17 de março de 2017

Oaxaca


Quando cheguei à ultima portagem daquela original estrada de via única em cada sentido, vi, ao longe, uma multidão junto às cabines. Já perto percebi que era uma manifestação de Índios que tinha exigido a abertura das portagens, estando eles a cobrar “ajudas financeiras” numa caixa de lata a quem passava. Do outro lado das cabines estavam dois carros da polícia, simplesmente a observarem a operação.
Quando cheguei a Oaxaca, a casa de um amigo, perguntei o que era aquilo. Contaram-me que são algumas tribos que decidem facturar qualquer coisa com aquela técnica e o governo local autoriza a operação, praticada uma ou duas vezes por semana, desde que não abusem.
O governo tem cedido a algumas reclamações dos Índios para compensar os que mandam matar quando consideram que estão a ganhar poder fora do controlo deles.
Oaxaca era uma cidade calma até 2006. Na altura houve muitos americanos e canadianos, principalmente reformados, que aqui compraram casa para viverem com um bom clima e um custo de vida muito inferior ao dos seus países. Nesse ano, uma série de conflitos na cidade geraram uma guerra civil muito localizada, na disputa pelo poder local. O Governo central deixou a revolta decorrer durante seis meses, por o Governo local ser da oposição. Depois acabaram por mandar militares acabar com a confusão. Morreram cerca de cem pessoas e conta-me o meu amigo que na altura só podiam ir à cidade de bicicleta e recolhiam a casa às cinco da tarde, muitas das vezes passando a noite ao som de tiros. Os estrangeiros voltaram todos para os seus países e só passados dois ou três anos recomeçou, aos poucos, o movimento turístico. Mas ainda há muita tensão no ar. Uma tribo ocupa a fachada do Palácio Governamental, na praça central da cidade com uma venda dos seus produtos e cartazes a pedir justiça pela morte de dois activistas, há seis anos atrás.
Há três meses, o grupo que perdeu as eleições para a reitoria da Universidade de Direito, ocupou as instalações, partiram pedras da fachada do prédio histórico para atirarem aos contramanifestantes e acabaram por pegar fogo à Universidade, que não voltou a abrir.
Quando passeava pela praça principal da cidade num Domingo, com o meu amigo, um rapaz veio contra mim de propósito dando-me um encontrão e querendo arranjar conflito, perguntando se eu estava a provocar um Mexicano. Não lhe respondemos e continuámos o nosso caminho.
Conheci o António Braga aqui, apresentado por um amigo comum. O homem nasceu em Portugal mas veio para o Brasil em criança e mais tarde para o México onde acabou por se naturalizar. Tem oitenta anos e há muitos que viaja de moto pelo continente. Antes utilizou uma BMW e uma Harley na qual fez mais de 200.000Km mas ainda o ano passado, já octogenário, pegou na sua pequena moto de 200 c,c. e foi até ao Brasil, visitar a namorada. Extraordinário
Passamos por um poste onde está uma bicicleta pendurada, pintada de branco.
-O que representa aquilo?
-Foi um ciclista que foi assassinado ali. Aqui mata-se muito, diz-me. Principalmente políticos e juízes. São profissões de risco. Um vizinho do António, “dealer” milionário, fugiu há dois anos da prisão, fardado de polícia. Matou a tiro o juiz que o condenou e ficou tranquilamente pela cidade, só voltando a ser preso quando mudou o chefe da polícia. Certamente não lhe pagou o que ele queria, diz-me o António.
Em Oaxaca passeámos pelo centro da cidade e visitámos as ruinas do Monte Albán, com mais de dois mil e quinhentos anos. Á semelhança das de Tehuantepec percebe-se que as tribos que se instalaram neste território há milhares de anos atrás eram muito desenvolvidas para a época embora ainda não saibam explicar o significado ou utilidade de muitas das construções que foram encontrando nos últimos dois séculos.
Assistimos ainda a parte de um treino de Pelota Mixteca, um jogo tradicional que se pratica há muitas centenas de anos.



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