31 de março de 2019

Lobito



De Lubango segui até Benguela. Fui parando pelo caminho, junto a miúdos ou aglomerados populacionais. Uma das vezes foi numa feira de rua onde várias mulheres assavam galinhas para venderem junto à estrada. Almocei uma perna de galinha que me foi fornecida, assada, com a pata da galinha. Diverti-me à conversa com as vendedoras enquanto vários dos filhos e sobrinhos brincavam na terra junto aos braseiros.

A estrada, ao contrário da que liga a fronteira a Lubango, já está muito danificada em alguns locais, com traiçoeiros buracos no alcatrão que me obrigam a atenção constante.
Ao entrar em Benguela parei para tirar uma fotografia na avenida principal e um Jipe estacionou à minha frente. Do volante saiu um homem que veio meter conversa. Era um Veterinário que tinha moto, assim como os filhos, e convidou-me a ir a sua casa beber uma cerveja. Lá o segui até uma pequena quinta onde também tinha o seu consultório. Juntaram-se-nos outros membros da família, mãe, irmã, um dos filhos e três amigos que entretanto chegavam de Luanda e por ali ficámos à conversa, num telheiro junto à piscina, durante mais de uma hora. 
Parti para o Lobito, a pouco mais de vinte quilómetros, antes de anoitecer.
O Lobito já foi um dos principais portos angolanos. Agora tem tido menos movimento. É uma cidade com enorme potencial turístico, com uma longa e estreita península, a Restinga, onde estão os principais Hotéis. Fiquei no Turimar que foi recuperado recentemente, com excelentes quartos, limpeza exemplar, optimo pequeno almoço e a melhor ligação Wifi que encontrei em África.
Um amigo, que conhecera ainda do tempo em que corria de moto, e que agora ali vive e é responsável pelo concessionário Mercedes/Hyundai tinha-me proposto fazer uma revisão à moto e lá fui ter com o Armando. Aproveitei para desmontar a suspensão traseira, apoiada em rolamentos de agulhas que tinham sofrido com os banhos que lhes dei na travessia de rios no Brasil. Embora estejam protegidos com retentores entrou água num deles e ficou danificado. Não tínhamos peça de substituição mas, numa marca da concorrência, conseguimos arranjar um parecido que adaptámos. Aproveitei também para resolver uma fuga de escape e a Crosstourer ficou pronta para mais uns milhares de quilómetros.
A meio do dia fomos almoçar a casa do Armando um excelente peixe com batatas preparado pela sua mulher africana de 23 anos, giríssima, que deixámos na escola antes de voltarmos à oficina. Estou a pensar em vir viver para o Lobito.
Á noite jantei com um grupo de motards locais num bar da Restinga, onde se costumam reunir.
A estrada que segue para Norte, a caminho de Luanda, é um inferno até Porto Amboim. Os Chineses andam supostamente a construir uma nova mas por enquanto são apenas pequenos troços, com o resto a ser percorrido através de “picada” em mau estado.
Os “motards” tinham-me recomendado que visitasse Gabela, uma cidade no alto da serra para o interior. Assim fiz. Só que, quando comecei a subir a verdejante serra, uns 250 Km a Norte de Lobito, apanhei uma carga de água das fortes que me deixou ensopado, pois não tinha colocado o forro impermeável do blusão e calças. Parei para me abrigar num rudimentar telheiro junto à estrada onde mulheres vendiam maçarocas enquanto as crianças se divertiam a tomar banho no rio junto e fiquei por ali uma meia hora à conversa.
A Serra até à Gabela é linda, paisagem tropical com floresta densa. 
Mas a cidade é pequena e as poucas pensões são muito rudimentares. Para voltar para a costa teria que viajar de noite de maneira que acabei por alugar um quarto numa espelunca das que alugam à hora, com telhados em zinco, roupa de cama que só deve ser lavada a cada três clientes e, obviamente, sem internet, restaurante, pequeno almoço ou seja mais lá o que for.
Deitei-me cedo, acordei às seis e meia e passava pouco das sete quando saí serra abaixo, com a paisagem extraordinária das crianças a irem para as escolas a pé, muitas delas descalças, com os bancos ou cadeiras plásticas à cabeça.




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