30 de novembro de 2017

Santa Maria


Acabei por sair de Cusco só ao meio dia pois de manhã tive que tratar de vários mails e escrever.
Tinha feito pouco mais de vinte quilómetros quando o GPS do telemóvel, que levava ligado, me mandou por uma estrada de terra. Achei cedo para isso mas segui as indicações. Felizmente estava em bom estado e não durou mais que uma dezena de quilómetros antes de voltar ao alcatrão.
Passados uns cinquenta quilómetros comecei a subir uma serra com um traçado fantástico e bom piso mas a subida parecia interminável. Quando cheguei ao topo estava a 4.400 metros de altitude e mais uma vez tinha alguma dificuldade em respirar, embora já estivesse mais habituado à situação.
Do cimo da montanha podia ver as nuvens mais em baixo, do outro lado da serra. Quando comecei a descer entrei nesse nevoeiro serrado e, ao passar para a parte de baixo, começou a chover, de início com pouca intensidade mas a deixar a estrada bastante escorregadia. Pelas duas e meia da tarde vi um restaurante à beira da estrada com muito mau aspecto mas, com os pés já encharcados, pareceu-me ter cinco estrelas. Mal entrei aumentou a intensidade da chuva e meia hora depois caiu uma carga de água tropical fortíssima. Tinham-me preparado uma carne estufada no fogão de lenha e pude aquecer-me um pouco depois do almoço, enquanto esperava que a chuvada passasse. Só que, entretanto, eram quase quatro e meia da tarde e não parava de maneira que quando abrandou um pouco arranquei, não fosse chegar à próxima vila, a perto de cem quilómetros, já de noite.
Pelo caminho ia atropelando uma velha Índia, que atravessou a estrada sem olhar e quando toquei a buzina para que parasse desatou a correr na direcção em que eu ia passar. Travei a fundo e não lhe acertei por um triz. Apanhou um susto maior que o meu e desatou a gritar comigo num dialecto indecifrável.
Pelas seis da tarde cheguei à vila de Santa Maria. Bati á porta de dois hotéis mas ninguém me atendeu. Quando estava a montar na moto para procurar outro umas velhas sentadas nos degraus de entrada de  uma casa fizeram-me sinal a dizer que a mulher da mercearia da esquina tinha quartos para alugar. Esta saiu disparada da mercearia e com o ar de que eu não teria alternativa disse-me que a seguisse até uma porta de garagem que abriu e me mandou entrar com a moto pois ainda chovia. Gostei de ver uma moto de enduro parada dentro e os quartos não eram muito maus embora a única casa de banho com água quente fosse no pátio. A sala ao ar livre e com uma decoração com objectos dos anos 50, como um velho capacete e uma telefonia de válvulas, era aberta para o mesmo pátio. Quando, depois de um duche, me pus a ver televisão por a internet não funcionar naquela sala onde só uma fraca luz funcionava, senti uma coisa bater-me na cabeça e depois pousar no chão. Era um morcego. Decidi então sair para jantar no que me indicou a senhora ser o único restaurante decente da vila. Por acaso jantei bem e voltei lá no dia seguinte para o pequeno almoço. 

28 de novembro de 2017

Cusco


Quando aterrámos do passeio de avioneta já eram seis da tarde e decidi, por isso, ficar por Nazca a dormir.
Jantei numa Pizzeria péssima e no dia seguinte arranquei, pelas dez da manhã, a caminho de Cusco. São mais de seiscentos quilómetros de curva e contracurva através dos Andes por isso sabia que não chegaria lá nesse dia. Para além disso havia várias zonas em obras, com a estrada cortada por vezes por mais de meia hora, o que levava ao desespero dos Peruanos que tocavam a buzina e refilavam com o desgraçado que tinha a tarefa de mandar parar o transito. Lembrei-me de quando também fiquei à espera que reparassem uma estrada no Butão durante mais de duas horas sem que houvesse um único protesto. O contraste entre este povo latino e aqueles budistas é realmente abismal embora sejam ambos encantadores.
Pelo caminho, no alto da serra, crianças divertidas a tomarem banho num tanque mínimo e lamas a pastarem.
Pelas duas da tarde parei num restaurante à beira da estrada. Uma barraca e, ao lado, duas improvisadas  mesas corridas de madeira  com um toldo sobre estacas junto a uma tão inesperada quanto fabulosa escarpa com um rio a passar umas centenas de metros abaixo. Um postal sensacional. Os donos estavam a almoçar em família numa das mesas mas logo o homem se levantou, de ementa na mão a oferecer-me um lugar na mesa livre, voltado para aquela vista.
Estavam a assar umas espetadas de carne com batatas e disse-lhe que queria o mesmo acompanhado por uma bebida típica, uma espécie de vinho feito de milho escuro, que ganha a cor de tinto embora tenha muito menos álcool. No fim não me deixaram pagar.
A seguir ao almoço continuei a subir a serra até chegar a um planalto a 4.400 metros de altitude. Custava-me respirar e à moto também. Naquela zona a estrada não tinha movimento nenhum e só esperava não ter um problema antes de começar a descer.
Pelas cinco e meia da tarde cheguei à pequena vila de Lucuchanga e por ali me instalei. Tinha feito mais de quatrocentos quilómetros durante um longo dia. Jantei um frango no restaurante em frente do Hotel e deitei-me cedo. Dormi nove horas de seguida, penso que devido à altitude.
De manhã tomei o pequeno almoço de um ovo estrelado dentro de um pão feito por uma mulher num pequeno carrinho de rua acompanhado de uma bebida quente feita de cereais de que só consegui beber pouco. Custou-me menos de um euro.
Cheguei a Cusco pelas três e meia da tarde. Almocei, instalei-me num Hotel, fui deixar a roupa a uma lavandaria e levantei dinheiro num multibanco. Contactei depois um rapaz local pertencente ao tal grupo sul americano de ajuda motociclista que me tinha ficado de dar indicações de como ir a Machu Picchu. Tinha uma espécie de pequeno clube motard local e encontrei-me lá com ele e amigos depois do jantar. Depois de me aconselhar seguir de Cusco de comboio e eu lhe responder que queria ir de moto, explicou-me como poderia chegar a Matchu Picchu com a moto, pois no Google Maps não aparecem estradas até lá, além de me emprestar uma mochila, sabendo que a parte final do trajecto teria que ser feita a pé, carregando um mínimo de bagagem para um dia, além de água.


