Finalmente, tudo
pronto para entrar em Myanmar, ou Birmânia como os ingleses e Americanos lhe
continuam a chamar.
Às 7,45 estava a
sair do Hotel a caminho do escritório da emigração em Moreh, uma barraca de
telhado de zinco sem janelas. O responsável, a quem tinha mostrado o mail que
recebi do governo de Myanmar a confirmar a chegada do guia na manhã anterior,
quando o encontrei no internet café local, disse que mesmo assim teria que
enviar o emissário comigo ao outro lado da fronteira para confirmar se o meu
guia sempre lá estava.
Voltei a montar
na traseira da pequena Honda da repartição e lá fomos os dois. Só que, desta
vez, os militares indianos não nos deixaram passar para o lado Birmanês. Com as
bombas que tinham rebentado quinze dia atrás na pequena vila e, na expectativa
de terem mais problemas no dia seguinte, estão em pânico e cortam, o mais que
podem, todas as entradas e saídas de Moreh. Voltamos para trás e o homem da
moto foi acordar o chefe que vive por trás da barraca. Desta vez montou-se o
chefe na traseira da Honda e lá foi, munido do meu passaporte, pedir
autorização aos Birmaneses para eu passar. O meu guia já me esperava de maneira
que, a partir daí, carimbaram a minha saída da Índia e os homens da alfândega,
a quem tinha pedido para lá estarem às oito em vez das onze habituais, preencheram
o Carnet e lá segui ao encontro dos “emplastros” que eram o guia e o seu
motorista. Depois da papelada resolvida do lado Birmanês, arranquei com a moto
atrás deles a caminho de Mandalay, a mais de 500 Km de distancia. Já eram perto
das onze da manhã.
Passados meia
dúzia de quilómetros vi que a situação era insustentável e ultrapassei o guia.
Só que ainda tínhamos que parar na primeira cidade a levantar um registo
provisório da moto. Com o papel na mão, uma autorização para atravessar o país
com o numero de registo 001, comuniquei-lhes que nos encontrávamos em Mandalay,
a 500 Km de distancia, que eu iria à frente.
Ainda percorri
uns 80 Km em estrada alcatroada razoável mas depois tinha um troço pela frente
, com mais de 300 Km, tipo etapa de
Dakar, numa pista de terra batida muito degradada.
Com a moto mais
leve, por ter deixado as malas no carro do guia, diverti-me bastante, mesmo se
a “Cross Tourer” pesa 300 Kg com o depósito cheio contra os 150 Kg das motos do
Dakar.
Aquele troço é a
única entrada em Myanmar para quem vem da Índia mas, como eles têm a fronteira
praticamente fechada, tem muito pouco movimento. Uns poucos camiões e meia
dúzia de jipes e carrinhas de transporte de pessoal.
Começou a
anoitecer e a situação tornou-se mais complicada. Com o entretimento tinha-me
esquecido de comer e ainda não tinha encontrado lugar onde trocar dinheiro,
pelo que não tinha um tostão da moeda deles.
À borda da
estrada por vezes haviam miúdos a chocalharem umas caixas numa espécie de
peditório de “pão por Deus”. Só que, neste caso, eles recolhem dinheiro mas
oferecem bolos, fruta e águas.
Parei num deles
e, mesmo explicando que não tinha um tostão, ofereceram-me duas bananas que
representaram o meu almoço.
Voltei a
arrancar, noite dentro, por aquele inferno de buracos e passei por uma parte
montanhosa de floresta onde, na borda da estrada, vi uma espécie de Alces com
enormes chifres e, mais à frente, uma raposa.
Passadas duas
horas parei junto a outro peditório e comi outra banana à borla.
Pelas nove da
noite apanhei uma zona de areia mole , a Honda enterrou a roda da frente e...
“pumba”, caí para o lado. Não estava ninguém por perto e, sozinho, não consegui
pôr a moto em pé. Desliguei as luzes para não gastar bateria e só então reparei
que estava uma noite linda, com 20º de temperatura e um céu estrelado
maravilhoso, como já não via há muito.
Por ali fiquei à
espera que viesse jipe ou camião. Passado um quarto de hora vi umas luzes ao
fundo e voltei a ligar a ignição, para quem quer que fosse me ver a bloquear a
estrada com a moto.
Uma carrinha
cheia de pessoal parou junto à moto mas, talvez com medo que aquilo pudesse ser
uma armadilha, só o condutor saiu, depois de alguma hesitação. Ajudou-me a
levantar a moto e lá pude seguir viagem.
Estou por aqui, cá vou lendo. Aqui continua a chover sem parar e frio. Parece que ainda vai arrefecer mais mas teremos sol no fim de semana.
ResponderEliminarBoa viagem.