Hoje decidi
voltar a fazer um esticão grande, percorrendo as etapas previstas para dois
dias num só, como forma de poupar nos custos astronômicos do aluguer do carro e
condutor que transportavam o guia.
Arranquei pelas
oito e meia da manhã por estradas esburacadas que se tornaram cada vez piores,
num percurso de mais de 500 Km onde, nalguns troços, não conseguia fazer médias
superiores a 30 Km/h. Para agravar a situação as duas ultimas horas já foram
feitas de noite. Cheguei a Keng Tung às oito da noite. Foram quase doze horas
em cima da moto com poucas e curtas paragens.
Na entrada da
cidade estava uma menina numa esplanada improvisada a vender espetadas diversas
com ótimo aspeto e ovos cozidos em que lhes tiram o interior, penso que com uma
seringa, fazem uma mistura com ervas aromáticas e injetam esse liquido de volta
na casca, só então cozendo o ovo. Excelentes.
Parei a moto e a
menina veio logo perguntar-me se não queria jantar. Sentei-me na mesa única
onde, do outro lado, a mãe cortava vegetais e pedi uma cerveja para acompanhar
aquelas maravilhosas espetadas. Passados uns minutos chegaram três amigas em
duas motos. Uma delas, giríssima, com um ar mais indiano que oriental, meteu
conversa. Ficámos por ali a beber mais umas cervejas. Estava na universidade
local a estudar física e a família vivia em Yangon, a antiga capital e
principal cidade do país.
Quando partimos,
para ela me mostrar onde havia um Hotel, perguntei-lhe se não queria vir na
minha moto. Aceitou, encantada. Perguntei se podia ir depressa, agarrou-se a
mim e respondeu: “sim, sim”.
-
Não
tem medo?
-
Não
Adorei aquela
miúda.
Pelas oito e meia
da manhã parti a caminho da fronteira. A estrada era fantástica, com um piso
bastante irregular mas larga e com curvas e contracurvas rápidas que me deram
imenso gozo. Ainda por cima, como em Myanmar as malas iam no carro do guia,
aliviando muito o peso, pude aproveitar a “Cross Tourer” ao máximo, embora
limitado pelos pneus de tacos que felizmente tinha montado na Índia e sem os
quais teria tido grandes problemas nos dias anteriores.
Embora o transito
em Myanmar seja reduzido, outro grande contraste com a Índia, temos que rodar
com cuidado pois aqui não há sinais de transito nem riscos de marcação no
alcatrão. Também não há limites de velocidade, ou de álcool no sangue mas são
todos bastante ordeiros e civilizados, acabando o problema maior por serem os
animais à solta na estrada, que passam por vacas, cães, porcos e muitas
galinhas. Para além disso por vezes apanhamos areia ou gasóleo entornado,
inesperadamente, a meio das curvas. Na etapa do dia anterior tinha feito três
“slides” em cima de gasóleo mas neste dia correu tudo sem sobressaltos.
Às dez e meia da
manhã estava no primeiro posto de fronteira, onde tive que esperar pelo guia
que só chegou uma hora depois.
Sentado a ler
numa cadeira que me estenderam reparei num budista que, debaixo dum telheiro em
colmo, estava a fazer massagens nas costas a outro. Como tenho tido problemas
de dores nas costas, que se têm vindo a agravar, fui ter com ele e pedi se me
fazia uma massagem. Fez-me pressão sobre os músculos da coluna, massajou,
carregou, esticou-me, apoiou os joelhos nas minhas costas e puxou-me com força
as omoplatas para trás. Gemi de dores mas, quando me levantei, parecia outro.
Senti-me vinte anos mais novo. Nunca ninguém me tinha feito uma massagem assim.
Miúdas adoráveis, massagens fantásticas. ... parece o paraíso ;)
ResponderEliminarBoa viagem, Ana
Ha, ha. Práticamente, Ana. Mas a vida no paraíso deve ser mais tranquila.
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