26 de novembro de 2017

Huacachina


De Lima desci a Pan Americana para Sul, junto à costa através do deserto.  Voltei a atropelar um enxame de insectos. São centenas que vêm juntos e se esmagam contra a carenagem, viseira da moto e capacete, deixando-os num estado miserável de sujo.
Sai da Estrada em Cerro Azul para ir até um dos restaurantes da praia. Com muito poucos cientes nesta altura do ano uma menina com a ementa na mão parou-me no meio da estrada, com a colega do restaurante seguinte a fazer-me sinal para avançar mais vinte metros. Abriu o cardápio e sugeriu-me vários pratos. Quando lhe disse que achava os preços caros fez um desconto imediato, ainda na faixa de rodagem e com o motor da Cross Tourer a trabalhar.
Por acaso estava optimo, o arroz de camarão.
Continuei depois para Sul até um oásis no meio de gigantescas dunas, Huacachina.
Cheguei pelas cinco da tarde e o homem de um Hostal fez-me sinal para ir até lá. Junto estava um vendedor de passeios de buggy pelas dunas a anunciar-me que o ultimo do dia partia dentro de 15 minutos. Deixei mala e capacete no Hotel, enfiei uns jeans e entrei no Buggy que já me esperava à porta. São carros fabricados artesanalmente com chassis tubulares, tracção às quatro rodas e motores V8 americanos. Uns aranhiços muito rudimentares com várias filas de bancos para fazerem a viagem render.
Subimos e descemos dunas, e paramos para tirar fotografias. “Tomar” como  me explicou uma miúda peruana quando lhe pedi para me tirar uma fotografia. No peru tirar parece que envolve actividade sexual. Não sei qual mas riram-se as duas quando eu lhes fiz o pedido e enquanto uma me tirava fotografias a mais atrevida dizia-lhe: “tira-lo, tira-lo”.
Depois o condutor tira umas pranchas de “snowboard” da parte de trás do buggy e divertimo-nos a descer as dunas deitados nas pranchas. Já anoitecia quando voltamos ao Oasis.
No dia seguinte rodei apenas cerca de cem quilómetros até Nazca. A curiosidade perto desta vila são uns desenhos, alguns com mais de 2000 anos, gravados no deserto. No século XVI já tinham sido detectados mas na altura pensaram tratar-se de marcas de trajectos e só em 1927 um arqueólogo peruano percebeu o que ali estava. Em 1994 foram classificados Património da Humanidade pela Unesco. Alguns têm centenas de metros. A maior curiosidade e que tem levantado mais controvérsia acaba por ser o desenho do que parece como imaginamos um extra terrestre, gravado na rocha há mais de 2000 anos. Chamam-lhe o astronauta embora os cientistas mais terra a terra pensem tratar-se de um pescador.
Vi os primeiros desenhos quando, no meio de uma grande recta no deserto deparei com uma torre de vigia, construída para o efeito. Subi os três andares e pude observar dois dos desenhos. Mas, a melhor forma de os ver é do ar.
Será que os seus autores queriam impressionar os Deuses em que acreditavam ou viram, realmente, um extra terrestre e era para eles que desenhavam?
Para observar melhor estes extraordinários desenhos aluguei um lugar numa pequena avioneta e acompanhei três alemães num passeio de 45 minutos pelos céus de Nazca, com o piloto da trotineta a inclinar o bicho para um e outro lado, por cima dos desenhos, para que todos os pudéssemos observar. Muito interessante.



