11 de maio de 2019

Guiné Conakri 2



Arranquei então para um dos dias mais difíceis desta viagem. A estreita estrada através da selva que de início pensei serem 60 Km eram 200, em partes uma verdadeira trialeira, com valas cavadas por chuvas torrenciais, já secas mas que tinha que percorrer muito devagar. Um martírio que se foi arrastando ao longo do dia.
A entrada no país havia sido controlada por três militares, debaixo de um telheiro de colmo, estendidos em camas improvisadas. Confirmam que tenho visto para entrar no país e dizem que posso seguir.
- A estrada está em bom estado?
- Ha, ha, ha. Estrada? Chamar-lhe-ía mais uma escada. 
Tinha razão.
Passados uns 30 Km, que demorei uma hora a percorrer, caí num buraco, de onde ainda consegui passar em aceleração a roda da frente, mas fiquei preso, com a de trás a patinar, sem conseguir sair. Tentei tirar a terra de trás da roda para empurrar a moto para trás mas sem sucesso.
A vida é que a comecei a ver a andar para trás. Estava muito isolado, no meio da selva guineense, a pensar que poderia ficar ali horas ou dias sem que alguém aparecesse.
Felizmente, passado um quarto de hora, comecei a ouvir o barulho de uma pequena moto na mesma direcção em que eu circulava. Eram dois militares que me ajudaram a levantar a moto e a quem pedi que me seguissem para o caso de voltar a cair. Fomos rodando, devagar, até uma zona onde eu seguiria para a direita atravessando um rio e eles seguiam por um desvio para a esquerda. Felizmente esperaram que atravessasse o rio porque, ao sair da primeira parte, quando subia uma rocha em aceleração, a roda de trás molhada escorregou sobre a rocha, a moto atravessou-se e caí, partindo a maneta da embraiagem. Ajudaram-me a levantar a moto e consegui depois atravessar a outra parte do rio e passar a subida íngreme que se seguia, só com um taco como maneta de embraiagem, mas fiquei esgotado. 
Os dois militares, quando me deixaram, disseram-me que estava a um quilómetro de uma aldeia mas, antes de arrancar, sentei-me encostado a uma árvore a descansar. 
Dez minutos depois arranquei até à aldeia. Havia um posto militar à entrada, novamente debaixo de um telheiro em colmo. Pediram-me o passaporte e fiquei um pouco à conversa a descansar.
Substitui ali a maneta, pois trazia suplente e segui viagem. Não sem antes o chefe do posto me perguntar se não tinha nada para ele.
- Não, não tenho. 
As horas passavam mais depressa que os quilómetros.
Rodei durante horas. Curiosamente, os poucos homens que passavam por mim, de moto ou a pé, vinham quase sempre com uma arma a tiracolo. 
Pelas quatro da tarde cheguei a uma aldeia que tinha outro posto militar. Os pachorrentos homens deram uma vista de olhos pelo meu passaporte e mandaram-me seguir viagem. Já junto à moto, preparado para arrancar, um deles chamou-me.
- O Nosso chefe chegou e quer ver o seu passaporte.
O chefe, um homem da minha geração de ar sério, só olhou para mim para me perguntar o que fazia ali.
- Sou turista.
Virou-se então para o seu subordinado e disse.
- Isto não é assim. Vocês têm que escrever tudo sobre esta pessoa que anda por aqui. Assente o nome, profissão, turista, dados do passaporte e perguntem-lhe o que anda aqui a fazer. Depois verifiquem se não traz armas na bagagem.
Dadas as ordens sentou-se na parte de trás de uma pequena moto, conduzida por um motorista, como se entrasse dentro de um jipe e, com a boina como capacete, mandou o homem arrancar.
O guarda de serviço lá escreveu todos os meus dados e ordenou a outro que revistasse as minhas malas.
- O que faz aqui? Ninguém atravessa esta fronteira em turismo.
- Pensei que era a entrada melhor.
Então, colocando uns óculos escuros disse:
- Vai ter que pagar 100.000 Francos (o equivalente a 12 Euros)
- Não pago. Já paguei o meu Visto.
- Sem pagar não vai poder seguir viagem.
Percebi que o dinheiro era para ele.
-  Ligue então para o seu chefe, que acabou de sair daqui, que falo com ele.
E pegando no telefone
- É isso que estou a fazer.

Fui à moto para beber água e ele mandou o subalterno vir dizer-me que podia partir.

1 comentário:

  1. Sempre a saber lidar com as situações!
    Mas é bom sabê-lo de volta são e salvo.

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