Custou-me sair de
Ko Lanta. Estava um dia indo quando acordei e a praia deserta, separada do meu
“bungalow” por meia dúzia de palmeiras, chamava por mim com aquele mar quase
sem ondas de águas mornas. Mas o problema é que o meu visto estava a acabar e
tinham-me avisado que na fronteira cobravam bem por cada dia ultrapassado no
mês que eles concedem.
Arranquei perto
das onze da manhã para voltar a passar os dois “ferries” de regresso ao
continente. Das várias ilhas em que estive na Tailândia esta foi a que gostei
mais não só por ter muito menos turismo que as outras como por ter encontrado
este “resort” que, não sendo de luxo, era muito simpático e tinha uma situação
extraordinária sobre uma praia deserta. Por 12,5 euros por noite.
Tinham-me recomendado
vivamente que não fosse para as províncias mais a sudeste da Tailândia, por
serem muito perigosas.
No total do país
95% da população são budistas mas, junto às fronteiras do sul mais de 80% da
população são muçulmanos e a maioria são até de uma raça diferente, com pele
mais escura e traços menos orientais que os Tailandeses do Norte e Centro.
O problema, que
já encontrei noutros países como a Índia, é que muitas vezes as fronteiras são
decididas em reuniões entre governantes ou nas Nações Unidas, longe das regiões
que estão a dividir e por pessoas que nunca estiveram nos locais nem conhecem a
realidade. Os próprios governantes desses países na maioria das vezes nunca
visitaram essas regiões, por vezes recônditas. Tal como nas províncias
orientais da Índia a maioria da população é de raça oriental e religião
budista, estando muito mais perto física e culturalmente de Myanmar do que do
resto da Índia, no Sul da Tailândia as populações têm muito mais afinidades com
os vizinhos Malaios que com o resto do país. Embora isso não possa ser
considerado uma desculpa o facto é que se criaram grupos revolucionários que
têm espalhado o caos na região, com a colocação de bombas e assassinato de
polícias, militares e até monges budistas. Não existe turismo na região que é
perigosa para estrangeiros, principalmente ocidentais, de maneira que desci
junto à costa ocidental muito mais pacífica, embora também maioritariamente
muçulmana.
No caminho ia
acertando com força numa miúda de uma “scooter”. Preparava-me para a ultrapassar
ao triplo da velocidade a que ela ia, como faço a centenas de “scooters”
diariamente, quando a miúda, que ainda por cima viajava sem capacete, como é
costume aqui, decidiu atravessar-se à minha frente para entrar numa casa do
outro lado da rua, sem olhar pelos retrovisores ou fazer qualquer sinal. Eu
rodava a cerca de 120 Km/h. Travei a fundo e desviei o mais que pude para a
esquerda, passando uma razia com a minha roda da frente à de trás da “scooter”.
Ela só se apercebeu da situação quando eu já tinha passado.
Nesse dia apanhei
apenas uma pequena chuvada, como já é costume a meio da tarde, mas não durou
mais de uns dez quilómetros e não cheguei a parar.
Acabei por me
instalar num pequeno Hotel na vila costeira de Can Pak Bera, uma zona sem graça.
Fui jantar a um restaurante à beira mar onde uma rapariga de cabeça tapada me
avisou logo que não serviam bebidas alcoólicas e me pediu que pagasse a conta
quando estava a meio da refeição porque queria ir-se embora. E assim foi.
Fiquei sozinho no restaurante e só não fechei a porta antes de sair porque era
ao ar livre. Já estava com saudades da Tailândia budista.
Quando as coisas são "beras", não há volta a dar. Venha a Malásia!
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