O Laos é um país
pobre. Com uma área de 240 Km2, pouco mais de duas vezes e meia o tamanho de
Portugal, tem apenas 6,5 milhões de habitantes, maioritariamente agricultores.
Um terço vive abaixo do nível classificado como de pobreza extrema, ou seja com
menos de um euro por dia. Foram colonizados pela França até 1953 e em 75 da
guerra civil resultou um regime comunista.
Mais de 90% da
população é budista.
Deixei o Hotel
pelas nove da manhã, rumo a sul e à capital, Vientiane. Tinha pensado passar
numas quedas de água que havia perto mas a quantidade de turistas na cidade
assustou-me e decidi fugir. Na noite anterior tinha saído para jantar e, na rua
por trás do Hotel, estava montada uma feira de artesanato com centenas de
turistas a acotovelarem-se pelas estreitas passagens. Um pavor.
Tinha percorrido
menos de cem quilómetros numa estrada de montanha de piso razoável quando
encontrei um miúdo alemão, que viajava de bicicleta, a remendar um furo na
berma da estrada. Parei para perguntar se precisava de ajuda e ficamos à
conversa. Tinha estado a percorrer a América do Sul de bicicleta com a namorada
mas no Chile zangaram-se e partiu cada um para seu lado. Ele apanhou um avião
para Bangkok com a bicicleta e andava por estas bandas há um mês. Contou-me que
regressava a Bangkok para voltar para a Alemanha ter com a namorada de quem
tinha saudades. Tinha posto “o pé na argola” com outras miúdas mas estava
arrependido. O amor é lindo.
Estávamos nesta
conversa quando parou um casal de Lituanos numa Suzuki por quem tinha passado
há umas dezenas de quilómetros. Iam a caminho da Austrália e tinham embarcado a
moto num avião do Nepal para Bangkok. Juntaram-se à conversa enquanto o alemão
reparava calmamente o furo e por ali ficamos perto de uma hora. Trocamos e
mails, despedimo-nos e partimos a três ritmos muito diferentes.
Estava a uns 80
Km de Vientiane quando vi um letreiro a indicar uma “Eco Village”, dez
quilômetros fora da estrada principal. Como eram quase cinco da tarde resolvi
espreitar. Era um “resort” espetacular com os quartos em cabanas montadas sobre
estacas, no meio da floresta, junto a um rio onde ao fim da tarde e pela manhã
pescadores passavam nos seus estreitos barcos movidos através de uma longa
estaca que espetavam no leito do rio. A zona de recepção/restaurante, também em madeira,
estava muito bem decorada com uma organizada coleção de borboletas e outros
insectos, recolhidos na zona. Em frascos, as várias espécies de cobras.
Era o único hóspede
do empreendimento e jantei à luz das velas naquele terraço sobrelevado
debruçado sobre o rio no meio de densa floresta.
Deitei-me cedo e,
pelas oito e meia saí, depois de um excelente pequeno almoço, a caminho de Vientiane.
Na capital sentimos que ainda estão espantados com a chegada dos turistas e,
talvez até, pouco preparados para os explorarem. Entramos em qualquer templo
sem guardas, bilhetes ou perguntas e só
o Palácio Presidencial, muito ao estilo dos velhos colonizadores franceses, está
vedado a curiosos.
Ao deixar a
cidade enganei-me na estrada a seguir. Tinha rodado uns 80 Km quando dei pelo
erro. Para não voltar atrás cortei caminho por uma estrada de terra. Pensei que
teria uma dúzia de quilômetros pela frente naquele tipo de piso mas afinal
percorri perto de cem nesta ligação. Ao parar perto de uma aldeia para tirar
umas fotografias umas mulheres que estavam debaixo de um toldo a vender legumes
chamaram-me e convidaram-me para almoçar. Comi uma espécie de esparguete
caseiro num molho muito picante que colocávamos em cima de folhas de alface.
Estava óptimo mas uma delas, vendo-me a suar com o picante que aquilo estava,
riu-se e foi a casa buscar um copo de água para apagar o fogo na minha língua.
Nenhuma falava uma palavra de Inglês mas divertiram-se com o meu ar de “tótó”.
Segui viagem rumo
a sul, a caminho do Cambodja. O piso da estrada de terra era bom e podia rodar
em quarta a cerca de 70 Km/h mas, de repente, uma zona de buracos inesperada
fez com que a mala do lado esquerdo, que já tinha o suporte inferior partido,
resultado de um dos “estoiros” da Índia, saltasse do sítio, começando a roçar na roda. O barulho parecia o
de um furo. Parei disposto a repará-lo mas, felizmente foi só preciso voltar a
colocar a mala no seu suporte. Acabei por ficar numa pequena cidade de província,
num Hotel junto ao rio Mekong, que separa o Laos da Tailândia. Aqui há poucos
turistas. O gerente do Hotel avisou-me que a música do Karaoke local estaria a
tocar, junto ao Hotel, até às três da manhã. À noite, quando estava junto da
recepção a apanhar o sinal de internet, veio perguntar-me se queria que a
menina da recepção passasse a noite comigo por 40 euros. Disse-lhe que não e
propôs 25.
Eheh, isso é lá coisa que se escreva! !
ResponderEliminarMas agora tudo parece mais civilizado. Bom hotel, boas refeições, melhor estradas e só por esses encontros inusitados parece valer a pena.
Há de facto muitos aventureiros pelo mundo de diferentes idades e nacionalidades. Á procura de quê? Parece-me muitas vezes à procura deles próprios mas para isso não precisavam de ir tão longe.
Boa viagem.
Ana
O primeiro "pulo da cerca".... e ela aceitou os 25€?
ResponderEliminarOlha que mesmo assim, é caro...só se fosse algum avião.......eheheheheh
abraço
bernardo