11 de dezembro de 2016

Miami





À medida que nos aproximamos de Miami as casas junto à praia vão melhorando e os passeios e entradas de condomínios têm relva até à estrada, bem cortada, flores e árvores tropicais. São centenas de casas independentes com jardins do lado da estrada e praia do outro. Em partes do percurso estas casas estão em penínsulas e do lado oposto da estrada é também mar, com um cais para cada casa e imponentes barcos atracados. Nesta costa da Florida há muitas centenas destas casas que valem certamente bem mais de um milhão de dólares, o que faz dos seus proprietários milionários e que nos lembra que este é o país com mais milionários no mundo, com uma grande diferença para os restantes. Mais de 40% dos milionários mundiais são americanos. E a maioria deles não fez fortuna a exportar mas a vender os seus produtos internamente, pois deve ser o país no mundo não só com o maior numero de pessoas da classe média como aquele em que a classe média tem maior poder de compra. Qualquer coisa que se venda há sempre uma quantidade enorme de clientes com possibilidades e vontade de a comprar.
Por isso não é de estranhar quando um tipo que montou uma cadeia de venda de pneus tem uma fortuna avaliada em vários milhares de milhões de dólares, tal como outro que fundou a cadeia de Moteis de baixo valor “Super 8”.
E como aqui não é vergonha ser-se rico, muito destes milionários passeiam os seus Rolls, Bentley e Aston Martin pelas ruas de Miami.
Aqui na Florida a temperatura tem estado sempre a cima dos 22º e voltei a ver motos na estrada, quase todas Harleys, obviamente. Em muitos dos Estados americanos não é obrigatório o uso do capacete e a maioria destes condutores das Harleys são cinquentões que circulam, invariavelmente, sem capacete. Não resisti a sacar da Go Pro que tinha no bolso para filmar um mesmo típico, com botas de cowboy nas peseiras da frente, quase junto ao guiador, no qual tinha montado a armação de uma rena. Para além disso tinha uma aparelhagem que se fazia ouvir à distancia, mesmo se um pouco ofuscada pelo barulho do motor que parecia não ter silenciadores. Extraordinário.
Pelo caminho parei junto a uma praia onde almocei num balcão virado para o mar, com um esquilo a fazer-me companhia durante uns cinco minutos, para trás e para a frente do corrimão, sempre com um olho na minha “Ceasars Salad”. Aqui já há clima e vegetação tropicais, com pequenos animais a circularem nos locais com mais árvores.
Quando nos aproximamos de Miami Beach o cenário muda radicalmente e passamos a ver prédios altos dos dois lados da estrada e muito movimento. A rua junto à praia parece Albufeira em Agosto com os restaurantes e esplanadas cheios e meninas a chamarem os clientes na rua. Um inferno. Na estrada que dá para o canal, do lado oriental há prédios altos sobre a praia e do outro lado vários cais para iates espampanantes. A diferença é abismal para a outra parte mais “civilizada”, a Norte de Fort Lauderdale. Aqui é o novo-riquismo que impera.
Na cidade de Miami, do outro lado do canal continuam os arranha céus mas “sente-se” menos dinheiro nas ruas.
Fugi para Sul e entrei pelo mar dentro para visitar as Key Islands. É essa a sensação que temos quando, depois de passarmos uma parte do extremo sul da Florida, em que a vegetação é luxuriante e voltam as casas baixas e independentes, começamos a atravessar pontes que nos levam de pequena em pequena ilha durante mais de 200 Km até Key West, a maior e mais “dentro” do Oceano. É o extremo Sul dos Estados Unidos. Estamos a menos de cem milhas de Havana, ou seja, mais perto que de Miami, no Sul do Continente.
Vinha distraidamente a atravessar uma destas ilhas a pouco mais de 100 Km/h, onde o limite de velocidade eram 45 milhas (72 Km/h), quando ultrapassei, pela direita, uma pick-up que circulava do lado esquerdo da estrada, sem reparar que era um carro da polícia. O homem acelerou, pôs-se ao meu lado e levantou a mão e abanou a cabeça com ar zangado como quem diz: “Então”??
Ups, já dei barraca. Fiz um gesto a pedir desculpa e deixei-me ficar para trás, com  ar de menino bem comportado, a 80 Km/h.
Key West é uma ilha muito gira com pequenas casas antigas em madeira muito bem tratadas  e excelentes hotéis no mesmo estilo. Ainda entrei num Hyatt que tinha um ar chique mas simples para perguntar o preço de um quarto mas fugi quando a preta gorducha, muito bem arranjada e pintada, me disse que o mais barato eram 520 dólares.
Acabei por encontrar uma cama, num Hostel, a 44.

8 comentários:

  1. Deliciosa a escrita e os relatos que nos fazem sentir como se tb vivêssemos a aventura.
    Obrigado pela partilha e... não pares nunca.

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  2. Encontrei o seu blog e em 3 serões fiz a viagem pela sua escrita de Lisboa a Miami, espectacular a força a tenacidade e a determinação com que empreendeu esta Volta ao Mundo um exemplo para a malta mais nova que desiste à primeira dificuldade.
    Continuação de boa viagem e vamo-nos encontrando no seu blog.

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    1. Obrigado, Jorge. É sempre bom receber esses incentivos, mas eu considero que não preciso de muita força e tenacidade porque faço isto com enorme prazer. Tem sido uma lição de vida extraordinária pelas culturas tão diferentes que tenho conhecido, mais que pelos locais em si. Abraço

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  3. Xico, tiveste alguma sorte em não te terem multado por excesso de velocidade. Como estás no Sul aí devem ser mais brandos e flexíveis. B

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  4. Andamos sortudos é o que é. Como é o resto do percurso? NY -> Lisboa?

    Bjs
    Ana

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    1. Agora deixo aqui a moto e vou aí passar o Natal mas regresso em Fevereiro para descer até à Argentina. Depois a ideia é levar a moto de Buenos Aires para Cape Town e, no fim do ano, subir Africa.

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  5. Então a ver se bebemos um café depois do Natal ou da passagem de ano.

    Estou desejosa de ler sobre África!

    Beijinhos e boa viagem para casa.
    Ana

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