28 de setembro de 2014

Tha Pla




Quando saímos de Chiang Mai a minha ideia era continuar a volta Á Tailândia, agora descendo pelo lado oriental, perto da fronteira com o Laos. Assim, nessa manhã olhei para o mapa e decidi ir visitar um parque natural que ficava junto a um enorme lago, a uns 200 Km de ali, para oriente.
O dia estava cinzento e, depois de um almoço numa esplanada com vista sobre um magnifico vale, apanhamos alguma chuva. Entramos no parque pelas três da tarde. Na prática, limitava-se a uma meia dúzia de quilómetros de estrada a desembocarem nas margens do lago, onde se poderia acampar.
Tiramos umas fotografias à paisagem deslumbrante e tratamos de ir procurar um sítio onde dormir visto não trazermos equipamento de campismo.
50 Km à frente, contornando as margens do lago, encontramos um pequeno “resort” com “bangalows” no meio do mato, onde ficamos como únicos hospedes. São sítios que não são visitados por estrangeiros por ficarem fora das rotas dos autocarros turísticos onde ninguém fala Inglês.
Como o “resort” não tinha restaurante perguntamos onde poderíamos jantar e indicaram-nos uma pequena aldeia de pescadores junto ao lago.
Pelas 8,30 da noite fizemos cerca de cinco quilómetros por uma estrada deserta e fomos ter às margens do lago onde, construídas em madeira em cima de estacas dentro de água, havia várias habitações de pescadores. Atravessámos por cima de umas estreitas tábuas que tocavam a água com o nosso peso para o que nos pareceu ser a casa mais movimentada mas, antes de aí chegarmos, saiu de lá um homem de bigode, descalço, em calções e tronco nu todo tatuado com o ar alegre de quem já tinha bebido uns copos. Percebia um pouco de inglês mas só sabia pronunciar duas ou três palavras de maneira que falámos com ele em inglês, acompanhado por gestos, e percebeu que pretendíamos jantar. Pediu que o acompanhássemos através das tábuas colocadas sobre a água, algumas delas afundando-se à nossa passagem uns bons 5 cm. A Maria tratou de tirar os sapatos e eu encharquei os meus mas lá chegámos ao que seria o restaurante. Dois homens e um miúdo dos seus 20 anos estavam sentados à volta de uma mesa onde várias garrafas vazias acompanhavam uma meia de whisky manhoso e os três cantavam Karaoke para um écran ao fundo desta salão ao ar livre, visivelmente “alegres”.
O homem tatuado explicou que pretendíamos comer qualquer coisa e o dono sugeriu um arroz de legumes que aceitámos. Enquanto ele cozinhava o arroz o nosso amigo tratou de se servir também ele de um copo de whisky e divertidíssimo por ali ficou a dançar e a cantar ao som do Karaoke. Às tantas perguntaram-nos se não queríamos cantar e tanto eu como a Maria ensaiámos músicas escolhidas de um enorme catálogo multilinguístico.
Passámos uma noite muito divertida a cantar e a beber com aqueles pescadores.
Na manhã seguinte voltámos lá, para ver o local à luz do dia e os nossos homens estavam radiantes por terem acabado de pescar uma espécie de pargo gigante, com cerca de 60 Kg. Preparavam-se para o transportar numa “pick-up” para o venderem na cidade mais próxima, pois na aldeia não tinham gente para comer tamanho animal.