24 de novembro de 2017

Lima 4


Depois de deixar a Sofia no autocarro decidi ir até ao melhor bairro da cidade, junto ao mar, para almoçar. Em Mirflores parece que estamos não só noutra cidade como noutro país. Bons Hoteis, lojas com bom aspecto e jardins arranjados.
Junto ao mar um centro Comercial, construído na escarpa, com as melhores lojas e restaurantes. 
Fui almoçar ao “La Trattoria di Mambrino”. Dentro tem mesas com toalhas de pano brancas, uma moderna cozinha aberta para o restaurante e uma zona de bar com confortáveis sofás. Preferi ficar no terraço, com fabulosa vista de mar. Almocei uns ravioli com camarões que não estavam grande coisa, principalmente para o preço, mas o doce de morangos com natas e massa estaladiça estava ao melhor nível, assim como o vinho branco italiano. Principalmente soube-me bem estar naquele ambiente tão diferente das confusões dos dias anteriores.
Quando saí do restaurante dava uma volta a pé pelo jardim ao lado, sobre o mar, quando ouvi um grupo de seis miúdos a falarem português. Inédito. Eram estudantes universitários que estavam em regime de Erasmus, como a minha filha cá esteve o ano passado. Normalmente instalam-se neste bairro por ser o mais seguro da cidade. Eles ficaram mais espantados que eu de encontrarem ali um português. Ficámos um pouco à conversa e voltei de autocarro para a confusão do Centro. Os autocarros aqui andam a acelerar e quando, três dias antes tinha comentado com o policia de moto que os autocarros se atiravam para cima das motos sem qualquer hesitação ele respondeu:
- Pois é. Temos que ter imenso cuidado. Ainda ontem morreu aqui na cidade um colega meu, colhido por um autocarro.
Este ía a dar gaz, como todos, quando foi obrigado a fazer uma travagem brusca. Quando dois dos clientes se queixaram uma inspectora, que tinha há pouco entrado no autocarro e verificava bilhetes, defendeu o motorista.
- Não viram que foi o táxi que se atravessou à frente?
Pouco depois, quando já nos aproximávamos da zona centro onde estava  instalado, uma fila enorme que só quando chegamos ao início percebemos a razão: um condutor de autocarro e o de um táxi tinham parado os veículos no meio da rua e andavam à pancada na via, sob o olhar de dois policias que nada faziam, enquanto uma mulher berrava palavrões indecifráveis da janela do autocarro. Chegava ao “meu” bairro.
Quando arranquei no dia seguinte de manhã não tinha feito meia dúzia de quilómetros depois de deixar a cidade quando, à saída de uma portagem, vi um par de Africa Twin’s paradas na borda da estrada. Parei para ver se precisavam de alguma coisa. Eram dois americanos que tinham perdido um terceiro e estavam em contacto telefónico com ele. O homem, ao ver que tinha perdido os amigos, entrou numa bomba de gasolina que identificamos ser naquela mesma estrada, 5 Km antes e, com medo, recusava-se a de lá sair sozinho. Aquilo estava a fazer-me uma confusão.
- “Porra. Convençam-no. Digam para se meter na moto e andar meia dúzia de quilómetros até aqui”. Mas não havia hipótese. Um sugeria que o outro desse a volta e o fosse buscar mas este segundo também não queria ir sozinho, de maneira que estavam a colocar a hipótese de chamar um táxi para ir buscar o amigo. Não queria acreditar. Como é possível esta gente pôr-se a viajar de moto? Deixei-os a resolverem o dilema, despedi-me e arranquei.


