
Uma mulher na fronteira recomendou-me o único Hotel possível da vila e foi lá que fiquei.
Estava cansado e, como o Hotel era decente e barato, decidi por ali ficar mais um dia. Na tarde do dia seguinte procurei uma oficina destas pequenas motos, para tentar soldar os apoios do GPS em alumínio, que se haviam partido. Encontrei uma perto do Hotel. Rapidamente se juntaram vários populares à volta da moto enquanto desmontávamos as peças para o homem as levar a soldar. Estes tipos parecem estar sempre a discutir, revoltados com tudo e todos. Não sei do que estariam a falar mas era uma bagunça à minha volta. No video que fiz até comentei se estariam a discutir sobre a forma de me cozinharem, com cebola ou em tomate.

- Não sabe que está na fronteira e não pode filmar?
- Eu sou turista e como tal estou a filmar a vida local. Isto não é a fronteira.
- Ai não é a fronteira? Não é a fronteira? Não sabe que isto é a fronteira? É mesmo a junção de três países, Gabão, Guiné (Equatorial) e Camarões. Temos tido problemas com mercenários estrangeiros que passam para a Guiné.
- Acha-me com cara de mercenário? Eu sou um simples turista.
- Nunca se sabe. Apague o filme por favor e deixe-me ver o seu passaporte para ficarmos com a sua identificação.
Fingi que apaguei o filme enquanto anotavam os meus dados.
- Sou turista. Ando a gastar dinheiro no vosso país. Deviam receber-me bem.
Estava a ficar chateado mas esforcei-me por manter um sorriso.
E lá me deixaram seguir.
O mecânico tinha regressado com as peças soldadas e montamo-las, já no lusco fusco, antes de regressar ao Hotel.
Na manhã seguinte parti em direcção a Yaoundé para depois desviar para Douala.
Atravessava uma aldeia a meio do dia quando vi um banco em madeira junto à estrada. Parei para descansar. Do outro lado da rua, um velho à porta de uma barraca chamou-me:
- Não se quer deitar aqui em casa a descansar?
- Não, obrigado, estou aqui bem.
Atravessou a rua e veio oferecer-me dois Abacates. Sentou-se ao meu lado a conversar
- Você é um homem da minha idade. De onde vem?
Contei-lhe um pouco da minha viagem.
Com uma mão que se esforçava por controlar, a lembrar-me a da minha mãe quando, já com noventa anos, lhe custava escrever, assentou morada e telefone no papel.
- A morada já não serve de muito, dizia-me desconsolado. Deixaram de distribuir correio por aqui. É triste quando isso acontece. Era tão bom receber uma carta escrita à mão.
Juntara-se uma dezena de jovens, rapazes e raparigas, à nossa volta a ouvirem atentamente a conversa dos dois velhos.
- Não se preocupe. Tem filhos?
- Tenho, 12. Oito rapazes e quatro raparigas. Um está no Canadá e três em França.
- Está aqui algum?
- Sim, está.
O velho olhou à volta a tentar reconhecer alguma das caras dos miúdos.
Um deles identificou-se.
- Vou deixar o meu email a este seu filho e vamos comunicar por email. Concordo que não é a mesma coisa mas é o que temos agora.
Despediu-se de mim com três beijos na cara. Simpatizei com aquele velho.
Sempre a arriscar...
ResponderEliminarQue animal traz o miúdo na mão?
Bjs, Ana
Não sei. Parecem uma espécie de Castores que pare eles devem ser um petisco. Reparou que na fotografia de cima o miúdo tem uma camisola da selecção nacional? Beijinhos
EliminarPois, não tinha visto!Espectáculo!
EliminarPortugueses ainda a conquistar pelo mundo fora.
Bjs, Ana
Momentos mágicos, beijinho
ResponderEliminarMuito bom...! Boa continuação
ResponderEliminarTinha seguido o seu blogue até Brasília , os meses passaram e ontem vejo que já vai a meio de Africa, pus a leitura em dia e agora acompanho essa viagem espetacular só possível de ser feita por um Português teimoso para vencer tanta lama e burocracia. Continuação de boa viagem , abraço.
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