Saí de Cuba ainda em direção ao Sul pois tinha ideia de apanhar a famosa “Route
66” em Albuquerque para nela percorrer o caminho até St. Louis, cerca de 1700
Km.
A estrada mais famosa dos Estados Unidos, construída em 1926, ia de Chicago
a Los Angeles e, durante décadas, foi a estrada preferida para ligar o Oriente
à costa Ocidental do país. Começou por ser em terra mas em 1938 tornou-se a
primeira, nos Estados Unidos, a ser totalmente alcatroada.
Hoje em dia cheguei à conclusão que está longe de existir como era. Na
parte que percorri entre Albuquerque e Oklahoma há apenas pequenos troços,
outra parte tendo sido “engolida” pela autoestrada que construíram no mesmo
trajeto. Quando circulamos nessa autoestrada nos locais das vilas há sinais a
indicar “Historic Route 66”. Para os americanos, tudo o que tem mais de
cinquenta anos é histórico. Nestes locais a estrada que passa dentro das vilas
ainda é a original “Route 66” para pouco depois voltar a desembocar na auto
estrada. Nestas pequenas partes em que existe, nos cerca de 900 Km que separam
Albuquerque de Oklahoma, a estrada tem muitas bombas de gasolina e velhos cafés
abandonados, com carros velhos e podres encostados à porta. A velha estrada
perdeu os clientes para a autoestrada e o comércio faliu. Parece um filme de
holocausto onde as pessoas tiveram que abandonar o local rapidamente depois de
uma catástrofe e tudo ficou como estava, os elementos da natureza tratando de
desfazer o que ainda estava de pé.
Insólito, no meio de todo este abandono, é terem montado nos terrenos de
uma velha estação de serviço, uma moderna estação de carregamento de carros
eléctricos das que a Tesla tem implantado um pouco por todo o país, para que os
seus clientes possam viajar através dos Estados Unidos tendo sempre onde carregar
as baterias.
A partir de Oklahoma a situação muda. A velha “66” ainda lá está, a
paisagem é menos desértica que no Estado do México, e as vilas e cidades estão
mais arranjadas, até com um ou outro museu dedicado à famosa estrada.
Fui visitar o museu em Elk City e nesse dia acabei por ficar em Tulsa.
No dia seguinte deixei o Hotel mais cedo que o costume pois tinha um longo
caminho a percorrer até St. Louis, onde iria ficar em casa de amigos. Voltei a
abandonar a autoestrada sempre que indicavam desvios através da “Historic Route
66”. As pequenas vilas por onde passamos têm sinais em hotéis, velhas bombas de
gasolina ou cafés a recordar a ligação à velha via. O numero 66 ficou na
memória de todos os automobilistas.
Uma história curiosa é a de um velho homem do petróleo texano, um tal Mr.
Philips, que procurava um nome para as bombas de gasolina que iria lançar no
mercado. Quando passava na “66” e achou que o seu “chauffeur” ia depressa de
mais perguntou-lhe a que velocidade circulavam.
-“A 66”, respondeu o homem. Vamos a 66 milhas na Route 66.
Ao que o patrão respondeu:
- Boa Ideia. Vou chamar-lhe 66, Philips 66. E assim ficou.
Fiquei em St. Louis durante quatro dias. Recebi lá as peças da suspensão
que tinha que mudar na moto mas depois de ter desmontado parte das ligações ao
amortecedor cheguei à conclusão que faltava o rolamento do olhal do amortecedor
de maneira que voltei a montar tudo com as velhas peças, adiando a reparação
para outra cidade.
Em St. Louis fui visitar um fantástico museu automóvel em que a maioria dos
carros estava também à venda. Um réplica com peças verdadeiras de um protótipo
Ferrari de 1959, que o dono me contou ter sido construído com peças roubadas
pelos empregados da fábrica, saltava à vista, assim como outra excelente
réplica de um Jaguar “C”, também dos anos 50.
Nesse dia ainda visitei o “History Museum” que gostei imenso. Nunca tinha
visto um intitulado museu de História onde as peças mais antigas tinham pouco
mais de cem anos.
Numa das salas mostravam o que foi a fantástica exposição internacional
organizada em St. Louis em 1904 e que revolucionou a cidade e lhe deu enorme
projeção. Na altura St. Louis foi mesmo o maior polo financeiro nos Estados
Unidos, a seguir a New York. A cidade é
banhada pelos rios Missouri e Mississippi, o que ajudava nos transportes da
época, fazendo florescer a sua economia.
Outra sala tinha em exposição brinquedos dos anos 50, 60 e 70 enquanto uma
terceira tinha mais um museu dedicado à “Route 66”. Duas velhotas olhavam para
uma pintura de um “drive In” com umas duas dezenas de carros dos anos 50 e 60.
Uma lista com os modelos convidava os visitantes a acertarem nas marcas e
modelos dos carros. Uma das velhas começou a identificar os carros e não falhou
um.
- Você percebe mesmo de carros, disse-lhe.
- Sim. Tinha três irmãos mais velhos.
Nos ultimos dias li esta aventura do inicio até aqui.
ResponderEliminarTem de a passar a livro!
Parabéns tem sido uma bela viagem e bem relatada! :)
Continuação de boa viagem!
Abraço
Miguel Ala Silva
Obrigado, Miguel. Sim, no fim passo a livro. Abraço
ResponderEliminarCá estou eu a ler pela segunda vez tudo! :) Espectáculo! Muito bom... E vou ler uma terceira nos livros! Mais uma vez parabéns pela grande aventura!
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