Saí de Hua Hin já
perto do meio dia, depois de ter passado na lavandaria local a levantar a roupa
que lá tinha deixado no dia anterior. Estava uma chuva miudinha que teimava em
não passar. Quando aumentava muito de intensidade parava nalguma tasca de borda
de estrada para deixar passar a tempestade mas, pelas quatro da tarde, tinha
acabado de entrar num parque natural junto a uma praia quando voltou outra
carga de água forte. Perguntei se tinham sítio onde dormir e indicaram-me uns “bungalows”
junto à praia que devem ser muito agradáveis com bom tempo mas com aquela chuva
não tinham ninguém. O parque, como todos os outros que visitei no país, tinha
muito poucos clientes. Desta vez só vi um casal. Fiquei pelo “bungalow” a ler e
escrever e pelas oito da noite fui ver se haveria sítio onde jantar alguma
coisa. Na recepção já só estava um homem que não falava palavra de inglês mas
pelos meus gestos percebeu o que queria. Indicou então a um guarda de camuflado
que estava à porta para me acompanhar ao que seria o restaurante local. O homem
pegou numa das pequenas bicicletas para crianças que tinham à porta, perdendo
naquela altura, qualquer ar de autoridade, mesmo debaixo de uma farda em
camuflado. Eu segui-o, em 1ª velocidade, na moto. A 200 metros do local a
corrente saltou da bicicleta de maneira que a velocidade da caravana baixou de
dez para cinco quilómetros por hora.
Quando cheguei
não queria acreditar que aquilo era o suposto restaurante do parque . Uma velha
de aspecto sujo alimentava dois ou três cães com arroz em tijelas idênticas à
com que me apresentou o jantar uns minutos depois. O local parecia imundo e
perto do que servia de cozinha a senhora tinha um pequeno esquilo como animal
de estimação, com uma das pernas presa por um cordel.
Para minha surpresa
pôs-me à frente um menu com uma boa dezena de alternativas mas, como sempre,
acabei por escolher o que me parece ter menos hipótese de intoxicação: arroz
frito com galinha. Neste casos o que normalmente fazem é cozinharem a galinha
no Wok e juntarem-lhe no final da fritura o arroz já cozido, muitas vezes com
ovo mexido à mistura. Aquela mistela atinge uma
temperatura que em princípio acaba com os micróbios. Comigo tem corrido
bem.
Acompanhei o
prato com uma cerveja de meio litro o que nestes casos de tascas manhosas representa
normalmente uma conta final a rondar os 100 Baht, o equivalente a 2,5 euros.
Dormi mal, com
uma barulheira infernal feita pelos sapos aos berros no mato junto ao bungalow
que, no meio do sono, confundi com o que me parecia ser uma máquina de lavar
roupa a trabalhar. “Quem é que se lembrará de ir lavar roupa aqui a esta hora”?
Só quando despertei mais um pouco constatei que era a berraria dos sapos que
tinha presenciado no regresso do jantar. Mais tarde, com a luz do dia, não
faziam pio.
Arranquei pelas
dez da manhã e fiz uns bons 200 Km sem chuva pela única estrada que desce por
aquela faixa do país com poucos quilómetros de largura, rumo às ilhas do sul e
mais abaixo, à Malásia.
Escolhi às
tantas, uma estreita estrada secundária a passar muito perto da fronteira
ocidental com a Birmânia, por ficar fascinado com a paisagem para onde me
levava, de rochas altíssimas com escarpas a pique, cobertas de vegetação a
ladearem uma floresta densa em vários
tons de verde.
Pouco depois de
entrar nesta estreita estrada que me levava agora numa direção SW, começou a
chover forte e abrandei muito o ritmo não só porque o piso estava muito
escorregadio devido às seivas das árvores na estrada trazidas pela chuva como
pelo facto de ser praticamente deserta e quase quatro da tarde o que
significava que, se caísse ali, provavelmente só tinha quem me ajudasse no dia
seguinte.
Pelas cinco da
tarde cheguei à cidade de Ranong, que um
alemão que conheci em Bangkok me tinha recomendado visitar mas de que não
encontrei qualquer encanto para além do bom Hotel onde me instalei.
Lembrete: levar sempre tampões para os ouvidos nas viagens. Boa estrada!
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