Entrei em Manipur
pelas 10,30 da manhã. Eles têm uma espécie de posto fronteiriço mas, tal como
tinha feito em Nagaland, no dia anterior, nos dois ou três “check points” por
onde passei, apanhei os guardas distraídos e, antes que tivessem tempo de me
mandar parar ... ala que se faz tarde. O problema é que por vezes ficam a
fazer-nos interrogatórios durante horas e corria até o risco de me mandarem
para trás.
Esta província
Indiana no extremo oriental do país, cuja capital é Imphal, tem mais de 2,5 milhões
de habitantes que falam, uma língua própria, o manipuri. A população é formada
por uma enorme variedade de tribos, todas elas com traços fisiológicos mais
orientais que indianos.
Há décadas que
vários grupos pedem que a província se torne independente da república Indiana.
Um dos problemas é que cada grupo pretende instalar o seu regime que a maior
parte das vezes não coincide com o dos adversários.
O ambiente é
tenso.
Na estrada até
Imphal, os jipes que passam por mim ostentam quase todos enormes bandeiras de
diferentes partidos, todos eles contra a presença indiana em Manipur. Tinham-me
avisado para não fazer esta estrada de noite, de forma nenhuma, pois há muitos
assaltos por homens armados.
A estrada é de
montanha, esburacada, e volta a ter partes que não estão alcatroadas de maneira
que as médias são muito baixas. Para chegar a Moreh, a vila fronteiriça, antes
de anoitecer, não podia perder muito tempo com os “check points” mas, a partir
de Imphal foi impossível evitá-los. Ainda passei o primeiro à “sucapa” mas dois
ou três quilómetros depois militares mandaram-me parar no meio da serra. Tinham
sido informados que eu passara o “check point” sem parar. Foram simpáticos,
recomendaram que parasse nos próximos e mandaram-me seguir. A partir daí fui mandado
parar mais umas três ou quatro vezes e, de cada uma, pediram-me passaporte,
verificaram vistos e revistaram a bagagem. Nesta estrada de Imphal até à
fronteira, muito controlada por militares indianos, já não aparecem as
bandeiras nos jipes. Vemos antes carros e camiões carregados com mercadoria
trazida de Myanmar a arrastarem-se nas subidas e a deixarem um rasto de cheiro
a Ferodo queimado nas descidas. As transmissões são um dos órgãos que sofre nas subidas
acentuadas devido ao peso que levam e passei por um camião ao qual já tinham
desmontado o diferencial, pousado no alcatrão, com os passageiros a esperarem
calmamente na berma da estrada que a reparação ficasse concluída.
Cheguei a Moreh
pelas quatro e meia da tarde, escapando a noite por meia hora. É uma vila
pobre, com a maioria das casas em madeira com telhados de zinco muito
degradadas. Fui até à fronteira mas tinha fechado às quatro. Recomendaram-me o
único Hotel em que os quartos tinham casa de banho, mesmo sendo do estilo sujo
a que estou habituado.
Jantei numa tasca
em frente do Hotel a habitual galinha com arroz e deitei-me cedo porque aqui,
ao contrário do que acontece no resto da Índia, fecha tudo às oito da noite.
No dia seguinte,
pelas 8,30 da manhã estava na parte indiana da fronteira. O oficial de serviço
informou-me que, mesmo eu tendo o visto para Myanmar, não me carimbavam o
passaporte para sair da Índia sem autorização dos Birmaneses. Fui então à
pendura numa pequena moto com um empregado da alfandega até ao outro lado da
fronteira falar com o oficial de serviço. Antes de atravessar a estreita ponte
sobre o rio que aqui separa os dois países, o homem passou do lado esquerdo
para o lado direito da estrada e só então soube que iria voltar a circular pela
direita, depois de andar do lado “errado” desde que entrei no Irão, cinco
países atrás.
O oficial
Birmanês disse não ter autorização para que eu entrasse de maneira que tive que
regressar à vila e tentar enviar um mail
para o meu contacto em Myanmar.
Voltei a
instalar-me no Hotel onde, do outro lado da rua, numa barraca podre, havia uma
espécie de Internet Café que funcionava durante as poucas horas em que havia
eletricidade no local.
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