11 de maio de 2017

Puerto Obaldia






Pelas quatro da tarde chegámos a Puerto Obaldia, uma pequena aldeia na costa que, não sendo a ultima em território Panamiano, é a que tem um pequeno posto fronteiriço e portanto paragem obrigatória para quem precisa de carimbar o passaporte com a saída do Panamá.
Talvez para evitar que o barco fosse revistado pelos guardas fronteiriços, decidiram ancorar ao largo em vez de atracarmos no pequeno porto e deslocámo-nos, o dono do barco, o comandante e os três que iríamos sair do país, no pequeno bote a motor até à doca. Fomos recebidos por guardas fronteiriços fortemente armados e de mau humor que nos anunciaram que o posto de emigração já deveria estar fechado. Pela parte que lhes competia já tinham fechado os portões que separam a doca da aldeia. Atravessámos assim uma praia de pedras e um pequeno rio, com uma árvore caída a fazer de ponte, para chegarmos ao posto quando o homem se preparava para fechar. Sem contacto por internet tirou, com um telemóvel, fotografias aos nossos passaportes e subiu a um terraço onde apanhava sinal de rede para enviar por mensagem as fotografias para a sede, na capital, onde confirmariam a autorização para deixarmos o país. O Ryan chamou-me a atenção para o ar assustado do contrabandista de tabaco ao longo de toda a operação que parecia auto denunciar-se só olhando para a cara dele.
Partimos depois para a praia de La Miel, junto à fronteira com a Colômbia, destino final do barco.
Em La Miel o contrabandista tinha organizada a descarga das muitas caixas de cigarros para um grande armazém junto ao cais, pertencente ao fornecedor dos restaurantes da praia. No dia seguinte viriam três lanchas rápidas do porto de Turbo, na Colômbia, para recolherem o tabaco. Desembarcámos as motos e tratámos de negociar o seu transporte, em duas pequenas lanchas, para a vila de Capurganá, três ou quatro milhas à frente e já na Colômbia, onde desembarcam turistas vindos de mais a Sul, para visitarem a praia de La Miel e uma ou outra ilha por perto.
Instalámo-nos num pequeno Hostel e começamos a procurar alternativas de transporte por barco até Turbo, onde já há estrada e somos obrigados a parar para registar a entrada das motos na Colômbia. Não está fácil porque as lanchas privadas nos pedem uma fortuna para fazerem a viagem com as duas motos e acabaram por passar três dias até encontrarmos um barco de carga que as pudessem transportar por um valor razoável. O que vale é que o Hostel era simpático, em cima do mar, e a diária por pessoa o equivalente a pouco mais de cinco dólares.
Esta manhã fui ao cais, ainda não eram sete, esperar o barco de carga que chegaria de Sapzuro e poderia transportar as motos até Turbo. Chegou pelas oito e levei o capitão até ao Hostel para ver o tamanho das motos e acertarmos o preço do transporte. Partimos da parte da tarde.
Enquanto esperava no porto contaram-me as fofocas do dia. Nessa noite tinham sido presos vários emigrantes ilegais, provavelmente os africanos que tinham passado aqui pelo Hostel no dia anterior com os seus haveres embrulhados em sacos de plástico pretos, a forma que utilizam para atravessar os vários rios do percurso. Tinham sido capturados numa casa do alto da montanha, onde também descobriram droga e três colombianos envolvidos no seu transporte para o Panamá, para onde se preparavam para partir, através das montanhas da Darien Gap. A mulher do estalajadeiro contou-me ontem que o ano passado passavam aqui centenas de refugiados, na maioria africanos a caminho do Panamá. Chegavam em lanchas clandestinas, cobertos por grandes plásticos para os esconderem da guarda costeira e desembarcavam na praia, fazendo depois o trajecto a pé através das montanas, num percurso de seis dias que incluía a travessia de vários rios. A mulher contou-me que via mulheres com bebés ao colo e outras grávidas, percebendo que dificilmente conseguiriam aguentar as agruras da travessia praticamente sem comerem.  Muitos ficaram pelo caminho.

Sem comentários:

Enviar um comentário