Hoje acordei
ainda não eram seis com o movimento de barcos no cais mesmo junto ao pequeno
Hotel. Acabei por voltar a adormecer e pelas nove da manhã fui a um restaurante
ao lado tomar o pequeno almoço e ver os mails. Parti para a praia onde embarcam
a moto só às onze e meia. Por sorte estava lá um dos barcos de transporte que
acabara de descarregar mercadoria para os restaurantes e bares da ilha.
Para atravessar a
praia foi um festival parecido com o da chegada mas desta vez correu melhor porque
era a descer. Embalei de cá de cima e passei primeiro a parte em que tínhamos
posto as pranchas para depois entrar na areia mole onde acabei por cair mas já
perto da margem. O barqueiro ajudou-me a levantar a moto e a partir daí foi
fácil.
A menina do bar
da praia, com quem tinha acabado a noite no dia da festa, veio ao terraço da
esplanada despedir-se com um ar amuado, por eu partir sem dizer nada.
Na margem do lado
continental a subida de saída não tinha tanta areia mole mas era muito íngreme.
Tomei balanço e, estava quase no topo quando a roda da frente prendeu numa raiz
de árvore e votei a cair. Desta vez empenei a maneta do travão e magoei-me numa
perna que no fim do dia estava com um inchaço.
Fui direito a uma
bomba de gasolina pois já estava no fim da reserva depois dos passeios a três
pela ilha e parti rumo à fronteira com o Cambodja, a uns 30 Km.
Pediram-me o
Carnet para a moto, que já não usava desde a Índia. Tratei do visto e
despachei-me com bastante rapidez.
Quando saí
perguntei ao guarda de que lado da estrada circulavam ali pois eu tinha acabado
de atravessar dois países onde se circula à direita mas sabia que, pelo menos
na vizinha Tailândia, circulam à esquerda. O guarda não percebeu a minha
pergunta e mandou-me seguir pela esquerda, creio que para dizer que eu não
precisava de entrar nas instalações da Alfandega, do lado direito.
Arranquei pelo
lado esquerdo de uma estrada deserta e, passados uns quatro quilómetros, por
sorte, o primeiro veiculo que encontrei era uma moto que circulava no mesmo
sentido que eu mas do lado direito da estrada. Passei para o lado direito e, um
ou dois quilómetros à frente um jipe em sentido contrário veio confirmar que
agora é que estava na faixa certa.
Tinha percorrido
uns dez quilómetros desde a fronteira quando surgiu o desvio para a estrada que
pretendia apanhar, a caminho de uma floresta que é reserva natural e que tinha
curiosidade de visitar.
A estrada era de
terra com algumas partes em bom piso mas outras bastante degradadas. Seria
impensável passar aqui na época das chuvas. Nas partes em que o piso estava
melhor podia rodar a 70/80 Km/h em quinta mas às tantas apanhei um buraco maior
sem estar à espera e a mala esquerda, a tal que tem o suporte inferior partido,
saltou do sítio e voltou a raspar no pneu. Rapidamente a recoloquei na posição
certa e segui viagem. Pelas duas e meia da tarde parei junto a uma barraca onde
vendiam bebidas e pouco mais. Comprei uma manga verde e uma garrafa de sumo que
foram o meu almoço. A menina, quando me viu a fazer uma careta pela acidez da
Manga, ofereceu-me um frasco com uma colher do que me pareceu ser açúcar. Achei
boa ideia e pulverizei a Manga com aquilo. Acho que também tinha açúcar só que
além disso tinha qualquer coisa muito picante. Dei uma dentada e fiquei-me por
ali, com o ar divertido da miúda da loja e de outra que, do outro lado da mesa,
dava de mamar ao filho.
O mapa indicava
que a estrada iria melhorar mas, passados uns 60 Km cheguei a uma vila, junto a
um rio, em que as ruas eram todas em terra batida. Pus gasolina em mais uma
bomba manual ligada a um bidão e preparava-me para atravessar o rio de barco
quando um rapaz me indicou que já era muito tarde para passar para o outro lado
pois a estrada nessa outra margem estava em muito pior estado, com muita areia
solta e o percurso até à cidade mais próxima eram perto de cem quilómetros.
Decidi então ficar por ali a dormir, num pequeno “guest house” onde o banho é
tomado com uma tijela com que se recolhe água num tanque existente na casa de
banho e se entorna por cima. Soube-me bem depois de um dia muito suado.
Olá Francisco,
ResponderEliminarApesar de saber da sua viagem desde o início por uma conversa tida na Motobox numa altura que andava ponderar a compra de uma crosstourer, em finais de 2012 só hoje tive contacto com o seu blog, que foi minha companhia desde o início da tarde até ao momento que lhe escrevo esta nota, (1.45h) começo por lhe agradecer a partilha desta aventura com todos nós, que na esmagadora maioria apesar de impossibilitados de realizar tal proeza acabamos por viajar com o Francisco pela sua escrita que apesar de sucinta é de uma riqueza descritiva fantástica, confesso que aparte dos constrangimentos financeiros que uma viagem deste tipo comporta, penso não ser o maior obstáculo a ultrapassar, no meu caso e noutros tantos como o meu o maior obstáculo seria a força anímica e física para resistir a tantos contratempos sozinho, o Francisco comenta ao Great Lama que é um homem feliz, seguramente que o monge não teria dúvidas se lê-se o seu "diário" confesso que lhe tenho inveja (da branca que diz que acredita que é da boa), desejo-lhe a continuação de uma excelente viagem e gostava de no final poder ter o prazer de o ouvir contar de viva voz, que sabe se em Aviz onde viajamos um pouco com as histórias dos viajantes convidados, até lá continuarei a seguir a sua aventura com maior interesse.
Abraço
José Mocetão
E FSC não se esqueça de ir tirando fotos e por favor de as ir guardando, para que não as perca. Inclusive para que, se por acaso as tenha de apagar , como já teve de fazer no Irão tenha um back-up.
ResponderEliminarQuando pensa chegar ao Japão?
Bjs, boa viagem, Ana
Obrigado pelos seus comentários, João. Estou certo que mais cedo ou mais tarde irei lá a um desses encontros em Avis. Abraço
ResponderEliminarAna, tenho tirado imensas e agora vou guardando numa dropbox. A parte dos filmes é que tem corrido mal porque na Birmânia perdi a Go pro que levava porque o suporte se voltou a partir no mau piso. Como paro entre Fevereiro e Setembro só devo chegar ao Japão em 2015. Beijinhos