O dia de ontem
foi difícil. Saí de Agra às dez e meia da manhã a caminho de Lucknow que fica a
cerca de 320 Km. Estavam perto de 40º e voltei a enfiar o fato completo e
botas. Pensei que demoraria quatro a cinco horas a percorrer o trajeto mas a estrada
era má, nalgumas zonas muito esburacada e o transito infernal na maior parte do
caminho de maneira que demorei seis horas e meia para percorrer os pouco mais
de 300 Km. Pelo caminho a dose habitual de animais na estrada desde cabras a
vacas passando por um macaco que atravessou a autoestrada e até uma espécie de
abutre que, no meio da via, se entretinha com os restos de uma ovelha
atropelada.
O transito
caótico obriga-me a uma atenção redobrada constante. Desta vez até um carro da
polícia, a cerca de 120 Km/h, apanhei em sentido contrario na auto estrada para
além de uma camioneta que me surgiu de frente, na sua faixa da esquerda, à
saída de uma curva quando eu ultrapassava outra. Dessa vez assustei-me. Tive
que travar forte e encostar à esquerda.
A maioria dos
carros que circulam aqui levam os retrovisores fechados, para poderem passar
mais facilmente por entre os outros na terceira faixa que eles inventam quando
o transito está entupido e há só duas. Não é que fizesse alguma diferença estarem
na posição correta porque nunca olham para eles. A teoria é ir circulando pelos
espaços livres de estrada, ultrapassando pela direita ou esquerda, conforme dê
mais jeito e sem verificar se vem alguém atrás porque já se sabe que vem sempre.
Só não há muitos mais acidentes porque têm uma grande vantagem na maneira de
guiarem: não se vê ninguém a fazer movimentos bruscos. Os carros, motos e
outros triciclos ou carroças que tal vão-se encaixando uns nos outros, como um
puzzle, lentamente, de maneira que cada um vai percebendo para onde vai o outro.
Não há regras de transito a não ser a que diz ser suposto circular pela
esquerda mas mesmo essa não é seguida à letra por nenhum dos condutores. A
polícia não manda parar ninguém por mais infracções que cometa pois eles
próprios não sabem o que é ou não uma infracção e como na prática não há regras
também não há infracções. Eles estão na estrada apenas para ajudar a escoar o
transito quando o engarrafamento é mais complicado. No meio de toda a confusão
que isto provoca ainda não vi um condutor zangado a insultar outro ou em stress.
Tocam todos muito a buzina mas isso é por outras razões. A buzina tornou-se uma
questão cultural e eles usam-na da mesma forma que nós colocamos uma música no
face book para os amigos ouvirem. Os camiões têm escrito na traseira “please
horn” e os colegas cumprem, como quem dá música. Até os pequenos toques são
ignorados pelos envolvidos com um simples olhar de indiferença.
Entretanto na
parte da auto estrada que estava em pior estado acabei por cair num buraco dos
grandes, com a suspensão a bater no fundo e um dos retrovisores a desapertar-se
mas felizmente pneu e jante aguentaram bem a pancada.
Nestes trajetos
pela província profunda, onde não existem sítios onde se possa comer qualquer
coisa minimamente decente, costumo parar numa banca de fruta mais isolada e
almoçar duas bananas e outras tantas maçãs. A fotografia é de uma dessas
paragens em que chego sem ninguém por perto e passados cinco minutos tenho uma
multidão a admirar a moto. Por vezes mal me consigo mexer.
Chegado a Lucknow
tive que ficar no Hotel menos mau que encontrei, para contrastar com o fabuloso
de Agra. Aqui só o recepcionista falava inglês e tive que mandar mudar os lençóis
da cama que tinham manchas de sangue enquanto o duche foi tomado de chinelos
nos pés. Curiosamente o jantar, que é invariavelmente galinha cozinhada de uma
ou outra forma, estava óptimo.
O dia de hoje foi
muito mais tranquilo. A temperatura pelas onze horas estava nos 40º e decidi
arrancar em jeans e sapatos. Felizmente.
A estrada para
Gorakhpur, onde estou agora, estava em bom estado na maior parte do trajeto,
para os níveis indianos e, embora tenha arrancado tarde, percorri a mesma
distancia de ontem em quatro horas.
Para cima de Agra
deixam de se ver turistas e mesmo os hotéis são só ocupados por Indianos. Por
outro lado, à medida que vou para Norte e me aproximo do Nepal, onde espero
entrar amanhã, há menos transito nas estradas que ligam as cidades e também por
isso estas resistiram melhor às chuvas das monções, que recentemente acabaram.
Está difícil isso... o calor também não deve ajudar. Mas em Katmandu estão 24º. Passa por lá?
ResponderEliminarBoa viagem
Ana :)