Arranquei de Darwin no dia 11, com a ideia de, pela primeira vez nesta
viagem, ir acampar. Nunca fui grande adepto mas achei que, sendo num parque
natural, deveria ser agradável. Não se veio a revelar uma grande ideia.
Essa manhã ainda passei num centro comercial a comprar um mapa das
estradas, para além de um bico de gás e uma pequena botija, idêntica à que
tinha comprado antes de partir de Portugal mas que desaparecera algures.
Saí de Darwin em direção a sul com o termómetro da moto a marcar 36º. À medida
que me afastava do mar a temperatura foi subindo e não tinha feito mais de
trinta quilómetros quando atingiu os 40º
assim se mantendo ao longo do dia. Os punhos da moto ferviam e várias
vezes olhei o indicador para verificar
se o aquecimento dos mesmos não estaria ligado.
Já em Lichfield Park, a cerca de 140 Km de Darwin, parei para almoçar e, da
parte da tarde, fui até uma queda de água tomar um dos melhores banhos da minha
vida. Esperava uma água gelada mas a
temperatura era a ideal. Fiquei mais de meia hora dentro de água e só mudei de
lagoa quando um lagarto, de uns 50 cm, estacionou mesmo ao meu lado. Perguntei
a uns australianos que por ali estavam se aqueles lagartos eram perigosos e
disseram-me que não morreria com uma mordidela de um mas que teria que ser
tratado. Era melhor não experimentar.
Pelas cinco da tarde resolvi ir montar a tenda, que se revelou uma tarefa
fácil. Mas, ao manobrar a moto, quase parado na estrada de terra, deixei-a cair
e, sem ninguém por perto, tirei as malas e fui preparando a tenda. Passado um
bocado vi uma miúda em biquíni no meio do mato e fui lá perguntar-lhe se estava
com algum homem que me pudesse ajudar a levantar a moto. Respondeu-me que não
mas que era forte e lá veio dar uma mão. Estava ela e uma amiga a acamparem e
vinham num carro todo pintado à mão em tons de roxo que na parte de trás tinha
escrito em grandes letras: “Don’t drink and drive, smoke pot and fly”.
Acabei de montar a tenda e fiquei cá por fora, até anoitecer, sentado numa
árvore cortada a escrever no computador pousado em cima da moto.
Quando começou a anoitecer enfiei-me dentro da tenda, já com alguns
mosquitos a quererem fazer-me companhia. Mal anoiteceu, pelas sete da tarde,
pareciam chuva a cair na tenda numa quantidade enorme de variadíssimos insectos
que podia distinguir através da rede que rezava para que não se rompesse. O barulho não parou mais e, de vez em quando, o
que creio fosse um lagarto batia contra a tenda com força enquanto o que
verifiquei serem enormes gafanhotos ajudavam à festa. Fiquei a ler até às dez
da noite. Sem poder sequer abrir a entrada da tenda esqueci a ideia de cozinhar
e o meu jantar foram tomates miniatura que trazia no saco e um yogurt.
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