12 de janeiro de 2016

Adelaide




Quando cheguei a Adelaide fui direito a um concessionário Honda, onde precisava de deixar a moto para a encaixotarem e poder ser embarcada para o Japão, onde vou a seguir. Só à porta do concessionário, ao estranhar estar fechado, constatei que era Sábado. Não poderia tratar também de contactar uma companhia de navegação para tratar do transporte e o meu avião de regresso a Portugal era na terça, embora também ainda não soubesse se teria que o ir apanhar a Darwin, de onde partia a viagem de regresso que tinha comprado desde Lisboa, pois a agencia dizia-me que, faltando ao primeiro voo as outras ligações seriam automaticamente canceladas.
No Domingo de manhã fui ter ao campo de corridas de cavalos de Adelaide, local de encontro da concentração de  motos. Fiquei impressionado com as milhares de motos que apareceram.
Arrancámos pelas onze horas e, ao longo dos sessenta quilómetros fomos saudados por muita gente na borda da estrada. Fazem esta concentração todos os anos para recolher presentes de Natal para crianças deficientes e tem sido um grande sucesso.
Na exposição de motos, já no local da concentração, estava a tirar fotografias quando me bateram nas costas. Era o meu amigo da cidade antiga que tinha vindo com a mulher. Convidou-me para ir ao bar beber uma cerveja e por lá ficamos à conversa durante duas horas. Quando saímos já a maioria das tascas tinha fechado, os stands recolhiam as motos e grande parte dos motociclistas tinha arrancado de volta. Eram duas e meia da tarde. Ainda consegui que me vendessem um hamburger, despedi-me do meu amigo e voltei para Adelaide a tempo de passar no aeroporto onde consegui resolver o problema do meu bilhete. No dia seguinte tratei de acordar tudo com o concessionário e uma companhia de navegação.
Na terça feira de manhã ainda fui visitar o principal museu da cidade, almocei pelo centro e, da parte da tarde, deixei a moto no concessionário para ser embalada e segui para o aeroporto de táxi.
Gostei imenso da Austrália, não só pelo ambiente descontraído em que vive a grande maioria da população como pela extraordinária natureza paisagística e fauna animal. Um país que tem a quantidade certa de população nas suas costas e espaço para que quase todos possam viver em casas e não prédios, milhares delas com uma situação fabulosa sobre a costa ou abundantes rios.
O único inconveniente acaba por ser um custo de vida demasiado alto para quem visita e não ganha ali o seu dinheiro.
A próxima etapa será o Japão e Estados Unidos.

10 de janeiro de 2016

Mount Gambier



A chuva passou por uma meia hora e pude desarmar a tenda e arrumar as coisas para continuar a percorrer a Great Ocean Road mas o dia nunca se pôs bom. Não chovia muito mas levantou-se uma ventania enorme. A parte final da estrada apanha uma zona de grandes rectas em campo aberto e aí via-me aflito para manter a moto na faixa de rodagem com as rabanadas de vento que apanhava. Por vezes tinha mesmo que reduzir a velocidade para 90/100.
Ao princípio da tarde cheguei a Mount Gambier e decidi ficar por ali. As ultimas horas a apanhar aquela ventania tinham-me cansado.
A cidade tem três lagos que se formaram em extintas crateras de vulcão. A lava seca torna-se impermeável e formam-se estes lagos com a água da chuva. Um deles era espetacular porque, apenas durante dois ou três meses por ano, fica de uma cor azul turquesa linda, como estava agora, sendo cinzento o resto do ano.
Instalei-me num pequeno “camping” existente no meio da cidade. Ao meu lado estava um casal de franceses, muito simpático, nos seus cinquentas, que estava a viajar de bicicleta através da Australia. Conversámos bastante essa noite e na manhã seguinte, antes de partirem.
O dia tinha nascido bom e arranquei para a ultima etapa, que me levaria a Adelaide, já com sol e calor.
No caminho atraiu-me uma fila de uns vinte velhos camiões, dos anos 30 a 60, cobertos de ferrugem, alinhados lado a lado na entrada de uma propriedade. Fui espreitar. Um velho de chapéu à cowboy tinha montado ali a réplica de uma cidade antiga com casas e móveis que foi comprando pelo país, a maioria da primeira metade do século passado. Com letreiros da época, velhos tratores, peças diversas, montou várias lojas, oficinas, escola, sede de bombeiros, tudo como se estivéssemos em 1930 ou 40. Ficou sensacional. Recebe as entradas de turistas e por vezes aluga a cidade para filmes de época. O velho era muito simpático, ofereceu-me um chá e quis ouvir as minhas histórias quando lhe disse de onde vinha.
Quando me propus arrancar, para chegar cedo a Adelaide sugeriu que nos voltássemos a encontrar no dia seguinte numa concentração de motos que havia a 60 Km de Adelaide. Aceitei a proposta. Não tinha visto muitas motos pela Australia e fiquei com curiosidade quando me disse que estariam milhares de motos na concentração.

