12 de fevereiro de 2014

Myanmar




Finalmente, tudo pronto para entrar em Myanmar, ou Birmânia como os ingleses e Americanos lhe continuam a chamar.
Às 7,45 estava a sair do Hotel a caminho do escritório da emigração em Moreh, uma barraca de telhado de zinco sem janelas. O responsável, a quem tinha mostrado o mail que recebi do governo de Myanmar a confirmar a chegada do guia na manhã anterior, quando o encontrei no internet café local, disse que mesmo assim teria que enviar o emissário comigo ao outro lado da fronteira para confirmar se o meu guia sempre lá estava.
Voltei a montar na traseira da pequena Honda da repartição e lá fomos os dois. Só que, desta vez, os militares indianos não nos deixaram passar para o lado Birmanês. Com as bombas que tinham rebentado quinze dia atrás na pequena vila e, na expectativa de terem mais problemas no dia seguinte, estão em pânico e cortam, o mais que podem, todas as entradas e saídas de Moreh. Voltamos para trás e o homem da moto foi acordar o chefe que vive por trás da barraca. Desta vez montou-se o chefe na traseira da Honda e lá foi, munido do meu passaporte, pedir autorização aos Birmaneses para eu passar. O meu guia já me esperava de maneira que, a partir daí, carimbaram a minha saída da Índia e os homens da alfândega, a quem tinha pedido para lá estarem às oito em vez das onze habituais, preencheram o Carnet e lá segui ao encontro dos “emplastros” que eram o guia e o seu motorista. Depois da papelada resolvida do lado Birmanês, arranquei com a moto atrás deles a caminho de Mandalay, a mais de 500 Km de distancia. Já eram perto das onze da manhã.
Passados meia dúzia de quilómetros vi que a situação era insustentável e ultrapassei o guia. Só que ainda tínhamos que parar na primeira cidade a levantar um registo provisório da moto. Com o papel na mão, uma autorização para atravessar o país com o numero de registo 001, comuniquei-lhes que nos encontrávamos em Mandalay, a 500 Km de distancia, que eu iria à frente.
Ainda percorri uns 80 Km em estrada alcatroada razoável mas depois tinha um troço pela frente , com  mais de 300 Km, tipo etapa de Dakar, numa pista de terra batida muito degradada.
Com a moto mais leve, por ter deixado as malas no carro do guia, diverti-me bastante, mesmo se a “Cross Tourer” pesa 300 Kg com o depósito cheio contra os 150 Kg das motos do Dakar.
Aquele troço é a única entrada em Myanmar para quem vem da Índia mas, como eles têm a fronteira praticamente fechada, tem muito pouco movimento. Uns poucos camiões e meia dúzia de jipes e carrinhas de transporte de pessoal.
Começou a anoitecer e a situação tornou-se mais complicada. Com o entretimento tinha-me esquecido de comer e ainda não tinha encontrado lugar onde trocar dinheiro, pelo que não tinha um tostão da moeda deles.
À borda da estrada por vezes haviam miúdos a chocalharem umas caixas numa espécie de peditório de “pão por Deus”. Só que, neste caso, eles recolhem dinheiro mas oferecem bolos, fruta e águas.
Parei num deles e, mesmo explicando que não tinha um tostão, ofereceram-me duas bananas que representaram o meu almoço.
Voltei a arrancar, noite dentro, por aquele inferno de buracos e passei por uma parte montanhosa de floresta onde, na borda da estrada, vi uma espécie de Alces com enormes chifres e, mais à frente, uma raposa.
Passadas duas horas parei junto a outro peditório e comi outra banana à borla.
Pelas nove da noite apanhei uma zona de areia mole , a Honda enterrou a roda da frente e... “pumba”, caí para o lado. Não estava ninguém por perto e, sozinho, não consegui pôr a moto em pé. Desliguei as luzes para não gastar bateria e só então reparei que estava uma noite linda, com 20º de temperatura e um céu estrelado maravilhoso, como já não via há muito.
Por ali fiquei à espera que viesse jipe ou camião. Passado um quarto de hora vi umas luzes ao fundo e voltei a ligar a ignição, para quem quer que fosse me ver a bloquear a estrada com a moto.
Uma carrinha cheia de pessoal parou junto à moto mas, talvez com medo que aquilo pudesse ser uma armadilha, só o condutor saiu, depois de alguma hesitação. Ajudou-me a levantar a moto e lá pude seguir viagem. 

1 comentário:

  1. Estou por aqui, cá vou lendo. Aqui continua a chover sem parar e frio. Parece que ainda vai arrefecer mais mas teremos sol no fim de semana.
    Boa viagem.

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