11 de maio de 2018

Pantanal 4

Em Porto Jofre estava aportado um velho barco de pesca que já não estava em estado de navegar e servia não só de casa aos proprietários como de pequeno bar para a meia dúzia de pescadores que hoje vivem, principalmente, de passear turistas no rio. Pedi para entrar e acompanhei-os nas suas cervejas com vodka a beber uma água. Quando cheguei falavam sobre crimes recentes na zona.
- O meu sonho é comprar uma metralhadora, dizia o mais conversador, já visivelmente afectado pelo álcool.
- Para quê?, perguntei-lhe.
- Para matar dez de uma vez, rátátátátá.
- Mais vale ficar só pela pesca.
- Eu não teria problema em matar dez de uma vez. Não seria como aquele no outro dia ali em Poconé que tinha cinco para matar mas como a sua consciência só lhe permitia matar três por dia, matou três e atou os outros dois para os matar no dia seguinte.
Mudei a conversa para os passeios de barco para visionamento de Crocodilos e Jaguares, a que eles chamam Onças pintadas. Disseram-me que nesta época do ano vêm-se muito raramente por estarem no interior da floresta. A época boa é em Agosto e Setembro. Nesses meses mais secos os animais vêm até junto do rio. Nos últimos anos dezenas de fotógrafos dos quatro cantos do mundo vêm ali passar uns dias ou semanas para tentarem captar as espectaculares imagens dos Jaguar a mergulharem no rio Cuiabá para caçarem crocodilos.
No trajecto de regresso a Poconé parei no único Hotel a funcionar na zona, o Mato Grosso Hotel, onde almocei e tomei um banho de piscina que mesmo morna me soube a praia caribenha.
Cheguei de volta a Poconé, pelas quatro e meia da tarde, estafado.
No dia seguinte passei em Cuiabá buscar o saco que tinha deixado no Hotel, para não levar tanto peso no passeio fora de estrada, e fui à oficina dos meus amigos mandar um mail e despedir-me.
No almoço do boi um nortenho tinha-me dito que a estrada que eu pretendia apanhar para o Norte, a caminho do Amazonas, estava intransitável, com enormes lamaçais, pois perto de 500 Km seriam em terra e diziam-me que no Pará não parava de chover. Contei isso ao Armando e ele recomendou-me que falasse não só com os policias à saída de Cuiabá como, na bomba de gasolina, com os camionistas que vinham desse lado. O problema é que esta estrada que segue de Cuiabá para Norte pelo interior, até ao rio Amazonas, a famosa Transamazonica, não tem ramificações pois grande parte foi construída através da floresta e passa junto a várias reservas de Índios. Assim, se no final a estrada estivesse intransponível e não me permitisse chegar ao rio Amazonas, teria que retroceder os 1500 Km, fazendo 3000 em vão.
Parei assim no posto de polícia, como o Armando me indicou, mas eles não foram grande ajuda, dizendo que não tinham informação e teria que perguntar mais a Norte, quando estivesse perto da zona em terra.
- Mas, não podem contactar a polícia dessa zona?
- Não. Não temos qualquer contacto com eles.
Mais tarde percebi porquê. Para o Norte, talvez por a densidade populacional ser muito reduzida, não há praticamente polícia. É uma espécie de lei da selva, onde apenas o exercito tem algum controlo. Aquela parte do país, com pequenas cidades de 30 ou 40.000 habitantes, está quase ao abandono.
Segui então a segunda opção para obter informação e fui falar com os camionistas que estavam parados na estação de serviço de saída da cidade. Um deles, simpaticamente, lançou uma mensagem por rádio e pouco depois responderam-lhe que a estrada estava difícil mas os camiões estavam a passar. 

Avancei assim, rumo a Norte, para vir a enfrentar das condições mais difíceis que encontrei nesta viagem de volta ao mundo.


1 comentário:

  1. Arriscadote!
    Mas se está a escrever é porque passou.
    Bjs
    Ana

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