22 de novembro de 2017

Lima 3


Enquanto estava naquele bar à conversa com o Pedro fui trocando olhares com uma das empregadas que, não sei porquê, achei que estava a engraçar comigo. Quando o Pedro decidiu, perto das seis e meia da tarde, com uma pedrada de coca de caixão à cova, que era altura de ir à rua ver por onde andava a família, eu, embalado com a confiança que a mistura da coca e do “Pisco Sour” me estavam a dar,  levando-me até a crer que uma miúda nova e gira pudesse achar alguma graça a um velho, fui ter com a rapariga e perguntei-lhe a que horas saía e se não queria ir dar uma volta comigo. Fiquei espantado quando ela disse logo que sim e que sairia dentro de um quarto de hora. Fiquei pela mesa delas à conversa e quando saímos e viu a moto à porta do Hotel pediu se podíamos ir dar uma volta mas respondi-lhe que não estava em estado de guiar.
Demos uma pequena volta pela praça e, mais surpreendido fiquei  quando, ao lhe propor que fôssemos até ao meu quarto de Hotel ela respondesse logo que sim, com a maior das naturalidades.
Quando estávamos quase no acto a realidade veio ao de cima, como que a acordar-me de um sonho.
- Falta uma coisa, disse-me ela.
- O quê? Dinheiro?
- Sim.
Claro. Que grande anjinho em que a mistura de álcool e droga me tinha transformado.
- Sim, já te dou 50 Soles quando sairmos.
- Não. Tem que ser agora.
É daquelas coisas que normalmente fazem um homem de sessenta anos perder o entusiasmo mas, felizmente, paguei-lhe e, aguentei-me à bronca.
Perguntei-lhe depois se não queria ficar a dormir mas disse-me que  não, que não tinha trazido roupa.
Saímos então a pé até casa da amiga, com quem tinha combinado encontrar-se, e fomos os três jantar. Apanhei depois um táxi de volta ao Hotel. Naquela noite, ainda sob o efeito da coca, custou-me adormecer.
Quando acordei tinha uma mensagem da Sofia no telemóvel. “Francisco, vem ter ao Rustibar”. Fui lá almoçar e propus-lhe voltarmos a sair, ao que ela voltou a responder rapidamente que sim.
- É hoje que vamos passear de moto?
- Não, que não tenho outro capacete.
Fomos ao cinema, ver um filme peruano péssimo, muito infantil, mas que ela adorou e onde se fartou de rir.
Depois voltamos para o Hotel e voltei a pagar-lhe, desta vez antes que me pedisse.
Perto das dez da noite decidimos sair para jantar mas, quando fui à casa de banho e ela continuou a falar comigo a partir do quarto em que eu mal percebia o que estava a dizer, achei estranho. Quando saí da casa de banho, como que por instinto, fui verificar a bolsa onde tinha dinheiro em moeda estrangeira, o equivalente a 200 dólares. Estava rapada.
-Não devias ter feito isso, Sofia?
-O quê?
- Roubaste-me o dinheiro
-O quê? Estás doido? Juro que não. Só pode ter sido alguém do Hotel.
Mas eu sabia que tinha sido ela.
- Foste tu, Sofia.
- Estás doido. Estou mesmo ofendida. Vou-me embora.
E abriu a porta e arrancou.
- Sofia, volta.
Mas já ia escadas abaixo. Não quis fazer um escândalo nem agarrá-la
Mandei uma mensagem à amiga: “A tua amiga roubou-me quando eu estava na casa de banho. Se não vier até às dez da manhã devolver-me o dinheiro faço queixa na polícia e ao dono do Bar.”
Saí para jantar e quando voltei tinha uma mensagem da Sofia escrita num papel: “Estou mesmo ofendida, Francisco. Não paro de chorar” E assinava com o nome e o desenho de um coração.
Na manhã seguinte nada se passou e às dez da manhã liguei à amiga, mais velha s sensata. Ela disse-me que a Sofia não tinha aparecido e que não a conhecia tão bem para saber que isso se poderia ter passado. Meia hora depois ligou-me a Sofia a pedir se podia ir ao Hotel falar comigo.
Eu entretanto tinha contado a história ao rapaz da recepção que me disse:
-Você foi-se meter nesse bar? Que disparate. Aquilo é um antro. Ás vezes temos que ir lá buscar turistas que estão aqui hospedados e trazê-los de rastos de volta ao Hotel.
Estava eu a dizer à Sofia que só valeria a pena vir se me trouxesse o dinheiro e o rapaz a dizer-me por trás:
- Deixe-a vir de qualquer forma que quando cá estiver fechamos a porta e chamamos a polícia.
Passada meia hora chegou a Sofia. Pediu-me desculpa a chorar, devolveu-me o dinheiro, disse-me que não sabia o que lhe tinha passado pela cabeça, que nunca tinha feito aquilo e quis até devolver-me o dinheiro que lhe tinha pago por sexo. Pediu-me se a acompanhava até ao autocarro e se me podia voltar a ver essa tarde. Levei-a ao autocarro mas só a quis voltar a ver antes de partir, na manhã seguinte, quando passei no bar a despedir-me.