8 de janeiro de 2016

Great Ocean Road




 É a estrada mais famosa da Australia e não podia deixar de a percorrer. Foi construída depois da Primeira Grande Guerra por combatentes que regressaram ao país. O governo não tinha verba disponível para a construir e foi um grupo de privados que se juntou para angariar fundos que depois receberam através de uma portagem cobrada durante vários anos. A estrada tem mais de 200 Km de extensão, a maior parte deles junto ao oceano mas tem também um troço através da floresta onde a paisagem se mantém espetacular.
Começa em Torquay, a 100 Km de Melbourne, que é considerada a capital do surf na Australia. É ali perto que se encontra Bells Beach, onde decorre a etapa australiana do campeonato do Mundo. A vila tem um ambiente totalmente voltado para o surf, com enormes lojas dos principais fabricantes de material para a modalidade e até um museu do Surf, que fui visitar e onde contam a história do surf com fotografias e pranchas das várias épocas.
Estava um dia lindo, o que não é muito comum por aquelas bandas e aproveitei o bom tempo para percorrer boa parte da estrada nesse dia, com troços mais sinuosos a darem imenso gozo. Fui parando aqui e ali para visitar os principais pontos de vista e uma ou outra praia. Fotografei o que chamam os doze apóstolos, um grupo de rochas que o mar foi lapidando, criando pequenas ilhas, altas e estreitas com formas que fazem lembrar caras de pessoas.
Uma outra, que batizaram como London Bridge era uma pequena península formando uma ponte com o mar a passar por baixo mas, há uns anos, quando dois turistas tinham passado para a ponta da península, a ponte abateu, passando a ilha, com o assustado casal a ter que ser socorrido de helicóptero.
Para aproveitar aquele dia lindo acabei por circular até às sete da tarde pois aqui no Sul, nesta altura do ano, é dia até perto das nove. Depois de ter parado num primeiro parque de campismo, muito básico, andei mais um pouco e fui ficar a outro, poucas dezenas de quilómetros à frente.
O responsável do “camping”, quando lhe disse que era português, contou-me que tinha estado em Peniche e Ericeira, nos anos 80, para surfar. Ficou com a recordação de estarem a acampar na praia e vir um grupo de pescadores, apanharem percebes, cozerem-nos ali numa fogueira e jantarem com eles ao luar.
Perguntei-lhe se o sol se iria manter para o dia seguinte e ele disse-me que era pouco provável. “aqui muda de um momento para o outro” e pouco depois veio apontar umas nuvens escuras a aproximarem-se.
Acordei pelas seis e meia e, passada uma hora, depois de tomar um duche, estava a tomar o pequeno almoço numas mesas ao ar livre quando caiu uma enorme carga de água. Recolhi-me debaixo do telheiro e, meia hora depois, surgiram dois miúdos, dos seus vinte e poucos anos, por quem tinha passado no dia anterior estando eles também de moto, encharcados que nem uns pintos, a tremerem de frio. A tenda deles deixava passar água e tinham levado com o forte da intempérie. Regelados mas divertidos com a situação lá transformaram uns sacos de plástico grandes em blusões para a chuva e arrancaram. Tinham vindo de Melbourne para percorrer a estrada, regressavam nesse dia e não vinham preparados para a chuva.

