24 de fevereiro de 2019

Oudtshoorn

De Mossel Bay segui junto à costa pela chamada Garden Route. Dizem que é das estradas imperdíveis da Africa do Sul mas não me impressionou, fora uma ou outra vista sobre as praias.
Tem ainda o inconveniente de uma quantidade infindável de controles de velocidade, na maioria feitos por policias escondidos atrás de rails. Tive a sorte de parar mesmo antes de um, para ligar a máquina de filmar, quando seguia em excesso de velocidade.
Percorri a costa até à vila de Plattenberg Bay, muito simpática e com uma reentrância de mar fantástica, a criar uma lagoa onde pequenos barcos estão ancorados. Pelas elevações à volta da baía estão espalhadas fantásticas casas de empresários brancos. Porque na Àfrica do Sul do século XXI continuam a ser os brancos os empresários e quem tem os empregos mais especializados, enquanto os africanos ainda são a mão de obra barata que existia no antigo regime.
Nelson Mandela foi muito inteligente quando, ao tomar o poder após as eleições de 1994, não incentivou uma revolta contra os brancos pois ele vira o que se tinha passado na Rodésia e sabia que os brancos são a base da economia neste país, mesmo se representam menos de 10% da população. Se corressem com eles o país descambava e arruinava-se. Assim eles têm mantido um governo de maioria negra mas são os brancos quem toma conta da economia, com as suas empresas. O que este governo tem feito é tentar encontrar formas de proporcionar mais emprego para os negros que, na grande maioria, continuam a viver nas favelas à volta das cidades. Um exemplo foi o que se passou em Cape Town, em que mandaram arrancar todos os parquímetros para que pudessem empregar pessoal para cobrar os estacionamentos, além das multas. 
É principalmente nas zonas mais pobres que a criminalidade tem aumentado porque em centros como os de Cape Town a vida é tranquila, não se sente qualquer tipo de insegurança e quem tem mais dinheiro não tem medo de viver em casas fantásticas sem a segurança que existe por exemplo no Brasil e passear-se tranquilamente de Porsche ou Ferrari sem serem assaltados na rua. 
Nelson Mandela sabia que seriam necessárias duas gerações para que os africanos conseguissem ter um nível de instrução que lhes permitisse começar a ocupar cargos mais bem remunerados e até tornarem-se empresários mas por enquanto isso não é possível. Essa foi uma das razões que o levou a deixar que os brancos continuassem a controlar a economia do país. E foi um modelo seguido pelos que lhe sucederam.
A África do Sul de um modo geral está tranquila e economicamente estável, mesmo se o nível de criminalidade é muito elevado nas zonas mais degradadas. Mas está mais calma e segura de quando cá estive há vinte anos, embora as notícias nos façam crer o contrário.
Depois de visitar Plattenberg Bay voltei uns quilómetros para trás e rumei a Norte, a caminho da cidade de Oudtshoorn, que marca o início da Route 62, uma especie de Route 66 americana, ao estilo Sul Africano. Esta é uma estrada através do deserto, onde se pode acelerar, pois é pouco ou nada policiada, que liga aquela cidade a Cape Town, numa distância de mais de 400 Km.

Antes de chegar a Oudtshoorn parei num simpático restaurante de beira de estrada onde os bancos do bar eram selas de cavalo e na esplanada um dos empregados vinha cá fora de vez em quando assustar os macacos que roubavam os pertences dos clientes com tiros de uma espingarda de “paint ball”.



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