20 de novembro de 2017

Lima 2


Na tarde do meu primeiro dia em Lima vinha a sair do Hotel quando dei de caras com um velho, de ar simpático, que olhou para mim e instantaneamente meteu conversa
- De onde é? Como veio aqui parar?
- Ando a viajar de moto pelo mundo
- Que Maravilha. Que bom tê-lo encontrado. Sinto uma vibração extraordinária vinda de si. Eu sou Boliviano, músico. Estou a tocar num bar aqui ao lado. Não quer vir até lá beber um copo?
- Sim, vamos embora
- Ai, que maravilha, que maravilha. Estou tão contente por o ter encontrado. E ao subir as escadas do bar perguntava:
- Que signo é?
O homem estava eufórico e só mais tarde percebi porquê
Eram cinco da tarde e o bar estava vazio.
-Sentamo-nos aqui, disse o homem, afastando uma cadeira numa mesa central.
- Eu sinto-o como um vento que vem contra a minha cara em várias direcções. Que bom. Que boa vibração que você tem. Como se chama?
- Francisco
- Eu sou Pedro. O que vamos beber? Propunha que bebêssemos a bebida típica Peruana, Pisco Sour. É como beber uma caipirinha no Brasil. Faz parte.
- Venha daí esse Pisco Sour, respondi. E o Pedro chamou uma das duas empregadas que, sem clientes, estavam sentadas numa mesa do canto, daquelas tipicamente reservadas para os empregados.
- Em taças?, perguntou a empregada em resposta ao pedido da bebida.
- Sim, das grandes, respondeu o Pedro.
Passado um pouco a rapariga voltou com duas bebidas esverdeadas, com muita espuma, em canecas de litro.
- Bolas. Vou ficar bêbedo, disse-lhe.
- Não. Isto é relativamente leve.
Ficámos a contar como cada um de nós tinha ido ali parar.
Ele chegara há dias da Bolívia, com quatro filhos, uma neta e uma namorada de 18 anos, todos parte do seu grupo musical, para assinar uma contrato na embaixada francesa para estarem presentes num festival de música em Toulouse dentro de um mês, talvez por não haver embaixada francesa em Santa Fé. E já que aqui estava, em vez de voltar à Bolivia, decidiu que passariam esse mês por cá, a tocarem na rua para ganharem uns cobres. Só que os espaços em que se pode tocar música na rua estão, felizmente, muito limitados aqui em Lima, sendo, por exemplo, proibido tocar na Plaza Mayor. Eles sem saberem disso lançaram-se a tocar na rua. Rapidamente veio a policia e quis não só multá-los como apreender os instrumentos. Foram salvos por um “Paisano”, como eles chamam às pessoas da mesma terra. No meio da confusão apareceu ali um Boliviano que, por coincidência, explorava este bar e tinha ouvido a sua música. Não só resolveu o caso com a polícia como contratou o Pedro e família para tocarem todas as noites no seu bar, até partirem para França.
No meio desta conversa o Pedro, sempre eufórico, ia fazendo saúdes e batia com a mão dele contra a minha e pedia que eu batesse contra a dele. E dizia:
- Que feliz que estou por o ter encontrado. Mas que felicidade, Dios mio.
Entretanto já se tinha levantado duas vezes para ir à casa de banho, voltando sempre mais feliz e eufórico, até que, perdeu a cerimónia e perguntou:
- Você não snifa coca? E ao mesmo tempo que dizia isto retirou do bolso um pequeno embrulho de prata e abriu.
- Já experimentei mas não tenho esse hábito.
Mas tem que experimentar esta e sem que eu tivesse tempo de responder colocou o dedo por cima do pó e pôs-me numa narina, que eu snifei e logo de seguida voltou a mergulhar o dedo na coca e colocou-me na outra.
- Buuum.
Já tinha snifado coca umas quatro ou cinco vezes no meu tempo de juventude e lembrava-me do efeito. Nunca tinha sido nada como aquilo, tão forte e tão repentino.
- Eh pá. Nunca tinha snifado uma coca assim.
- Porque o que vocês snifam na Europa tem mais farinha ou aspirina ou lá o que eles misturam naquilo que coca. Esta é pura, vinda directamente do campo.
E o homem, enquanto snifava na frente de um ou outro cliente que entretanto chegaram e as empregadas, já sem qualquer pudor, entornava outro tanto em cima da mesa. E durante a conversa ia de vez em quando passando o dedo pela mesa e ora snifava ora me dava a snifar ora, como bom “profissional”, colocava um pouco na boca.
Eu aguentei-me sempre à bronca porque snifei muito pouco e bebi o litro de “Pisco Sour” devagar mas o Pedro às tantas já estava num estado em que torcia a cara e a boca quando falava e dizia.: shlump, shlop shlup, e eu não conseguia perceber nada do que dizia. Quando lhe fazia uma pergunta ele preparava-se para me responder e no mesmo segundo dizia:
- O que é que me perguntou?
Entretanto já passava das seis da tarde e comecei a ficar preocupado com o estado em que ele estaria para tocar dentro de duas horas.
Os filhos, a neta e a namorada tinham ido passear pela cidade e eu comecei então a fazer de pai do Pedro dizendo-lhe:
- Pedro, não podes snifar mais. Dentro de duas horas tens que tocar e não vais conseguir.
- Não há problema, porque shlump, shlop, shlup.
A empregada apareceu com a conta das duas bebidas: 170 Soles
Tirei o dinheiro do bolso sem pensar e paguei mas passados cinco minutos fez-se-me luz.
- Pedro, acabei de pagar 170 Soles pelas bebidas. Não é possível. Isso são quase sessenta dólares por duas bebidas.
- shlump, shlop shlup.
Chamei a empregada para confirmar.
- Eu paguei 170 Soles pelas duas bebidas. É impossível.
- Não. É o preço delas. E trouxe-me a lista para que confirmasse.

