Finalmente, pelas
dez da noite, alcatrão, primeiro em muito mau estado e depois um pouco melhor.
Parei num restaurante de beira de estrada onde o dono me ofereceu uma garrafa
de água e uns bolos, mesmo depois de lhe explicar que não tinha um tostão. As
pernas estavam fracas depois de rodar horas em pé na moto, a única maneira de
enfrentar aquelas estradas de terra tão esburacadas. Já me doíam joelhos e
costas.
Voltei à estrada
com a gasolina a chegar à reserva. Há mais de 300 Km que não passava por uma
bomba. Finalmente encontrei uma. Tinha uma única bomba com que os rapazes se
preparavam para me atestar o depósito. Decidi cheirar a mangueira antes de
abastecer. Era Diesel. Antes tinha convencido o responsável, através de muita
mímica, a pagar em dólares e receber o troco em moeda local, visto que ninguém
falava uma palavra de Inglês.
Quando lhes
expliquei que precisava era de gasolina mostraram-me umas garrafas plásticas de
água de litro, atestadas com um liquido encarniçado. Cheirava a gasolina de
maneira que, pedi desculpa à “Cross Tourer” e enfiei-lhe com sete litros do
produto no bucho. Queixou-se, como de costume quando lhe dou deste tipo de zurrapa
para beber, através de um grilar preocupante, mas não teve outro remédio senão “mamá-la”.
Entretanto
passara por uma série de “check points” com cancelas abertas onde não me
mandaram parar. Soube depois que foi porque sabiam que eu iria passar. No dia
seguinte o meu guia, que seguia de jipe com o motorista, meia dúzia de horas
atrás, sabia não só que eu tinha chegado a Mandalay às onze e meia da noite
como a hora a que tinha passado em cada vila. Só não sabia em que Hotel eu
ficara a dormir. Ficou em pânico, com medo de ser despedido, quando explicou à
responsável do ministério que acompanhava a minha viagem quase ao minuto via
telemóvel, que não sabia onde eu estava.
Quando lhe liguei
às nove da manhã disse que estaria à porta do meu Hotel dentro de meia hora,
mesmo depois de uma noite praticamente em branco e apareceu com o Chefe do
Ministério do Turismo local e um carro da polícia a acompanhá-los. Passaram-me
a senhora do ministério ao telefone que me pediu por tudo para me manter em
contacto com o guia, que tinham ficado muito preocupados e que se sentiam
responsáveis se alguma coisa me acontecesse, quais professores de colégio
interno.
Disse-lhe estar
fora de questão eu rodar junto com o carro do guia e não teve outro remédio
senão aceitar, prometendo eu ligar para o guia no final de cada dia a dizer
onde ficava a dormir.
Ainda em Mandalay
quis ir à procura de um carregador para o meu computador e visitar um amigo que
tinha conhecido através da Internet e que organiza uns passeios com motos
locais em Myanmar, ou seja 125’s. O Zach
é muito simpático e deu-me imensas informações sobre o funcionamento do país,
confirmando-me que eu tinha sido o primeiro a ter tido autorização para o
atravessar num veículo próprio o que o espantou porque me contou que nem ele
tem licença para atravessar as zonas onde eu iria passar. Pedi-lhe desculpa por
aparecer com aquela comitiva ridícula e despedi-me já perto do meio dia. Parti,
finalmente para o próximo destino e, como tinha feito aquele esticão do dia
anterior, que o ministério tinha previsto eu percorrer em dois dias, decidi
parar antes de anoitecer, na cidade de Taunggyi.
A população de
Myanmar é simpatiquíssima, principalmente as mulheres que parecem ser em maior
numero que os homens e, principalmente na província, ficam fascinadas por ver
um estrangeiro. Riem-se, dizem adeus e, quando podem, metem conversa. Uma
atitude radicalmente oposta à das Indianas que, devido talvez à sua cultura de
subservencia, têm medo de falar com estranhos.
Nesta noite em
Taunggyi acabei por ir jantar a um
restaurante Chinês, o único aberto perto das nove da noite. Na mesa ao lado
estavam duas miúdas tailandesas e duas birmanesas, todas giríssimas. Enquanto
eu lia o livro que trazia, à espera do jantar, as birmanesas não paravam de se
rir para mim enquanto faziam comentários com as amigas. Às tantas convidaram-me
para me mudar para a mesa delas e ofereceram-me o jantar. Bebemos vinho e
cerveja a noite fora e acabámos numa sessão fotográfica de volta da moto na
garagem do Hotel. Muito animado.
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