The Craters of the Moon fica num deserto ao sul do Estado de Idaho. Há uma
pequena vila a cerca de 30Km, Arco, onde fiquei essa noite.
Os pneus que me tinham montado na fabrica da Honda no Japão já estão nas
ultimas. Duraram menos que o costume, talvez por as estradas americanas serem
mais abrasivas que o normal, para ganharem aderência nos períodos de chuva ou
neve. Como o local é isolado atestei o depósito antes de sair Arco e até Eden,
o meu próximo destino, perto de Salt Lake City, tentei não ultrapassar os 120 Km/h
com medo que o pneu traseiro, já com arames à vista, pudesse estoirar. As
cidades e vilas por onde tinha passado desde que deixei Seattle eram demasiado
pequenas para que algum concessionário tivesse em stock pneus para a Cross Tourer.
Os primeiros cem quilómetros foram através de uma estrada de faixa única em
cada sentido que cruza o deserto. Passei junto a uma central nuclear e, pouco
depois, afastada da estrada dois ou três quilómetros, vejo Atomic City, uma
pequena cidade que foi a primeira no mundo a ser totalmente alimentada a
energia nuclear.
Em Eden ía ficar em casa de um homem que me foi apresentado por uma amiga
comum que vive em Cape Town, na Africa do Sul e, por telefone, pedi ao Ross
para me tentar encontrar um jogo de pneus na região de Salt Lake City. Acabou
por me informar que só havia um jogo num concessionário BMW e outro num da
Honda, de entre os perto de dez da região. A razão talvez seja o facto de nos Estados
Unidos não venderem estas motos pois quase todas as Honda de grande cilindrada
são Gold Wing ou réplicas das Harley.
O Ross, que só conheci quando cheguei a casa dele mas que já me tinha dito
que poderia lá ficar o tempo que quisesse, é uma pessoa encantadora. Médico
reformado tem cinco filhos de três casamentos e vive nesta casa fantástica
sobre um lago no Norte do Utah. Aqui a maioria da população são Mormon e
feverosos apoiantes do Trump, como ele, que chegou ao ponto de contribuir
financeiramente para a campanha. O Ross é um tipo grande, bonacheirão, simpático,
divertido e inteligente. Uma pessoa que veio de baixo e subiu a pulso, abrindo
um consultório de sucesso depois de se formar. Os bisavós, contava-me, chegaram
a esta terra, de carroça, no final do século XIX quando não havia aqui
absolutamente nada. Tive conversas interessantíssimas com ele e ajudou a mudar
a opinião generalizada que tinha do povo americano.
Quando entrei nos Estados Unidos e aqui critiquei os americanos pelas
conversas que tive e ouvi nos autocarros, uma das minhas irmãs, que cá viveu
muitos anos, discordou da minha opinião e pediu que fizesse uma reavaliação
depois de atravessar o país. Ainda vou a meio mas confesso que, depois dos
muitos contactos que tive com pessoas de diversos meios sociais, incluindo os
polícias que me pararam na estrada, a minha opinião mudou.
Cheguei a casa do Ross no Sábado à tarde e os concessionários fecham,
normalmente, à segunda de maneira que nesses dias, para além de me mostrar a
região, apresentou-me a família que vive por perto e aproveitei para mudar o
filtro de ar à moto, que não fazia desde a Indonésia, e substituir as pastilhas
de travão da frente, que estavam no fim. Quando acabei de mudar o filtro,
operação trabalhosa na Cross Tourer pois obriga a desmontar as carenagens e levantar o depósito de combustível,
pus a moto a trabalhar mas só uns segundos, para não deixar poluição na
garagem. Quando, na terça feira de manhã, me preparava para arrancar quis pôr a
moto a funcionar mas ela não pegou. Voltei a desmontar tudo e verificar as
fichas eléctricas que pude mas o problema não se resolveu. O que se passou foi
porque, por a região de Eden estar a cerca de 1600 metros de altitude e o
filtro velho estar muito sujo, a electrónica da moto tinha regulado o sistema
para pouca pressão de gasolina pois o motor também recebia pouco ar. Ao
desligar a moto poucos segundos depois de ela ter pegado não dei tempo ao
sistema de se autorregular e assim, quando a quis voltar a pegar, respirando
bem através de um filtro novo, não tinha pressão de gasolina suficiente para pegar.
Tentei fazer um “reset” ao sistema a partir de uma gravação que o Ross
encontrou na internet mas sem sucesso.
Assim, na quarta feira de manhã carregamos a moto num atrelado e levámo-la
ao concessionário local. Quando lá chegámos disseram-me que tinham uma lista de
espera na oficina de dois meses mas, depois de explicar que estava em viagem,
prontificaram-se a receber logo a moto. O computador deles não tinha o “software”
para esta moto, por não ser aqui vendida, nem o próprio importador, que eles
entretanto contactaram mas, depois da minha explicação sobre o que se tinha
passado, acabaram por conseguir pôr a moto a trabalhar e, para meu espanto, não
me cobraram nada pela intervenção. Sensacional.
De ali parti para o concessionário que tinha o jogo de pneus reservado para
mim, o quinto jogo que monto desde que comecei a viagem.
Eu sei que não é sorte, é feitio! :)
ResponderEliminarContinuação (como dizem no Norte)
Bjs
Ana
Fantástica aventura Xico, já andei assim com um pneu e não é nada agradável, estamos sempre à espera do estoiro. O problema dos povos e naquilo em que se vão tornando, não é um problema dos povos mas dos políticos que vão tendo. Genéricamente os povos são bons. Boa continuação.
ResponderEliminarPara a próxima, ponha fita "americana" em cima dos arames q aguenta mais uns kms.
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