29 de outubro de 2014

Tan Pak Bera



Custou-me sair de Ko Lanta. Estava um dia indo quando acordei e a praia deserta, separada do meu “bungalow” por meia dúzia de palmeiras, chamava por mim com aquele mar quase sem ondas de águas mornas. Mas o problema é que o meu visto estava a acabar e tinham-me avisado que na fronteira cobravam bem por cada dia ultrapassado no mês que eles concedem.
Arranquei perto das onze da manhã para voltar a passar os dois “ferries” de regresso ao continente. Das várias ilhas em que estive na Tailândia esta foi a que gostei mais não só por ter muito menos turismo que as outras como por ter encontrado este “resort” que, não sendo de luxo, era muito simpático e tinha uma situação extraordinária sobre uma praia deserta. Por 12,5 euros por noite.
Tinham-me recomendado vivamente que não fosse para as províncias mais a sudeste da Tailândia, por serem muito perigosas.
No total do país 95% da população são budistas mas, junto às fronteiras do sul mais de 80% da população são muçulmanos e a maioria são até de uma raça diferente, com pele mais escura e traços menos orientais que os Tailandeses do Norte e Centro.
O problema, que já encontrei noutros países como a Índia, é que muitas vezes as fronteiras são decididas em reuniões entre governantes ou nas Nações Unidas, longe das regiões que estão a dividir e por pessoas que nunca estiveram nos locais nem conhecem a realidade. Os próprios governantes desses países na maioria das vezes nunca visitaram essas regiões, por vezes recônditas. Tal como nas províncias orientais da Índia a maioria da população é de raça oriental e religião budista, estando muito mais perto física e culturalmente de Myanmar do que do resto da Índia, no Sul da Tailândia as populações têm muito mais afinidades com os vizinhos Malaios que com o resto do país. Embora isso não possa ser considerado uma desculpa o facto é que se criaram grupos revolucionários que têm espalhado o caos na região, com a colocação de bombas e assassinato de polícias, militares e até monges budistas. Não existe turismo na região que é perigosa para estrangeiros, principalmente ocidentais, de maneira que desci junto à costa ocidental muito mais pacífica, embora também maioritariamente muçulmana.
No caminho ia acertando com força numa miúda de uma “scooter”. Preparava-me para a ultrapassar ao triplo da velocidade a que ela ia, como faço a centenas de “scooters” diariamente, quando a miúda, que ainda por cima viajava sem capacete, como é costume aqui, decidiu atravessar-se à minha frente para entrar numa casa do outro lado da rua, sem olhar pelos retrovisores ou fazer qualquer sinal. Eu rodava a cerca de 120 Km/h. Travei a fundo e desviei o mais que pude para a esquerda, passando uma razia com a minha roda da frente à de trás da “scooter”. Ela só se apercebeu da situação quando eu já tinha passado.
Nesse dia apanhei apenas uma pequena chuvada, como já é costume a meio da tarde, mas não durou mais de uns dez quilómetros e não cheguei a parar.
Acabei por me instalar num pequeno Hotel na vila costeira de Can Pak Bera, uma zona sem graça. Fui jantar a um restaurante à beira mar onde uma rapariga de cabeça tapada me avisou logo que não serviam bebidas alcoólicas e me pediu que pagasse a conta quando estava a meio da refeição porque queria ir-se embora. E assim foi. Fiquei sozinho no restaurante e só não fechei a porta antes de sair porque era ao ar livre. Já estava com saudades da Tailândia budista.   

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