19 de fevereiro de 2019

Africa


Ouvi muitos avisos antes de vir para Africa. 
Porque não se tratava apenas de visitar um ou outro país africano mas atravessar o continente, de Sul a Norte. Ainda por cima junto à costa Ocidental, considerada a mais complicada, por quem sabe. 
O problema são países muito instáveis, com grupos revolucionários em alguns pontos, estradas que facilmente se tornam intransitáveis e pontos de assistência por vezes muito distantes.
Sabia que era um trajecto perigoso, talvez o pior que teria que enfrentar nesta Volta ao Mundo mas informei-me e, constatei que, andando perto da costa sempre que possível, evitavam-se alguns dos problemas. Mas não posso dizer que não sinto um certo receio, ao enfrentar esta etapa.
Descartei o trajecto mais simples, pela Costa Oriental, por duas razões: O facto de não se poder atravessar a Líbia neste momento obrigar-me-ia a apanhar um barco do Egipto para a Grécia ou Itália, forçando-me a percorrer um trajecto em sentido contrário ao que tinha feito no início da viagem. A segunda razão é que, há vinte anos, atravessara Africa, de Norte a Sul, perto dessa costa Oriental, quando fui de Londres à cidade do Cabo, dando a volta ao Mediterrâneo.
Agora queria conhecer o outro lado de Africa.

Aterrei em Cape Town, vindo de Portugal via Dubai, no dia 3 de Fevereiro. A moto já cá estava chegada também de avião mas de S. Paulo, no Brasil. Foi um Domingo. Na segunda feira de manhã  desloquei-me ao armazém do despachante, perto do Aeroporto, para desmontar a moto da estrutura metálica onde viajara e a colocar a trabalhar.
Não pegou. Pensei que se poderia tratar de velas, pela particularidade da gasolina brasileira ter uma elevada percentagem de Álcool. Troquei as velas e aproveitei para também substituir filtro de ar mas a moto continuou a não pegar. Resolvi então levá-la a um concessionário que tivesse uma máquina electrónica para permitir detectar o problema. Tive a sorte de encontrar um mecânico experiente que rapidamente chegou à conclusão que o problema era da Bomba de Gasolina. Embora a tivesse substituído recentemente no Brasil o álcool que ficou na Bomba durante seis meses destruiu os vedantes, inutilizando a Bomba. 
Não havendo aquela peça na Africa do Sul tive que mandar vir uma de Portugal, que acabou por ficar retida na alfandega durante três dias, só sendo libertada depois de vários mails que enviei a explicar que a peça não seria comercializada na Africa do Sul mas era para montar numa moto que sairia brevemente do país.
Durante os quinze dias em que durou todo o processo fiz turismo pela Cidade do Cabo e acabei por conhecer várias pessoas interessantes, como um Sul Africano de origem alemã que tem viajado por Africa de moto ou uma divertida miúda Mexicana que conheci no Hostel onde fiquei a maior parte do tempo.
A única rotina que fiz durante grande parte desses quinze dias foi tomar o pequeno almoço num café Italiano que havia ao lado do Hostel, o Giovanni’s, com um ambiente muito simpático e optimo café.
Depois visitei esta fantástica cidade, sem dúvida das mais bonitas do mundo, espalhada por várias baías e com montanhas por trás que proporcionam vistas espectaculares.
Subi à Table Mountain de teleférico, passeei de barco, fui a provas de vinhos nos produtores das redondezas, enfim, o que um turista normalmente faz por estas bandas.
Gostei de estar aqui mas, passados quase quinze dias, estava ansioso por partir, de moto.
Por isso, quando, depois de ter entregue a Bomba de Gasolina no concessionário onde a moto estava numa quinta feira e no dia seguinte uma hora antes de fecharem me dizerem que só a poderiam montar na segunda feira, falei com o gerente e pedi que retirasse a moto da oficina que eu mesmo montaria a Bomba na rua, à porta deles. Remédio Santo. Esperneou, o mecânico amuou, gritaram os dois um com o outro mas meia hora depois a moto estava a trabalhar.
Ainda nessa tarde, no pátio do Hostel, mudei-lhe a maneta de travão que estava torta e fiz outros pequenos acertos enquanto bebia uma cerveja trazida pela minha amiga mexicana. Que divertida, a miúda.
Na manhã seguinte, depois do habitual pequeno almoço no Giaovanni’s na companhia do meu amigo Uwe, ele levou-me até um comerciante de peças de motos conhecido onde tratei de mudar óleo de motor e filtro e comprar um apoio mais largo para o descanso lateral da moto. As muitas estradas de terra que irei encontrar a isso obrigam.
Aproveitei para também colar os autocolantes de alguns patrocínios que finalmente arranjei, na 
carenagem da Honda.

Estava pronto para a ultima etapa desta Volta ao Mundo.



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