18 de novembro de 2017

Lima


Os primeiros 200 Km do trajecto entre Huaraz e Lima são fantásticos. É uma estrada de montanha a mais de 2000 metros de altitude, em bom piso, com curvas rápidas no início e, no final, uma parte sinuosa com muitos cotovelos que desce para a planície e o deserto junto ao mar. Diverti-me muito a fazer o percurso num ritmo rápido, por haver pouco transito sem controlo policial. O único calafrio foi quando apanhei areia a meio de uma curva e a moto entrou num enorme “slide” que, por sorte, consegui controlar.
Os 200 Km seguintes são feitos na Pan Americana, de grandes rectas e muitos camiões, sem a mesma graça. Parei numa tasca de borda de estrada para almoçar. Neste locais não turísticos as refeições de sopa, prato e bebida raramente ultrapassam o equivalente a três euros.
Em Lima pensei em procurar Hotel na zona de Miraflores, a mais pacífica e evoluída mas, quando estava parado nas enormes filas de transito da entrada da cidade, um policia de moto parou ao meu lado a admirar a Cross Tourer e meteu conversa. Disse-lhe que estava à procura de Hotel e perguntei-lhe o trajecto para Miraflores.
- Quer ir para o Sheraton? perguntou-me ele
- Não. Um mais barato, entre 80 e 100 Soles (cerca de 30 euros)
- Então não pode ser em Miraflores. Tem que procurar no centro. E ofereceu-se para me escoltar até perto, incluindo a sirene a tocar quando o transito estava mais lento.
Ainda bem que encontrei este polícia porque fui parar a um Hotel junto a uma das praças mais bonitas que vi no mundo, a Plaza Mayor, onde está o Palácio Presidencial, uma catedral e o centro biscopal entre outros prédios do século XIX. Fantástica, com um jardim no meio.
O único problema deste Hotel era que, por estar entre a Plaza Mayor e um bar de múscia rock, há barulho ao fim de semana até tarde no bar e da parte da manhã a algazarra começa cedo. Houve um dia em que apanhei mesmo o arranque de uma procissão a Nossa Senhora com velhas a cantar logo às seis e meia, quando ainda nem os galos tinham acordado. E quando não era a procissão eram grupos a passarem com batuques num barulho ensurdecedor, a festejar não se sabe bem o quê. Os Sul Americanos vivem para a música o que até é agradável, só que chega a um ponto em que já não podemos ouvir mais música, principalmente porque parece ser não só ininterrupta como muito alta e repetitiva. Atravessei aldeias na Colômbia, principalmente nos locais dos vaqueiros, em que tinham bares abertos para a rua, uns ao lado dos outros que parecia fazerem concursos para se saber em qual deles o som estava mais alto. Os clientes tinham enorme dificuldade em falar uns com os outros mas pareciam apreciar aquele pandemónio.
Mas o record aqui em Lima foi um dia em que montaram umas tendas para uma feira mesmo à porta do Hotel às  ..... quatro e meia da manhã, com um barulhão de camiões e gritaria que certamente acordou todos os clientes. Inacreditável.
No primeiro dia de manhã fui assistir ao render da guarda no Palácio Presidencial e dei uma volta a pé pelos arredores.    

16 de novembro de 2017

Huaraz 2


Huaraz começou a ser frequentada por turistas quando se descobriu a fantástica natureza escondida nas suas montanhas, praticamente inexploradas. A poucas dezenas de quilómetros da cidade elevam-se os mais altos picos do Peru na chamada “Cordillera Blanca”. São várias elevações com mais de cinco mil metros de altitude que, por esse motive, têm glaciares no topo, dizem que não por muitos mais anos, o aquecimento global é uma realidade assustadora, que por sua vez alimentam lagoas formadas no alto das montanhas, de águas límpidas e que nalguns casos adquirem cores fabulosas, como o azul turquesa único da lagoa 69.
É uma paisagem extraordinária que felizmente ainda está pouco explorada. No dia em que subi as montanhas disseram-me que tinham passado uns vinte turistas.
Saí do Hotel pelas dez da manhã a caminho das altas montanhas. Fiz cerca de 50 Km em estrada boa até à aldeia de Carhuaz, que ficou totalmente soterrada com o tremor de terra de 1970. Aí entramos numa estrada de terra que é um autentico suplício por estar num estado lastimoso. Foram vinte e cinco quilómetros a subir em que a moto parecia que se ia desconjuntar, tal eram as vibrações provocadas pelo péssimo piso, em grande parte com pequenas pedras soltas. Demorei mais de uma hora a chegar lá a cima à primeira lagoa mas vale a pena o esforço. A paisagem é extraordinária não só junto à lagoa como durante o trajecto em que temos da parte de baixo o vale com a aldeia lá em baixo e do outro as montanhas com o enorme glaciar no topo. Breathtaking, até no verdadeiro sentido da palavra, porque volto a estar a mais de 4.000 metros, embora já mais habituado. Os mais corajosos saem de Huaraz às cinco da manhã e continuam a subir até aos 4500 metros de carro e depois num trajecto de três a quatro horas a pé, com mais duas a três no regresso, para chegarem à famosa lagoa 69, a perto de cinco mil metros de altitude. À hora que subi já não era possível fazer o trajecto mas mesmo que fosse cedo acho que já não tinha pedalada para o esforço físico com um ar tão rarefeito.
Chegados à primeira lagoa, o percurso de cerca de três quilómetros até à segunda tinha sido reparado recentemente e aí pude rodar normalmente. Fiquei um pouco a admirar a extraordinária paisagem e depois desci a estrada do inferno, em mais uma hora de trajecto para percorrer os 25 Km. O que vale é que a moto é uma Honda. Aguenta tudo.
Almocei cá em baixo em Carhuaz e regressei a Huaraz. No dia seguinte parti para Lima.

