita mão de obra, principalmente para substituir as dos cilindros da frente que obrigam a retirar o depósito de gasolina e a caixa do filtro de ar  que tem três tubos ligados e serve de suporte a várias fichas eléctricas.
Deixei Bogotá a caminho do Norte pelas nove da manhã de segunda feira. Queria visitar Cartagena e os arredores dessa Costa Atlantica que me tinham recomendado. Segui um trajecto que vi no Google maps. Um motoqueiro que conheci no concessionário Honda mais tarde disse-me que tinha optado por uma estrada secundaria pouco recomendável. Comecei por descer do planalto onde fica Bogotá, a cerca de 3.000 metros de altitude e a temperatura, num par de horas, subiu dos 19º que estavam na capital para 27. Três dias depois, junto à costa, estavam mais outros dez. Estou perto do equador o que resulta em temperaturas altas todo o ano e bastante chuva e sol.
O trajecto que escolhi levou-me por estradas sensacionais através de serras verdejantes mas, se ao princípio o piso era bom e me deu imenso gozo percorrer aquelas estradas de curvas e contracurvas no meio de uma paisagem deslumbrante, passados uns 200 Km a Norte de Bogotá comecei a enfrentar piso muito degradado com pequenos troços sem alcatrão que pareciam ter sido abandonados depois de um início de reparação e, a meio da tarde, as partes em terra começaram a superiorizar-se às alcatroadas. Pelo caminho parei junto a uma barraca isolada no meio da serra onde uma simpática menina preparava excelentes sumos de frutas e mos servia com o copo de vidro em cima de uma travessa de loiça. Um requinte que parecia desfasado do resto do país. No meio do percurso um susto quando dei de frente com um carro em sentido contrário, a meio de uma curva, que me obrigou a passar pelo buraco da agulha, entre o carro e uma alta berma. Foi por um triz.
Pelas quatro da tarde cheguei à vila de Cimitarra, terra de Ganadeiros onde decidi ficar. Tinha percorrido 300 difíceis quilómetros alguns em terra e a maioria em estrada de montanha. A vila é horrível, com muitas das casas ainda com as paredes em tijolo e tudo com um ar muito bera. À noite bares a meia luz no centro da vila com música aos berros acolhiam os cowboys das ganaderias vizinhas que descem à cidade para se divertirem.