15 de novembro de 2012

15 Novembro

Erzurum

Ontem à noite falei com um contacto que arranjei no Irão e ele disse-me que era impossível tratar do visto na fronteira de maneira que poupei-me a enfrentar já os últimos 100 Km antes de entrar no Irão, de serra com neve, para depois ter que voltar 300 para trás. Assim fiz 180 Km até Erzurum onde existe um consulado iraniano. 
Como me levantei mais cedo que o habitual e saí às nove da manh
ã ainda estava com sono e esqueci-me de pôr gasolina. 


Passados uns cem quilómetros olhei por acaso para o indicador de nível de gasolina e marcava _ _ ou seja zero, niqueles. E o mal é que a “Cross Tourer” já tem daqueles indicadores como os carros de agora que, quando entra na reserva marca os quilómetros que ainda faz com a gasolina que tem. Marcava 0 quilómetros e nem sabia desde quando. Passado pouco mais de 1 Km parecia que tinha tido sorte porque surgiu uma bomba. Parei e o homem diz-me: “benzine o.k.” e eu repito enquanto abro o depósito “benzine o.k”. Aí ele diz outra vez: “benzine o.k.” e eu: “sim, benzine o.k.”. Só à terceira percebi que ele com aquilo queria dizer que a gasolina estava esgotada. Voltei a arrancar e passados 2 quilómetros outra bomba. Igualmente esgotada. Entrava numa vila com mais cinco bombas de combustível e nenhuma tinha gasolina. Bem, decidi, vou fazer-me à estrada e seja o que Deus quiser. Arranquei por estas estradas desérticas e, como sou ateu decidi rezar a Alá porque pensei que devia ligar mais ao que se passa por estas bandas.
Fui repetindo abaduuuuu, balubaluuuuuu, badubadabuuuuuuuu.
Passados meia dúzia de quilómetros, a 80, só com um cheirinho de acelerador, uma bomba, ou seja, uma espécie de bomba. Parei junto a um dos pontos de reabastecimento que parecia não funcionar há anos, com as mangueiras já ressequidas e descoloradas do sol. Não estava ninguém. Até que, passado um minuto sai um homem por detrás da barraca. “Benzine?”. “Yes, benzine” respondi eu à espera de ouvir outra nega. “benzine very good” Mau. “Very good”?? E porque é que não haveria de ser “very good”? E o homem repetiu vezes sem conta que a gasolina dele era muito boa. Pensei logo que devia ser água. Hesitei em pedir um copo para a provar antes que ele a pusesse no depósito da Honda mas como não tinha alternativa decidi arriscar. “Ponha-me lá dessa benzina maravilhosa”. “what?” “Sim, bute, vamos embora”. E não é que a “Cross Tourer” não se queixou?
Lá cheguei a Erzurum. Pelo caminho ainda apanhei um autocarro de passageiros que vinha a fazer uma trajetória impecável, numa curva cega do meio da serra. Só que o ponto de corda era onde eu ia passar. A estrada era toda dele. Por sorte lá me viu a tempo. Não há duvida que é bom as motos hoje em dia andarem sempre de luzes acesas.

1 comentário:

  1. Ficar sem gasolina e não saber onde se vai arranjar, é pior do que ficar sem jantar... ;)

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