Depois daquela
confusão sobre onde haviam de me largar, ao ser escorraçado tanto do Laos como
de Myanmar, acabei por passar a noite num pequeno Hotel do lado de Myanmar,
junto à fronteira com a Tailândia, na zona do chamado triângulo dourado. Comigo
não tinha mais do que aquilo que trazia vestido, ou seja o fato da moto. Tomei
um duche, dormi e no dia seguinte voltei a vestir o fato com a mesma roupa
interior, entretanto com o suor já seco.
O meu guia, que
já ia a caminho de casa, recebeu ordens governamentais para regressar ao meu
encontro e acompanhar-me naquele dia extra que eu passaria em Myanmar. Pelas
dez da manhã parti no carro do guia até à fronteira com a Tailândia. Tinham
cancelado a minha saída do país pelo que tiveram que voltar a carimbar o
passaporte. O guia e o seu motorista não só passaram a fronteira comigo como me
levaram até ao “tuc-tuc”, uma espécie de “pick-ups” com bancos na parte de trás
que fazem os transportes locais, que me levaria até à fronteira com o Laos, uns
20 Km mais a Sul, junto à margem do rio Mekong, que separa os dois países. Na
parte de trás da “pick-up”, adaptada com dois bancos corridos, já dormia uma
senhora gorda que, estendida no banco esquerdo o ocupava por completo. Esperei
uma meia hora pela hora de partida, tipo camioneta de carreira, no outro banco
e acabou por chegar mais uma cliente, vestida com muitos folhos e cheiro a
perfume barato. Chegado à fronteira não havia mais ninguém para atravessar para
o Laos pelo que tive que alugar um barco só para mim. Do outro lado do rio a
alfandega estava deserta e quando, depois de tratar do visto e carimbar o
passaporte saí para a rua, não haviam nem táxis nem qualquer outro transporte.
Convenci o condutor do único carro estacionado no local a levar-me ao posto,
junto ao rio, onde tinha deixado a moto. Pelas quatro da tarde estava outra vez
montado na “Cross Tourer”.
Não tinha a
mínima ideia do que iria encontrar no Laos. Se as estradas eram ainda piores
que as de Myanmar, se haveria hotéis ou pensões onde ficar naquela parte
recôndita do país, etc.
Pus 7 litros de
gasolina com o dinheiro que me restava em Bahts Tailandesas, aceites como
pagamento sem problema no Laos, e parti em direção à vila mais próxima, Huay
Xai, a pouco mais de quarenta quilómetros de distancia. Quando lá cheguei
fiquei surpreendido ao ver muitos turistas ocidentais e uma vila visivelmente
virada para a sua exploração. Passei por um restaurante onde assavam pato num
churrasco cá fora e parei para o meu habitual almoço/jantar. Eram umas cinco da
tarde. Estava a devorar o meu pato, acompanhado de uma cerveja local, servida
em garrafas de mais de meio litro e por acaso bem boas, quando um casal de
Belgas ao ver a moto, pediu para se sentar na minha mesa. Costumavam viajar de
moto, cada um na sua, mas agora tinham as motos no Canadá, para em breve irem
até ao Alasca, e ali tinham alugado umas bicicletas para darem uma volta pelo
Laos. Não queriam acreditar que eu tivesse conseguido atravessar Myanmar e
diziam que, se isso constasse nos blogs de viagens, o mau mail iria ser
invadido por perguntas sobre como fazer para o conseguir, pois nunca o governo
de Myanmar tinha dado autorização antes para alguém atravessar o país por
estrada.
Para descansar
dos movimentados últimos dias decidi ficar por ali mais um dia, instalei-me no
Hotel que os Belgas me indicaram e aproveitei para, no dia seguinte, fazer uma
revisão à moto que sentia estar a perder potencia para além de custar mais a
pegar. Quando abri a tampa do filtro de ar percebi a razão. Embora tivesse sido
substituído em Delhi, há cerca de 7.500 Km atrás, estava totalmente bloqueado,
com sujidade e areia. Por sorte tinha um
suplente comigo.
Depois do dia de
descanso arranquei a caminho de Luang Prabang, onde tinha combinado
encontrar-me com uma amiga mexicana que tinha conhecido dois meses antes em Goa.
No primeiro dia fui até Luang Namtha e a qualidade das estradas impressionou-me
pelo bom asfalto, marcações e sinais de transito, algo que não via há muito. A
estrada de montanha era fabulosa e deu-me imenso gozo faze-la, com a qualidade
do piso a permitir-me inclinações da moto que há muito não experimentava.
Pensei que, se calhar, as estradas no Laos eram todas assim. No dia seguinte
acabaram as minhas ilusões. O piso da estrada entre as duas cidades era não só
muito mau como algumas partes do percurso eram em terra batida, esburacada. Na
estrada comecei a ver mais turistas mas desta vez eram Tailandeses que ali
fazem férias de carro. Passeiam-se em caravana onde cada um dos recentes jipes
tem um numero e seguem em fila por ordem numérica em grupos de cerca de dez
carros. Param todos juntos para almoçar em restaurantes marcados para depois
seguirem na sua excursão, delineada ao pormenor.
Luang Prabang é
uma cidade fantástica, atravessada por dois rios, com “Guest Houses” típicas
bem decoradas e muitos templos bem conservados. Junto a um dos rios os restaurantes
sobre a margem são uma das atrações enquanto à noite uma feira de produtos
artesanais muito animada enche as ruas de turistas ocidentais.
Não via o Laos
tão virado ao turismo. Os habitantes ainda estão meio aparvalhados com a
chegada destes forasteiros e tentam extrair-lhes o mais que podem. O Hotel onde
fiquei, em que o rapaz me pediu o equivalente a 15 euros pela noite às duas da
tarde, pelas seis, com apenas um quarto disponível, já o ouvi propor a uma
alemã por 35 euros.
Ora bem, parece tudo mais composto. Agora é recuperar desse tratamento ao corpo e à moto e continuar. Não se ponha a perder tempo por aí ...
ResponderEliminarE a seguir? Vai a Vienciana? E depois Vietname ou China?
Boa viagem
" Não queriam acreditar que eu tivesse conseguido atravessar Myanmar...
ResponderEliminarpois, não conhecem o habitual desenrascanço português.
Desta já te safaste, foram só complicações que esperemos não se repitam
Continua a boa viagem
abraço
bernardo
Nem Vietnam nem China, Ana. No Vietnam não deixam entrar motos com mais de 150 c.c. e na China queriam que eu andasse com um guia num carro a acompanhar.
ResponderEliminarDo Laos sigo para o Cambodja e Tailandia. Beijinhos
Cá estou para seguir. Bjs
ResponderEliminarAna