Chegado a Hilli
fui recebido como se fosse o filho pródigo que regressa a casa. O pequeno “Tiger”,
o anão da alfândega, emocionou-se e a menina que limpa os quartos do Hotel não
parava de cantar. O gerente, que tinha fechado a porta do quarto com um cadeado
novo quando eu parti, dois meses antes, para que me certificasse que ninguém
mexeria nas malas que ali deixei, veio abrir a porta com pompa, como quem abre
um velho cofre com a porta presa por falta de uso. O quarto estava coberto com uma camada espessa
de pó que entrara pelas enormes frechas das janelas. Deu ordem aos empregados
para o limparem e eu pedi que me trocassem também os lençóis.
Fui direito aos
escritórios da alfandega anunciar a minha chegada e dizer-lhes que ainda
haveria esperança de, no dia seguinte, chegar a autorização que o cônsul
finalmente parecia estar a tratar, para entrar com a moto no Bangladesh.
O cônsul
honorário de Portugal no Bangladesh é um empresário de sucesso local que tem
mais que fazer que tratar dos problemas dos portugueses mas, quando soube que
eu estava disposto a arrancar, dando a volta ao Bangladesh pelo Norte, logo no
dia seguinte caso não chegasse a autorização para atravessar o país, foi rapidamente
falar com um ministro amigo dele pois disseram-lhe que, no Norte da Índia não
só teria que enfrentar estradas cobertas de neve e gelo como seria obrigado a
atravessar zonas de conflito armado. E, caso houvesse problemas comigo nessa
zona, ele tinha medo de ser responsabilizado por não me ter conseguido a autorização.
Só que, as ações
dele foram tardias e a burocracia do país não permitia que eu tivesse o papel
na mão nas 24 horas seguintes. De maneira que, no dia seguinte arranquei de
volta à Índia rumo às terríveis estradas do Norte que já me tinham “levado ao
tapete”, para contornar o Bangladesh e entrar em Myanmar pela fronteira com a Índia,
se é que podemos chamar Índia àquela zona, reclamada por vários grupos
revolucionários.
Depois do processo
de passar a fronteira em que, do lado do Bangladesh inclui um dos empregados da
Alfandega deslocar-se ao banco local de “rickshaw”, na outra ponta da vila,
para aí depositar os 3 euros da minha taxa de saída e, do lado Indiano, um
complicado estudo do meu “carnet” que requer a presença do chefe e mais três
empregados para ser preenchido, consegui fazer uma centena de quilómetros antes
de anoitecer.
Nessa zona ainda
apanhei estradas razoáveis, com transito moderado, fora das vilas e cidades,
porque esse é sempre caótico. Fiquei a dormir em Raiganj.
No dia seguinte
continuei rumo a Norte desta vez pelas assustadoras estradas esburacadas e
repletas de camiões que já conhecia.
Depois de
Siliguri seguiram-se uns quilómetros de uma autoestrada típica Indiana em que
apanhei a circular no sentido correto, ou no inverso, indiscriminadamente,
bicicletas com meninas a vir da escola, um carro de mão com enormes troncos de
árvore em cima puxado por um homem, uma série de “rickshaws” a pedais ou
motorizados, um homem de bicicleta a circular em sentido contrário no meio da
via com a mulher e a filha bébé à pendura, um camelo a galope atrás do qual
corriam dois miúdos agarrados a uma corda que servia de rédea, vários tratores
agrícolas, vacas, cães, ovelhas, cabras e tudo o mais que possamos imaginar.
A partir de
Maynaguri a situação melhora um pouco mas sem encontrar onde ficar quando
anoiteceu acabei por ter que fazer umas dezenas de quilómetros de noite o que
ali é o próprio inferno pois só as motos e os poucos carros que circulam têm
faróis dignos desse nome. Bicicletas, tratores e “rickshaws” simplesmente não
os têm e os dos camiões se funcionam à frente não acendem atrás ou vice versa.
Finalmente
encontrei outro daqueles hotéis de meia dúzia de euros por noite a que já me
habituei, 40 Km antes de Alipurduar, onde tinha planeado ficar.
Veio e foi sem dizer nada, rebelde!
ResponderEliminarBoa viagem
Ana
Tem razão. Tentei apanha-la antes de vir mas já foi tarde. Beijinhos
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