Os meus amigos da
noite anterior tinha-me aconselhado, a caminho da próxima província, a visitar
uma reserva de animais que havia a uns cem quilómetros dali na direção que eu
deveria seguir mas, como representava um percurso maior e eu queria chegar
perto da fronteira do estado de Manipur nesse dia, decidi não fazer essa escala
e seguir o caminho mais curto.
A razão é que,
naquela zona, a província de Manipur, talvez por ser a mais afastada da
verdadeira Índia e junto à mais oriental Myanmar, é onde tem havido mais
problemas. Ali já não se vêm quase nenhuns Indianos, como os conhecemos, e os
partidos independentistas criam muitos conflitos com as autoridades, com bombas
em redor da capital do distrito, além de assaltos nas estradas por homens armados, às vezes a todos os
passageiros de autocarros. Contam-me que, por vezes, depois de assaltarem os
passageiros, passam recibos como “colaborações para a causa revolucionária”. Por
tudo isso, para passar mais despercebido, achei que seria melhor ficar a dormir
numa cidade antes de entrar na província, para depois a atravessar de uma só
vez, com o menos paragens possíveis, para que não dessem muito pela minha
presença.
Ali não se brinca
às guerras e raptarem um turista ocidental pode ser uma boa forma de alertar o
mundo para a sua causa.
A estrada a
caminho de Kohima, a cidade perto da fronteira com a província de Manipur, era
primeiro uma auto estrada de bom piso para depois passar para uns 150 Km de serra
em piso razoável e a acabar em cem quilómetros muito difíceis, com parte do
percurso com zonas de terra batida em muito mau estado. Quando estava a uns 30
Km da cidade, numa estrada de terra com muita pedra solta acabei por cair. Não
rodava a mais de 40 Km/h e mais uma vez não me magoei mas voltei a partir a
maneta de embraiagem e a mala esquerda ficou entalada numa posição em que
roçava no pneu. Dois homens que seguiam numa camioneta de transporte de vacas
pararam para me ajudar a levantar a moto e arranquei, com a maneta reduzida a
um terço até uma bomba de gasolina dois ou três quilómetros à frente. Ali
tentei soltar a mala da posição em que ficara, sem sucesso. Ficou entretanto
noite e tive que arrancar para a cidade. Um homem equipado a rigor numa
impecável Royal Enfield recomendou-me que atestasse ali o depósito pois a
gasolina em Manipur é muitas vezes adulterada. Assim o fiz e arranquei noite
dentro pela esburacada estrada de montanha, com a mala a roçar no pneu. Às
tantas comecei a sentir a moto a fugir muito e pensei que tinha um furo. Parei
para verificar mas o pneu estava bom. Só quando voltei a partir reparei que ao
longo da estrada estava um risco de gasóleo com uns dois metros de largura.
Arranquei evitando o mais possível pisá-lo para, uns quilómetros à frente,
encontrar a origem do problema: um camião auto tanque espalhava litros e litros
de gasóleo que saíam pela parte superior do tanque.
Finalmente
chegado ao Hotel pedi um pé de cabra com o qual consegui soltar a mala da
posição em que estava e que levou a que o pneu tivesse aberto um buraco no
alumínio. Para além disso troquei a maneta de embraiagem por uma com a ponta
soldada, proveniente de uma reparação feita na Índia.
Ainda bem que não se aleijou!
ResponderEliminarHonda sofre, coitada da moto...
Ana
Se não fossem esses pequenos percalços a viagem também não tinha tanta emoção e histórias para nos contar. Boa viagem
ResponderEliminarHelder Galante