Quando cheguei a Oaxaca, a casa de um amigo, perguntei o que era aquilo.
Contaram-me que são algumas tribos que decidem facturar qualquer coisa com
aquela técnica e o governo local autoriza a operação, praticada uma ou duas
vezes por semana, desde que não abusem.
O governo tem cedido a algumas reclamações dos Índios para compensar os que
mandam matar quando consideram que estão a ganhar poder fora do controlo deles.
Oaxaca era uma cidade calma até 2006. Na altura houve muitos americanos e
canadianos, principalmente reformados, que aqui compraram casa para viverem com
um bom clima e um custo de vida muito inferior ao dos seus países. Nesse ano,
uma série de conflitos na cidade geraram uma guerra civil muito localizada, na
disputa pelo poder local. O Governo central deixou a revolta decorrer durante
seis meses, por o Governo local ser da oposição. Depois acabaram por mandar
militares acabar com a confusão. Morreram cerca de cem pessoas e conta-me o meu
amigo que na altura só podiam ir à cidade de bicicleta e recolhiam a casa às
cinco da tarde, muitas das vezes passando a noite ao som de tiros. Os
estrangeiros voltaram todos para os seus países e só passados dois ou três anos
recomeçou, aos poucos, o movimento turístico. Mas ainda há muita tensão no ar.
Uma tribo ocupa a fachada do Palácio Governamental, na praça central da cidade
com uma venda dos seus produtos e cartazes a pedir justiça pela morte de dois
activistas, há seis anos atrás.
Há três meses, o grupo que perdeu as eleições para a reitoria da
Universidade de Direito, ocupou as instalações, partiram pedras da fachada do
prédio histórico para atirarem aos contramanifestantes e acabaram por pegar
fogo à Universidade, que não voltou a abrir.
Quando passeava pela praça principal da cidade num Domingo, com o meu
amigo, um rapaz veio contra mim de propósito dando-me um encontrão e querendo
arranjar conflito, perguntando se eu estava a provocar um Mexicano. Não lhe
respondemos e continuámos o nosso caminho.
Conheci o António Braga aqui, apresentado por um amigo comum. O homem
nasceu em Portugal mas veio para o Brasil em criança e mais tarde para o México
onde acabou por se naturalizar. Tem oitenta anos e há muitos que viaja de moto
pelo continente. Antes utilizou uma BMW e uma Harley na qual fez mais de
200.000Km mas ainda o ano passado, já octogenário, pegou na sua pequena moto de
200 c,c. e foi até ao Brasil, visitar a namorada. Extraordinário
Passamos por um poste onde está uma bicicleta pendurada, pintada de branco.
-O que representa aquilo?
-Foi um ciclista que foi assassinado ali. Aqui mata-se muito, diz-me.
Principalmente políticos e juízes. São profissões de risco. Um vizinho do
António, “dealer” milionário, fugiu há dois anos da prisão, fardado de polícia.
Matou a tiro o juiz que o condenou e ficou tranquilamente pela cidade, só
voltando a ser preso quando mudou o chefe da polícia. Certamente não lhe pagou
o que ele queria, diz-me o António.
Assistimos ainda a parte de um treino de Pelota Mixteca, um jogo
tradicional que se pratica há muitas centenas de anos.
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