9 de abril de 2019

M'Banza Congo





Eram quase cinco da tarde quando resolvi procurar onde ficar ali por N’zendo. Encontrei um Hotel razoável mas sem restaurante. Não havendo nenhum na vila jantei a metade da sandes de carne assada que me sobrara do almoço acompanhada de uma cerveja, que isso tinham.
De manhã regressei à bomba de gasolina mas o auto-tanque não havia chegado, nem tinham previsões. Acabei por convencer o gerente a encher-me o depósito com parte da reserva que sempre mantêm.
Parti então para M’banga Congo, a cidade mais interior, perto da fronteira com o Congo, por onde pretendia entrar no país. A estrada é estreita mas na maior parte do trajecto está em bom estado embora com a erva alta a crescer até ao alcatrão. A paisagem é mais verde para o interior.
Passei por um camião virado na berma da estrada. Parei para fotografar e o condutor contou-me que, numa noite de muita chuva, o camião carregado tinha começado a patinar na subida escorregadia, por nela secarem peixe. Ele não conseguira evitar que fosse recuando até que, com as rodas bloqueadas pelos travões, ficou sem direcção assistida e caiu, em marcha atrás, para a ribanceira. Manteve-se direito mas quando, passados uns dias, o patrão enviou outro para mudarem a carga, tombou. Os dois homens estavam ali há um mês, à espera que os viessem rebocar.
- E de que se alimentam?, perguntei.
- De mandioca que os agricultores da zona nos vão trazendo. E mostrou-me as panelas sujas e a fogueira na beira da estrada onde a cozinhavam.
Segui até M’banza Congo, uma pequena cidade com muito lixo nas ruas, como a maioria das cidades angolanas.
O Hotel que encontrei não tinha obviamente internet, nem a maioria da população sabe o que é, mas consegui comprar um cartão no representante local da Unitel.
O pequeno almoço estava anunciado a partir das sete. “Em ponto”, disse-me a menina da recepção. Queria sair cedo pois não sabia quanto tempo demoraria na fronteira nem o estado em que estavam as estradas no Congo. Às sete e meia ainda estava à espera que chegasse o pão.
- Não têm manteiga?
- Não. Acabou
- O que há para por no pão?
- Só essas carnes frias.
Comi meio pão com chourição e levei a outra metade para o caminho.
Parei na vila para comprar água e constatei que tinha deixado o aparelho de “Spot” (localização) no Hotel de maneira que lá voltei e, com isso, eram oito da manhã quando saí.
Os 60 Km até à fronteira têm partes muito esburacadas.
Na parte angolana da fronteira pediram-me o passaporte e perguntaram se tinha visto par a República Democrática do Congo.
- Não. Na embaixada em Luanda disseram-me que não precisava pois como estava a passar para Cabinda, na fronteira dar-me-iam um visto de transito.
O guarda torceu o nariz e mandou-me falar com o chefe. Este perguntou-me quem me tinha dado aquela informação. O nome do funcionário da embaixada que eu referi coincidia com o que um casal de franceses ali apresentara no dia anterior com a mesma informação. Os congoleses mandaram os franceses de volta a Luanda e, depois de os contactarmos a partir do lado angolano, deram-me o mesmo destino.
Decidi tentar outra alternativa de que tinha ouvido falar para chegar a Cabinda. Tratava-se de ir até ao porto de Soyo, no Norte de Angola, junto ao rio Zaire, que separa o território da República Democrática do Congo e aí tentar contratar uma lancha que me levasse a moto as vinte ou trinta milhas que separam aquela cidade de Cabinda.
Pelo caminho de regresso do Luvo, uns 300 Km de volta à costa, parei junto ao camionista que havia tido o acidente e que já tinha conseguido endireitar o camião com a ajuda de outro mas continuava na ravina.
Ao entrar em Soyo um rapaz num pequeno furgão, viu-me com ar de procurar alguém a quem pedir informações, parou e perguntou-me o que pretendia. Disse-lhe que queria chegar ao porto para encontrar uma lancha que me pudesse levar a moto para Cabinda. Ele prontificou-se a seguir na minha frente e entramos num bairro muito degradado de ruas enlameadas e cheias de lixo. Entramos num portão grande com ar de não ser fechado há anos. Uma rampa descia até uma praia com as margens amontoadas de lixo e várias lanchas em madeira de fundo chato encalhadas na areia a carregarem mercadoria. Junto uma série de barracas em madeira, de ente as quais um posto de guarda alfandegária, com dois homens e uma mulher fardados. Num toldo, o chefe da Alfandega, à paisana, conversava com amigos.
Com a ajuda do simpático homem da carrinha que ali me havia levado tentámos negociar um preço para o transporte da moto com dois dos comandantes das barcaças. Um começou por pedir 40.000 Quanzas, o equivalente a cem Dólares para depois dizer que não levaria a moto pois estavam proibidos de o fazer, enquanto o outro dizia que arriscava mas por um valor de 150.000 Quanzas, que mais tarde baixou para cem. Eram cinco da tarde, havia muita confusão no porto e senti que eles se aproveitavam de eu não ter alternativa para o transporte de maneira que lhes disse que não, que regressaria na manhã seguinte para estudarmos melhor o assunto.

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