12 de setembro de 2013

Hetauda - Nepal




Hoje saí de Katmandu pelas 11,30 para enfrentar a terrível estrada que é a principal, senão a única, entrada e saída da cidade e onde já tinha passado quando cheguei. Demorei cerca de duas horas para fazer os primeiros cinquenta quilómetros. É uma estrada de serra muito esburacada com centenas de camiões que se arrastam e formam filas intermináveis de cada vez que um avaria, ficando a impedir uma das duas únicas vias. De moto vamos conseguindo passar entre os camiões mas a “Cross Tourer”, com os 400 Kg que desloca carregada, não é “pêra dôce” para dominar, principalmente quando escorrega para dentro das valas que existem no meio da estrada nas partes de terra, ao passar entre dois camiões. Depois deste inferno saí para uma estrada estreita através dos Himalayas a caminho da cidade de Hetauda. Foram cem quilómetros numa estrada muito sinuosa e esburacada mas praticamente sem transito e com uma paisagem deslumbrante. Muitas vezes tive que engatar primeira para passar por rios com pedras que atravessavam a estrada ou em cotovelos com o piso muito degradado. Tinha saído de Katmandu com 26º de temperatura mas na montanha, onde a altitude subia a perto de 2500 metros, a temperatura desceu para 17º e começou até a chover um pouco. O problema foi o nevoeiro denso que encontrei na parte mais alta e que não me deixava ver um palmo à frente do nariz.
Por estes lados vêm-se muitos grupos de crianças de todas as idades a virem das escolas e parecem mesmo existir mais escolas que casas onde viverem.
Pelas três e meia da tarde, sem ainda ter encontrado uma das habituais bancas de fruta para almoçar, fui atraído por uma panela ao lume numa barraca sem janelas e parei. Comi uns fritos estranhos, não sei de quê, embrulhados em papel de jornal. Provavelmente pernas de lagarto. Lembrei-me de uma conversa que tinha tido há quinze dias com a Embaixatriz do Peru na India que me perguntava:
Mas não leva nada reservado?
Não. 
Então é como nos filmes.
-         Sim, é como nos filmes.
Ceguei a Hetauda perto das cinco da tarde. Tinha percorrido apenas 150 Km desde Katmandu mas instalei-me no único Hotel existente na cidade pois a  distancia para a próxima não me permitia que lá chegasse de dia.
Mostraram-me primeiro o quarto “standard”, de três euros por noite, mas acabei por ficar no “luxury”, com um ar bastante melhor e mais limpo, por seis euros.
Um dos empregados a observar a moto perguntava-me às tantas quanto custava, a primeira pergunta que fazem na Índia mas pouco habitual aqui. Quando lhe respondi cerca de 20.000 dólares  respondeu: “Ena pá, com esse dinheiro compram-se duas casas aqui”.
Amanhã a estrada é bastante melhor e espero fazer perto de 400 Km até à fronteira com a Índia para no dia seguinte entrar no Butão.

9 comentários:

  1. E não lhe aumentaram logo o preço do quarto?
    uma moto de 20000 dólares e a pagar 6 euros por um quarto!! Era certinho... se fosse cá alguém imediatamente diria: 6? disse 6? queria dizer 60! (no mínimo claro)
    Boa passagem de fronteiras.
    Ana

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    1. Nada, Ana. Eles a seis euros já achavam que estavam a dar a martelada no turista.
      Hoje ainda fiquei a uns 100 Km da fronteira porque me atrasei na estrada. Por favor continue a comentar o blog porque é das poucas e era bom dar movimento, mesmo quando eu não comento. Beijinhos

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    2. Francisco
      Estratégia implementada, Over! Ana

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  2. Chico, esse teu pedido já o fiz no FB, mas parece que ninguém liga.
    Vou postar outra vez, a ver se dá resultado
    Com estas tuas aventuras de quartos assim e assado só me lembra da nossa viagem a Jarama, de moto, em 1975, com o Paulo Cardoso, e que também andávamos sempre à rasca para arranjar dormida, em pensões claro, pois o dinheiro era pouco; dormíamos sempre em quartos de merda....
    até que num dos dias, já em Madrid, não sei se antes ou depois das corridas, estávamos refastelados numa esplanada numa das grandes avenidas, a beber umas cervejas, cheios de sol, quando estivemos quase sempre debaixo de chuva, e numa mesa ao lado estavam duas "espanhuelas" que começaram a meter conversa; conversa daqui, conversa dali, pedimos-lhes que nos indicassem uma pensão onde pudéssemos dormir barato, ali bem no centro: ah sim, conhecemos uma boa, aqui perto.
    E lá fomos para a dita pensão; elas desapareceram, não quiseram entrar, pudera.....cansados, ficamos no quarto a descansar um pouco; a determinada altura, eu fui à varanda "mirar la calle", e percebi que estávamos numa rua de putas, tal o movimento de mulheres para trás e para a frente.....com carros a pararem etc.
    No dia seguinte, ao irmos à casa de banho para nos lavarmos mal e porcamente, antes de nos lançarmos para Granada, o cheiro a sexo naquele corredor, era por demais evidente onde dormimos.......numa pensão de putas
    Lembras-te
    abraço

    bernardo pinheiro de melo

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  3. Tenho acompanhado a viagem de forma irregular, mas achei que não consigo comentar um feito desta grandeza.
    Foi o sonho de uma vida, e que nunca consegui realizar. A minha admiração e respeito pela sua coragem.
    Desejo-lhe boa estrada (mesmo que algo esburacada).
    Abraço,
    Fred

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  4. Ha, ha. Obrigado aos tres. Gostava de dar algum movimento a isto mas agora estou numa terra no Norte da India onde so encontrei um ciber cafe manhoso na aldeia porque o Hotel nao tem Internet.. So vou conseguir colocar mais cronicas dentro de uns dias porque estou aqui num Lodge na floresta (segunda tenho um safari) a espera de ter o visto para o Butao, que me dao terca.
    Bernardo, aqui chama-lhes antes raparigas de ma vida, por favor. Para nao descambar. Lol. Abraco
    FSC

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  5. Ainda bem que deu notícias... já me interrogava.
    Assim sendo aguardemos serenamente o desenrolar da viagem.

    Quando voltar convido-o para almoçar.
    Bj
    Ana

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  6. Francisco, belas crônicas que tem escrito e que nos fazem viajar desde Portugal por esse mundo fora. fiquei muito desiludido com Katmandu que pensava ser um lugar deslumbrante.
    boa viagem.

    Helder Galante

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  7. Pois, Helder, nao e como ns filmes. Abraco

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