11 de fevereiro de 2017

New Orleans





Estava na sala do Hostel quando o meu telemóvel começou a apitar estridentemente e ininterruptamente. Nunca antes tinha emitido aquele som. Tirei-o do bolso e olhei para o écran. Uma mensagem avisava: “Tornado. Procure um abrigo”. Instintivamente olhei pela janela. Chovia torrencialmente e um dos enormes chapéus de sol do terraço, com a mesa de ferro agarrada, levantou voo mas nada mais que isso. Liguei a televisão. Um homem analisava o avanço do tornado. Estava a passar na parte oriental de New Orleans, a meia dúzia de quilómetros do Hostel onde estava instalado desde o dia anterior. Tinha aqui chegado debaixo de um sol lindo e uma temperatura de mais de 20º.
Nas noticias da noite a televisão mostrou as muitas dezenas de casas destruídas pelo furacão que atravessara a região. Houve um morto e dezenas de feridos.
Nesta região não são muito comuns mas, em 2005, tiveram o Katrina, que provocou enorme destruição e quase dois mil mortos.
Cheguei a Atlanta, nos Estados Unidos, há quatro dias, depois de ter passado o Natal em Portugal. As temperaturas estavam próximas de zero graus e decidi arrancar logo rumo ao Sul, à procura do bom tempo a caminho do Mexico.
Parei no primeiro dia em Auburn, uma cidade de província já no Alabama. Quando acordei, na manhã seguinte, chovia e não tive outro remédio senão arrancar assim. O termómetro da moto marcava 9º o que era bem melhor do que se fazia sentir mais para Norte. Em Boston e Washington, onde tinha feito escala nos voos desde Portugal, as temperaturas estavam negativas.
Pela uma da tarde, uns 200 Km para Sul, o céu abriu e ficou um dia lindo à medida que os números no termómetro subiam até aos 20.
Cheguei a Pensacola Beach, já na Florida, pelas quatro da tarde. Fui até à fantástica praia de areia branca muito fina e sentei-me encostado a um banco de areia a descansar ao sol, mesmo com o fato e as botas calçadas. Fiquei uns 15 minutos a ver o mar antes de ir procurar um Hotel onde ficar essa noite. Era dia de “Super Bowl” e o país estagna para assistir ao maior evento desportivo do ano deste lado do globo. Nesta “superfinal” de futebol americano enfrentavam-se os Falcons e os Patriots. Fui até um bar local ver parte do jogo mais para apreciar a festa que o jogo em si, pois não conheço sequer as regras. É como os portugueses a verem a final de um europeu de futebol. Só que aqui ninguém se queixa dos árbitros. Parece que nunca falham ou pelo menos não dão importância aos seus possíveis erros. O intervalo tem sempre um espectacular show de música. Desta vez a artista foi Lady Gaga que montou um numero de circo e dança sensacional, que se sobrepunha em muito à música em si.
No dia seguinte parti para New Orleans primeiro junto à costa e uns 100 Km à frente a apanhar a autoestrada, único trajeto com enormes pontes a atravessarem os grandes estuários desta zona pantanosa do Louisiana, incluindo o do Mississipi.
New Oleans á a capital do Jazz e “respira-se” música por toda a cidade mas, principalmente, no famoso “French quarter”.
A capital do Louisiana foi fundada pelos franceses em 1718 e o seu nome deve-se ao Duque de Orleans que governou a cidade ao serviço de Luis XV. Em 1763 foi cedida aos Espanhóis, mas Napoleão voltou a ocupá-la por pouco tempo, antes de a incluir na venda de Louisiana aos americanos, em 1803.
Foi aqui que nasceu o Jazz, em finais do século XIX e inícios do século XX. Nunca fui apreciador desse tipo de música.... até agora.
Assistir aos concertos de Jazz improvisados que se desenrolam nas esquinas da Frenchmen St. ao inicio da noite é uma experiencia única. Mendigos dançam na rua e de vez em quando passam pequenos grupos de maltrapilhos, já nos seus 60 anos, a fumarem charros. Depois, porta sim, porta não, há bares com música ao vivo com graus de qualidade que variam entre o medíocre e o sensacional. Alguns dos melhores artistas de Jazz do mundo actuam ali ... quando lhes apetece. Por vezes junta-se um trompetista a um concerto que já está a decorrer numa improvisação continua e animada que deixa os espectadores mais desprevenidos maravilhados e os “habitués” com o ar de quem está a assistir à maior banalidade do mundo. O jazz flui nas veias desta gente e toda aquela parte da cidade acaba por ser um enorme palco onde se misturam velhos hippies com miúdos tatuados, pedintes de chapéu virado no chão ou artistas que pintam cenas de rua. Durante o dia grupos de turistas acompanham mulheres com ar de anfetaminadas que, com muitos gestos e em voz alta, contam a história e histórias do bairro. Uma animação contínua. Passei a gostar de Jazz.

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