5 de abril de 2019

Luanda




A partir de Porto Amboim a estrada até Luanda já está em bom estado. Entrei na capital pelas três da tarde. Fui ficar ao RK Aparthotel onde trabalha uma amiga e que é excelente, em serviço e bem tratadas infraestructuras. A nível europeu. 
A filha da minha amiga tinha recebido uma fotografia minha na moto a entrar na cidade com o título: já chegou.
Tinha previsto só passar dois ou três dias em Luanda mas acabei por ficar uma semana, a tratar de vistos para vários países, da vinda de um jogo de pneus de Portugal, que os que montei na Africa do Sul já não chegavam até ao fim da viagem, e a visitar a cidade e arredores.
O centro da cidade já está bastante arranjado e, pelo que me contavam, esperava um transito mais caótico do que é na prática. A marginal está quase recuperada, com os jardins junto à baía bem tratados. Apenas alguns dos prédios maiores ficaram com as obras paradas com a crise, talvez desde que acabou a sangria ao BES dos famosos quatro mil milhões aqui “evaporados”.
“A ilha”, uma língua de terra ligada por uma ponte, tem alguns bons restaurantes e as principais praias da capital mas ainda precisa de muita obra de recuperação.
Fomos um dia à praia do Mussulo, uma ilha próxima para onde se atravessa de barco com excelentes empreendimentos e praias bem tratadas, com enorme potencial turístico.
Depois, uns 80 Km para Sul, existe um razoável campo de Golf entre palmeiras. 
Atravessámos o rio Cuanza, entrámos no parque natural da Quiçama e almoçámos no Cabo Ledo, outra excelente praia.
A minha amiga tinha trazido duas bananas para dar aos macacos que estão junto ao rio. Quando as viram, saltaram para cima do carro e só não entraram porque não lhes deixei espaço na greta que abri do vidro, mas puseram os braços dentro numa guerra entre dois deles para agarrarem a banana. Divertido
Um dia fui ter com a pessoa que me estava a tratar dos pneus fora da cidade e o GPS mandou-me para dentro de uma favela, das piores das redondezas. Perdi-me por esburacadas ruas de terra entre barracas e pensei que era desta que seria assaltado. Felizmente acabei por encontrar a saída sem contratempos. 
- Aí arriscas-te a vida, confessou a Sandra.
No dia seguinte voltei à parte Sul de Luanda para levantar dólares para o resto da viagem. Demorei-me por lá e, quando voltei a Luanda, estava a chover forte. Com um sistema de drenagem muito deficiente as ruas transformam-se em rios e em alguns lugares a água chegou a meio das rodas da Crosstourer.
Ao deixar Luanda passei visitar a fábrica da Delta, ao Norte da cidade, onde tinham organizada uma conferência de imprensa que correu muito bem. Mas quando estava a chegar à fabrica deixei passar a entrada e o GPS mandou-me por uma rua interior que estava totalmente alagada. De início pensei que passava bem mas, depois de passar possas muito fundas cheguei à conclusão que era melhor avançar que voltar para trás. Num dos lamaçais acabei por cair. Populares ajudaram-me a levantar a moto, também eles com os pés dentro de água, e lá consegui chegar à Angonabeiro. Almocei por lá e, da parte da tarde, parti a caminho do Congo.
Nos ultimo dias tem havido falta de gasolina e formam-se filas de horas junto aos postos de abastecimento. No dia antes de partir tive a sorte de conseguir atestar o depósito sem espera, numa bomba fora da cidade mas agora partia sem saber se teria gasolina para prosseguir.
De um modo geral tenho tido sorte com o tempo a até agora cabei por apanhar poucos dias de chuva.
Percorri cerca de 300 Km, até N’zeto, parando nas duas ou três bombas que encontrei pelo caminho, todas elas secas.
Ali o computador da moto já só indicava autonomia para mais 60. Km de maneira que não poderia avançar para a próxima cidade, a mais de 200 Km. As duas bombas da pequena cidade estavam sem gasolina mas recomendaram-me que esperasse junto a uma delas para falar com o gerente pois poderia ser que ele autorizasse a abastecerem-me com um resto que ainda haveria nos depósitos.
Enquanto esperava uma mulher que chegou veio pedir-me em casamento. Tinha tudo planeado. Já tinha cinco filhos e dizia que teria mais dois comigo.  E que eu a levaria a viver nos Estados Unidos. Foi uma galhofa entre os que esperávamos pela chegada da gasolina.

1 comentário:

  1. Muito bom, estava a ver que não escrevias mais aqui. Cuidado com as bombas de gasolina!! Uma excelente continuação de viagem :>)

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