Saí de manhã para
visitar o museu da cidade em Paro, antes de partir para a capital.
É um museu que
mostra não só imagens dos Buda e caraças que a população usa nos festivais e
que representam as várias personagens em que o segundo Buda se transformava
para afastar os demónios, mas também a rica fauna do país enquanto através de
várias frases e textos nos dão uma pequena introdução ao seu conceito de
felicidade.
Com a ideia de
preservarem a fauna os habitantes do Butão não matam animais de qualquer
espécie. É proibido caçar e pescar no país e nem as galinhas que têm em casa
para fornecerem ovos eles matam. No entanto, a sua religião permite que comam
todo o tipo de carne ou peixe, desde vaca a porco passando pelas cabras. Só que,
toda esta carne consumida no país é …. importada da Índia. A carne de vaca por
exemplo, que os Indhus não comem, vem de talhos na Índia pertencentes a
muçulmanos.
Quando acabei a
visita ao museu, acompanhado pelo guia que tinha ido ter comigo na tarde
anterior a esta cidade, pedi à secretária para falar com o diretor, por ter
visto um cartaz a dizer que ele fazia uns colóquios.
Passado um minuto
desceu do andar de cima um “Great Lama”, acompanhado de dois monges. O homem tinha uma presença forte mas um ar simpático
e perguntou-me o que pretendia dele, como quem não quer perder tempo com
curiosos, o que achei que não coincidia com a ideia que tinha destes “Great
Lama” para quem o tempo parece não existir. Disse-lhe que gostava que me
falasse deste conceito de felicidade que reis e monges tanto apregoam e como
podem medir o valor de felicidade de cada individuo.
Perguntou-me o
meu nome e só então me deu um aperto de mão. Mas não foi um aperto de mão
qualquer. Ele apertou-me a mão direita e colocou a esquerda por cima da minha
mão que apertava a dele ficando assim uns largos segundos. Confesso que me
afectou. Parecia que me transmitia uma energia especial. Nunca me tinham dado
um aperto de mão assim. Depois tivemos uma longa conversa em que me falou sobre
as formas como mediam o nível de felicidade de cada pessoa mas também de uma
viagem que fez recentemente a Roma para uma reunião com o Papa, tendo
aproveitado para visitar vários outros países europeus.
“As pessoas não
vivem felizes, na Europa. Sente-se uma tensão dentro delas que as torna amargas”.
Só então lhe
falei da minha viagem de moto e ficou fascinado.
“Penso que é a
primeira moto que vem ao Butão”, disse.
Passada uma longa
conversa em que concordei com alguns dos seus conceitos para obtenção da paz de
espírito que eu tinha sentido na população, disse-me que eu não devia dizer que
era um turista mas sim um “nekor” ou seja um viajante entre os locais de culto
espalhados pelo mundo e que deveria ajudar a divulgar o Budismo. Disse-lhe que
seria impossível por eu ser ateu e fez um ar triste. “Esse é o principal
problema da Europa. As pessoas não têm fé”. Disse-lhe que não, que a maioria da
população europeia acreditava em Deus.
Disse-lhe que era
uma pessoa feliz e ele respondeu “eu sei” com uma certeza de quem me conhecia
há trinta anos e não há trinta minutos.
Por fim pediu-me
que fosse buscar a moto ao parque e a trouxesse até à porta do museu, uma
situação inédita naquele local tão restrito. O seu secretário deu indicações
aos guardas e lá vim eu com a moto até cá acima. Tirou-me então ele próprio uma
fotografia e pediu aos empregados do museu para se reunirem à volta da moto
para tirarem outras fotografias.
“Veja como é
lindo este país”, dizia-me ele a olhar para a fantástica vista do alto da
entrada do museu. “Com esta natureza preservada nós somos dos principais
contribuintes para o oxigénio no mundo”.
Despediu-se
entregando-me um cartão com o seu e mail e telemóvel e a promessa de um dia nos
voltarmos a ver.
Só por este
encontro valeu a minha ida ao Butão.
Parti então para
a capital, Thimphoo, que fica a apenas 40 Km através da melhor estrada do
Butão, desenrolada entre dois vales, sem buracos e com curvas longas e de
vários raios e muitas curvas e contra curvas com lombas pelo meio. É um gozo.
Para a aproveitar em pleno pedi ao meu guia que levasse as minhas malas no
carro, aliviando o peso da moto, e combinei ir mais depressa e encontrarmo-nos
no Hotel.