10 de fevereiro de 2014

Manipur




Entrei em Manipur pelas 10,30 da manhã. Eles têm uma espécie de posto fronteiriço mas, tal como tinha feito em Nagaland, no dia anterior, nos dois ou três “check points” por onde passei, apanhei os guardas distraídos e, antes que tivessem tempo de me mandar parar ... ala que se faz tarde. O problema é que por vezes ficam a fazer-nos interrogatórios durante horas e corria até o risco de me mandarem para trás.
Esta província Indiana no extremo oriental do país, cuja capital é Imphal, tem mais de 2,5 milhões de habitantes que falam, uma língua própria, o manipuri. A população é formada por uma enorme variedade de tribos, todas elas com traços fisiológicos mais orientais que indianos.
Há décadas que vários grupos pedem que a província se torne independente da república Indiana. Um dos problemas é que cada grupo pretende instalar o seu regime que a maior parte das vezes não coincide com o dos adversários.
O ambiente é tenso.
Na estrada até Imphal, os jipes que passam por mim ostentam quase todos enormes bandeiras de diferentes partidos, todos eles contra a presença indiana em Manipur. Tinham-me avisado para não fazer esta estrada de noite, de forma nenhuma, pois há muitos assaltos por homens armados.
A estrada é de montanha, esburacada, e volta a ter partes que não estão alcatroadas de maneira que as médias são muito baixas. Para chegar a Moreh, a vila fronteiriça, antes de anoitecer, não podia perder muito tempo com os “check points” mas, a partir de Imphal foi impossível evitá-los. Ainda passei o primeiro à “sucapa” mas dois ou três quilómetros depois militares mandaram-me parar no meio da serra. Tinham sido informados que eu passara o “check point” sem parar. Foram simpáticos, recomendaram que parasse nos próximos e mandaram-me seguir. A partir daí fui mandado parar mais umas três ou quatro vezes e, de cada uma, pediram-me passaporte, verificaram vistos e revistaram a bagagem. Nesta estrada de Imphal até à fronteira, muito controlada por militares indianos, já não aparecem as bandeiras nos jipes. Vemos antes carros e camiões carregados com mercadoria trazida de Myanmar a arrastarem-se nas subidas e a deixarem um rasto de cheiro a Ferodo queimado nas descidas. As transmissões  são um dos órgãos que sofre nas subidas acentuadas devido ao peso que levam e passei por um camião ao qual já tinham desmontado o diferencial, pousado no alcatrão, com os passageiros a esperarem calmamente na berma da estrada que a reparação ficasse concluída.
Cheguei a Moreh pelas quatro e meia da tarde, escapando a noite por meia hora. É uma vila pobre, com a maioria das casas em madeira com telhados de zinco muito degradadas. Fui até à fronteira mas tinha fechado às quatro. Recomendaram-me o único Hotel em que os quartos tinham casa de banho, mesmo sendo do estilo sujo a que estou habituado.
Jantei numa tasca em frente do Hotel a habitual galinha com arroz e deitei-me cedo porque aqui, ao contrário do que acontece no resto da Índia, fecha tudo às oito da noite.
No dia seguinte, pelas 8,30 da manhã estava na parte indiana da fronteira. O oficial de serviço informou-me que, mesmo eu tendo o visto para Myanmar, não me carimbavam o passaporte para sair da Índia sem autorização dos Birmaneses. Fui então à pendura numa pequena moto com um empregado da alfandega até ao outro lado da fronteira falar com o oficial de serviço. Antes de atravessar a estreita ponte sobre o rio que aqui separa os dois países, o homem passou do lado esquerdo para o lado direito da estrada e só então soube que iria voltar a circular pela direita, depois de andar do lado “errado” desde que entrei no Irão, cinco países atrás.
O oficial Birmanês disse não ter autorização para que eu entrasse de maneira que tive que regressar à vila  e tentar enviar um mail para o meu contacto em Myanmar.
Voltei a instalar-me no Hotel onde, do outro lado da rua, numa barraca podre, havia uma espécie de Internet Café que funcionava durante as poucas horas em que havia eletricidade no local.

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