6 de fevereiro de 2014

Nagaon




Os meus amigos da noite anterior tinha-me aconselhado, a caminho da próxima província, a visitar uma reserva de animais que havia a uns cem quilómetros dali na direção que eu deveria seguir mas, como representava um percurso maior e eu queria chegar perto da fronteira do estado de Manipur nesse dia, decidi não fazer essa escala e seguir o caminho mais curto.
A razão é que, naquela zona, a província de Manipur, talvez por ser a mais afastada da verdadeira Índia e junto à mais oriental Myanmar, é onde tem havido mais problemas. Ali já não se vêm quase nenhuns Indianos, como os conhecemos, e os partidos independentistas criam muitos conflitos com as autoridades, com bombas em redor da capital do distrito, além de assaltos nas estradas  por homens armados, às vezes a todos os passageiros de autocarros. Contam-me que, por vezes, depois de assaltarem os passageiros, passam recibos como “colaborações para a causa revolucionária”. Por tudo isso, para passar mais despercebido, achei que seria melhor ficar a dormir numa cidade antes de entrar na província, para depois a atravessar de uma só vez, com o menos paragens possíveis, para que não dessem muito pela minha presença.
Ali não se brinca às guerras e raptarem um turista ocidental pode ser uma boa forma de alertar o mundo para a sua causa.
A estrada a caminho de Kohima, a cidade perto da fronteira com a província de Manipur, era primeiro uma auto estrada de bom piso para depois passar para uns 150 Km de serra em piso razoável e a acabar em cem quilómetros muito difíceis, com parte do percurso com zonas de terra batida em muito mau estado. Quando estava a uns 30 Km da cidade, numa estrada de terra com muita pedra solta acabei por cair. Não rodava a mais de 40 Km/h e mais uma vez não me magoei mas voltei a partir a maneta de embraiagem e a mala esquerda ficou entalada numa posição em que roçava no pneu. Dois homens que seguiam numa camioneta de transporte de vacas pararam para me ajudar a levantar a moto e arranquei, com a maneta reduzida a um terço até uma bomba de gasolina dois ou três quilómetros à frente. Ali tentei soltar a mala da posição em que ficara, sem sucesso. Ficou entretanto noite e tive que arrancar para a cidade. Um homem equipado a rigor numa impecável Royal Enfield recomendou-me que atestasse ali o depósito pois a gasolina em Manipur é muitas vezes adulterada. Assim o fiz e arranquei noite dentro pela esburacada estrada de montanha, com a mala a roçar no pneu. Às tantas comecei a sentir a moto a fugir muito e pensei que tinha um furo. Parei para verificar mas o pneu estava bom. Só quando voltei a partir reparei que ao longo da estrada estava um risco de gasóleo com uns dois metros de largura. Arranquei evitando o mais possível pisá-lo para, uns quilómetros à frente, encontrar a origem do problema: um camião auto tanque espalhava litros e litros de gasóleo que saíam pela parte superior do tanque.
Finalmente chegado ao Hotel pedi um pé de cabra com o qual consegui soltar a mala da posição em que estava e que levou a que o pneu tivesse aberto um buraco no alumínio. Para além disso troquei a maneta de embraiagem por uma com a ponta soldada, proveniente de uma reparação feita na Índia.

2 comentários:

  1. Ainda bem que não se aleijou!
    Honda sofre, coitada da moto...
    Ana

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  2. Se não fossem esses pequenos percalços a viagem também não tinha tanta emoção e histórias para nos contar. Boa viagem
    Helder Galante

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