14 de novembro de 2017

Huaraz


Fiquei na pequena cidade de Trujillo e, à hora do jantar, em vez de pegar na moto optei por apanhar um Tuktuk à porta do Hotel que me levou ao centro pelo equivalente a 50 cêntimos.
Jantei um franco com batatas fritas e, numa pastelaria, comprei um gelado antes de regressar ao Hotel.
Na manhã seguinte continuei esta travessia do deserto. No dia anterior tinha quase atropelado dois abutres que comiam restos de animais na estrada em duas situações distintas, quando eles levantaram voo tarde e hesitantemente. Desta vez apanhei pela frente um enxame de insectos que formavam uma nuvem e se estatelaram contra a viseira da moto e capacete num barulho do género “schchump”, deixando ambos carregados de manchas de pequenos corpos dilacerados.
Passados uns 350 Km, numa das várias rotundas que têm a meio dos pequenos troços de autoestrada olhei para a direita e pareceu-me ver um lago, a cerca de dois quilómetros. Eram duas e meia da tarde e achei que poderia ter junto um bom local para almoçar e fui até lá. Era o mar e só então me lembrei que rodava sempre perto do mar de onde aquele deserto parte, praticamente. Ali havia uma pequena aldeia de pescadores com dois ou três restaurantes junto ao cais, todos vazios. Uma senhora fez-me sinal de dentro de um deles a dizer que estavam abertos e sentei-me na esplanada. Almocei o pior linguado com batatas que comi na vida, acompanhado de uma cerveja.
Fiz depois mais cerca de 50 Km até encontrar um desvio para o interior a caminho da cidade de Huaraz, um local inóspito perdido no meio das montanhas e que só foi descoberto por turistas há muito pouco tempo. Os primeiros 20, 30 Km são quase todos numa estrada maioritariamente de terra mas depois, surpreendentemente, a estrada está em bom estado quando começa a subir a montanha. Tinha almoçado ao nível do mar mas agora parecia não parar de subir esta estrada quase sem movimento que por vezes atravessava pequenas aldeias habitadas por Índios com vestimentas grossas e as mulheres de chapéus altos na cabeça.
Fui sentindo a moto a perder potencia e, passados uns 100 Km, pelas cinco da tarde, fui eu que comecei a ter dificuldade em respirar e a sentir necessidade de, uma ou outra vez, respirar fundo para me oxigenar. Estava a mais de quatro mil metros de altitude. No topo da serra vi, mais em baixo, a cidade de Huaraz. Em 1970 um tremor de terra em que morreu mais de metade da população destruiu-a por completo tendo, desde então, vindo a ser reconstruída. A catedral ainda não está pronta, não se percebe se por não haver verba para a acabar, como me sugeriram dois habitantes, ou se por haver pouca vontade de um povo cujas origens acreditavam em outros Deuses que não o católico. 
Felizmente começava a descer mas mesmo na cidade, a mais de três mil metros, continuava a respirar mal. Só no dia seguinte, mais habituado à altitude, me senti melhor.


11 de novembro de 2017

Trujillo - Peru


Quando deixei Mancora em direcção a sul, pela única estrada que existe nesse sentido no Norte do Peru pensava que a paisagem iria ser similar à que tinha encontrado no Ecuador, mas é totalmente distinta. Atravessamos primeiro uma espécie de Savana, que lembra a Africana, com pouca vegetação e rasteira, para depois passarmos para uma parte de verdadeiro deserto.
Por sorte pus gasolina ao sair de Mancora, porque tinha pouca pois fiz os primeiros 150 Km sem encontrar uma bomba de gasolina e apenas duas ou três casas na beira da estrada com ar quase abandonado. No entanto passei por vários poços de petróleo  e, ao longo de parte do percurso, havia um “pipeline”.
A estrada tinha partes bem alcatroadas mas grandes buracos traiçoeiros que surgiam quando menos esperava, alguns no meio de curvas. Tinha que ir com enorme atenção ao piso mas mesmo assim escapou-me uma lomba de velocidade, colocada num sítio totalmente despropositado que, quando a vi não tive sequer tempo de travar mas apenas de me pôr em pé na moto que deu um enorme salto.
Passada a vila de Chiclayo, onde voltei a pôr gasolina, aqui bastante mais cara que no Ecuador, apanhei uma recta com 200 Km através do deserto. Não tinha atestado o depósito porque mais uma vez estava à espera de encontrar aldeias e bombas de gasolina mas não há construções nem vivalma, embora a estrada tenha algum movimento, pois é a famosa Pan Americana, que atravessa a America do Sul. Por volta das duas da tarde parei junto ao único restaurante porque passei. Estavam estacionados uns três ou quatro camiões. À porta, do lado de fora, uma espécie de termos grande com uma torneira, em cima de um banco, servia para os clientes lavarem as mãos. Galinhas passeavam no chão de terra à volta do estabelecimento, certamente com os dias contados para entrarem na panela. Quando entrei senti-me um personagem daqueles filmes americanos passados no Texas, com os cowboys de chapéu e de talheres na mão a tirarem os olhos do prato para olharem para o forasteiro que acabava de chegar. Só que aqui eram camionistas e não tinham chapéu.
Não havia água corrente mas o cabrito estufado que comi com arroz e feijão não estava mau. Trazia uma laranja na moto, que me tinham oferecido uns dias antes, que fez de sobremesa.

