29 de abril de 2017

Colón


A directora comercial da companhia de navegação, uma preta gorducha com ar despachado, prontificou-se logo a encontrar uma solução para o meu problema de transporte. Era uma vendedora nata e passado um quarto de hora já estava a perguntar-me se não queria comprar uns óculos de moto que um amigo tinha mandado vir num contentor da China a um dólar cada, e mostrou-me logo meia dúzia de exemplares que tinha num saco neste pequeno escritório interior, com luz artificial e ar condicionado no máximo. Depois perguntou se não precisava de uma top case para a moto a 20 dólares e levou-me ao armazém para as mostrar. Entretanto eram cinco da tarde e perguntou-me onde iria ficar essa noite. Quando lhe disse que procuraria um hotel ligou para a irmã que disse me poderia alugar um quarto. E lá decidiu fechar o escritório, que eram horas, mandando os quatro outros elementos para casa e partimos, eu a segui-la na moto, ver o quarto da irmã. Antes de entrar no carro, olhou para a minha cabeça e, com um ar sério disse:
- Eu também tenho um cabeleireiro. Não quer cortar o cabelo?. Só visto.
A irmã não tinha a pedalada dela e o quarto para alugar estava sujo e ela achava que valia o preço de um hotel, de maneira que agradeci e arranquei, ao final da tarde, para Portobelo, uma pequena vila numa velha baía de piratas de onde saem alguns dos iates que vão para a Colômbia. Muitos fazem disso negócio, levando turistas a passear através das ilhas paradisíacas de San Blas e alguns, muito provavelmente, trazendo de volta um ou outro “carregamento” que ajude às despesas.
Quando estava a uns 4 Km da vila, já de noite, parei num primeiro Hostel mas achei caro para o aspecto e segui viagem até que um miúdo numa bicicleta me mandou parar e perguntou se estava à procura de transporte para a Colômbia. Um amigo dele teria uma lancha. Sabia também de um Hostel bom e barato.
Lá fiquei no “El Castillo” e, como era o único cliente, preferi uma das três camas de casal da camarata a 12 euros que o quarto individual por vinte.
O Hostel era gerido por um francês de origem Vietnamita, dos seus sessenta anos, que tinha aqui chegado no seu barco à vela há quatro anos, vindo de Marselha e por cá ficou, encantado com o local. Passeava o seu cão, que tinha perdido uma pata num atropelamento aqui à porta, ao fim a tarde, os dois numa prancha de surf, pela baía. Duas simpáticas irmãs venezuelanas tratavam das limpezas e cozinha, ajudadas por uma local. A casa era construída em cima de estacas sobre o mar e todas as noites adormecia com o som do mar a bater nas rochas debaixo do quarto. Um enorme salão/bar/restaurante era aberto para o Oceano, sem janelas. As dos quartos tinham cortinas ou persianas mas não vidros. Aqui chove mas nunca faz frio. Tudo tinha um ar muito rústico e até de certa forma perigoso, com a instalação eléctrica num estado lastimoso. Mas, tudo isso fazia parte da “patine” do local.
No dia seguinte fui até à vila saber se havia previsão de barcos a saírem para a Colômbia e completei o inquérito com uma ida até Puertolindo, a baía e porto seguintes, uns 20 Km à frente. Aí aluguei mesmo um pequeno barco a motor e fui com o dono e um ajudante dar uma volta pelos iates ancorados na baía, para saber se algum pensava partir brevemente, com espaço para transportar a “Cross Tourer”. Infelizmente, os que estavam para sair não tinham onde a colocar.
Outra solução foi apresentada por uma das venezuelanas que tinha um amigo com uma pequena lancha com dois motores que fazia o trajecto regularmente e até já tinha transportado uma ou outra moto. Contactei-o e disse que poderia fazer o transporte dentro de dois dias mas várias pessoas aconselharam-me a não seguir essa hipótese pois a lancha, com dois motores a dois tempos de 40 cv., era pequena de mais para enfrentar as ondas do mar das Caraibas, que chegam a atingir cinco metros, com uma moto de 300 Kg às costas. Mas esse assunto ficou resolvido quando o rapaz me propôs uma verba de 900 euros para o transporte, muito próxima da que pedem os donos dos barcos à vela. Estava apostado em encontrar uma solução mais económica.  



4 comentários:

  1. E o cabelo ? Levou corte?
    Aposto que não

    Curiosa para saber como foi a travessia.

    Boa viagem
    Ana

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  2. Também já ando há alguns dias a pensar como o Francisco vai levar a Crosstourer até à Colômbia. Cheira-me a mais uma grande aventura... Boa sorte!

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  3. Parece-me que a verdadeira aventura está agora a começar no continente americano ...

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