26 de setembro de 2014

Sukhothai





Pelas dez da manhã partimos em direção a Sukhothai onde chegámos ainda a tempo de visitar parte da velha cidade. No início do século XIII Sukhothai foi um próspero reino que muitos consideram ter dado origem à Tailândia.
Ficámos a apreciar aquelas ruinas na manhã do dia seguinte, desta vez em bicicletas alugadas.
 Da parte da tarde contratámos o Chip, que organiza passeios de bicicleta na região, para darmos uma grande volta pelo campo.
O Chip mostrou-nos como a população de uma pequena aldeia dos arredores, maioritariamente agricultores, montou uma fábrica de móveis num período de seca, em regime de cooperativa, para compensar a falta de trabalho nos campos. Explicou-nos também tudo sobre o cultivo do arroz, mostrando-nos nos campos a diferença entre o que é semeado e o que  é plantado à mão e os vários tipos de arroz que cultivam na região. Por fim visitamos uma fabrica artesanal de uma espécie de aguardente de arroz, a que chamam whisky de arroz, que funciona só com um casal. Os dois fermentam o arroz para depois  destilarem o mosto em alambiques rudimentares. Produzem uns 100 litros por dia com a mulher a ir provando o produto ao longo das várias fases. Quando a vi fazer várias provas, sem cuspir o liquido, nos 15 minutos que ali estivemos, perguntei ao Chip se ela não chegava bêbada ao fim do dia de trabalho mas ele disse-me que não, que estava habituada. Deve ficar transtornada é se um dia deixar de beber whisky de arroz.
Na manhã seguinte arrancámos para Chiang Mai. À medida que vamos rodando para Norte a temperatura baixa um pouco, dos 37, 38º para 32,33, tornando-se mais fácil de suportar, e a paisagem é cada vez mais luxuriante, com vegetação densa desde a borda da estrada. A meio caminho parei numa pequena oficina onde me arranjaram uma porca para substituir a que tinha perdido de um dos apoios do para brisas.
Chiang Mai é uma cidade grande e tendo um aeroporto, é bastante turística. A primeira impressão foi má e, circulando pelas ruas principais, não encontrava nenhum Hotel. Decidi então parar num café onde anunciavam ter internet para procurar um. O trajeto do Hotel que escolhi mandava-nos para uma zona de ruas estreitas mais animada e com melhor ambiente. Comecei a apreciar a cidade. Depois de uma hora à procura do Hotel que tinha visto na Internet sem o encontrar acabámos por ficar no primeiro decente que nos apareceu. Jantámos numa tasca local, numa esplanada junto à estrada, e no dia seguinte  começamos por visitar um parque de elefantes, onde a Maria esteve a dar banho a um deles. Depois do banho no rio decidiu montar o elefante. Para isso o tratador mandou o elefante baixar-se e ela trepou lá para cima. O pior foi para sair. Por mais que o homem mandasse o elefante baixar-se de novo, o animal não lhe ligava nenhuma e rodopiava com a Maria em cima dele, embora uma corrente atada a uma pata que o tratador segurava com quantas forças tinha, não o deixasse ir longe. Às tantas decidiram tirar o elefante do rio mas mesmo cá fora ele recusou a baixar-se. Trouxeram então uma cria para junto dele com a intenção de o acalmar mas acabou por ter que ser outro tratador a saltar para cima de um segundo elefante que se pôs ao lado daquele passando a Maria de um para o outro.
Depois desse episódio caricato que já tinha toda uma plateia de publico e tratadores a assistir, cada um a dar a sua opinião, presenciamos um “show” extraordinário onde elefantes jogavam futebol e pintavam quadros com um pincel na tromba, de uma perfeição impressionante.
Por fim demos um passeio de elefante de uma hora pela floresta. Muito animada, a ida ao parque dos elefantes.
Nesse dia ainda fomos a um parque de Tigres onde tiramos fotografias junto às feras. Estes não pareciam estar drogados, como o de três dias antes, mas simplesmente bem amestrados.
Ao fim do dia ainda subimos à montanha mais alta de Chiang Mai para visitar o principal templo da cidade. A estrada até ao alto da montanha era espetacular com curvas e contracurvas de vários raios em bom piso. Já perto do cimo encontramos um grupo de uns vinte motociclistas que me contaram encontrarem-se ali todos os fins de tarde só pelo gozo de subirem e descerem aquela estrada.
O templo Budista era dos melhores e mais bem arranjados que já tenho visto e tivemos a sorte de chegar a uma hora onde começou uma reza dirigida por um “Master Buda” perante quem os miúdos budistas se ajoelhavam à sua passagem. Fantástico.

24 de setembro de 2014

Ayuthaya




A Tailândia é um país muito mais desenvolvido que os vizinhos da Birmânia, Laos, Vietnam ou Cambodja.
50% da população vive da agricultura, principalmente de arroz, do qual são o 3º exportador mundial, mas a industria desenvolveu-se muito nas ultimas décadas e produzem não só coisas básicas como roupas ou sapatos mas também alta tecnologia como computadores ou peças para automóveis. Na oficina onde estive a reparar a moto vi acessórios para motos de altíssima qualidade fabricados localmente.
O desenvolvimento económico levou a que o transito na capital se tornasse caótico. De carro leva-se horas a atravessar a cidade que é, toda ela, um engarrafamento enorme e permanente. Não que o transito não seja organizado mas ficamos com a sensação que cada habitante tem pelo menos um carro, na maioria “pick-ups”. Os sinais luminosos demoram muito mais tempo a mudar do que na Europa e é usual ficarmos parados 4 ou mesmo 5 minutos num sinal encarnado. O que vale é que, como bons Budistas que são, os tailandeses não se parecem enervar e é muito raro ouvir-se uma buzina.
No Segundo dia de visita à Tailândia fomos visitar o Palácio Real e o espetacular Templo Esmeralda, onde os reis oravam a Buda, antes de deixarmos Bangkok, a caminho de Ayuthaya, antiga capital.
Acordámos pelas nove  e ao procurarmos um local para tomar o pequeno almoço só nos ofereciam frango, arroz ou massa de maneira que acabámos num supermercado onde eu escolhi uma tarte recheada de maçã e a Maria o que parecia ser um pão recheado de chocolate. Sentámo-nos numa escada com o nosso “pick-nick”. A tarte não era má mas perante a insistência da Maria a dizer que o chocolate não sabia a chocolate procurámos a embalagem e constatamos que o pequeno almoço dela tinha sido pão recheado com pasta de feijão.
Tivemos uma manhã divertida que incluiu uma visita às ruinas da velha capital, um passeio de elefante, outro de canoa à volta de um mercado flutuante e uma sessão fotográfica junto a um tigre que felizmente parecia estar mais drogado que um “junkie” do Casal Ventoso.
Nesse dia ainda fizemos uns 200 Km em direção a Sukhothai.
Parámos junto a um telheiro à borda da estrada onde uma família vendia refeições. Sem perceberem uma palavra de inglês, pedimos um prato idêntico ao que o único cliente tinha, um arroz de camarão com bom aspecto, mesmo se picante de mais. Estávamos a acabar quando a senhora, simpática, trouxe uma travessa para a mesa explicando que era oferta da casa. Sem pestanejar a Maria deu uma garfada no que parecia ser um escaravelho embrulhado em legumes e pôs aquilo na boca.
-“grande corajosa”, disse eu.
- “pai ! o que é isto? É para comer?”
- “acho que não”
Com vergonha de deitar aquilo fora em frente da mulher ainda lhe deu duas trincas, que não lhe fizeram mal.
Nesse dia ficámos em Nakhon Sawan, uma cidade sem turistas e onde nem o empregado da recepção do Hotel falava Inglês. Quando lhe perguntámos a que horas fechavam as lojas apontou para o numero nove no seu relógio de pulso e disse:
- “three o’clock”