7 de janeiro de 2016

Melbourne





 Quando cheguei a Melbourne fui direito ao apartamento que tinha alugado deixar as malas e dei um salto ao supermercado comprar qualquer coisa para o jantar.
Fiquei por casa, deitei-me cedo e, no dia seguinte peguei na mota e fui fazer um passeio turístico pela cidade.
Fui primeiro ao Jardim Botânico que é fantástico, com plantas e árvores de todos os tipos. A seguir visitei o Shrine of Remembrance, um monumento aos Australianos que morreram na primeira grande guerra. Estavam a meio de uma cerimónia com um ex-militar a fazer um discurso e outro, fardado a preceito, com espingarda de baioneta ao ombro, em sentido. Umas vinte pessoas, sentadas nesta sala central, ouviam atentamente.
Fui depois visitar a excelente National Gallery of Victoria que inaugurava dentro de dois dias uma exposição conjunta de Andy Warhol e Ai Wei Wei, o meu artista contemporâneo preferido, desde que vi uma exposição dele em Munique há uns anos atrás e mais tarde li sobre a sua vida de luta pelos direitos humanos na China.
Tinha acabado de arrumar a moto e vinha pela rua a caminho do recinto de exposições quando, rodeado de seguranças, vi o próprio Ai Wei Wei que tinha acabado de lá sair. Fui ter com ele e pedi-lhe para tirar uma fotografia. Achou graça e propôs ser ele a tirar a “selfie” aos dois com o meu telemóvel. Gostei imenso de o ter conhecido mesmo tendo sido uma conversa muito curta.

Depois de visitar a exposição permanente da National Gallery, com uma excelente coleção de quadros, almocei por ali perto, deixei a moto junto ao recinto e apanhei um antigo elétrico que dá permanentemente a volta ao centro da cidade, à borla.
Fui até ao Melbourne Museum, que começa por ter, como muitos dos museus Australianos, uma parte dedicada aos Aborígenas e à sua cultura, arte e história. Mais à frente têm uma interessante exposição dedicada ao corpo humano e, em especial ao funcionamento do cérebro e mente.
Por fim uma exposição de muitos dos animais que fazem parte da fauna Australiana, incluindo o impressionante esqueleto de uma baleia azul, o maior animal existente na terra desde sempre, com um peso que pode chegar às 160 toneladas. Este esqueleto exposto pertence a uma que aqui deu à costa, há uns anos.
Passei ainda na Biblioteca Nacional que hoje em dia se resume a enormes salas de computadores onde quem quiser consulta os livros digitalizados. Não tem o charme de outros tempos mas é certamente mais fácil de consultar.
Voltei a entrar no elétrico e regressei à National Gallery, onde tinha a moto, não sem antes espreitar a St Paul’s Cathedral e uma famosa Galeria de lojas, Block Arcade.



5 de janeiro de 2016

Lakes Entrance



Deixei Broulee Beach com o tempo cinzento debaixo de chuva miudinha e a estrada escorregadia por causa da mistura da água com a seiva das árvores.
À hora de almoço parei num pub castiço onde estavam três homens ao balcão que me falaram bem, como é costume aqui pela província. Por ser gente do mar, quando me perguntaram de onde era um deles disse:
- “I’ve been there with a tanker twenty years ago, in Sainees”
- “Chineese ?”, respondi eu com ar de que ele me estava a contar uma grande treta.
- “No, Sainees, S, I, N, E, S.”
- “Ah, Sines”.
- “How do you say that?”
Contou-me que o petroleiro não cabia no cais e sobrava para a frente e trás do porto mas, como já tinham entrado, não podiam voltar para trás.
Se fosse agora já tinha espaço à vontade, respondi-lhe.
Comi um bom bife por oito euros, a refeição decente mais barata que encontrei na Australia.
Antes de sair o homem ainda me mostrou a previsão do tempo no telemóvel e não era boa. Recomendou-me ir até Lakes Entrance, terra de pescadores.
Lá arranquei debaixo de chuva. Felizmente parou a meio da tarde e, quando cheguei à vila piscatória, com uma paisagem de costa espetacular, com vários lagos, pude montar a tenda antes de voltar a chover. Ficou num sítio bastante resguardado e não houve vento de maneira que dormi bem.
Quando saí de manhã ainda não chovia mas, passada uma hora começou a chover forte. Como tinha que chegar a Melbourne, onde decidi alugar um bom apartamento por dois dias, para descansar do campismo debaixo de chuva, decidi não parar. Uma hora antes de chegar o tempo, felizmente, abriu e voltou um sol como não via há três dias.

