22 de fevereiro de 2014

Laos 2




O Laos é um país pobre. Com uma área de 240 Km2, pouco mais de duas vezes e meia o tamanho de Portugal, tem apenas 6,5 milhões de habitantes, maioritariamente agricultores. Um terço vive abaixo do nível classificado como de pobreza extrema, ou seja com menos de um euro por dia. Foram colonizados pela França até 1953 e em 75 da guerra civil resultou um regime comunista.
Mais de 90% da população é budista.
Deixei o Hotel pelas nove da manhã, rumo a sul e à capital, Vientiane. Tinha pensado passar numas quedas de água que havia perto mas a quantidade de turistas na cidade assustou-me e decidi fugir. Na noite anterior tinha saído para jantar e, na rua por trás do Hotel, estava montada uma feira de artesanato com centenas de turistas a acotovelarem-se pelas estreitas passagens. Um pavor.
Tinha percorrido menos de cem quilómetros numa estrada de montanha de piso razoável quando encontrei um miúdo alemão, que viajava de bicicleta, a remendar um furo na berma da estrada. Parei para perguntar se precisava de ajuda e ficamos à conversa. Tinha estado a percorrer a América do Sul de bicicleta com a namorada mas no Chile zangaram-se e partiu cada um para seu lado. Ele apanhou um avião para Bangkok com a bicicleta e andava por estas bandas há um mês. Contou-me que regressava a Bangkok para voltar para a Alemanha ter com a namorada de quem tinha saudades. Tinha posto “o pé na argola” com outras miúdas mas estava arrependido. O amor é lindo.
Estávamos nesta conversa quando parou um casal de Lituanos numa Suzuki por quem tinha passado há umas dezenas de quilómetros. Iam a caminho da Austrália e tinham embarcado a moto num avião do Nepal para Bangkok. Juntaram-se à conversa enquanto o alemão reparava calmamente o furo e por ali ficamos perto de uma hora. Trocamos e mails, despedimo-nos e partimos a três ritmos muito diferentes.
Estava a uns 80 Km de Vientiane quando vi um letreiro a indicar uma “Eco Village”, dez quilômetros fora da estrada principal. Como eram quase cinco da tarde resolvi espreitar. Era um “resort” espetacular com os quartos em cabanas montadas sobre estacas, no meio da floresta, junto a um rio onde ao fim da tarde e pela manhã pescadores passavam nos seus estreitos barcos movidos através de uma longa estaca que espetavam no leito do rio. A  zona de recepção/restaurante, também em madeira, estava muito bem decorada com uma organizada coleção de borboletas e outros insectos, recolhidos na zona. Em frascos, as várias espécies de cobras.
Era o único hóspede do empreendimento e jantei à luz das velas naquele terraço sobrelevado debruçado sobre o rio no meio de densa floresta.
Deitei-me cedo e, pelas oito e meia saí, depois de um excelente pequeno almoço, a caminho de Vientiane. Na capital sentimos que ainda estão espantados com a chegada dos turistas e, talvez até, pouco preparados para os explorarem. Entramos em qualquer templo sem guardas, bilhetes  ou perguntas e só o Palácio Presidencial, muito ao estilo dos velhos colonizadores franceses, está vedado a curiosos.
Ao deixar a cidade enganei-me na estrada a seguir. Tinha rodado uns 80 Km quando dei pelo erro. Para não voltar atrás cortei caminho por uma estrada de terra. Pensei que teria uma dúzia de quilômetros pela frente naquele tipo de piso mas afinal percorri perto de cem nesta ligação. Ao parar perto de uma aldeia para tirar umas fotografias umas mulheres que estavam debaixo de um toldo a vender legumes chamaram-me e convidaram-me para almoçar. Comi uma espécie de esparguete caseiro num molho muito picante que colocávamos em cima de folhas de alface. Estava óptimo mas uma delas, vendo-me a suar com o picante que aquilo estava, riu-se e foi a casa buscar um copo de água para apagar o fogo na minha língua. Nenhuma falava uma palavra de Inglês mas divertiram-se com o meu ar de “tótó”.
Segui viagem rumo a sul, a caminho do Cambodja. O piso da estrada de terra era bom e podia rodar em quarta a cerca de 70 Km/h mas, de repente, uma zona de buracos inesperada fez com que a mala do lado esquerdo, que já tinha o suporte inferior partido, resultado de um dos “estoiros” da Índia, saltasse do sítio,  começando a roçar na roda. O barulho parecia o de um furo. Parei disposto a repará-lo mas, felizmente foi só preciso voltar a colocar a mala no seu suporte. Acabei por ficar numa pequena cidade de província, num Hotel junto ao rio Mekong, que separa o Laos da Tailândia. Aqui há poucos turistas. O gerente do Hotel avisou-me que a música do Karaoke local estaria a tocar, junto ao Hotel, até às três da manhã. À noite, quando estava junto da recepção a apanhar o sinal de internet, veio perguntar-me se queria que a menina da recepção passasse a noite comigo por 40 euros. Disse-lhe que não e propôs 25.

2 comentários:

  1. Eheh, isso é lá coisa que se escreva! !

    Mas agora tudo parece mais civilizado. Bom hotel, boas refeições, melhor estradas e só por esses encontros inusitados parece valer a pena.

    Há de facto muitos aventureiros pelo mundo de diferentes idades e nacionalidades. Á procura de quê? Parece-me muitas vezes à procura deles próprios mas para isso não precisavam de ir tão longe.

    Boa viagem.
    Ana

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  2. O primeiro "pulo da cerca".... e ela aceitou os 25€?
    Olha que mesmo assim, é caro...só se fosse algum avião.......eheheheheh
    abraço
    bernardo

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