22 de setembro de 2014


Bangkok 2

Já estava com saudades de pegar na moto e partir, rumo ao desconhecido, sem horário ou calendário. Em Maio tinha deixado a “Cross Tourer” em Bangkok, em casa de um casal que conheci através de uma amiga comum.
Agora aterrei na capital Tailandesa acompanhado da minha filha Maria, que acabou o curso este ano e ainda não começou a trabalhar.
Veio comigo dar a volta à Tailandia pois quando aqui entrei em Janeiro vim do Cambodja direito a Bangkok, não chegando a conhecer o país.
Pensei que em Setembro já teria acabado a época das chuvas mas é suposto durar mais um mês. De qualquer forma já só temos apanhado uma chuva miuda e muito esporádica. O calor é que é quase insuportável, rondando os 37, 38º dia e noite e com muita humidade, que faz com que estejamos sempre a suar.
Chegámos por volta do meio dia de cá, seis horas mais que em Portugal e tratei logo de ver se a moto pegava. Tinha deixado a bateria desligada em Janeiro e, quando a liguei agora, parecia nova. A “Cross Tourer”, como boa Honda que é, pegou à primeira.
No dia seguinte ainda meio
“azomboado” por uma noite mal dormida, afectado pelo “jet lag” que, quando viajo para oriente me leva uma semana a passar, fui tratar de mudar o oleo à moto e fazer pequenas reparações como soldar os apoios em alumínio das carenagens inferiores, que se tinham partido com o tratamento que levou na India e Birmânia, e trocar as manetes de travão e embraiagem, vítimas das quedas que tive junto às praias das 4000 islands no Laos.
A Maria levou uma seca de três horas numa oficina de motos mas depois ainda tivemos tempo para visitar um templo Budista e a casa de Jim Thompson, um arquitecto Americano que para aqui veio viver no fim da segunda grande Guerra, depois de ter ficado encantado com o país quando cumpriu cá serviço militar. Em 43 a Tailandia decretou guerra à Inglaterra e Estados Unidos. Este Americano, que se tinha divorciado sem filhos, comprou um terreno em Bangkok, junto a um dos canais e montou várias casas típicas em madeira, para si e empregados, que trouxe da provincia depois de as fazer desmontar. O resultado é fantastico. Jim Thompson desapareceu misteriosamente, com 61 anos, quando passeava numa floresta Malaia e o sobrinho herdeiro entregou a casa ao estado como museu.
A Tailandia tem 60 milhões de habitantes dos quais 10 milhões vivem em Bangkok. O ano passado, como já tem acontecido por diversas vezes, os militares tomaram conta do poder por os partidos se desentenderem em revoltas por vezes sangrentas e, até novas eleições, que se esperam para dentro de um ou dois anos, vivem controlados pela tropa. Têm um rei que, como em qualquer regime actual, tem pouco poder executivo. Como curiosidade refira-se que a constituição decreta que o rei só pode ser budista e todos os jovens Tailandeses são obrigados, durante um periodo da sua vida, que se for sua vontade se pode resumir a uma ou duas semanas, a serem monges e viverem num Templo, seguindo regras rígidas que incluem a proibição de olhar para raparigas. Alguns adaptam-se ao sistema e passam lá uma vida santa.