
Os primeiros quarenta quilómetros correram bem, com algumas poças de água grandes mas um piso de terra relativamente bom. Comecei a pensar que afinal seria fácil e as dez horas que me diziam necessárias para percorrer os primeiros 160 Km um exagero.
Depois começou o drama, na forma de enormes lamaçais que me pareciam impossíveis de transpor e a estrada enlameada a escorregar muito em alguns locais.

Felizmente só me magoara um pouco numa perna mas estava completamente isolado, sem possibilidades de levantar a moto. A temperatura aproximava-se dos 40º e a muita humidade faziam-me suar sem parar. Trouxera o habitual litro e meio de água mas esgotava-se rapidamente e não parecia chegar carro ou motorizada com quem me pudesse ajudar. Esperei mais de uma hora sem querer tirar o blusão que me protegia dos muitos insectos que zumbiam à minha volta e que, quase a delirar, me faziam confundir o seu barulho com o de algum carro ou moto.
Finalmente surgia um dos três ou quatro taxis que percorrem aquelas duas centenas de quilómetros quase diariamente, sempre que as condições o permitem, para distribuirem os habitantes das pequenas povoações de palhotas que se encontram no trajecto quando têm que ir à cidade. São carros Toyota, sobrelevados e com suspensão reforçada, a caírem de podres mas só com tracção dianteira, com pneus de todo o terreno, que com muita perícia e conhecimento dos seus condutores, conseguem atravessar a maioria dos lamaçais.

Nestas aldeias no mato as populações, homens mulheres e crianças, reunem-se debaixo de um toldo em colmo comum, com bancos em madeira, onde ficam à conversa entre dois copos de um vinho feito à base de Palma. O fornecedor local até tinha cerveja fresca que me soube lindamente. Tinha percorrido penso que um terço do caminho mas já estava de rastos.
Dois ou três quilómetros depois de deixarmos a aldeia deixei de ver o carro nos retrovisores. Esperei um pouco e, como não havia sinal dele, voltei atrás. Tinha partido uma transmissão e o homem não tinha outra de substituição.
- E agora?
-Vou ter que pedir que me tragam uma de Dolisie. Ficamos a dormir por aqui.
Despedi-me dos homens. Voltava à estrada com o saco na parte de trás da moto e sem apoio.
Grande aventura Xico, este dia, espero que a parte restante tenha menos lama. Conselho da amigo, neste lamaçais permanece sempre no trilho dos rodados e nunca tentes sair deles pous é queda pela certa. Abraço e boa continuação.
ResponderEliminarVi os vídeos que publicaste e foi uma grande aventura esse troço do caminho... mas como vem sendo habitual em situações difíceis tu mantiveste te a serenidade necessária....é isso mesmo. Mas não é fácil! A sugestão do Pedro Sanchez parece fazer sentido...mas tu sabes melhor!! Abraço e fica bem!!
ResponderEliminarA teoria é essa mas aqui nem sempre se pode aplicar. Por vezes os trilhos têm desvios para fora da estrada e noutras alturas são tão fundos e enlameados que tenho que tentar andar fora deles. Na fotografia que publico hoje vêm até onde fiquei enterrado num trilho de rodado. Só consegui tirar a moto dali porque tinha a ajuda dos miúdos.
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