3 de janeiro de 2016

Wollongong



Este parque de campismo onde fui parar é o pior dos muitos em que já fiquei pelo país fora, embora a situação seja boa, em cima da praia. O problema é que está cheio de pequenas casas pré fabricadas que dá a ideia serem ocupadas por pessoas que ali ficam o ano inteiro. Cada um vai fazendo umas modificações na “barraca” à sua medida e no fim mais parece um bairro de barracas ao estilo do que imagino ser o Parque de Campismo da Caparica.
Lá encontrei a zona de relva onde me deveria instalar. Ao meu lado estava uma família de árabes, composta por três casais e um numero indeterminado de crianças. Montaram quatro tendas em forma de quadrado e, no meio, encheram de tapetes a cobrir a relva onde passou a ser a sala de estar/jantar. Falavam todos muito alto mas não pareciam estar zangados e quando me deitei, pelas dez da noite, continuava a algazarra.
Às duas e meia da manhã dei um salto dentro do saco cama quando acordei ao som de tiros. Primeiro seis, espaçados por cerca de um segundo e passado meio minuto outros seis.
Espreitei fora da tenda mas a noite estava escura e não vi nada embora ouvisse as vozes dos árabes. Pensei que estariam  a festejar qualquer coisa mas custou-me voltar a adormecer.
No dia seguinte levantei-me cedo e fui com o computador para junto da recepção apanhar sinal de internet. Quando voltei à tenda, pelas nove e meia, estavam eles a acabar de desmontar o seu bairro para partirem.
Arranquei para sul e fui ver uma pequena praia que me tinham recomendado, a uns 200 Km de ali, por onde se chega através da floresta.
Quando cheguei à praia estavam uns franceses a filmar uns pássaros lindos, do género de papagaios, que lhes vinham comer pão à mão. Pedi-lhes um pouco de pão e juntei-me à festa a fazer umas imagens com a Go Pro.
Da parte da tarde, continuei rumo ao sul junto à costa por uma fantástica estrada já com curvas e muitas partes através de floresta. Infelizmente o tempo piorou e fiz a tarde quase toda debaixo de chuva. Parei em Broulee Beach onde resolvi alugar um “bungalow” pois continuava a chover e não quis  montar a tenda com aquele tempo. Para além disso uma pessoa a quem tinha perguntado o caminho para o parque, já na vila, disse-me que se aproximava uma tempestade, porventura idêntica à que tinha apanhado uns dias antes.

2 de janeiro de 2016

Sydney


Entrei na cidade por volta das seis da tarde e fui ter a um pub onde tinha ficado de me encontrar com amigos para jantar.
Depois do animado jantar fui à procura de Hotel. Entrei em mais de meia dúzia e estavam esgotados, por se tratar da época alta de verão. Até que, finalmente, acabei por encontrar onde ficar num destes Hostel dos miúdos. Arranjaram-me um pequeno quarto individual mas como é Sydney, e perto da Bondi Beach, paguei o equivalente a 80 euros pela noite.
Diverte-me falar com estes miúdos que andam a viajar de mochila às costas.
Na sala de estar/jantar estava um animado grupo, dois deles em tronco nu, o que me chocou um pouco.
No dia seguinte constatei que estava velho quando o próprio diretor do Hostel, um tipo dos seus trinta e poucos anos, se passeava pelo estabelecimento de chinelos, calções e tronco nu, com o ar de quem estava a cumprir a sua missão de fato e gravata.
Ao pequeno almoço todos usamos a cozinha e é uma bagunça animada. Uma francesa mostrava-me, entusiasmada, o peixe que tinha acabado de comprar e que faria para o almoço. “Eu sou uma chef”, dizia orgulhosa. “Estou a ver se arranjo emprego aqui perto”.
Pelas onze da manhã arranquei para ir visitar as Blue Mountains, a hora e meia da cidade. São umas montanhas com enormes escarpas e quedas de água no meio de uma floresta tropical. Fantásticas.
Parti de lá já pelas quatro da tarde e voltei a parar para almoçar num pub com música ao vivo mas estas eram duas vocalistas australianas à viola, acompanhadas por uma bateria e muito fracotas. Mas o pub era giro e sempre davam um bom ambiente.
No regresso não entrei em Sydney e contornei antes a cidade em direção à costa sul. Fui ficar num parque de campismo em Wollongong.