15 de abril de 2019

Dolisie



Antes de deixar Ponta Negra fui a uma oficina de uns portugueses pois tinha chegado à conclusão que o pneu da frente tinha ficado mal montado além de estar a ficar com folga nos rolamentos da roda, fruto de muitos maus caminhos por esse mundo fora com a moto carregada.
O dono da oficina, dos seus cinquenta e poucos anos, perguntou-me se não era o Francisco Sande e Castro. Reconhecera-me dos programas de televisão com que em tempos colaborei e que via no Congo, ao passarem na SIC Internacional.
Levamos a roda a uma oficina de pneus para o desmontarem e voltarem a montar correctamente, demos um aperto mais forte no eixo da frente para remediar a folga nos rolamentos e segui viagem, com uma maçã e uma sandwich de queijo que me mandaram fazer.
Parti em direcção a Dolisie, uma cidade a uns 150 Km de distancia, do outro lado de uma montanha, onde se chega através de uma fantástica estrada construída recentemente, de curvas rápidas e bom alcatrão. Deu-me imenso gozo percorrer aquela estrada, para mais com vista fabulosa através da floresta, mesmo se a suspensão da moto não estava nas melhores condições e os pneus de Cross não aconselhavam inclinações exageradas.
Chegado à cidade procurava um Hotel quando parei junto a uma velha esquadra da polícia aparentando uma ruína para a fotografar. Não reparei que ainda era utilizada e logo veio um polícia dizer para parar a moto junto a outra porta e ir lá dentro para me identificar.
Depois das habituais perguntas sobre o que faço ali, custando-lhes a acreditar que atravesso Africa com a moto, escreveram todos os meus dados num papel, incluindo nome de pai e mãe e deixaram-me partir. Perguntei-lhes se haveria um Hotel decente na cidade e o chefe mandou um dos polícias numa 125 à minha frente para me guiar até ao Foula Palace, que de palácio não tinha nada.
Tomei um duche e, antes de anoitecer, saí para atestar o depósito, pois sabia que o dia seguinte seria longo e difícil.
Na esplanada do Hotel, um francês dos seus quarenta anos que estava numa reunião de trabalho com um grupo de locais ficou às tantas só e, vendo que eu não tinha mesa disponível, perguntou se não me queria sentar na dele. Tinha estado encarregue da construção dos dois pórticos de portagem que a estrada que eu percorrera naquele dia tinha à entrada em Ponta Negra e ali à saída, em Dolisie. A estrada recente e, pelo menos por enquanto em bom estado, havia sido construída por Chineses mas esta firma francesa estava encarregue não só de construir os pórticos de portagem como de recolher o dinheiro das portagens, que entrariam em funcionamento dentro de dias.
- Então esse dinheiro que recolhem das portagens é para pagar a estrada construída pelos Chineses?, perguntei inocentemente.
- Não. A estrada é paga pelo Fundo Monetário Internacional.
- Então para quem vai o dinheiro das portagens?
- É uma pergunta para a qual é melhor nem eu nem você sabermos a resposta. Nós entregamos o dinheiro a quem nos dizem para entregar. Não se esqueça que estamos em África.

Jantei a sandwich de queijo que me tinham oferecido em Ponta Negra acompanhada de uma cerveja e deitei-me cedo.

5 comentários:

  1. Foi um
    Prazer conhecer um ícone do nosso país no mundo do automobilismo ! Espero que a Sandwich tivesse a maneira ! Um abraço de
    Pointe noire ! Família Neves garagem Autoclima

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    1. Estava optima e deu imenso jeito. Metade foi o almoço desse dia e a outra metade o do dia seguinte. Ha, ha. Muito sofrida a estrada entre Dolisie e Ndende, no Gabão. Obrigado mais uma vez pela vossa ajuda. Abraço

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  2. :D Super Star

    Boa viagem, Ana

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  3. Hi Francisco, we've met at Hans Cottage in Cape Coast. Hope you ride on without of any problems! It was very nice for us to meet you. So if you once cross northern Germany let us know! You are welcome! Thomas and Marit (with the small motorbikes)

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    1. Hi, Thomas. Very nice to have met you. I sure will. If you ever come to Portugal let me know as well. Thank you.

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