23 de janeiro de 2017

Atlanta


Nesta minha volta ao mundo tenho evitado circular em auto estradas e até chegar aos Estados Unidos, exceptuando um dia no Japão em que fui obrigado a percorrer muitos quilómetros, praticamente não as utilizei.
A razão principal é que pelas estradas de província se vê e conhecem melhor países e populações.
Nos Estados Unidos foi diferente e acabei por circular bastante em auto estradas. Aqui o motivo foi porque em muitos locais não existem outras ligações entre cidades ou as que existem são também através de longas rectas sem graça e com o inconveniente de muitos sinais luminosos pelo caminho.
As auto estradas americanas não são as de seis e oito faixas que vemos nos filmes. Essas só existem junto às grandes cidades. As auto que percorrem o país de lés a lés são piores que as europeias. Têm só duas faixas para cada lado, piso apenas razoável e não têm “rails”, que sairia uma fortuna coloca-los em tantos quilómetros de auto estradas. Por isso as faixas de cada sentido estão sempre afastadas umas das outras um mínimo de uns dez metros, a maior parte das vezes com uma pequena vala entre elas. Não existem áreas de serviço mas apenas áreas de descanso que têm pouco mais que uns bancos e casas de banho e são maioritariamente utilizadas por camiões. A grande vantagem é que não há portagens  e como têm indicações nas saídas em que existem restaurantes e bombas de gasolina perto, é fácil sair e voltar a entrar na auto estrada para reabastecer ou almoçar. O país de meio para baixo é quase todo uma enorme planície de maneira que a maioria destas autoestradas não têm subidas nem descidas e são principalmente formadas por enormes rectas.
O limite de velocidade costuma ser entre 65 e 70 milhas por hora (+/- 105 e 110 Km/h) e por vezes até 80 mas na prática, se rodarmos a não mais de 130 Km/h não temos problemas com a polícia.
Os camiões quase sempre podem circular à mesma velocidade que os carros e tenho-os visto regularmente a 130 Km/h e alguns a 140 ou mesmo a 150 Km/h. Por rodarem a estas velocidades, embora haja muitos controlos de peso, os seus pneus resistem mal e vemos muitas carcaças de pesados nas bermas da estrada e algumas mesmo na via pelo que, de moto, tenho que tomar muita atenção a esses perigosos restos de borracha, principalmente se a visibilidade é curta como nas alturas em que chove muito.
Nunca percebi o conceito das Harley Davidson. Até agora. Constatei finalmente que as motos são feitas para andar nestas estradas só de rectas, sem capacete, a passear. Não precisam de curvar bem nem de andar depressa, basta que o motor tenha um bom binário e o pneu de trás seja largo, para arrancarem bem nos muitos sinais luminosos que existem espalhados por este país. As motos foram feitas para os Estados Unidos, onde não há problema por serem barulhentas ou poluírem mais do que deviam. Não fazem sentido é em nenhum outro país do mundo.
De Tampa fui até Atlanta, mais a Norte, visitar um velho amigo, por autoestrada. Quando iniciei esta etapa da viagem nos Estados Unidos a ideia era ir até ao Mexico onde deixaria a moto antes do Natal. Como me atrasei decidi deixá-la por aqui, em Atlanta e parto para o Mexico quando regressar, em Fevereiro.
Quando seguia pela auto estrada, na manhã do segundo dia em que fui de Tampa para Atlanta, comecei a sentir a moto muito instável, mesmo em recta. De início pensei que seria a suspensão traseira que ainda não tive oportunidade de reparar mas foi piorando muito e resolvi parar numa estação de serviço. O pneu traseiro, com um prego no piso, tinha perdido muita pressão. Tenho comigo um kit de reparação mas, por não ter prática em utilizá-lo, embora fosse domingo, preferi procurar uma oficina de reparação de pneus. Enchi-o, percorri mais cerca de 50 Km e cheguei a uma cidade um pouco maior. Este estado da Giorgia é essencialmente um estado de raça negra, descendentes de escravos africanos. Quando cheguei a esta pequena cidade fui antes por gasolina para aproveitar e perguntar onde havia uma oficina de reparação de pneus. Desde o atendedor da caixa ao ajudante passando por todos os clientes parecia estar em Africa. Encontrei a oficina que me indicaram onde um simpático preto de uns 140 Kg não tinha mãos a medir. Por ser domingo era o único que estava a trabalhar e a cada minuto chegavam mais carros conduzidos por outros pretos a pedir para trocarem pneus ou repararem furos. O homem, simpaticamente, disse-me que não reparava pneus de motos e que experimentasse outra oficina mas, quando ia a arrancar disse-me:
- “Espere. Eu reparo-lhe o pneu mas terá que me pagar 20 dólares pelo trabalho”. Concordei de imediato ao que ele respondeu:
- “Sorry, but money talks”. Nem considerei caro e ele acabou por me colocar um taco no pneu depois de retirar as rodas a dois dos carros que esperavam, para que os clientes não fugissem. Não vi um único branco naquela cidade.
Regresso em início de Fevereiro para seguir para a América Central e do Sul.

4 comentários:

  1. Esta crónica deveria ter sido publicada o mês passado. Foi só hoje porque tive um problema ao pretender retirar fotgrafias do telemóvel. Regresso a Atlanta na sexta feira, dia 3 de Fevereiro, para seguir viagem para a America Central e do Sul. Obrigado a todos os seguidores pelos comentários. Até breve.

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  2. Caro Francisco Sande e Castro,
    Como sou aficionado dos desportos motorizados, de grandes raidsTT em particular:—), o seu nome não me era estranho, à uns dias tomei conhecimnento deste seu projecto, não consegui parar de ler, está de parabens, excelentes cronicas. Aguardo com ansiedade a continuação da perna sul americana. Boa sorte. Também já realizei algumas viagens de moto, só na Europa, Adoro viajar de moto, de momento estou apeado, mas a CrossTourer já me convenceu :—) Abraço

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    1. Bora lá Sôr Xico! Começam as crónicas?

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  3. Caro Francisco muitos parab'ens pelas cr'onicas e votos de excelentes curvas para a pr'oxima jornada!!!

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