17 de abril de 2019

Dolisie - Ndende 1


Por contactos na Internet soubera que os 250 Km que teria que percorrer entre Dolisie no Congo e Ndende no Gabão seriam os mais difíceis que teria que enfrentar ao longo desta viagem, mas não pude imaginar que fossem tão complicados como se revelaram. O trajecto agrava-se muito nesta época de chuvas e, por isso, os poucos motociclistas que o percorrem, escolhem normalmente vir na época seca. Eu tinha previsto vir mais cedo, antes do fim do ano, mas o atraso no envio da moto a partir do Brasil para a Africa do Sul fez com que só pudesse ter vindo agora. 
Os primeiros quarenta quilómetros correram bem, com algumas poças de água grandes mas um piso de terra relativamente bom. Comecei a pensar que afinal seria fácil e as dez horas que me diziam necessárias para percorrer os primeiros 160 Km um exagero. 
Depois começou o drama, na forma de enormes lamaçais que me pareciam impossíveis de transpor e a estrada enlameada a escorregar muito em alguns locais.
Tinha percorrido uns 60 Km quando, depois de atravessar um lamaçal, uma subida com uma lomba no meio fez a roda da frente escorregar, acelerei para a tentar segurar mas a moto atravessou-se e fui ao chão. 
Felizmente só me magoara um pouco numa perna mas estava completamente isolado, sem possibilidades de levantar a moto. A temperatura aproximava-se dos 40º e a muita humidade faziam-me suar sem parar. Trouxera o habitual litro e meio de água mas esgotava-se rapidamente e não parecia chegar carro ou motorizada com quem me pudesse ajudar. Esperei mais de uma hora sem querer tirar o blusão que me protegia dos muitos insectos que zumbiam à minha volta e que, quase a delirar, me faziam confundir o seu barulho com o de algum carro ou moto.
Finalmente surgia um dos três ou quatro taxis que percorrem aquelas duas centenas de quilómetros quase diariamente, sempre que as condições o permitem, para distribuirem os habitantes das pequenas povoações de palhotas que se encontram no trajecto quando têm que ir à cidade. São carros Toyota, sobrelevados e com suspensão reforçada, a caírem de podres mas só com tracção dianteira, com pneus de todo o terreno, que com muita perícia e conhecimento dos seus condutores, conseguem atravessar a maioria dos lamaçais.
Saíram uns cinco ou seis homens do carro que rapidamente levantaram a moto. Sugeri então ao condutor que me levasse o saco onde transporto tenda e saco cama no carro, para aliviar o peso da moto, e que me seguisse todo o restante trajecto, para me poderem voltar a levantar a moto quando caísse, a troco de um pagamento, obviamente. O homem concordou e lá seguimos viagem. Uns dez quilómetros depois fizeram-me sinal para parar numa das aldeias, onde deixavam dois passageiros e descansavam um pouco. Achei óptima a sugestão.
Nestas aldeias no mato as populações, homens mulheres e crianças, reunem-se debaixo de um toldo em colmo comum, com bancos em madeira, onde ficam à conversa entre dois copos de um vinho feito à base de Palma. O fornecedor local até tinha cerveja fresca que me soube lindamente. Tinha percorrido penso que um terço do caminho mas já estava de rastos.
Dois ou três quilómetros depois de deixarmos a aldeia deixei de ver o carro nos retrovisores. Esperei um pouco e, como não havia sinal dele, voltei atrás. Tinha partido uma transmissão e o homem não tinha outra de substituição.
- E agora?
-Vou ter que pedir que me tragam uma de Dolisie. Ficamos a dormir por aqui.
Despedi-me dos homens. Voltava à estrada com o saco na parte de trás da moto e sem apoio. 

3 comentários:

  1. Pedro, PP Formozinho Sanchez17 abril, 2019 22:04

    Grande aventura Xico, este dia, espero que a parte restante tenha menos lama. Conselho da amigo, neste lamaçais permanece sempre no trilho dos rodados e nunca tentes sair deles pous é queda pela certa. Abraço e boa continuação.

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  2. Vi os vídeos que publicaste e foi uma grande aventura esse troço do caminho... mas como vem sendo habitual em situações difíceis tu mantiveste te a serenidade necessária....é isso mesmo. Mas não é fácil! A sugestão do Pedro Sanchez parece fazer sentido...mas tu sabes melhor!! Abraço e fica bem!!

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  3. A teoria é essa mas aqui nem sempre se pode aplicar. Por vezes os trilhos têm desvios para fora da estrada e noutras alturas são tão fundos e enlameados que tenho que tentar andar fora deles. Na fotografia que publico hoje vêm até onde fiquei enterrado num trilho de rodado. Só consegui tirar a moto dali porque tinha a ajuda dos miúdos.

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