10 de novembro de 2017

Mancora - Peru


Só saí de Baños à uma da tarde porque estive de manhã a tentar resolver um problema que tinha com o meu servidor de correio.
Segui em direção à fronteira com o Peru através das boas estradas de montanha do Ecuador. O país tem estradas muito melhores que a dos vizinhos Colômbia e Peru mas há quinze dias foi preso o vice presidente porque se descobriu que recebia luvas da Brasileira Oderbrecht para lhes dar os contratos de construção das estradas, e não só. Dizem que os preços eram muito inflacionados e que o país ficou muito endividado com a operação. Onde é que eu já vi isto?
Pelas cinco e meia da tarde encontrei um Hotel que tinha sido construído recentemente numa pequena vila de província, Cumandá.
Pedi à encarregada se me arranjava uma sopa para jantar e ele fez-me uma de legumes que não estava má.
Umas centenas de quilómetros antes de chegarmos à fronteira com o Peru começamos a atravessar uma enorme planície com plantações de bananas umas a seguir às outras, com quilómetros e quilómetros de extensão. Impressionante. Fiquei a perceber porque os Equatorianos e os Colombianos acrescentam banana frita a qualquer prato que cozinhem. 
A passagem na Fronteira foi demorada. Estava uma enorme fila para carimbar o Passaporte e decidi ir almoçar para ver se diminuía. De facto depois do almoço estava mais curta mas ainda lá passei uma boa hora, com mais um quarto de hora para tratar dos papéis da moto e seguro.
Quando entrei no Peru já eram quatro da tarde mas decidi ir até a uma praia que a minha filha, que aqui viveu, me tinha recomendado, Mancorá.
No Peru os políticos não devem ter feito negocio com os homens da Oderbrecht porque as estradas, pelo menos no Norte do país, estão em mau estado, com buracos grandes que surgem inesperadamente nesta Pan Americana, que atravessa o país de Norte a Sul e tem bastante movimento de camiões. Nem sequer se vê ninguém a repara-los.
Mancora é uma pequena cidade de praia, com bastante turismo. Instalei-me num Hotel perto da praia e jantei a melhor Lasanha de Camarão que alguma vez comi, num restaurante da cidade onde entrei pela decoração e por terem um sinal à porta a anunciar um forno de lenha.
O dia seguinte nasceu de sol e decidi ficar por ali. Passei o dia na praia, a ler e a dormir entre optimos banhos de mar. Almocei por lá, no restaurante de um hotel no areal.

8 de novembro de 2017

Baños


Baños fica na serra, mais perto de Quito que de Guayaquil. Por isso viajei nesse dia para nordeste, parte do dia através de serra. Como a maioria das estradas no Equador estão em bom estado é giríssimo percorrer estas serras na Cross Tourer, que, com os pneus novos, está a curvar bem embora se note a perca de potencia quando andamos a mais de 2000 metros, como foi mais uma vez o caso.
Baños é uma zona turística que aproveita bem a fantástica natureza de montanha com rios de grandes caudais e várias cascatas. Passei lá duas noites para no dia em que lá estive poder visitar os locais mais emblemáticos. Assim, da parte da manhã subi parte de um vulcão até uma zona onde construíram uma pequena casa numa árvore e, à volta, vários entretimentos, desde baloiços onde se baloiça sobre um precipício ou alguns slides que descem a montanha. Mais uma vez não consegui ver o glaciar deste vulcão que atinge mais de seis mil metros de altura porque o tempo estava enublado.
Da parte da tarde visitei uma cascata fantástica onde se chega depois de um percurso de uns vinte minutos a pé. Esta cascata do “Pailon del Diablo” tem tanta força que quando há uns anos ali construíram uma barragem para produção de electricidade, uma semana antes da inauguração a força da água arrastou a barragem rio abaixo e desistiram da ideia. A produção hidroeléctrica no Equador tem vindo a crescer muito nos últimos anos e o país pretende até 2022 só produzir energia eléctrica limpa.
Nesta cascata do “Pailon del Diablo” passa-se através de umas grutas muito baixas, em que temos que andar de cócoras, até uma zona em que ficamos praticamente por de trás da cascata, o que é espectacular.
Quando de ali saí fiquei a almoçar numa tasca que havia perto da entrada que tinha uma única mesa e onde a simpática dona me fez uma optima empada de queijo que acompanhei de batatas e banana frita, coisa que eles não dispensam em quase todos os pratos.
De volta à vila de Baños ainda parei junto a uma enorme garganta formada pelo rio, com outra cascata do lado oposto e entrei com um grupo de Canadianos numa balsa metálica suspensa por uns cabos que atravessa este profundo canhão a uma altura de mais de cem metros. A geringonça, alimentada por um velho motor diesel, tem um ar velho e pouco fiável mas funciona há anos sem acidentes.
No dia seguinte deixei Baños e parti para Sul, a caminho do Peru.