4 de setembro de 2013

Delhi 4



Ontem, depois de montar as velas que chegaram de Portugal e o filtro de ar novo a moto lá acabou por pegar. Logo que ficou pronta fui a um concessionário Honda local mudar óleo e filtro, atestei o depósito e acertei a pressão dos pneus deixando-a “ready to go”.
Já estava há seis dias em Delhi e só não fiquei desesperado porque fui muito bem recebido em casa dos embaixadores. Fizeram-me sentir como se estivesse em casa e são sem duvida os melhores representantes que poderíamos ter na Índia. No Sábado até acabei por ir com eles a um almoço informal, na piscina da casa do Embaixador de Moçambique, onde estavam também os Embaixadores do México e Peru e o português João Cravinho que é Embaixador da União Europeia na Índia.
Arranquei hoje de Delhi, pelas dez da manhã, com uma temperatura de mais de trinta graus. Por questões de segurança vesti o fato, embora sem forro, e calcei as botas. A temperatura foi aumentando ao longo do dia e quando, por volta do meio dia, estava perdido numa aldeia, debaixo de um calor arrasador, à espera que uma cancela de passagem de nível abrisse, com comboios de mercadorias infindáveis a atravessarem vindos de um e outro lado, pela primeira vez nesta viagem senti-me mal fisicamente. O termómetro da moto marcava 44º, a humidade devia estar próxima dos 100% e eu, ensopado em suor, sentia os pés chapinharem dentro das botas. Com a moto no descanso e dezenas de populares de volta dela a fazerem-me perguntas em Indu para as quais obviamente não tinha resposta, encostei-me a um carro com o que penso ter sido uma baixa tensão e pensei que ia desmaiar. Imaginei-me a acordar passadas um par de horas sem botas e não mais que o volante da moto pousado ao meu lado.
Tirei o blusão, bebi mais água e depois de molhar a cara e a cabeça comecei a sentir-me melhor. Os comboios lá acabaram de passar e voltei à estrada na procura difícil do trajeto para Agra. As indicações são poucas e fora das cidades praticamente ninguém fala Inglês. Um polícia que me queria dizer para voltar na segunda à esquerda e a quem eu, sem perceber o que ele dizia, lhe perguntava:
 “So, I have to turn the next on the left”? respondeu-me: “No, on the next, next”.
Passados uns quilómetros a “navegar” por estradas sujas e confusas no meio de “rickshaws” a pedal e motorizados, vacas ao abandono no meio da estrada, camiões que custa acreditar possam rodar pelos seus meios, miúdos nas bermas descalços e sujos, tudo com muito lixo à mistura, encontrei um sinal que dizia “Golf Course”. Foi como uma miragem de água no deserto. Era uma da tarde e pensei que seria o sítio ideal para almoçar. Passados meia dúzia de quilómetros comecei a passar por uma série de condomínios bem tratados, com guardas à porta e cancelas e por fim cheguei a este Hotel fabuloso com um campo de 18 buracos projetado por Gregg Normann. É isto que é extraordinário neste país, os contrastes constantes que se cruzam à nossa frente. Um guarda abriu-me a primeira cancela e à porta do Hotel estavam dois imponentes porteiros, fardados e de turbante. A partir dali o meu dia dava uma volta de 180º. Parecia um filme. O gerente do Hotel veio receber-me à porta. Excelente profissional, perguntou como tinha ido ali parar e depois de lhe contar a minha história e que nesse dia estava a caminho de Agra disse que o grupo a que pertencia era proprietário do melhor Hotel de Agra. “Se quiser que lhe marque um quarto?” Fez-me um preço especial e aceitei.
“Voçês são uma cadeia de Hoteis?”
“Não. Temos alguns mas essencialmente somos uma firma de construção. Nós edificámos todos estes condomínios aqui à volta”
Quando lhe perguntei se depois do almoço me indicava o caminho para Agra respondeu:
“Nós fizemos uma auto estrada para Agra, com cerca de 200Km. Um dos nossos motoristas guia-o até à entrada dessa auto estrada”
“Ah. É uma que passa junto ao circuito de Fórmula 1 ?”
“Sim. Nós construímos o circuito”
As firmas neste país quando são grandes, são mesmo grandes.
Depois de um óptimo almoço acompanhado por três sumos de laranja e um litro de água com gás italiana, o tal motorista levou-me à autoestrada construída por eles. Nunca tinha visto uma assim na Índia. Parecia que estava num país europeu. Impecavelmente alcatroada e, surpreendentemente, talvez por a portagem ser mais cara que o habitual aqui, meia dúzia de carros a circularem. Pouco mais de uma hora depois estava em Agra e voltava à confusão habitual a caminho do segundo oásis do dia, onde me instalei. Amanhã vou visitar o Taj Mahal.



2 comentários:

  1. Os pezinhos ensopados dentro das botas a chapinhar, sempre dá para os lavar, só que o cheiro d água estagnada......também não faz mal, todos por ai estão habituados.

    Ah pois é, humidade nesses valores, temperaturas altas, idade avançada, é no que dá.

    Chicão, grande abraço e continuação de boa viagem
    Bernardo

    ResponderEliminar