9 de novembro de 2012

9 Novembro - Istanbul

Hora da reza à porta do Hotel

Istanbul

Lembram-se quando nos aviões da TAP, em classe económica, o espaço entre os bancos era o dobro e se comia um bom bife ao jantar, com vinho tinto a acompanhar? Na Turkish Airways ainda é assim. E foi o bilhete mais barato que encontrei.

Voltei ontem a Istanbul, onde tenho a moto. Logo no aeroporto entramos noutro mundo. Milhares de mulheres de cabeça coberta e homens de túnica e barbas misturam-se com turistas vindos dos quatro cantos do mundo numa confusão de grandes filas para carimbar passaportes. Alguns árabes saltam por cima das vedações para ganharem 10 lugares na fila e levam atrás velhos sem que eles próprios percebam a razão da pressa. Meia hora depois estou dentro de um pequeno táxi a caminho do Hotel. Quando aqui cheguei, a semana passada, andei a passear de moto pela cidade e a procurar um concessionário Honda, de maneira que, quando quis arranjar Hotel já era tarde e acabei por só encontrar um Novotel que me custou mais de cem euros. Agora decidi procurar uma coisa barata na Internet. Encontrei um Hotel Yasmin que na fotografia não tinha muito mau aspecto, mesmo se custava 20 euros por noite, com pequeno almoço incluído. Fiquei logo desconfiado por o homem do táxi não fazer ideia onde ficava. 





Olhou para mim como quem diz: tens ideia onde te vais meter?, fez uma careta e avançou para a cidade. Quando enfiou para dentro de um bairro muçulmano de ruas estreitas com ar sinistro arrependi-me daquela reserva mas, já que ali estava, decidi avançar. Depois de muitas voltas e vários telefonemas, encontrámos a espelunca. O homem que tinha conversado com o motorista do táxi pelo telefone saiu da porta do hotel e veio cá fora desancar o desgraçado por não ter encontrado aquele “palácio”. A recepção tinha uns três metros por seis e era também sala de estar e restaurante. Perguntei se a Internet funcionava bem no quarto e o rapaz, magnânimo, disse que para que funcionasse melhor me ía dar um quarto triplo, muito superior ao que tinha reservado, mais próximo do “router”. Entrei no quarto. Tinha um terço do tamanho da recepção, com um beliche, uma cama de casal e pouco espaço para me mexer entre os dois. As paredes e o tecto apresentavam infiltrações graves, os estores estavam desfeitos e do lado de fora de uma das janelas um parapeito acumulava lixo de anos. O tamanho da casa de banho obrigava a que o duche fosse simplesmente a mangueira, sendo o fundo o próprio chão do minúsculo compartimento. Na prateleira por cima do lavatório uma pasta e escova de dentes usadas, que não percebi se teriam sido esquecidas pelo ultimo cliente ou eram simplesmente um extra oferecido pela gerência neste quarto de nível superior. 





Pedi se tinham uma garrafa de água e mandaram-me a uma frutaria que, embora passasse da meia noite, ainda estava aberta do outro lado da rua. Caí na cama perto da uma e, pelas sete da manhã, acordei com o Imã da pequena mesquita de bairro que havia do outro lado da rua a rezar aos altifalantes. Voltei a adormecer mesmo com a luz do dia a entrar pelas aberturas dos estores partidos e levantei-me às nove. Ao pequeno almoço, um homem de boné azul forte e duas mulheres de cabeça tapada assistiam a um filme na televisão onde uma mulher saía de uma mesquita, levantava a burca e desatava a chorar. Finalmente saí à rua e fiquei fascinado. Não estava definitivamente numa zona turística. Não havia um único estrangeiro nas redondezas daquele hotel de quinta categoria para turcos. A rua tinha uma animação louca, com comerciantes a venderem frutas e sumos a vulso, três miúdas dos seus quatro ou cinco anos com uma velha balança a perguntarem quem se queria pesar; aceitei ver se estava a perder peso mas o aparelho não funcionava. Homens com carrinhos de mão a puxarem rolos de tapetes e caixa de tudo quanto há numa azáfama animada e louca. Pensei logo que não podia ter ficado em melhor sítio. Estava no coração da cidade, no meio da população local, embora a poucas centenas de metros dos monumentos e ruas onde turistas de todo o lado se acotovelam.


Quando voltei ao Hotel, pouco depois do meio dia, para carregar o telefone, em frente à porta centenas de homens estavam sentados na rua, com os sapatos ao lado, virados para Meca. Hoje é sexta feira. Voltava a ouvir a voz do Imã que me tinha acordado aos altifalantes da mesquita do bairro que, por ser pequena, obrigava toda esta gente a ficar sentada no meio da estrada. Muitos traziam pequenos tapetes onde se sentavam mas outros improvisavam apenas um cartão enquanto um miúdo se sentava num bocado amarrotado de papel pardo. Parecia estar ali toda a população masculina do bairro. Tive que saltar por entre pares de sapatos, tapetes e homens sentados para passar para a parte de cima da rua.


Da parte da tarde continuei a visita turística pela espetacular Mesquita Azul, com as suas enormes cúpulas e centenas de vitrais em tons de azul onde turistas passam junto a homens e mulheres que rezam em secções separadas, com os sapatos na mão para não sujarem a impecável alcatifa.


Depois fui até ao Palácio Topkapi onde estão expostas algumas das mais valiosas peças de joalharia existentes no mundo, pertença dos Sultões que ali viveram nos séculos 16, 17 e 18, assim como armas cobertas de ouro e diamantes ou tronos em ouro e esmeraldas. Impressionante.


Amanhã sigo para Ankara, a caminho do Irão.

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