A vila
fronteiriça de Tachileik faz parte do famoso Triângulo Dourado, o ponto onde a
Myanmar se juntam o Laos e a Tailândia.
Ao contrario do
resto do país por onde andei, em que há muito pouco transito, ali vê-se enorme
quantidade de jipes e “pick-ups” novos e muitas mais motos, mesmo se todas
pequenas. Sente-se que há dinheiro a circular e cheira a “negócio ilícito”. Por
incrível que pareça a moeda que circula na cidade em tudo o que são negócios,
hotéis, restaurantes, etc., não é o Kyat birmanês mas o Baht tailandês.
Tinha combinado
com a senhora do ministério que tratou da minha autorização para atravessar o
país, que passaria de Myanmar para o Laos e não para a Tailândia. Ela concordou
mas disse que eu teria primeiro que ir junto à passagem para a Tailândia
carimbar o passaporte para então andar por outra estrada uns 20 Km, onde passaria
para o Laos.
Quando cheguei ao
local indicado não quis acreditar no que via. Depois de passar vários postos de
controlo uma pequena casa representava a fronteira de saída, junto a um rio que,
para ser atravessado, só tinha disponíveis pequenas e frágeis barcaças. Ali me
deixou o guia, entretanto acompanhado pelo chefe da polícia local, que veio
certificar-se que eu saía mesmo do país.
Sete ou oito
homens colocaram primeiro a moto, sem as malas, dentro de água, com esta a
chegar à parte de baixo dos escapes, içando-a depois a pulso para dentro de uma
das barcaças. Ouvi as madeiras do fundo da pequena embarcação estalarem, sob os 300 kg da Honda, e temi o
pior. Para além disso o fundo plano daquele objeto flutuante parecia-me
extremamente instável.
Um dos homens
sentou-se em cima da moto, com um pé em cada uma das bordas do mini barco e lá
puseram o motor de carro que o fazia navegar a trabalhar. Fiquei cheio de medo
ao vê-la partir comigo e as malas a seguirmos numa segunda barcaça. Imaginei
aquilo tudo a tombar e a “Cross Tourer” a falecer, afogada no Rio Mekong.
Felizmente chegou
sã e salva e rapidamente a descarregaram na margem oposta.
Subi a rampa de
chegada já montado na moto e com as malas nos seus sítios, depois de me
despedir dos barqueiros que regressaram a Myanmar.
Vi uma casa que
parecia ser a alfandega e estacionei à porta. Estava tudo deserto. Entrei e um
homem, em troco nu e descalço, via televisão deitado numa cama de campismo
colocada no meio da sala. Quando me viu deu um salto e, com um ar assustado
perguntou-me de onde vinha. Não queria acreditar que tivesse chegado de
Myanmar. Chamou o chefe que estava a dormir e apareceu a esfregar os olhos com
uma camisolinha de alças e havaianas nos pés. Perguntou-me o que ali fazia com ar de que nunca um estrangeiro por ali
passara e, quando lhe expliquei que tinha chegado de Myanmar numa barcaça,
disse-me que teria que voltar para trás pelo mesmo meio.
Expliquei-lhe que
isso seria impossível porque já não me autorizavam a regressar ao país. Depois
de muito insistir ligou a um superior que concordou com ele. Eu teria que
voltar para onde tinha vindo. Só aceitavam pessoas no Laos que viessem da
Tailândia e não de Myanmar. Insisti que não poderia regressar e sugeriu então
que deixasse a moto e o acompanhasse à outra margem para falarmos com a
alfandega de Myanmar.
Entretanto eram
perto das seis da tarde e eu só tinha tomado o pequeno almoço às sete e meia da
manhã. Perguntei se não tinham uma banana e um dos empregados foi lá dentro e
regressou com uma lata de conserva de peixe que me soube como caviar russo.
O chefe do posto
enfiou então um polo, umas calças e uns sapatos, de como quem vai à cidade, e
lá partimos os dois noutra barcaça, com o sol já a pôr-se, de volta ao local de
onde tinha partido uma hora antes.
Chegados à outra
margem, tal como eu previra, os guardas fronteiriços birmaneses não me
aceitaram de volta e gerou-se uma desconversa entre eles em que cada um dizia
que eu tinha que ir para o país do outro. Senti-me um apátrida indesejado e
sugeri que me abandonassem no meio do rio, numa jangada.
Depois de vários
telefonemas e de eu me recusar terminantemente a trazer a moto de volta de
noite , nas condições em que tinha ido, chegámos a um acordo. A moto ficaria no
Laos e eu em Myanmar para, no dia seguinte, atravessar para a Tailândia e dali
seguir para o Laos onde apanharia um táxi que me levasse ao pequeno posto do
porto, onde recolheria a moto.
Esta situação
gerou enorme confusão na cabeça dos responsáveis do ministério do Turismo
birmanês que mandaram regressar o meu guia e o seu motorista para me
acompanharem no dia a mais que eu teria que passar em Myanmar.
Mas que confusão que para aí vai!!
ResponderEliminarAcham que tem cara de terrorista? E como vai conseguindo net?
Estou mesmo curiosa para ver como segue esta fantástica viagem.
Boa viagem, Ana
Já que regressou a Myanmar, bem pode pedir outra massagem ao budista, porque essa burocracia é massacrante! Boa viagem!
ResponderEliminar